Bovespa cai 1,72% por dados fracos da China e agravamento de crise política
Por Priscila Jordão
SÃO PAULO (Reuters) - A bolsa brasileira fechou em queda nesta terça-feira, com os preços de commodities em baixa no exterior se somando a preocupações de investidores com sinais de agravamento da crise política no Brasil.
O Ibovespa terminou o dia com desvalorização de 1,72 por cento, aos 44.443 pontos. O giro financeiro foi de 5,81 bilhões de reais.
A China divulgou que suas exportações caíram mais do que o esperado em novembro, lançando dúvidas sobre as esperanças de que a segunda maior economia do mundo vai se estabilizar no quarto trimestre. As exportações caíram 6,8 por cento contra um ano antes, enquanto as importações diminuíram 8,7 por cento.
O dado aumentou a pressão negativa sobre os preços de commodities no exterior, afetando ações relevantes para o principal índice da Bovespa.
Em uma sessão volátil, os preços do petróleo tipo Brent e em Nova York operavam em direções contrárias no fim dos negócios. Mais cedo, a commodity atingiu mínimas desde 2009.
Completando o quadro negativo, no Brasil repercutia a carta enviada pelo vice-presidente, Michel Temer (PMDB), à presidente Dilma Rousseff. Na carta, Temer apontou o que chama de "fatos reveladores da desconfiança que o governo tem em relação a ele e ao PMDB".
A carta de Temer agrava a crise política num momento delicado para Dilma, após ser aceito o pedido de abertura de processo de impeachment contra a presidente. Segundo a Vice-Presidência, a carta de Temer, que também preside o PMDB, não propôs rompimento entre partidos ou com o governo.
"O mercado está vendo a realidade de que a crise política vai continuar, o que torna ainda mais difícil o governo se organizar para uma política de ajuste fiscal para o ano que vem", disse o analista Raphael Figueredo, da Clear Corretora.
DESTAQUES
=VALE perdeu 5,28 por cento nas preferenciais, embalada no dia de forte queda de mineradoras na Europa e nos dados da economia da China. Participantes do mercado citaram a baixa dos preços de metais, como o minério de ferro, e o anúncio de suspensão do pagamento de dividendos pela Anglo American, assim como planos de vender ativos. A Rio Tinto também informou redução de investimentos.
Além disso, a Vale informou na noite da véspera que a Sohumana Sociedade Humanitária Nacional ajuizou ação contra Samarco, BHP Billiton e Vale pedindo indenizações de 20 bilhões de reais por danos causados pelo rompimento de barragem em Mariana (MG).
=PETROBRAS viu queda de 0,83 por cento nas preferenciais. Os papéis da estatal têm sofrido com a queda dos preços do petróleo no exterior, que operam em níveis deprimidos após a mais recente reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) terminar sem concordar em diminuir a produção.
=GERDAU caiu 5,85 por cento. De acordo com a área de pesquisa do BTG Pactual, a siderúrgica anunciou redução de preços de produtos nos Estados Unidos, diante da pressão ainda forte de material importado no país. Procurada pela Reuters, a empresa não comentou a informação.
=BR PROPERTIES, na qual o BTG Pactual tem participação relevante, caiu 4,65 por cento, a 7,80 reais. Em aviso à Agência Bovespa nesta terça, a corretora do BTG Pactual informou que no dia 10 leiloará 59 milhões de ações da empresa de imóveis comerciais, ou o equivalente a 19,78 por cento do capital da companhia, ao preço de 7,50 reais por papel. O nome do acionista não foi revelado, mas fonte a par do assunto disse à Reuters que se trata do banco BTG Pactual.
=PRUMO LOGÍSTICA, que não está no Ibovespa, subiu 3,85 por cento, fechando a 1,08 real, reagindo a anúncio de que seus controladores pretendem realizar oferta pública de aquisição (OPA) para cancelamento de registro de companhia aberta, com preço máximo de 1,15 real por ação.
=BTG PACTUAL, também fora do Ibovespa, perdeu 14,96 por cento, terminando a 14,95 reais, renovando mais uma vez sua mínima histórica, após a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciar na segunda-feira o banqueiro André Esteves, ex-presidente e ex-controlador do banco de investimentos, no âmbito da operação Lava Jato.
=BRASIL PHARMA, fora do Ibovespa, desabou 22,08 por cento, depois do tombo de quase 25 por cento na véspera, em meio à especulação de que a rede de drogarias que tem o BTG Pactual como um dos principais sócios pode enfrentar ventos contrários, contaminada pela situação do banco de investimentos, disse o economista Hersz Ferman, da Elite Corretora.