Líder do PMDB reage à carta de Temer: 'Ele não queria o fortalecimento da bancada'

Publicado em 08/12/2015 06:21

Citado na carta do vice-presidente, Michel Temer, encaminhada à presidente Dilma Rousseff, o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), que é alinhado com o governo, reagiu à divulgação do texto e afirmou que o vice não tinha interesse no "fortalecimento da bancada".

Na carta, Temer relata uma série de episódios que demonstrariam, nas palavras dele, a "absoluta desconfiança" que Dilma sempre teve em relação a ele e ao PMDB. Em um dos itens listados, o vice faz menção ao processo de reforma ministerial realizado em outubro e afirma ter sido "ignorado" e substituído nas negociações pelo líder Picciani e Jorge Picciani, pai do deputado.

"A carta esclarece muitos pontos. Vai ter uma repercussão forte dentro da bancada. Fica claro que o Michel Temer não queria o fortalecimento da bancada. Ele ficou incomodado. Ele fala contra a presidente ter conversado comigo e ter indicado os dois deputados ministros. E em todo momento não defende a posição da bancada, mas dos seus aliados pessoais. Ele mesmo frisou que o Moreira Franco, o Eliseu Padilha e Edinho Araújo eram pessoas dele", afirmou Picciani.

Leia a notícia na íntegra no site da Veja com informações do Estadão Conteúdo

Em carta a Dilma, Temer afirma que presidente desconfia dele e do PMDB

SÃO PAULO (Reuters) - O vice-presidente Michel Temer enviou nesta segunda-feira uma carta "pessoal" à presidente Dilma Rousseff em que aponta o que chama de "fatos reveladores da desconfiança que o governo tem em relação a ele e ao PMDB", disse a Vice-Presidência da República em nota divulgada no Twitter.

Segundo a Vice-Presidência, a carta de Temer, que também preside o PMDB, não propôs rompimento entre partidos ou com o governo. Temer vinha mantendo um silêncio público desde que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aceitou pedido de abertura de impeachment contra Dilma na quarta-feira.

"Diante da informação de que a presidente o procuraria para conversar, Michel Temer resolveu apontar por escrito fatores reveladores da desconfiança que o governo tem em relação a ele e ao PMDB", disse em Vice-Presidência em nota. "Ele rememorou fatos ocorridos nestes últimos cinco anos mas somente sob a ótica do debate da confiança que deve permear a relação entre agentes públicos responsáveis pelo país."

Nos últimos dias, Dilma tem repetido reiteradamente ter confiança em Temer, elogiado o vice e, no fim de semana, afirmou esperar "integral confiança" no peemedebista.

De acordo com uma fonte ligada a Temer, as declarações foram interpretadas pelo vice como uma cobrança pública de lealdade em relação a ele, o que o incomodou.

Na nota divulgada pela Vice-Presidência, Temer afirma ter sido surpreendido pela divulgação da carta que enviou à presidente e afirma que "manterá a discussão pessoal em caráter privado".

Desde a última quarta, quando Cunha aceitou pedido de abertura de processo de impeachment contra Dilma, Temer evita aparições públicas e cancelou a participação em um evento em São Paulo marcado para esta noite.

Ele ficou também incomodado, de acordo com a fonte, com declarações atribuídas a ele por ministros ligados à presidente Dilma, de que ele teria dito que o pedido de impeachment não tem embasamento jurídico e que, como constitucionalista que é, ajudaria juridicamente na defesa da presidente.

Após voltar de São Paulo para Brasília nesta segunda-feira, Temer, que assumiria a Presidência caso o processo leve ao impedimento da presidente, tem encontro marcado com peemedebistas no Palácio do Jaburu, segundo essa fonte.

O ex-ministro da Aviação Civil Eliseu Padilha, que é bastante próximo a Temer e deixou o governo nesta segunda-feira, negou que o vice esteja articulando o impeachment, mas reconheceu que o PMDB está dividido sobre o tema e que caberá a Temer, como presidente da legenda, "aferir" o sentimento do partido em relação ao pedido de impedimento de Dilma.

(Reportagem de Eduardo Simões)

Na Folha: Em carta a Dilma, Temer afirma que presidente desconfia dele e do PMDB

Com termos duros, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) enviou uma carta ao gabinete de Dilma Rousseff na qual afirma que sempre teve "ciência da absoluta desconfiança da senhora e do seu entorno em relação a mim e ao PMDB". Ele diz que passou os primeiros quatros anos de governo como "vice decorativo".

Temer começa dizendo que a palavra voa, mas o escrito fica. Por isso, diz, preferiu escrever. Avisa então que está fazendo um "desabafo" que deveria ter feito "há muito tempo". Na avaliação de amigos do vice, a carta representa o rompimento com a presidente Dilma, apesar de o peemedebista não querer dar esta conotação ao documento.

Temer demonstra profundo incômodo com declarações e ações de Dilma, de seu governo e de seus aliados sobre a "confiança" que devotam a ele. "Desde logo lhe digo que não é preciso alardear publicamente a necessidade da minha lealdade", escreve. "Tenho­a revelado ao longo destes cinco anos."

"Entretanto, sempre tive ciência da absoluta desconfiança da senhora e do seu entorno em relação a mim e ao PMDB. Desconfiança incompatível com o que fizemos para manter o apoio pessoal e partidário ao seu governo", sustenta Temer.

Para ilustrar, cita o esforço que fez para manter o PMDB com Dilma. "Basta ressaltar que na última convenção apenas 59,9% [dos dirigentes do PMDB] votaram pela aliança". "E só o fizeram, ouso registrar, por que era eu o candidato à reeleição à vice."

Temer diz que tem usado o prestígio que construiu no partido para manter o PMDB ao lado de Dilma. "Isso tudo não gerou confiança em mim. Gera desconfiança e menosprezo do governo", conclui.

O vice ainda elenca 11 fatos que, segundo ele, demonstram o desprezo por ele e pelo PMDB, que "jamais" eram chamados para formulações econômicas ou políticas. "Éramos meros acessórios, secundários, subsidiários".

Quando fala em "vice decorativo", Temer diz que perdeu "todo protagonismo político que tivera no passado e que poderia ter sido usado pelo governo". "Só era chamado para resolver as votações do PMDB e as crises políticas".

Ele lembra, por exemplo, que quando assumiu a articulação política não conseguiu honrar acordos porque o governo não lhe dava condições. Temer também reclama que Dilma demitiu ministros indicados por ele e resolveu ignorá­lo ao tratar de novas nomeações diretamente com o líder da Câmara, Leonardo Picciani (PMDB­RJ).

Sobre a saída de Moreira Franco da Aviação Civil, diz: Dilma quis "desvalorizar­me". Sobre o deputado Edinho Araújo, que ocupou a pasta de Portos, fala que a presidente não teve a "menor preocupação em eliminar [ele] do governo".

Leia a notícia na íntegra no site da Folha de S.Paulo.

Eleição de comissão sobre impeachment é adiada, governistas acusam manobra de Cunha

Por Leonardo Goy e Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) - A eleição da comissão especial da Câmara dos Deputados que analisará o pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff foi adiada nesta segunda-feira, o que levou líderes da base governista a acusarem o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de realizar uma "manobra" em conluio com a oposição.

O adiamento levou o governo a convocar reunião de emergência com lideranças da base para discutir o assunto.

A eleição, inicialmente prevista para esta segunda-feira, foi adiada para a terça, em um movimento que também pode arrastar ainda mais a decisão do Conselho de Ética da Câmara sobre dar ou não andamento a um processo que pede a cassação de Cunha por quebra de decoro parlamentar.

“Não aceitamos esse tipo de manobra. É uma oposição que não tem voto para fazer o que quer e faz esse conluio alterando a regra do jogo com o presidente da Casa, para evitar a eleição da comissão hoje”, disse o líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE).

“Isso fere o acordo político com os líderes”, disse o petista.

O governo tem pressa para analisar o pedido de impeachment e defende, inclusive, que o Congresso Nacional não tenha recesso neste ano para dar agilidade ao processo. O Palácio do Planalto acredita ter no momento os votos necessários para barrar o impeachment e teme que a situação se deteriore e que o prolongamento da discussão sobre o impedimento cause desgaste ao governo.

Ao anunciar o adiamento da sessão desta segunda que elegeria os 65 integrantes da comissão especial que analisará o pedido de impeachment contra Dilma, Cunha argumentou que não havia quórum suficiente de deputados para realizar a escolha e que, com a apresentação de uma chapa alternativa, não havia tempo hábil para se organizar uma disputa eleitoral pelas vagas no colegiado.

“Formou-se chapa alternativa para fazer disputa, consequentemente, havendo disputa a gente tem de ter a Casa preparada para a disputa... adiamos para a sessão ordinária de amanhã (terça), tendo isso como primeiro item da pauta”, disse Cunha, que negou a manobra apontada por líderes governistas.

“Não há qualquer intuito protelatório no processo”, garantiu o presidente da Câmara.

Inicialmente, a expectativa era que os 65 membros da comissão especial fossem apontados pelos líderes de bancadas de cada partido de acordo com o número de vagas para cada legenda. Mas a oposição, ao lado de um grupo descontente do PMDB, decidiu indicar seus nomes em uma chapa alternativa, juntamente com dissidentes de partidos da base que não foram contemplados pelos líderes de bancadas.

Assim, será necessária uma disputa eleitoral para escolher os membros da comissão especial e, segundo Cunha, não haveria tempo hábil para organizar a eleição, além de não haver quórum na Casa para escolher os membros nesta segunda.

DISSIDÊNCIA

Líderes da oposição, por sua vez, acusaram o Palácio do Planalto de buscar influenciar na formação da comissão especial para ter o controle do colegiado, e apontam que a dissidência que permitiu a montagem de uma chapa alternativa nasceu dentro de partidos da base aliada.

“O objetivo é descontar essa questão que foi construída pelo próprio governo de controlar a comissão especial, numa verdadeira operação chapa-branca. E a gente não vai aceitar. A dissidência nasceu da base governista”, disse o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE).

Cabe à comissão especial elaborar um parecer sobre a abertura de processo de impeachment de Dilma. O parecer da comissão precisa ser referendado pelo plenário da Câmara e, caso 342 deputados votem favoravelmente ao processo, Dilma será afastado por 180 dias da Presidência até que o Senado a julgue e decida sobre o impedimento. Durante esse período o vice-presidente Michel Temer, que também preside o PMDB, assume a Presidência.

(Reportagem adicional de Eduardo Simões)

No G1: Leia a íntegra da carta enviada pelo vice Michel Temer a Dilma

Se Dilma acha que é golpe, então tem de voltar a pegar em armas

Presidente nacional do PMDB, o vice-presidente da República, Michel Temer, enviou uma carta à presidente Dilma Rousseff nesta segunda-feira (7) na qual apontou episódios que demonstrariam a "desconfiança" que o governo tem em relação a ele e ao PMDB.

A mensagem, segundo a assessoria da Vice-Presidência, foi enviada em "caráter pessoal" à chefe do Executivo e, nela, Temer não "não propôs rompimento" com o governo ou entre partidos, mas defendeu a "reunificação do país". 

(...)

São Paulo, 07 de Dezembro de 2.015.
 

Senhora Presidente,

"Verba volant, scripta manent" (As palavras voam, os escritos permanecem)

Por isso lhe escrevo. Muito a propósito do intenso noticiário destes últimos dias e de tudo que me chega aos ouvidos das conversas no Palácio.

Esta é uma carta pessoal. É um desabafo que já deveria ter feito há muito tempo.

Desde logo lhe digo que não é preciso alardear publicamente a necessidade da minha lealdade. Tenho-a revelado ao longo destes cinco anos.

Lealdade institucional pautada pelo art. 79 da Constituição Federal. Sei quais são as funções do Vice. À minha natural discrição conectei aquela derivada daquele dispositivo constitucional.

Entretanto, sempre tive ciência da absoluta desconfiança da senhora e do seu entorno em relação a mim e ao PMDB. Desconfiança incompatível com o que fizemos para manter o apoio pessoal e partidário ao seu governo.

Basta ressaltar que na última convenção apenas 59,9% votaram pela aliança. E só o fizeram, ouso registrar, por que era eu o candidato à reeleição à Vice.

Tenho mantido a unidade do PMDB apoiando seu governo usando o prestígio político que tenho advindo da credibilidade e do respeito que granjeei no partido. Isso tudo não gerou confiança em mim. Gera desconfiança e menosprezo do governo.
Vamos aos fatos. Exemplifico alguns deles.

1. Passei os quatro primeiros anos de governo como vice decorativo. A Senhora sabe disso. Perdi todo protagonismo político que tivera no passado e que poderia ter sido usado pelo governo. Só era chamado para resolver as votações do PMDB e as crises políticas.

2. Jamais eu ou o PMDB fomos chamados para discutir formulações econômicas ou políticas do país; éramos meros acessórios, secundários, subsidiários.

3. A senhora, no segundo mandato, à última hora, não renovou o Ministério da Aviação Civil onde o Moreira Franco fez belíssimo trabalho elogiado durante a Copa do Mundo. Sabia que ele era uma indicação minha. Quis, portanto, desvalorizar-me. Cheguei a registrar este fato no dia seguinte, ao telefone.

4. No episódio Eliseu Padilha, mais recente, ele deixou o Ministério em razão de muitas "desfeitas", culminando com o que o governo fez a ele, Ministro, retirando sem nenhum aviso prévio, nome com perfil técnico que ele, Ministro da área, indicara para a ANAC. Alardeou-se a) que fora retaliação a mim; b) que ele saiu porque faz parte de uma suposta "conspiração".

5. Quando a senhora fez um apelo para que eu assumisse a coordenação política, no momento em que o governo estava muito desprestigiado, atendi e fizemos, eu e o Padilha, aprovar o ajuste fiscal. Tema difícil porque dizia respeito aos trabalhadores e aos empresários. Não titubeamos. Estava em jogo o país. Quando se aprovou o ajuste, nada mais do que fazíamos tinha sequência no governo. Os acordos assumidos no Parlamento não foram cumpridos. Realizamos mais de 60 reuniões de lideres e bancadas ao longo do tempo solicitando apoio com a nossa credibilidade. Fomos obrigados a deixar aquela coordenação.

6. De qualquer forma, sou Presidente do PMDB e a senhora resolveu ignorar-me chamando o líder Picciani e seu pai para fazer um acordo sem nenhuma comunicação ao seu Vice e Presidente do Partido. Os dois ministros, sabe a senhora, foram nomeados por ele. E a senhora não teve a menor preocupação em eliminar do governo o Deputado Edinho Araújo, deputado de São Paulo e a mim ligado.

7. Democrata que sou, converso, sim, senhora Presidente, com a oposição. Sempre o fiz, pelos 24 anos que passei no Parlamento. Aliás, a primeira medida provisória do ajuste foi aprovada graças aos 8 (oito) votos do DEM, 6 (seis) do PSB e 3 do PV, recordando que foi aprovado por apenas 22 votos. Sou criticado por isso, numa visão equivocada do nosso sistema. E não foi sem razão que em duas oportunidades ressaltei que deveríamos reunificar o país. O Palácio resolveu difundir e criticar.

8. Recordo, ainda, que a senhora, na posse, manteve reunião de duas horas com o Vice Presidente Joe Biden - com quem construí boa amizade - sem convidar-me o que gerou em seus assessores a pergunta: o que é que houve que numa reunião com o Vice Presidente dos Estados Unidos, o do Brasil não se faz presente? Antes, no episódio da "espionagem" americana, quando as conversar começaram a ser retomadas, a senhora mandava o Ministro da Justiça, para conversar com o Vice Presidente dos Estados Unidos. Tudo isso tem significado absoluta falta de confiança;

9. Mais recentemente, conversa nossa (das duas maiores autoridades do país) foi divulgada e de maneira inverídica sem nenhuma conexão com o teor da conversa.

10. Até o programa "Uma Ponte para o Futuro", aplaudido pela sociedade, cujas propostas poderiam ser utilizadas para recuperar a economia e resgatar a confiança foi tido como manobra desleal.

11. PMDB tem ciência de que o governo busca promover a sua divisão, o que já tentou no passado, sem sucesso. A senhora sabe que, como Presidente do PMDB, devo manter cauteloso silencio com o objetivo de procurar o que sempre fiz: a unidade partidária.
Passados estes momentos críticos, tenho certeza de que o País terá tranquilidade para crescer e consolidar as conquistas sociais.

Finalmente, sei que a senhora não tem confiança em mim e no PMDB, hoje, e não terá amanhã. Lamento, mas esta é a minha convicção.

Respeitosamente,

\ L TEMER

A Sua Excelência a Senhora

Doutora DILMA ROUSSEFF

DO. Presidente da República do Brasil
Palácio do Planalto

Fonte: Reuters + Folha + G1

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