NA VEJA: Lista dourada de negócios da família Bumlai tinha Petrobras, BNDES e Dilma

Publicado em 11/12/2015 22:22
Os planos de Maurício Bumlai para o ano de 2010 eram ambiciosos. Ele queria obter 108 milhões de reais em empréstimos, faturar pesado no esquema de corrupção na Petrobras e contava com a eleição de Dilma Rousseff presidente

 

 

SUPERCREDENCIAL - José Carlos Bumlai, amigo íntimo do presidente Lula, estava autorizado a entrar quando quisesse, na hora em que bem entendesse (Cristiano Mariz/VEJA)

A família do pecuarista José Carlos Bumlai tinha planos ambiciosos para 2010, ano da eleição da presidente Dilma Rousseff. Nas palavras de um de seus filhos, Maurício Bumlai, a despedida de Lula da Presidência seria "Um ano dourado". Esse é o título de uma carta apreendida pelos investigadores da Operação Lava-Jato no dia em que Bumlai foi preso por envolvimento no petrolão. No endereço de Maurício Bumlai, em São Paulo, os agentes localizaram uma carta, escrita a mão por ele, que demonstra os motivos de tanto otimismo dos Bumlai. Datada de 1 de janeiro de 2010, a carta é uma espécie de roteiro dos investimentos e ambições do amigo do ex-presidente Lula e de seus filhos ao longo daquele ano.

(Reprodução/VEJA)

Escrito em tópicos e códigos, o texto revela que os Bumlai esperavam muito da presidente Dilma Rousseff. Logo depois de anotar o nome "Dilma", o filho de Bumlai escreve "Petrobras", cita a empresa Estre, do banqueiro André Esteves, e duas cifras: 1 bilhão seguido de 25 milhões. Analisado aos olhos de 2015, esse trecho da carta mostra que o filho de Bumlai, que atuava como representante da Estre, tinha motivos para ser otimista. Envolvida até o pescoço no petrolão, a "Estre" faturou em "2010" e ao longo de todo o primeiro governo "Dilma" quase 1 bilhão de reais em contratos com a... "Petrobras".

Outro sonho dourado dos Bumlai se confirmou no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Maurício anotou "BNDES 108 000 000" logo nas primeiras linhas. Era o grande plano. Os Bumlai esperavam embolsar uma bolada de 108 milhões de reais do BNDES para viabilizar a Usina São Fernando Açúcar e Álcool, que então agonizava por falta de recursos. O banco, mesmo sem qualquer garantia ante o alto risco de investir nos negócios da família Bumlai, realizou o sonho de Maurício.

Investimentos na área de produção de carvão, a conquista de concessões de rodovias e de saneamento, a celebração de contratos de coleta de lixo em capitais como Manaus e até negócios de 2,5 bilhões de dólares em Angola, que poderiam render 50 milhões de dólares em propina. A operação descrita na planilha dourada foi confirmada mês passado pelo ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró, em reportagem publicada pela revista VEJA. Até as cifras são as mesmas.

 

 

PF encontra lista de políticos que receberam dinheiro de sócio de Bumlai

Agenda de Natalino Bertim, do Grupo Bertim, contabiliza dezenas de doações eleitorais em 2010. Políticos do governo e da oposição aparecem como beneficiários de milhões de reais repassados pelo empresário
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Em um dos endereços vasculhados pela Polícia Federal em São Paulo, há três semanas, os investigadores da Operação Lava Jato encontraram o que pode ser um tesouro. Na agenda de Natalino Bertim, parceiro de negócios do pecuarista José Carlos Bumlai, os nomes de alguns dos principais políticos da República aparecem associados a valores doados na eleição de 2010. Os investigadores ainda irão analisar as informações para descobrir se os recursos foram, de fato, repassados aos políticos. O passo seguinte será descobrir se as doações foram registradas na Justiça Eleitoral ou se foram realizadas por meio de caixa dois. Na maioria das anotações, o empresário registra "valores combinados" com os políticos, parcelas pagas e as respectivas datas em que cada valor foi entregue, e ainda especifica se o dinheiro foi pago "em reais".

Um dos primeiros nomes a surgir na agenda do dono do Grupo Bertim é o do vice-presidente Michel Temer (PMDB), que teria recebido 2 milhões de reais na campanha de 2010. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), é citado como beneficiário de 1 milhão de reais. Ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, o petista Edinho Silva aparece em dois trechos da agenda. Ele teria recebido 650.000 reais. A lista ainda inclui parlamentares da oposição. Os senadores Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) e Ronaldo Caiado (DEM) são citados como beneficiários de 500.000 reais cada um. "A pedido do ex-ministro da Agricultura Pratini de Moraes", como registra na agenda Natalino Bertim, a senadora gaúcha Ana Amélia Lemos (PP) teria recebido 100.000 reais.

A lista de políticos é extensa, chegando a quase 30 nomes de candidatos dos mais diferentes estados, entre deputados estaduais e federais, candidatos a governos estaduais e, claro, candidatos à Câmara e ao Senado. Nelson Trad Filho, prefeito de Campo Grande, é citado como beneficiário de 500.000 reais. Candidato ao Senado por São Paulo, em 2010, o cantor Netinho teria recebido 500.000 reais. Ex-governador do Mato Grosso do Sul, o petita Zeca do PT teria recebido 1 milhão de reais. Preso em Curitiba, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto recebe 250 000 reais. Por ser "amigo de Vaccari", o também ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira leva 515 000 reais.

Na agenda de Natalino Bertim também aparecem os nomes dos deputados federais, eleitos em 2010, Domingos Sávio (50.000 reais), Jorge Tadeu Mudalen (500 000 reais), Arnaldo Jardim (500 000 reais) e Jilmar Tatto (100 000 reais). Atual primeiro-secretário da Mesa Diretora da Câmara, o deputado Beto Mansur (PRP-SP) teria recebido 300 000 reais. Eleito deputado federal em 2010, o petista Cândido Vaccarezza é outro agraciado com 1 milhão de reais.

Os investigadores da Operação Lava Jato apreenderam o material durante a operação "Passe Livre", que levou para a prisão o pecuarista José Carlos Bumlai. Amigo de Lula, Bumlai aparece ao lado do ex-presidente e da ex-primeira-dama Marisa Letícia em diferentes ocasiões sociais. Bumlai foi citado por diversos delatores da Lava Jato como integrante da quadrilha que desviou mais de 21 bilhões de reais dos cofres da estatal.

Ouvidos por VEJA, os políticos citados apresentaram versões divergentes sobre as anotações de Natalino Bertim. O ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Edinho Silva, negou ter recebido qualquer recurso do empresário. "O Grupo Bertin nunca foi doador de minhas campanhas a prefeito de Araraquara ou deputado estadual; tampouco foi doador do PT estadual paulista, quando da minha gestão como presidente". Jardim disse que não recebeu a doação de 500.000 reais do Grupo Bertim e que todas as doações eleitorais estão registradas na prestação de contas no site do Tribunal Superior Eleitoral.

O senador Aloysio Nunes afirma que não recebeu dinheiro de campanha do Grupo Bertin, de empresas relacionadas ou do Natalino Bertin nas eleições de 2010. Diz Zeca do PT: "O ex-governador, hoje, deputado federal Zeca do PT recebeu uma doação, que foi legalmente declarada na Justiça Eleitoral no valor de R$ 1.000.000,00 realizada pelo JBS S/A, por meio do comitê eleitoral de campanha, no pleito eleitoral de 2010, quando foi candidato ao governo do Estado".

A senadora Ana Amélia confirma que recebeu a doação de 100.000 reais. O valor está confirmado na prestação de conta da candidata, via a empresa Bracol do Grupo Bertim. Já Vaccarezza afirma que não recebeu um milhão de reais do Grupo Bertim. "Se alguma empresa de grupo fez doação, não foi com esse valor", diz.

"Duas doações recebidas pelo Diretório Regional do Democratas de Goiás foram feitas pelo Grupo Bertin por meio das empresas Macleny Distribuidora (R$ 100 mil) e Orchiade (R$ 100 mil). Todas as doações ao Diretório, declaradas e aprovadas pela Justiça Eleitoral, foram repassadas a candidatos do partido, conforme a legislação eleitoral à época determinava. O senador Ronaldo Caiado, então candidato à reeleição a deputado federal, já era presidente e responsável pelo diretório estadual, posto ocupado até hoje", diz nota enviada pelo senador Caiado. Ele desconhece o valor atribuído por Bertim (500 000 reais) a seu nome e diz que só recebeu os 200 000 reais.

"Não conheço Natalino Bertin, nunca recebi nada dele ou do Grupo Bertin. Posso assegurar que nunca recebi nenhum recurso deste senhor, que não conheço ou desta empresa com a qual também nunca tive nenhum contato e nem sei onde fica", alega o tucano Domingos Sávio.

O petista Jilmar Tatto afirma que todas as contribuições de campanha do então candidato a deputado federal foram aprovadas pela Justiça Eleitoral e estã à disposição para consulta pública.

O vice-presidente, Michel Temer, confirmou o recebimento de 1,5 milhão de reais em três parcelas de 500.000 reais, o que confere com parte das anotações de Natalino Bertim. Foi o próprio vice que pediu a Natalino Bertim a doação, posteriormente declarada na prestação de contas do Diretório Nacional do PMDB. Eduardo Cunha também confirmou ter recebido a doação do empresário. VEJA entrou em contato com os demais políticos citados e aguarda retorno.

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Lula diz que medida provisória alvo da PF foi editada no governo Dilma

(Folha de S. Paulo)

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta (11) não ter relação com a edição de medidas provisórias investigadas pela Operação Zelotes da Polícia Federal.

Lula foi intimado pela PF a prestar depoimento sobre a atuação da LFT Marketing Esportivo, empresa de um de seus filhos, Luis Cláudio da Silva, que recebeu R$ 1,5 milhão do escritório de lobby Marcondes & Mautoni.

O mesmo escritório foi contratado por empresas do setor automobilístico interessadas na renovação de uma medida provisória que beneficiava o setor.

Nota divulgada pelo Instituto Lula afirma que o ex-presidente "não tem qualquer relação com os fatos investigados". "A medida provisória em questão foi editada e aprovada pelo Congresso em 2013, quando ele não era mais presidente da República", informa o texto.

Entre 2013 e 2014, segundo a investigação, o grupo de lobistas atuou para renovar uma medida provisória de 2009, aprovada durante o governo Lula e com prazo de validade de cinco anos. A empreitada, de acordo com a Zelotes, resultou na edição da medida provisória n° 627, de 2013, que foi convertida em lei no ano seguinte.

A Procuradoria da República no DF sustenta que "é muito suspeito que uma empresa de marketing esportivo receba valor tão expressivo de uma empresa especializada em manter contatos com a administração pública".

Instituto Lula informou ainda que o ex-presidente não foi notificado oficialmente para depor, mas "estará, como sempre esteve, à disposição das autoridades para contribuir com o esclarecimento da verdade".

Um dos objetivos do delegado é confirmar a informação prestada pelo ex-ministro Gilberto Carvalho no depoimento que prestou à PF. Ele disse que Mauro Marcondes é amigo de Lula. A PF quer saber detalhes da relação entre o lobista e o ex-presidente.

Luis Cláudio afirma que prestou serviços de marketing esportivo ao escritório Marcondes & Mautoni. A PF, porém, aponta que os documentos apresentados para justificar os serviços se baseiam em "meras reproduções de conteúdo disponível" na internet, "em especial no site Wikipédia". 

Fonte: veja.com

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