DATAFOLHA: Rejeição a Lula é a 2.o maior da história (47% não votariam nele de jeito nenhum...)

Publicado em 29/11/2015 05:56
Por MAURO PAULINO, DIRETOR-GERAL DO DATAFOLHA e ALESSANDRO JANONI, DIRETOR DE PESQUISAS DO DATAFOLHA

(destaque da pesquisa é a corrupção:  DATAFOLHA  revela que tema é a principal objeto preocupação de 34%)

Um dado que chama a atenção no levantamento divulgado pelo DATAFOLHA neste domingo é o aumento da taxa de rejeição do ex-presidente Lula. Quase metade dos eleitores (47%) dizem que não votariam nele de jeito nenhum. É uma taxa inferior apenas a atribuída a Ulysses Guimarães (1916-1992) em pesquisas feitas em 1989, quando disputou a Presidência pelo PMDB. Em agosto daquele ano, Ulysses amargou 52% de rejeição, recorde até hoje.

Aécio é rejeitado por 24% atualmente; o vice Michel Temer (PMDB), por 22%. Alckmin e Marina, por 17%.

O Datafolha mostra ainda que a imagem de Lula como ex-presidente perde força com velocidade. Em 2010, ele era visto como o melhor presidente que o Brasil já teve por 71%. Caiu para 56% no fim de 2014; 50% em abril; 39% agora. Apesar disso, segue líder.

Do ponto de vista eleitoral, o maior beneficiado com a combinação de crise política e econômica não parece ser o PSDB, principal opositor da presidente Dilma Rousseff, mas a hoje reclusa Marina Silva (Rede), ex-senadora que ficou em terceiro na disputa pela Presidência em 2014.

É o que mostra a pesquisa Datafolha nos dias 25 e 26 com 3.541 entrevistas e margem de erro de dois pontos.

Na simulação que coloca o senador Aécio Neves como candidato do PSDB, Marina avançou três pontos (de 18% para 21%) e agora aparece tecnicamente empatada com o ex-presidente Lula (22%) na segunda posição. O tucano lidera com 31%, mas tinha 35% na pesquisa anterior.

Quando o candidato do PSDB é o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, Marina lidera isolada com 28%, seis pontos a mais que Lula (que caiu quatro desde junho) e dez a mais que o tucano (que oscilou dois para baixo).

 

Pela 1ª vez, corrupção é vista como maior problema do país, diz Datafolha

No ranking de problemas do país conforme a opinião dos brasileiros, a corrupção é, pela primeira vez, a campeã isolada. Segundo pesquisa Datafolha realizada nos dias 25 e 26 em todo o país, 34% dos eleitores colocam a corrupção como o principal problema do Brasil na atualidade. Na sequência aparece saúde, com 16%; desemprego, com 10%, educação e violência, ambos os temas com 8%. Economia é assunto citado por 5%.

 

A pesquisa foi feita em meio à Operação Lava Jato, que começou apurando a atuação de doleiros em 2014, agigantou-se com a descoberta de um esquema de corrupção na Petrobras envolvendo funcionários da estatal, grandes empreiteiras e políticos, e depois estendeu-se para o setor elétrico.

Entre os investigados estão petistas de proa, como o ex-deputado José Dirceu e o ex-tesoureiro da sigla João Vaccari Neto (ambos presos); os presidentes da Câmara e do Senado, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Renan Calheiros (PMDB-AL); e diversos outros congressistas, como os senadores Edison Lobão (PMDB-MA), Fernando Collor (PTB-AL), Lindbergh Farias (PT-RJ) e Romero Jucá (PMDB-RR).

A pesquisa foi feita logo após a prisão do pecuarista José Carlos Bumlai, conhecido pela amizade com o ex-presidente Lula. E simultaneamente à prisão do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) e do banqueiro André Esteves, dono do BTG Pactual, ambos suspeitos de sabotar a Lava Jato oferecendo vantagens ao ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, que assinou acordo de delação premiada.

O Datafolha investiga a principal preocupação dos brasileiros desde 1996, ainda durante o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso na Presidência.

Durante todo o período tucano (até 2002), o tema líder no ranking de principais problemas foi o desemprego, com o recorde de 53% no fim de 1999. Em algumas rodadas, fome/miséria apareceu em segundo lugar na lista de preocupações, assunto citado por apenas 1% atualmente.

Desemprego continuou reinando no ranking até o fim do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006.

O segundo mandato de Lula começou com um substancial aumento da preocupação com violência/segurança, assunto líder em todas as pesquisas de 2007. De 2008 até junho deste ano foi o período dominado pela saúde.

Sob Lula e FHC, corrupção nunca foi apontado como o principal problema do país por mais de 9% do eleitorado.

O tema começou a ganhar força em junho de 2013, primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, mês de enormes protestos de rua pelo país com pautas variadas, da tarifa do transporte à violência policial. Naquele momento, a corrupção foi citada como maior problema por 11%, recorde na série histórica do Datafolha até então.

Nas três pesquisas anteriores de 2015, ficou sempre acima de 20%. O Datafolha ouviu 3.541 pessoas. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

Reprovação ao governo Dilma cai de 71% para 67%, aponta Datafolha

A reprovação à gestão da presidente Dilma Rousseff caiu de 71%, em agosto, para 67% na pesquisa Datafolha dos dias 25 e 26 deste mês.

É uma novidade, considerando que não havia registro de variação maior que dois pontos neste indicador desde agosto de 2014, ainda durante a campanha eleitoral pela reeleição.

Não é a ocasião, porém, para que os governistas saiam comemorando. Os 67% de avaliação negativa da presidente petista (soma dos que julgam seu governo como ruim ou péssimo) são a segunda pior marca numérica desde a sua posse, em 2011.

Além disso, a queda de quatro pontos na reprovação não significou um aumento proporcional na aprovação.

Agora, 10% julgam o governo Dilma como bom ou ótimo, só dois pontos acima dos 8% apurados em agosto –o pior patamar de todos os presidentes desde a primeira pesquisa do gênero feita pelo Datafolha, em 1990, ainda no governo Fernando Collor.

A margem de erro no levantamento com 3.541 pessoas é de dois pontos percentuais.

Além da Operação Lava Jato, que mancha a imagem da Petrobras e atinge figuras importantes do PT e de sua base no Congresso, o persistente pessimismo geral com a economia ajuda a explicar as dificuldades de Dilma.

Para 77% a inflação irá aumentar no próximo período, taxa altíssima na comparação com os anos anteriores e praticamente inalterada desde março. Na opinião de 67% o poder de compra irá diminuir, um recorde (63% pensavam assim em junho).

E emprego, tema forte no discurso de Dilma, também é visto com inédito pessimismo pelos eleitores. Para 76%, o desemprego irá aumentar ante 73% que acreditavam nisso na última pesquisa.

Essa taxa vem crescendo seguidamente desde outubro de 2014, véspera do segundo turno das eleições. Era 26% naquele mês e já havia disparado para 62% no início do segundo mandato de Dilma.

O Datafolha também investigou a opinião dos eleitores sobre a hipótese de abertura de um processo de impeachment contra Dilma no Congresso Nacional. A ideia continua sendo apoiada pela maioria: 65% acham que os congressistas deveriam desencadear o processo, apenas um ponto percentual a menos que o apurado em agosto.

Para mais da metade dos entrevistados (56%), porém, ela não será afastada. Nesse cenário, 62% opinaram que Dilma deveria renunciar à Presidência da República.

 

Pessimismo e desesperança devem pautar ano de 2016

É improvável que os dados divulgados neste domingo (29) configurem uma trégua, mesmo que temporária, da opinião pública na reprovação da presidente Dilma Rousseff, taxa que cresceu 47 pontos percentuais ao longo de 2015.

O recorde negativo, conquistado em agosto e mantido em alto patamar agora, apesar de oscilações positivas, continua comparável apenas ao de Collor às vésperas da abertura do processo de impeachment. As crises política e econômica e as revelações da Lava Jato minaram a confiança dos brasileiros na viabilidade do país.

O pessimismo majoritário sobre a inflação e o desemprego associado à ideia cada vez mais presente no imaginário da população de que o Brasil é dominado pela corrupção –pela primeira vez apontada como principal problema do país– configura o balanço final do ano pós-reeleição da petista. O quadro arranhou o legado lulista.

Mesmo entre os mais pobres e menos escolarizados, perfil predominante na base eleitoral do PT, a avaliação negativa do governo tem índices expressivos.

Nesses segmentos, a taxa de eleitores frustrados com Dilma, aqueles que a escolheram na última eleição mas agora a reprovam, supera a média em mais de cinco pontos percentuais. Até entre os que recebem Bolsa Família, 62% a veem como ruim ou péssima. O próprio ex-presidente apresenta desgaste em sua imagem. As denúncias do envolvimento de amigos e familiares em episódios suspeitos intensificou a tendência.

Menções a Lula como o melhor presidente da história caíram 11 pontos nos últimos sete meses e metade da população rejeita o seu nome para concorrer à Presidência em 2018 –um choque para quem encerrou o segundo mandato com 83% de aprovação.

O Congresso também sofreu um revés forte. Os vários capítulos da crise política, além da descoberta das contas de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no exterior, refletiram na avaliação que os brasileiros fazem dos parlamentares. É uma das maiores taxas de reprovação da história.

Como parte da pesquisa foi realizada antes da prisão do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), é bem provável que, se o campo se estendesse, a taxa superasse o recorde de 1993, de 56%.

Se os dados de hoje dão algum alento ao governo devido às oscilações positivas na avaliação da presidente, a manutenção da tendência depende de quanto 2016 conseguirá despertar a confiança dos brasileiros e reverter a onda de desesperança.

  Editoria de arte/Folhapress  
 

Em um ano, praticamente dobrou a expectativa pelo aumento do desemprego (de 39% para 76%) e por uma queda no poder de compra dos salários (34% para 67%).

Ambiente pessimista acompanhou também FHC em seu primeiro ano reeleito, quando mudou a política cambial, provocando a desvalorização do Real. Em dezembro de 1999, 66% dos brasileiros esperavam um aumento do desemprego e 67%, crescimento da inflação. As taxas diminuíram um pouco ao longo do ano seguinte, assim como a popularidade do tucano teve leve melhora.

Tais mudanças, porém, não foram suficientes para impedir um avanço importante da oposição, especialmente de candidatos do PT, nas eleições de 2000.

A permanência do clima atual em 2016 pode gerar efeito semelhante, mas com atores incertos, já que a crise de representação se agrava e há mais vácuo do que oposição aos olhos da opinião pública.

Fonte: Folha de S. Paulo

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