Dólar salta quase 2% ante real por China e Levy; na semana, subiu 3,61%
Por Bruno Federowski
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em alta de quase 2 por cento nesta sexta-feira, refletindo o ambiente de aversão a risco nos mercados externos devido a preocupações com a China e após notícias de que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, teria ameaçado deixar o governo se a meta de superávit primário de 2016 for zerada pelo Congresso.
O dólar avançou 1,93 por cento, a 3,8738 reais na venda. Na semana, a moeda norte-americana acumulou alta de 3,61 por cento, a maior desde o início de setembro.
"Além de acompanhar o exterior, a contínua deterioração do cenário político ainda pesa nas mesas", escreveu o operador da corretora Correparti, em nota a clientes, Guilherme França Esquelbek.
Investidores em todo o mundo evitaram ativos de maior risco nesta sessão, após a queda do iuan chinês à mínima em quatro anos e meio reforçar preocupações com a desaceleração da segunda maior economia do mundo. O dólar atingiu a máxima histórica em relação ao peso mexicano.
No Brasil, o quadro de preocupações foi intensificado por supostas declarações de Levy, cuja campanha pela austeridade fiscal agrada os mercados. Operadores já dão como certo que ele não continuará no governo por muito tempo, mas a notícia levou alguns a apostarem que isso pode acontecer mais cedo do que esperavam.
Levy admitiu que poderia deixar o governo caso a meta de superávit primário para 2016, equivalente a 0,7 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), seja zerada em votação pelo Congresso. A declaração teria sido feita em conversa com representantes da Comissão Mista de Orçamento (CMO) na noite de quarta-feira.
Mais tarde, a presidente Dilma Rousseff afirmou que a meta fiscal ainda está em discussão e que pode haver posições diferentes sobre o tema.
"Acho que ele (Levy) não dura até o Carnaval", disse o operador de uma corretora nacional, sob condição de anonimato, acrescentando que a informação reforça o clima de tensões entre o governo e o Congresso Nacional, em meio ao processo de abertura de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.
Os investidores também estão atentos à aguardada reunião do Federal Reserve na próxima semana, pela qual o banco central norte-americano deve elevar os juros pela primeira vez em cerca de uma década, o que potencialmente pode atrair para os Estados Unidos recursos hoje aplicados no Brasil.
Muitos operadores, por outro lado, vêm encontrando alento em sinalizações de que as elevações seguintes serão conduzidas de forma bastante lenta.
Pela manhã, o Banco Central deu sequência à rolagem dos swaps cambiais que vencem em janeiro, com oferta de até 11.260 contratos, que equivalem a venda futura de dólares. Até agora, a autoridade monetária já rolou o equivalente a 4,926 bilhões de dólares, ou cerca de 46 por cento do lote total, que corresponde a 10,694 bilhões de dólares.
(Edição de Patrícia Duarte)