Fed eleva juros e cita recuperação dos EUA em andamento

Publicado em 16/12/2015 17:35

Por Howard Schneider e Jason Lange

WASHINGTON (Reuters) - O Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, elevou os juros pela primeira vez em quase uma década nesta quarta-feira, sinalizando fé em que a economia norte-americana largamente superou as feridas da crise financeira de 2007 a 2009.

O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) elevou a faixa para sua taxa de juros em 0,25 ponto percentual, para entre 0,25 e 0,50 por cento ao ano, dando fim a um longo debate sobre se a economia dos EUA está forte o suficiente para aguentar custos de financiamento maiores.

"O Comitê julga que tem havido uma melhora considerável nas condições do mercado de trabalho este ano e está razoavelmente confiante de que a inflação subirá no médio prazo para sua meta de 2 por cento (ao ano)", disse o Fed no comunicado de sua decisão, que foi unânime.

O Fed deixou claro que a alta de juros foi uma tentativa de começar um ciclo de aperto "gradual" e que, ao decidir o próximo passo, colocará em destaque o monitoramento da inflação, que permanece muito abaixo da meta.

"Considerando a inflação atual abaixo da meta de 2 por cento, o Comitê vai monitorar com cuidado o progresso real e esperado a caminho da meta de inflação. O Comitê espera que as condições econômicas evoluam de forma a assegurar apenas aumentos graduais de juros", disse o Fed.

As novas projeções econômicas do Fed ficaram, de forma geral, inalteradas em relação a setembro, com a taxa de desemprego devendo cair a 4,7 por cento no próximo ano, quando a economia deve crescer 2,4 por cento.

A taxa de juros mediana apontada para 2016 permanece em 1,375 por cento, indicando quatro altas de 0,25 ponto percentual no próximo ano.

Para levar a taxa de juros do atual patamar de perto de zero para a faixa entre 0,25 por cento e 0,50 por cento, o Fed determinou a taxa de juros que paga aos bancos por excesso de reservas em 0,50 por cento e vai oferecer até 2 trilhões de dólares em compromissadas, um montante agressivo que mostra sua decisão de subir juros.

Os mercados financeiros esperavam a alta de juros nos EUA, diante de dados econômicos mostrando um crescimento do mercado de trabalho em um ritmo forte.

Pesquisa Reuters publicada em 9 de dezembro mostrava que a probabilidade de uma alta dos juros nesta quarta-feira era de 90 por cento, com economistas projetando a taxa de juros entre 1 e 1,25 por cento até o fim de 2016 e de 2,25 por cento até o fim de 2017.

O impacto sobre custos de empréstimos para empresas e famílias é incerto. Um dos assuntos que os membros do Fed vão monitorar de perto nos próximos dias é como taxas sobre hipotecas de longo prazo, empréstimos a consumidores e outras formas de crédito vão reagir à alta de juros, com intenção de não desacelerar a recuperação econômica, mas levar a política monetária de volta ao passo mais normal.

O Fed enfatizou que vai avançar de forma cautelosa em seu ciclo de aperto monetário. Isso foi o suficiente para levar a uma votação unânime sobre a decisão, mesmo com membros que haviam defendido publicamente um atraso na alta de juros juntando-se à chair do Fed, Janet Yellen, e a outros membros do colegiado.

Na Folha: Como a guinada nos juros dos EUA afeta o Brasil? 

A decisão do FED (Federal Reserve, o Banco Central americano) de elevar os juros do país em 0,25 ponto percentual ­ para uma taxa entre 0,25% e 0,5% ­ marca uma esperada guinada na política monetária dos Estados Unidos que deve reverberar em todo o globo, inclusive no Brasil.

A alta desta quarta­feira ficou dentro do que os analistas do mercado esperavam, mas ainda há dúvidas sobre o ritmo dos aumentos em 2016.

Nos últimos sete anos, os juros americanos foram mantidos em patamares extremamente baixos ­ entre 0 e 0,25% ­ como uma forma de estimular uma retomada da economia do país.

Os juros baixos fizeram parte de um pacote de resposta à crise financeira iniciada em 2008, com a falência do Banco Lehman Brothers, que também incluiu a injeção de novos recursos na economia por meio da compra de títulos do tesouro e papéis lastreados em hipotecas ­ prática conhecida como "afrouxamento monetário" (em inglês, quantitative easing) ­ para injetar dinheiro na economia.

O Fed vinha sinalizando há mais de um ano que pretendia voltar a aumentar os juros, ainda que de forma "lenta e gradual". Com a alta, indica que já considera haver sinais convincentes de que a economia americana está em recuperação, como explica Bernardo Dutra, da MCM Consultores.

"Os dados relativos à retomada da atividade (produtiva nos EUA) estão bons e o desemprego está na casa dos 5%, nível muito próximo ao que eles consideram pleno emprego", diz. Mas, afinal, como essa alta dos juros americanos afeta o Brasil? Ou que tipo de repercussões podemos esperar na economia brasileira no curto e longo prazo? Especialistas consultados pela BBC Brasil explicam: 

FUGA DE CAPITAIS DE PAÍSES EMERGENTES

A taxa de juros americana define a remuneração de investidores que compram títulos do país. No caso dos EUA, esses títulos são considerados bastante seguros, mas como essa taxa ficou bastante baixa nos últimos anos, muitos investidores se dispuseram a assumir um risco maior para investir em outros países ­ e principalmente emergentes, como o Brasil. 

QUEDA DO REAL

Como para investir nos EUA os investidores precisam comprar dólar, é esperado que a moeda americana se valorize em relação às de outros países.

"O impacto mais direto (da subida de juros nos EUA) deve ser mesmo no câmbio: a tendência é que haja uma desvalorização do real", diz Dutra, da MCM Consultores. 

PRESSÃO INFLACIONÁRIA

Com o dólar mais caro, aumenta a pressão sobre a inflação no Brasil. Primeiro, em função do encarecimento dos produtos importados, como explica Nogami, do Insper.

"Grande parte do setor produtivo depende da importação de insumos, então os preços acabam afetados pela alta do dólar. Mesmo o setor agrícola depende da compra de adubos e corretivos do solo, além de componentes de tratores", diz ele.

Leia a notícia na íntegra no site Folha de S.Paulo.

Fonte: Reuters + Folha

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