A derrota desmoralizante imposta pelo povo antecipou o enterro do chavismo. E o cabo eleitoral decadente perdeu mais uma
A oposição venezuelana não foi derrotada pelo chavismo, constatou um post aqui publicado em abril de 2013. Perdeu a eleição para a coação brutal, para a fraude escancarada ─ e ainda assim por uma diferença vexatória para os vigaristas no poder. Os 49,07% do total de votos atribuídos a Henrique Capriles informaram que a vitória formal de Nicolás Maduro só havia prorrogado a sobrevida da ditadura envergonhada instituída por Hugo Chávez a partir de 1999. O bolivarianismo era apenas um cadáver adiado.
Passados menos de três anos, o resultado das eleições parlamentares promovidas neste domingo decretou o início do velório. Prisões e assassinatos de oposicionistas, cassações de mandatos, a utilização obscena da máquina de propaganda oficial, a transformação do leviatã estatal num onipresente e onipotente pai-patrão, a ativação da fábrica federal de infâmias, a compra de gratidão com dinheiro do petróleo ─ nada disso impediu o fiasco monumental. A oposição vai assumir em janeiro o controle do Congresso. A chegada ao comando do Executivo é questão de tempo.
Em 2013, Lula voltou a atropelar fronteiras geopolíticas e regras diplomáticas elementares para virar cabo eleitoral do herdeiro de Chávez. “Não quero interferir nos assuntos internos da Venezuela”, prometeu o palanque ambulante numa mensagem gravada em vídeo. Em seguida, fez exatamente o contrário: “Uma frase resume tudo que sinto: Maduro presidente é a Venezuela que Hugo Chávez sonhou”. Se país nenhum merece ser dirigido por gente assim, as proezas da trinca atestam que essa gente decididamente se merece.
No campo da morbidez, por exemplo, Chávez inventou o governo do Além, Maduro inventou o ofício de zelador de cadáver bom de voto e Lula, para instalar um poste no Planalto, transformou até câncer em instrumento de caça ao voto. Brincar com a morte é perigoso. O primeiro hoje visita o sucessor em forma de passarinho. O segundo desgoverna um país sem papel higiênico. O terceiro faz o diabo para impedir que a afilhada seja despejada do Planalto três anos antes do que imaginava. Os três serão lembrados como evidências de que, no começo do século 21, boa parte da América do Sul perdeu o juízo.
A direção dos ventos foi enfim invertida. Depois da Argentina, a Venezuela recuperou a sensatez perdida. Lula perdeu mais uma antes da derrota final: o próximo a abandonar o clube dos populistas cafajestes é o Brasil.
Na REUTERS:
Após eleição, oposição promete reviver economia da Venezuela
CARACAS (Reuters) - A oposição na Venezuela prometeu nesta segunda-feira reviver a economia em crise do país e libertar ativistas políticos presos, depois de ganhar o controle do Legislativo pela primeira vez em 16 anos de regime socialista.
À tarde, alguns resultados das eleições de domingo não haviam ainda sido computados, mas a coalizão Mesa da Unidade Democrática já havia conquistado uma vitória enfática na Assembleia Nacional de 167 cadeiras.
Líderes opositores afirmaram que os números finais mostravam que eles haviam alcançado a marca crucial dos dois terços. Não houve confirmação disso pelo comitê eleitoral, que ainda tinha que anunciar 22 assentos.
Se alcançarem os dois terços, ou pelo menos 112 assentos, os opositores podem ter ainda mais poder contra o presidente, Nicolás Maduro, mexendo em instituições como os tribunais e o comitê eleitoral, vistos por muitos como pró-governo.
Maduro, de 53 anos, escolhido por Hugo Chávez, mas sem o carisma e a habilidade política do ex-líder, aceitou rapidamente a derrota num discurso ao país nas primeiras horas desta segunda-feira, o que acalmou os temores de violência.
Depois de tirar a Assembleia do "chavismo", nome do movimento de seguidores do ex-presidente Chávez, a oposição apresentou logo as suas prioridades.
"É uma grande oportunidade para nós, esse voto de protesto", afirmou o líder opositor Henrique Capriles sobre uma vitória que é atribuída à insatisfação dos eleitores com os socialistas e com a economia em crise.
O líder da coalizão, Jesús Torrealba, declarou que a oposição tentará mudar a lei do banco central para reduzir a impressão de dinheiro que tem alimentado o maior índice de inflação no mundo.
Apesar de não ter o poder para reformar a economia através do Parlamento, a oposição também está prometendo novas leis para estimular o setor privado e reverter as nacionalizações.
A oposição também quer aprovar uma lei de anistia para os adversários políticos de Maduro presos, quando a nova Assembleia começar os seus trabalhos em 5 de janeiro.
O mais conhecido político preso na Venezuela é Leopoldo López, condenado a quase 14 anos por promover violência política em 2014, quando 43 pessoas morreram. A oposição diz ter uma lista com mais de 70 presos.
Investidores reagiram positivamente ao resultado eleitoral na Venezuela, com títulos em dólar tendo uma subida forte.
O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, afirmou que a votação mostrou o "desejo imenso" dos venezuelanos por mudança e pediu um diálogo entre todos os partidos políticos para resolver os problemas do país.
Em eleições legislativas, oposição venezuelana derrota o chavismo e conquista maioria parlamentar
CARACAS (Reuters) - A oposição venezuelana derrotou os socialistas do governo e conquistou a maioria do Legislativo, no domingo, pela primeira vez em 16 anos, formando uma plataforma para desafiar o presidente Nicolás Maduro.
A aliança de oposição Mesa da Unidade Democrática conquistou 99 assentos na Assembleia Nacional, enquanto os socialistas ficaram com 46 das 167 cadeiras, de acordo com a comissão eleitoral, ainda faltando a contagem dos votos em alguns distritos.
Fogos de artifício foram disparados em comemoração nos bairros pró-oposição de Caracas quando os resultados foram anunciados, enquanto apoiadores do governo desmontaram festas planejadas para a comemoração da vitória.
Maduro, de 53 anos, rapidamente reconheceu a derrota, a pior para o chavismo desde que seu fundador, Hugo Chávez, assumiu o poder em 1999.
"Estamos aqui, com moral e ética, para reconhecer estes resultados adversos", disse Maduro em discurso à nação, embora tenha culpado líderes empresariais e outros adversários pela derrota, por terem sabotado a economia.
"A guerra econômica triunfou hoje", acrescentou.
A rápida aceitação dos resultados amenizaram tensões no país, onde a última eleição presidencial em 2013, vencida por Maduro de forma apertada, foi bastante contestada e seguida por protestos antigoverno que resultaram em 43 mortes.
A derrota do governo foi outro golpe à esquerda da América Latina após a Argentina eleger Mauricio Macri, de centro-direita, nas eleições presidenciais do mês passado.
EBC: Venezuela: Nicolás Maduro reconhece derrota nas eleições legislativas
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, reconheceu a derrota da sua formação política, o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), pela primeira vez em 16 anos, nas eleições legislativas desse domingo (6).
“Vimos com a nossa moral, com a nossa ética, reconhecer estes resultados adversos, aceitá-los e dizer à Venezuela que a Constituição e a democracia triunfaram”, afirmou, em declaração divulgada pela televisão, pouco depois do anúncio oficial do resultado, que dá maioria parlamentar de dois terços à oposição.
"Foi um dia longo, com grande jornada de participação, em que quase 75% dos eleitores expressaram o seu voto", disse Maduro. Ele destacou que se trata da 20ª eleição, "de um ciclo profundo de democracia" na Venezuela.
"Sempre temos sabido reconhecer os resultados, em todas as circunstâncias", acrescentou, afirmando que as forças 'chavistas' sempre confiaram no sistema eleitoral do país.
Maduro atribuiu o resultado à "guerra econômica" contra o governo venezuelano.
"Na Venezuela não triunfou a oposição", triunfou "um plano contrarrevolucionário para desmantelar o Estado social-democrático de justiça e de direitos", destacou.
Ele disse ainda que os resultados são vistos pelos socialistas "como uma bofetada para acordar" e apelou aos venezuelanos que os reconheçam pacificamente.
EL PAÍS: Chavismo vive derrota que abala o papel dos militares no regime
Na madrugada de segunda-feira, em uma reação imediata após a divulgação do primeiro boletim oficial com os resultados das eleições legislativas, que expressava uma dura derrota do Governo, Nicolás maduro se disse “tranquilo, de consciência e alma”. Os resultados, no entanto, inauguram um cenário complicado para o fragilizado dirigente, no qual terão importante papel os militares, que, em uma aparição incomum, fizeram nesta segunda-feira um chamamento à calma enquanto as autoridades demoravam para apresentar os dados da apuração.
O governante venezuelano reuniu em um salão do Palácio de Miraflores, em Caracas, o estado-maior do grupo bolivariano, para fazer passar, pela televisão, uma imagem de unidade diante da adversidade. “Fizemos o que tinha de ser feito para proteger o povo e para sermos fieis a Hugo Chávez”, disse Maduro, que atribuiu a enorme derrota à “guerra econômica”, à escassez crônica de produtos de consumo básico, como quem fala de uma fatalidade: fez-se o melhor possível sob tais condições.
Mas o rei estava nu. Sob as mãos deNicolás Maduro, não se dilapidou apenas a força eleitoral do chavismo, sua fonte de legitimidade mais importante. O próprio Maduro, pessoalmente, se viu despojado, em menos de três anos, da aura quase mística que o próprio Hugo Chávez havia construído em torno dele ao escolhe-lo publicamente como sucessor em dezembro de 2012. Com 78% de participação nas urnas, não há dúvida de que eleitores habitualmente chavistas, em vez de se abster, votaram contra o programa bolivariano.
O chavismo não conhece bem o que é perder. Em 19 eleições, sua única derrota, por uma diferença mínima, havia ocorrido em 2007, com a recusa da reforma constitucional proposta por Chávez, que o próprio líder classificou como uma “vitória de merda” da oposição. Seu primeiro desastre eleitoral se dá, agora, justamente no dia em que se comemoravam 17 anos da vitória inicial de Chávez nas urnas, em dezembro de 1998. Com exceção de Maduro, a alta cúpula revolucionária nem sequer conseguia expressar seu o mal-estar diante da derrota. Uma aparição incomum.
Distante desse tabuleiro de xadrez, durante o domingo também parece ter se sentido atingido um suporte fundamental da autodenominada Revolução Bolivariana: o apoio incondicional das Forças Armadas. O ministro da defesa e chefe do Comando Estratégico Operacional (CEO), general Vladimir Padrino López, fez uma aparição incomum nas telas de televisão na noite do domingo, em um momento em que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) estava demorando para anunciar os resultados e ferviam nas redes sociais rumores sobre fraude e manobras.
Acompanhado do alto comando militar, todos uniformizados, Padrino López pediu aos venezuelanos que aguardassem os resultados com tranquilidade.
De acordo com algumas versões não confirmadas, a alta oficialidade deu sinais, ao longo dessa tensa noite de domingo, de que não contestaria nenhuma divulgação de resultados que refletisse algo diferente da realidade da votação. Teria sido o primeiro sinal de que os militares já não se mostram dispostos a ficar do lado do Governo chavista a qualquer custo.
No plano internacional, os meios de comunicação governistas destacavam, nesta segunda-feira, uma carta do presidente cubano, Raúl Castro, em que prevê para Maduro “novas vitórias (...) sob a sua direção”. Essas palavras podem ser vistas como um respaldo da influente direção cubana ao presidente venezuelano. Mas a liderança de Maduro foi atingida.
O chavismo já não é imbatível, e algumas figuras alternativas podem sentir, não como uma oportunidade, mas como um dever, a ideia de disputar a direção do movimento, a fim de resgatar essa condição. No Estado de Barinas (região sudoeste da Venezuela), berço geográfico da dinastia Chávez e reduto governista, os candidatos de oposição ganharam em todos os distritos. Isso dá a dimensão do estrago eleitoral sofrido pelo Governo.