Na FOLHA: Mulher de Lula desiste de triplex em Guarujá

Publicado em 07/11/2015 10:06
E ainda: "Portugal suspeita que Lula tenha sido usado por ex-primeiro-ministro preso" -- por CATIA SEABRA e REYNALDO TUROLLO JR., da FOLHA DE SÃO PAULO

A mulher do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marisa Letícia, desistiu de ficar com um apartamento triplex na praia das Astúrias, em Guarujá (SP), construído e comercializado pela empreiteira OAS, segundo a assessoria do petista.

Marisa visitou o condomínio algumas vezes, já que tinha a opção de compra do imóvel, mas vai pedir por meio de seus advogados que a OAS devolva o valor que ela investiu na fase de construção do prédio, informou a assessoria.

Lançado pela cooperativa habitacional Bancoop, o empreendimento foi transferido para a OAS em 2009 após a cooperativa entrar em crise financeira.

O Ministério Público de São Paulo afirma que o rombo nos cofres da Bancoop ocorreu em razão de desvios promovidos por ex-dirigentes da cooperativa, entre eles o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, preso na operação Lava Jato sob a acusação de intermediar propinas ao PT resultantes do esquema de corrupção na Petrobras. Vaccari nega a prática dos crimes.

A OAS também é acusada na Lava Jato por supostamente ter pago suborno para obter vantagens em contratos da estatal de petróleo. A empreiteira diz que não cometeu delitos.

Como informado pela Folha em dezembro, Lula e Marisa passaram a cogitardesistir da aquisição do imóvel após no fim do ano passado, quando o triplex ganhou visibilidade na imprensa.

À época, corretores locais avaliavam que o preço do imóvel seria de R$ 1,5 milhão. Na eleição de 2006, Lula informou à Justiça Eleitoral ter pago à Bancoop R$ 47.695,38 pelo apartamento.

A assessoria de Lula informou que o investimento de Marisa durante a fase de construção do prédio continuou até 2010, mas não informou o total despendido para garantir a opção de compra da unidade.

Com a decisão de agora, Marisa vai pedir a devolução dos valores pagos durante a fase de construção do condomínio nas mesmas condições oferecidas aos cooperados da Bancoop que desistiram do negócio, segundo a assessoria de Lula.

O condomínio em Guarujá é constituído por duas torres com quatro unidades por andar e é localizado na avenida da praia das Astúrias, em Guarujá. O triplex fica no 16º andar, de frente para o mar. Tem área de 297 m², sala com varanda e uma piscina de 3 m x 4 m e 80 cm de profundidade.

DECORAÇÃO

Em outubro a revista "Veja" informou que a OAS pagou por benfeitorias no triplex, entre elas a instalação de um elevador privativo.

Procurada pela Folha, a OAS informou que o triplex ainda não foi vendido e ainda pertence à construtora. Sobre as obras na unidade, a construtora afirmou que "apenas foram feitas obras para decorá-lo, instrumento de venda usual no mercado e adotado pela empresa em vários de seus empreendimentos".

Moacyr Lopes Junior - 23.dez.2014/Folhapress  
O apartamento em Guarujá que seria adquirido por Marisa, mulher do ex-presidente Lula

 

Portugal suspeita que Lula tenha sido usado por ex-primeiro-ministro preso

Autoridades de Portugal investigam indícios de que o ex-primeiro-ministro português José Sócrates, preso em 2014 sob suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro, tenha utilizado sua influência junto ao ex-presidente Lula para beneficiar uma empresa em negócios com o Ministério da Saúde brasileiro.

A investigação foi divulgada nesta sexta (6) pelo jornal português "Observador". Segundo a reportagem, o DCIAP (Departamento Central de Investigação e Ação Penal) português suspeita que Sócrates tenha tentado praticar tráfico de influência internacional.

De 2013 até novembro de 2014, quando foi preso no âmbito da Operação Marquês, o ex-primeiro-ministro atuou como consultor para a América Latina da Octapharma, uma empresa suíça que é uma das maiores produtoras de hemoderivados do mundo.

Nesse período, em que era o contato da Octapharma com as autoridades brasileiras, conforme a investigação, Sócrates encontrou com o ex-presidente Lula e com ex-ministros da Saúde brasileiros com o objetivo de obter vantagens para a empresa.

A Octapharma, segundo o jornal, queria fornecer plasma sanguíneo à Hemobrás, estatal brasileira do setor, ou atuar em um acordo de cooperação entre a Hemobrás e o Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo.

Esse acordo entre os órgãos brasileiros, para produção de plasma sanguíneo, havia sido firmado em 2011.

A Hemobrás afirmou que não fez contratos com a Octapharma (leia mais abaixo).

Um dos encontros citados foi entre Sócrates e o ex-ministro da Saúde José Gomes Temporão (2007-2010), realizado em setembro de 2014. Nessa reunião, no Rio, teriam tratado da participação da Octapharma na parceria entre Hemobrás e Butantan.

No mês seguinte, o ex-premiê teria se encontrado com Lula para influenciar o então ministro da Saúde do governo Dilma Roussef, Arthur Chioro, de acordo com os interesses da Octapharma.

Dessa reunião participaram também, segundo o jornal português, o então presidente da Hemobrás, Rómulo Maciel Filho, e o líder da Octapharma Portugal e administrador da holding suíça, Paulo Lalanda Castro –investigado na mesma operação que prendeu Sócrates.

Ainda segundo o jornal, o político português também se encontrou com o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (2011-2014), em reunião que constou da agenda oficial.

OUTRO LADO

O Ministério da Saúde, que mantém contratos com a Octapharma desde pelo menos 2002, de acordo com o Portal da Transparência do governo federal, informou que "segue rigorosamente a legislação de compras públicas", negando ter sofrido influência.

"Todos os contratos da área de hemoderivados foram firmados mediante licitação, com realização de pregão e ampla concorrência. Atualmente, são quatro empresas fornecedoras com contratos vigentes", afirmou o ministério, por meio de uma nota.

A Hemobrás (Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia) informou, também em nota, que não tem "nenhum contrato com a Octapharma, seja para o fracionamento de plasma sanguíneo seja na cooperação da estatal com o Butantan".

O Instituto Lula, que responde pelo ex-presidente, afirmou que Lula jamais intermediou negócios entre a empresa e o governo.

"O ex-presidente Lula não ocupa cargo público desde 2011 e não intermediou negócios nem antes, nem durante, nem após sua saída da presidência da República."

José Gomes Temporão, ex-ministro da Saúde do governo Lula, disse que, após ter deixado a pasta, encontrou-se com o ex-primeiro-ministro português José Sócrates para discutir os fundamentos das parcerias público-privadas na área da saúde.

"Jamais fui 'contato' de José Sócrates em benefício do que quer que seja", afirmou. "Durante minha gestão como ministro nunca recebi a Octapharma nem tampouco o ex-primeiro-ministro".

Segundo o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, a Octapharma é uma das maiores empresas do setor de derivados de sangue do mundo e não precisa da intermediação de Lula ou de qualquer outro político para ser recebida por autoridades.

"Parece que existe um fetiche com o ex-presidente Lula", disse Padilha.

O também ex-ministro da Saúde Arthur Chioro disse que nunca recebeu José Sócrates em audiência e que Lula nunca tratou do assunto com ele.

 

Perguntas que Lula é obrigado a ouvir constrangem mais que suas respostas, por Josias de Souza (UOL)

 

Ninguém disse ainda, talvez por pena. Mas Lula tornou-se um personagem constrangedor. Ele constrange mais pelas perguntas que é obrigado a ouvir do que pelas respostas que não consegue dar. Na boa entrevista exibida pelo SBT na noite desta quinta-feira, o repórter Kennedy Alencar mostrou a que ponto chegou o morubixaba do PT ao indagar: Teme ser preso?

Alvejado por uma apuração da Procuradoria sobre tráfico de influência, intimado a depor na Polícia Federal num inquérito da Lava Jato, rodeado de filhos, parentes, amigos e ex-assessores sob investigação policial, Lula respondeu negativamente. “Eu não temo ser preso porque duvido que tenha alguém nesse país, do pior inimigo meu ao melhor amigo meu, do pequeno ao grande empresário, que diga que algum dia teve alguma conversa ilícita comigo.”

Noutro ponto da conversa, o repórter questionou o ex-mito sobre a desconversa do “eu não sabia”. Já não soube do mensalão. Como não saber também do petrolão? “Eu não fui alertado pela gloriosa imprensa brasileira, não fui alertado pela Polícia Federal, não fui alertado pela Receita Federal ou pelo Ministério Público”, declarou. Noutros tempos, o lema de Lula era “sem medo de ser feliz.” Hoje, poderia ser: sem medo de ser ridículo.

Lula atingiu a máxima eficiência. Ele mesmo nomeia os ladrões, eles mesmo se jacta de ter vitaminado o combate à corrupção e ele mesmo se isenta de responsabilidade pela roubalheira. “Sou o presidente que mais visitou a Petrobras. Nunca ninguém me disse que tinha algum corrupto.”

Nessa época, Dilma presidia o Conselho de Administração da Petrobras. O companheiro João Vaccari transformava propinas em doações registradas pelo PT na Justiça Eleitoral. E Lula culpa o mundo por não ter sido avisado.

A alturas tantas, Lula repetiu para o repórter o mantra segundo o qual sua mãe morreu analfabeta, mas lhe ensinou a andar sempre de cabeça erguida. É animador saber que Lula conserva a fronte levantada. Com sorte, ao passar defronte de um espelho, vai acabar enxergando a imagem de um culpado. Do contrário, corre o risco de migrar da atual condição de constrangedor para o patético.

 

Na 5a. feira, Lula disse que não irá admitir que o chamem de corrupto

Em discurso com fortes críticas aos defensores do impeachment da presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira (5) que não irá admitir que o chamem de corrupto e reconheceu a possibilidade de ser candidato à sucessão presidencial em 2018.

Em encerramento da 5ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, promovida pelo Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional), o petista afirmou que atualmente não é candidato ao Palácio do Planalto, mas ponderou que se daqui a três anos aparecer uma candidatura que ameace acabar com as conquistas dos governos petistas à frente do governo federal, ele estará na campanha eleitoral "ou como cabo eleitoral ou como candidato".

"Nem que tenha apenas um minutos de vida, se estiver concorrendo contra nós um projeto conservador que tenha como objetivo acabar com as coisas que fizemos neste país, pode estar certo que eu estarei na campanha ou como cabo eleitoral ou como candidato", acrescentou.

O petista afirmou que as críticas que ele tem sofrido atualmente são resultado do receio de que ele seja candidato presidencial, ressaltou que não permitirá mais que corruptos o chamem de corrupto e disse todos aqueles que duvidam se seu caráter não possuem nem 10% de sua honestidade.

"Não vou mais admitir que corrupto nos chame de corrupto. Todos esses que ficam nos acusando, se colocarem um dentro do outro, não chega a 10% da minha honestidade nesse país", disse.

Em delação premiada, o lobista Fernando Soares disse ter feito um pagamento de R$ 2 milhões a um amigo do petista, montante que seria destinado a uma nora do ex-presidente. O lobista disse que o dinheiro foi destinado ao pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula.

No discurso, o petista defendeu que nesse momento é necessário ter coragem para responder às críticas e afirmou que os escândalos de corrupção estão sendo investigados pela Polícia Federal porque o atual governo federal tem priorizado a apuração, diferente das gestões anteriores.

"Vocês sabem que o momento em que a presidente Dilma Rousseff tem vivido não é o melhor e os ataques que estou sofrendo não são à toa", disse. "Eles estão dando de barato de que a Dilma acabou e agora vamos acabar com o Lula, porque esse tal de Lula pode voltar em 2018", acrescentou.

O petista também ironizou o acampamento, em frente ao Congresso Nacional, de movimentos favoráveis ao impeachment da presidente. Segundo ele, é necessário informar a eles a necessidade de se ganhar uma eleição para governar o país e "exercer a democracia".

"Na frente do Congresso Nacional tem um acampamento da turma que que quer o impeachment. Nós temos de dizer para essa gente que eles tem o direito de querer um presidente. Mas se eles querem ter um presidente, aprendam a exercer a democracia e ganhem a eleição como nós ganhamos. Não vamos admitir o impeachment da presidente", disse.

O encerramento da cerimônia teve as participações dos ministros Marcelo Castro (Saúde), Nilma Gomes (Mulheres e Direitos Humanos), Patrus Ananias (Desenvolvimento Agrário) e Tereza Campello (Desenvolvimento Social). Em discurso, Campello saiu em defesa do petista e disse que se ele tem culpa por algo no país, é por ter tirado o Brasil do mapa da fome da ONU (Organização das Nações Unidas).

"Muitos dizem que o senhor é culpado de muita coisa. Nós nesse plenário dizemos que o senhor é culpado por tirar o país da fome, por ter criado o Bolsa Família e por ter reduzido a mortalidade infantil", afirmou.

No discurso, o petista fez críticas também ao relator da proposta orçamentária de 2016 na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR), que defendeu uma redução de R$ 10 bilhões na previsão de despesas do Bolsa Família.

Segundo ele, quem defende um corte no programa social "não tem noção do que significa" a importância da iniciativa para a distribuição de renda. Ele sugeriu ao deputado federal que, em vez de sugerir a redução do Bolsa Família, cobre mais das classes mais ricas.

"Eles estão aproveitando uma maré conservadora para tentar jogar em cima das famílias mais pobres do país a responsabilidade de muita coisa do que eles têm culpa. O que está em disputa nesse país é a comparação de projetos", disse. 

 

TSE está apto a julgar cassação, diz Gilmar Mendes

  Ed Ferreira - 04.nov.2015/Folhapress  
O vice-presidente do TSE e ministro do STF, Gilmar Mendes, em entrevista à Folha

O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) não terá problemas para enfrentar a cassação da presidente Dilma Rousseff caso seja comprovado que houve abuso de poder econômico e político nas eleições de 2014.

A afirmação é do vice-presidente do tribunal e ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes, 59, que acabou preterido da relatoria de uma das quatro ações em discussão na corte. "Não é nada desejável, mas se houver elementos, o tribunal poderá se pronunciar sobre isso, como tem se pronunciado em casos de senador, deputado, prefeito e vereador."

Sobre a Operação Lava Jato, o ministro defende que é preciso desvendar o comando do esquema e lembra que Dilma ocupou cargos relevantes durante o desenrolar das práticas criminosas na Petrobras.

"Sabemos que isso não se desenvolveu por geração espontânea e ela estava em funções-chave desde o Ministério Minas e Energia, Casa Civil e Presidência. Tem ela condições de continuar a governar?", questiona.

Coordenador acadêmico do Instituto Brasiliense de Direito Público, o ministro participa, ao lado de juristas brasileiros, alemãs e portugueses, a partir desta segunda (9), do XVIII Congresso Internacional de Direito Constitucional. Promovido pelo IDP, o evento vai discutir saídas para crise política e econômica brasileira. Para o ministro, o modelo de presidencialismo de coalizão está esgotado.

*

Dilma tem condições de chegar ao fim do mandato?
Temos muitas discussões abertas, como o impeachment, processos na Justiça Eleitoral, mas estamos numa situação muito difícil. É preciso encontrar o encaminhamento institucional e não podemos esquecer que, ao lado da grave crise política temos a crise econômica, que exige medidas de quem tem legitimidade, credibilidade e autoridade. Esses são elementos que estão em falta no mercado político.

Renúncia seria o caminho?
Não vou emitir juízo de valor, mas estou convencido de que é muito difícil chegarmos a 2018 com esse quadro de definhamento econômico.

As investigações de corrupção chegando perto do ex-presidente Lula agravam o cenário?
Não se estrutura um sistema dessa dimensão sem a participação de atores políticos importantes. Tanto é que eu brinquei: esse enredo não entra na Sapucaí, é preciso que ele seja completado. Todos nós que temos experiência na vida pública não imaginamos que um deputado vá à Petrobras e consiga levantar recursos. É preciso outro tipo de arranjo.

Dois delatores disseram acreditar que Lula e Dilma sabiam do esquema...
Não vou fazer juízo, mas não acredito que isso nasceu por ação espontânea de parlamentares que foram à Petrobras, Eletrobras, Eletronuclear e decidiram fazer lá um tipo de pedido.

O presidente da Câmara é investigado por manter contas no exterior. Diante dessa situação, Eduardo Cunha deveria se afastar do cargo?
A gente tende a falar mal dos nossos políticos, mas, ao longo dos anos, logramos desenvolver uma classe política muito hábil, que propiciou desdobramentos históricos interessantes, como a transição do regime militar para o modelo de 1988. Espero que o segmento político se inspire nesses exemplos para encaminhar soluções adequadas.

Se o Supremo aceitar a denúncia, Cunha deveria se afastar automaticamente?
Não gostaria de emitir juízo de valor.

Alguns deputados questionam a legitimidade de Cunha para avaliar um pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.
É uma questão interna do Congresso. Mas, por esse argumento, quem ainda poderia tomar alguma decisão? O que se diz é que não há nenhuma prova contra a presidente, mas nós sabemos que isso não se desenvolveu por geração espontânea, e ela estava em funções-chave desde o Ministério de Minas e Energia, Casa Civil e Presidência. Tem ela também condições de continuar a governar?

O PT apresentou um parecer do jurista Dalmo Dallari em que ele diz que o TSE não tem competência para cassar mandato de presidente. O senhor concorda?
Eu acho que nem o Dalmo nem o PT acreditam nesse parecer. Isso não tem o menor cabimento. Nunca se questionou a competência da Justiça Eleitoral. É como dizer que o presidente não esteja submetido às regras básicas de uma campanha limpa.

O senhor reclamou que o TSE estava muito acostumado a chancelar coisas do Executivo. Isso mudou?
O tribunal foi vacilante na campanha presidencial de 2014. O abuso geral da campanha era muito difícil de ser coibido, aumento de Bolsa Família em março, quem impugna esse tipo de questão? O Ministério Público talvez pudesse ter sido ator mais presente. Pelo menos na Justiça Eleitoral, parecia meio cooptado. Acredito que já vivemos um novo momento.

Não teria problema de enfrentar cassação de presidente?
Não. Não é nada desejável, mas, se houver elementos, o tribunal poderá se pronunciar sobre isso, como tem se pronunciado em outros casos de senador, deputado, prefeito e vereador.

Como o senhor recebeu a decisão de que a ministra Maria Thereza de Assis Moura foi mantida na relatoria de uma das ações de cassação?
É uma decisão normal, uma das possibilidades. O processo estará em boas mãos.

Mas o fato de a ministra ter votado pelo arquivamento da ação não terá influência no andamento do processo?
Acho que o tribunal superou esse entendimento [arquivamento] de maneira expressiva, 5 votos a 2, e certamente ela terá que conduzir o processo sob as diretrizes estabelecidas pelo plenário. E existem muitos elementos que vão permitir uma adequada avaliação sobre o pedido. O importante é que, tendo em vista os fortes indícios, o TSE optou por abir a ação.

No Congresso do IDP, os juristas vão discutir questões estruturantes do constitucionalismo brasileiro. O senhor acredita que o desgaste pelo qual passa a presidente Dilma também é motivado pela crise do presidencialismo?
É inequívoco que esse, como se diz politicamente, presidencialismo de coalizão, essa junção de base, se exauriu. Basta ver a multiplicação de partidos e a dificuldade de se somar apoio com alguma consistência programática. As negociações se sucedem e parece que é um quadro em que os agrupamentos políticos continuam insaciáveis.

O senhor defende o parlamentarismo?
Chegamos hoje a um quadro de comprometimento da governabilidade e precisamos reagir. Temos que ver qual é o modelo, a saída. Veja que fizemos tentativas de intervenção judicial com questão da fidelidade partidária, com a questão do financiamento. A prova de que chegamos ao fundo do poço é o estado de não governabilidade que nos encontramos.

 

Inflação deve passar de 10% com alta no preço de alimentos e energia

Pela primeira vez em 12 anos, a inflação oficial, medida pelo IPCA, deve chegar a dois dígitos no acumulado em 12 meses.

Economistas consultados pela Folha preveem que a alta dos preços dos alimentos e da energia vão colocar o índice pouco acima de 10% em novembro.

A última vez que isso ocorreu foi em novembro de 2013, quando chegou a 11,02%. Naquele ano, o país enfrentava uma crise gerada pela incerteza do mercado financeiro sobre o primeiro governo do PT.

Em outubro, a inflação oficial do país foi de 9,93% em 12 meses. Metade dessa alta veio do custo de se morar (com alta da energia elétrica e taxa de água e esgoto) e de comer (com alta dos alimentos).

Pelos cálculos da LCA Consultores, a inflação mensal deve até desacelerar de outubro (0,82%) para novembro (0,66%). Mas isso será insuficiente para impedir que em 12 meses o índice acumule uma alta de 10,09%.

Outras consultorias e bancos também apostam em inflação em dois dígitos no mês que vem, como o Credit Suisse (10,1%), RC Consultores (10,1%), Itaú (10%), MB Associados (10%) e Gradual Investimentos (10,03%).

Segundo a LCA, a energia elétrica residencial deve subiu 2,13% este mês, acelerando em relação aos 0,87% de outubro. O motivo é o reajuste de 16% na tarifa de energia da concessionária Light, no Rio.

"A inflação deve fechar o ano acima de 10% se o o governo aumentar o preço da CIDE dos combustíveis de R$ 0,10 para R$ 0,40. E nós acreditamos que isso deve ocorrer", disse Fabio Romão, economista da LCA.

Segundo Romão, o CIDE seria elevada no início de dezembro para compensar a dificuldade de recriar a CPMF, o imposto provisório considerado pelo governo como uma "ponte" do ajuste fiscal do país.

Marcel Caparoz, da RC Consultores, diz que novembro e dezembro são meses em que historicamente ocorre aceleração dos preços, como nas passagens aéreas, o que deve se repetir neste ano.

"Os combustíveis podem continuar sendo pressionados no mês pelo álcool", disse Caparoz, que prevê a inflação em 0,67% em novembro, acumulando 10,1% em 12 meses.

Para André Perfeito, economista da Gradual Investimentos, o índice de inflação deve chegar a 10,03% em novembro. O índice deve permanecer nesse patamar até o fim do ano, apesar do menor impacto dos combustíveis.

Em relatório, o banco de investimentos Credit Suisse destaca que a alimentação em casa vai continuar pesando sobre o índice. A inflação desse grupo de produtos responde por 16% do IPCA e avançou 10,2% em 12 meses até outubro.

Erros do PT sacrificam a população (RONALDO CAIADO, senador/DEM)

Os brasileiros estão perplexos com o estado de degradação da economia. Até setembro, mais de 650 mil vagas formais de emprego foram fechadas; em 12 meses, mais 1,2 milhão de empregos foram perdidos; o poder de compra dos salários caiu 4% em um ano; a taxa de inflação alcança 10%, e a recessão deve ser de 3%, com perspectiva de nova depressão em 2016. Para corrigir esse quadro estarrecedor, qual foi o caminho adotado pelo governo?

Além da emenda constitucional de restauração da CPMF e do projeto para repatriar capitais de origem duvidosa, foram adotadas 11 iniciativas: dez medidas provisórias e um projeto de lei. Ainda podem ser distribuídas entre cinco medidas de natureza meramente arrecadadora (incluindo venda de ativos); uma de natureza administrativa (de pouca eficácia); uma para facilitar a negociação com desempregados (PPE); e quatro que descarregam o ônus sobre a população, seja na forma de redução do suporte social, seja na diminuição de pensão por morte e seguro-desemprego ou na elevação do custo previdenciário do trabalho.

Um governo que demonstrou não ter apreço pela restrição orçamentária –e as pedaladas estão aí para provar– não se qualifica para pedir sacrifícios à população. Dilma e sua equipe econômica precisam saber que não enganam mais e que o rumo do ajuste precisa desfazer o que nunca deveria ter sido feito. Como transferir recursos fiscais para um grupo de empresários escolhidos, por exemplo.

Nesse ponto, cabe uma sugestão de ajuste eficiente: em um dos anexos da Lei Orçamentária de 2015, encontram-se R$ 91 bilhões gastos em subsídios, sendo R$ 23 bilhões destinados ao BNDES como fonte para a tal "Bolsa Empresário". Esse valor nasce da diferença entre a taxa de juros paga e a taxa arrecadada pelo governo. Em meio a um mar de carências, despesas como essas não podem passar incólumes. É necessário tratar do pagamento antecipado do BNDES ao governo, seja diminuindo a carteira de títulos do banco, seja pela venda de seus ativos.

Afinal, antes de pedir, por exemplo, que estudantes sejam punidos com a perda do Fies, não seria socialmente preferível que os poucos empresários privilegiados com os bilhões de reais do BNDES percam subsídios?

O governo fez escolhas erradas, e a crise está aí. As escolhas para o ajuste seguem esse caminho, e o desânimo tomou conta da população e dos agentes econômicos. Nesse quadro, os ideólogos petistas defendem o retorno às práticas da nova matriz econômica, que, embora ninguém saiba muito bem o que seja, tem significado a ampliação dos gastos públicos como forma de ampliar a demanda e os investimentos.

Esse trajeto jamais foi observado no mundo. Entre os fatores determinantes do investimento, há os de fora da economia, que decorrem do julgamento que se faz da disposição política do governo, bem como de sua ideologia. O governo do PT controlou preços para disfarçar a inflação, desestruturou a Petrobras, aniquilou o setor elétrico, defendeu um protecionismo anacrônico, manipulou a política monetária e tenta agora controlar a taxa de câmbio com um caríssimo programa de swap cambial (perda de R$ 120 bilhões até o fim de setembro).

Esses são alguns pontos de escolhas equivocadas, dirigidas pela ideologia, que explicam por que esse governo é desacreditado e por que hoje ele representa a maior ameaça ao Brasil.

Caminhos existem, mas, enquanto vivermos nesse presidencialismo predador, em que a presidente usa e abusa de cargos e negociatas, o Brasil ficará refém dessa crise gestada e alimentada pelo Planalto.

 

Fonte: Folha de S. Paulo + UOL

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