Em VEJA: Empréstimo a Bumlai foi ligado por Marcos Valério ao assassinato de Celso Daniel

Publicado em 25/11/2015 04:09
Operador do mensalão afirmou ao MP que dinheiro silenciou empresário que ameaçava implicar Lula e Gilberto Carvalho no crime. Ao pedir a prisão do pecuarista, Lava Jato relembra depoimento, mas diz que destino do dinheiro é incerto

Na esteira de sua condenação pelo Supremo Tribunal Federal em 2012, por envolvimento no esquema do mensalão, o publicitário Marcos Valério prestou um depoimento ao Ministério Público Federal naquele ano em que citava o caso do assassinato de Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André, em São Paulo. Como revelou VEJA, diante da condenação a mais de 40 anos de cadeia, Valério indicou ao STF seu desejo de prestar novas declarações ao tribunal sobre o esquema. Um acordo de delação, contudo, nunca chegou a ser firmado. Na ocasião, o publicitário disse que um empréstimo concedido pelo Banco Schahin ao empresário José Carlos Bumlai em 2004 tinha como finalidade pagar uma extorsão a que eram submetidos Lula e o ex-ministro Gilberto Carvalho. No pedido de prisão preventiva de Bumlai no âmbito da Operação Lava Jato, o Ministério Público volta a citar o depoimento de Valério. O pagamento teria viabilizado a contratação da Schahin pela Petrobras para operar o navio sonda Vitória 10.000. Com base nos depoimentos de três delatores - o empresário Salim Schahin, o lobista Fernando Baiano e o ex-gerente da Petrobras Eduardo Musa -, o MP avalia que os 12 milhões de reais foram, de fato, para o caixa do PT. Mas ainda não esclareceu com qual finalidade.

O empresário e pecuarista José Carlos Bumlai é escoltado por policiais federais enquanto deixa o Instituto de Ciência Forense em Curitiba (PR) - 24/11/2015(Rodolfo Buhrer/Reuters)

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A negociação do empréstimo entre Bumlai e o grupo Schahin é descrita na delação premiada do empresário Salim Shahin. Segundo ele, Bumlai pediu os 12 milhões de reais em nome do partido, "pois havia uma necessidade do PT que precisava ser resolvida de maneira urgente". Na ocasião, Salim teria dito que se interessava em se aproximar do governo petista, mas se sentia "desconfortável" em ir adiante com a negociação por considerar o valor muito elevado. Dias depois, Bumlai apareceu com o então tesoureiro do PT Delúbio Soares, que lhe disse que a Casa Civil o procuraria como "evidência adicional", segundo o depoimento do acionista do grupo Schahin. O então chefe da Casa Civil José Dirceu telefonou pouco depois, contou. "A conversa tratou de amenidades, não abordando a operação de José Carlos Bumlai, mas a mensagem estava entendida (...) Apesar do desconforto pelo alto valor envolvido, o depoente (...) determinou a realização da operação", diz o texto do MPF.

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O empréstimo só viria a ser pago em 2009 por meio da escolha da Schahin para operar o navio sonda. A negociação envolveu a intermediação do lobista Fernando Soares, o Baiano, com o ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró. Em depoimento de delação premiada, Baiano conta que foi procurado por Bumlai no final de 2006. O amigo do ex-presidente teria dito que "tal empréstimo tinha por finalidade quitar dívidas contraídas pelo PT na campanha presidencial de 2002". Depois, no entanto, o lobista relatou ter ouvido de "outras pessoas" que a quantia seria usada para "pagar uma chantagem que o presidente Lula estaria sofrendo". Questionado sobre quem seriam esass pessoas, ele disse, sem se lembrar do nome, que poderia ser alguém próximo a Bumlai ou algum técnico da Petrobras. Na delação de Baiano ainda é explicitada a intimidade do pecuarista com Lula. Segundo os relatos do lobista, a amizade entre os dois se fortaleceu após o empréstimo tomado do grupo Schahin. Baiano, inclusive disse ter presenciado o empresário atendendo e fazendo ligações para o então presidente e que "o grau de intimidade nas conversas era realmente muito grande".

"Após ser transferido ao frigorífico Bertin, o destino final dos 12 milhões de reais ainda é controverso. Uma tese seria de que os recursos foram destinados ao Partido dos Trabalhadores com o objetivo de pagar dívidas da campanha presidencial (versão dada por Fernando Soares e Eduardo Musa). Outra versão seria de que o dinheiro foi utilizado para pagar um empresário de Santo André que ameaçava envolver pessoas relacionadas à cúpula do Partido dos Trabalhadores no caso Celso Daniel (versão de Marcos Valério)", afirma o MP no pedido de prisão de Bumlai.

O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, da força-tarefa da Lava Jato, afirmou que está investigando o percurso do empréstimo tomado do Banco Shahin até chegar ao caixa do PT. "Temos indicativos claros do uso de falsos documentos para a falsa quitação do empréstimo. O caminho do dinheiro para o PT ainda está em investigação". Ele também afirmou que não há provas da participação de Lula no petrolão, mas chamou a atenção para o fato de o nome do ex-presidente ter sido usado por Bumlai para viabilizar as negociações. "Esses empréstimos já eram noticiados por Marcos Valério naquela época (do mensalão). Há uma continuidade do uso de nomes de pessoas ligadas ao governo, incluindo o ex-presidente, por parte de Bumlai", afirmou.

Em seu depoimento de 2012, Valério cita o navio sonda locado à Schahin, a intermediação de Bumlai e o assassinato do ex-prefeito. Um montante de 6 milhões de reais teria sido repassado ao empresário de transportes de ônibus de Santo André Ronam Pinto para impedir que ele implicasse Gilberto Carvalho, Lula e José Dirceu no caso, segundo o depoimento de Valério. "Desse modo, Marcos Valerio também corroborou a versão do colaborador Eduardo Musa no sentido de que o empréstimo concedido a Bumlai destinava-se a pagar dívidas do PT, sendo posteriormente saldado com a contratação da Shahim para operação do navio-sonda Vitoria 10.000. Valério, contudo, vai mais longe, alegando que o empréstimo de Bumlai visava comprar o silêncio do empresário Rinam Pinto de Santo André, que ameaçava envolver pessoas ligadas ao PT à morte de Celso Daniel", diz relatório do MPF entregue ao juiz Sergio Moro.

Caso Celso Daniel - Prefeito de Santo André e coordenador da campanha de Lula, Celso Daniel foi sequestrado ao sair de uma churrascaria e morto em circunstâncias misteriosas em janeiro de 2002. O caso chocou o país. As investigações também: seguindo um estranho roteiro, a procura pelos assassinos esbarrava sempre em evidências de corrupção. E mais mortes. Sete pessoas ligadas ao crime morreram em circunstâncias também misteriosas, entre acusados, testemunhas, um agente funerário, um investigador e o legista do caso.

Conforme a versão da polícia, abraçada pelos petistas, Celso Daniel foi vítima de crime comum: extorsão mediante sequestro, seguido de morte. Já familiares afirmam desde o início do caso que a morte do prefeito é um crime político em torno de um esquema de propina em Santo André que era do conhecimento da cúpula petista. É também a tese do Ministério Público: desentendimentos sobre a partilha dos recursos teriam motivado o assassinato.

 

Lava Jato mira empréstimos do BNDES a Bumlai. E não descarta investigar Lula

Força-tarefa apura contratos operados pelo amigo do ex-presidente com instituições financeiras. Investigadores querem saber se houve interferência do Planalto

 

Ex-presidente Lula pode ser investigado pela força-tarefa da Lava Jato por ter beneficiado o amigo e pecuarista José Carlos Bumlai em contratos com a administração pública(Cristiano Mariz/VEJA)

A Polícia Federal e a força-tarefa da Lava Jato devem investigar se o governo do ex-presidente Lula beneficiou o pecuarista José Carlos Bumlai em contratos com a administração pública. Embora Lula não seja formalmente alvo de investigação, ele foi frequentemente citado pelo próprio Bumlai como a autoridade que poderia destravar impasses - desde a manutenção do ex-diretor Nestor Cerveró na Petrobras até a confirmação de um contrato de sondas pelo grupo Schahin. Por ora, a ofensiva dos investigadores deve se focar em empréstimos de instituições financeiras, como o BNDES, utilizados para o esquema de corrupção, mas a PF não descarta apurar se o Palácio do Planalto, sob a gestão Lula, interferiu em contratos operados por Bumlai.

A São Fernando Açúcar e Álcool Ltda. recebeu, em 2005, empréstimo de 64,66 milhões de reais do BNDES. Em 2008, novo repasse. Desta vez de 388 milhões de reais. A companhia entrou em recuperação judicial em 2013 com uma dívida de 1,2 bilhão de reais, incluindo débito de 300 milhões de reais resultado de empréstimos do banco de fomento. Em julho de 2012, a São Fernando Energia I Ltda., também de Bumlai, recebeu empréstimo de mais de 100 milhões de reais do BNDES, mesmo que na época a empresa contasse com apenas sete funcionários.

Em sua delação premiada, o lobista Fernando Baiano disse que, na tentativa de emplacar um contrato entre a empresa OSX, do ex-bilionário Eike Batista, com a Sete Brasil, empresa gestada no governo Lula para construir as sondas de exploração do petróleo do pré-sal, o empresário José Carlos Bumlai foi acionado para interceder junto a Lula. Em troca, o pecuarista teria recebido comissão de 2 milhões de reais, que acabaram repassados a uma nora do ex-presidente para a quitação da dívida de um imóvel.

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Bumlai repetiu mensalão e beneficiou PT, diz Moro

"Em relação ao ex-presidente Lula, são citações ainda sem qualquer conteúdo de prova efetiva. É muito comum que o nome seja usado sem autorização. Pode ser esse o caso, mas tem que apurar, ver se houve realmente alguma interferência do Palácio do Planalto nesses contratos", defendeu hoje o delegado Igor Romário de Paula, que atua na Lava Jato.

Segundo o procurador Diogo Castor de Mattos, a força-tarefa da Lava Jato já está investigando "dezenas de milhões de reais" em contratos suspeitos, incluindo documentos envolvendo as empresas São Fernando Açúcar e Álcool e São Fernando Energia, administradas pelos filhos de José Carlos Bumlai, e do frigorífico Bertin. De acordo com depoimento do ex-presidente do Banco Schahin, Sandro Tordin, os petistas Delúbio Soares e José Dirceu, condenados no julgamento do mensalão, intercederam para que a instituição financeira liberasse um empréstimo de cerca de 12 milhões de reais a Bumlai. Esse empréstimo, dizem os investigadores, teria sido fraudado para dar ares de veracidade ao repasse de recursos que quitariam dívidas de campanha do ex-presidente Lula em 2002. Ao final, com o dinheiro na conta de Bumlai, os valores foram transferidos para contas do Frigorífico Bertin.

"Existem outros empréstimos de instituições financeiras que estão sob investigação e somam quantias de dezenas de milhões de reais. Há suspeita de outros empréstimos. Caso haja realmente esse vínculo [com esquema de corrupção na Petrobras], tomaremos as medidas cabíveis em relação aos investigados", disse Mattos.

 

Bumlai usava nome de Lula em negociatas, diz Moro

Juiz Sérgio Moro afirma que há o receio de que o nome do ex-presidente seja usado também para interferir nas investigações da Lava Jato

 

José Carlos Bumlai embarca no hangar da Polícia Federal, em Brasilia(Ailton de Freitas/VEJA)

Preso preventivamente na 21ª fase da Operação Lava Jato, o lobista e pecuarista José Carlos Bumlai utilizava o nome do ex-presidente Lula para obter benefícios e contratos. A informação consta de pelo menos três depoimentos do lobista Fernando Baiano, que fechou acordo de delação premiada, e serviu de base para a decratação da prisão de Bumlai. O empresário e o petista são amigos íntimos desde 2002, quando foram apresentados pelo então governador de Mato Grosso do Sul Zeca do PT. Oficialmente, o ex-presidente não é investigado no petrolão, mas a cada dia pessoas próximas do petista - de ex-ministros a amigos pessoais - são envolvidas nas apurações da força-tarefa da Lava Jato e presas por ordem do juiz Sergio Moro.

Em sua delação premiada, o lobista Fernando Baiano disse que, na tentativa de emplacar um contrato entre a empresa OSX, do ex-bilionário Eike Batista, com a Sete Brasil, empresa gestada no governo Lula para construir as sondas de exploração do petróleo do pré-sal, o empresário José Carlos Bumlai foi acionado para interceder junto a Lula. Em troca, o pecuarista teria recebido comissão de 2 milhões de reais, que acabaram repassados a uma nora do ex-presidente para a quitação da dívida de um imóvel.

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Baiano também relatou às autoridades da Lava Jato outro episódio em que Bumlai teria atuado para que o ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró continuasse à frente da estatal. Conforme Baiano, Lula se comprometeu a atuar em favor de Cerveró, embora não tenha ocorrido a interferência de fato. Para o juiz Sergio Moro, "o episódio revela mais uma tentativa dele [Bumlai] de interceder indevidamente na Petrobras, invocando o nome do ex-presidente, no caso com interesses espúrios, considerando o envolvimento de Nestor com esquemas de corrupção". Em outro caso revelado pelo lobista que atuava em nome do PMDB no petrolão, José Carlos Bumlai teria intermediado a contratação do ex-presidente Lula para uma palestra em Angola e para que o petista recebesse visita de uma autoridade angolana.

Ainda segundo o delator, Bumlai atuava para obter um contrato de construção e aluguel de sondas em favor da Schahin. A operação, contudo, era uma maneira de compensar um empréstimo do PT junto ao Banco Schahin para quitar dívidas da campanha do ex-presidente Lula em 2002. Bumlai era avalista do débito por ter uma relação próxima com o político petista. "O contrato com a Petrobras seria uma forma de ressarcir o empréstimo feito ao Banco Schahin. O empréstimo com o Banco Schahin não seria pago pelo Partido dos Trabalhadores e a forma de compensar seria o Grupo Schahin obter os contratos de sondas junto à área de Exploração e Produção da Petrobras", relatou Baiano.

Na avaliação de Sergio Moro, todos esses casos evidenciam "a utilização indevida do nome e da autoridade do ex-presidente da República, que, mesmo não mais no cargo, ainda é uma das pessoas mais poderosas do país". "A fiar-se nos depoimentos, José Carlos Bumlai teria se servido, por mais de uma vez e de maneira indevida, do nome e autoridade do ex-presidente da República para obter benefícios. Não há nenhuma prova de que o ex-presidente da República estivesse de fato envolvido nesses ilícitos, mas o comportamento recorrente do investigado José Carlos Bumlai levanta o natural receio de que o mesmo nome seja de alguma maneira, mas indevidamente, invocado para obstruir ou para interferir na investigação ou na instrução", opina Moro.

Fonte: veja.com

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