Na FOLHA: A pedido da defesa, PF adia depoimento de filho de Lula

Publicado em 28/10/2015 17:26

A pedido da defesa de Luis Claudio Lula da Silva, filho caçula do ex-presidente Lula, o depoimento que ele prestaria às 15h desta quinta (29), na Polícia Federal de São Paulo, foi adiado

Um advogado da equipe que defende o empresário de marketing esportivo solicitou a mudança de data nesta manhã junto à PF. Ele argumentou que precisava de mais tempo para estudar o inquérito.

A defesa do filho de Lula disse que teve acesso aos documentos da investigação na terça-feira (27), mesmo dia em que o empresário foi intimado. A coluna Mônica Bergamo, da Folha, revelou que a polícia foi ao apartamento de Luis Cláudio na noite de terça, por volta das 23h, para intimá-lo a depor nesta quinta no inquérito que apura irregularidades na Operação Zelotes.

Ele tinha acabado de sair da festa de aniversário do pai, que completou 70 anos na última terça.

Luis Cláudio será ouvido por um delegado da Delefin, a Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros, entre uma semana e 15 dias, como é praxe nesses casos.

Nesta quinta, o filho de Lula não apareceu no escritório onde trabalha, nos Jardins. Este foi o primeiro dia em que ele não esteve no local desde que suas empresas –a LFT Marketing e a Touchdown Promoções– foram alvos de busca e apreensão.

O nome de Luis Cláudio foi incluído na investigação depois que o Ministério Público Federal identificou o pagamento de R$ 2,4 milhões da empresa de lobby Marcondes & Mautoni a LFT Marketing Esportivo, uma das empresas do filho de Lula.

O advogado dele, Cristiano Martins, afirma que todos os serviços prestados para a Marcondes & Mautoni foram estritamente ligados à área esportiva a não tiveram ligação com lobby.

 

Lula diz ser 'vítima de pancadaria' e que 'vai sobreviver' a investigações

Alvo de investigações que envolvem inclusive seu filho caçula, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quinta-feira (29) que "vai sobreviver" ao que chamou de "três anos de muita pancadaria", em referência indireta a sua possível candidatura à Presidência da República em 2018.

"Ninguém precisa ficar com pena. Aprendi com a vida a enfrentar adversidade. Se o objetivo é truncar qualquer perspectiva de futuro, então vão ser três anos de muita pancadaria. E, podem ficar certos, eu vou sobreviver", disse Lula em discurso de mais de uma hora diante da cúpula do PT, em Brasília.

Nesta segunda-feira (26), a Polícia Federal realizou mandado de busca e apreensão nos escritórios que sediam a LFT Marketing Esportivo e Touchdown Promoção Eventos Esportivos, empresas de Luis Cláudio Lula da Silva, filho do ex-presidente. A busca foi feita no âmbito da Operação Zelotes, que investiga um esquema de pagamento de propina a integrantes do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), vinculado ao Ministério da Fazenda.

Frente às investigações, Lula ironizou as ações da PF, do Ministério Público Federal e a delação de Fernando Baiano, que afirmou que a nora do ex-presidente recebeu dinheiro de propina do esquema de corrupção na Petrobras.

"É tudo muito incerto. Denúncias contra o presidente da Câmara, denúncias contra o presidente do Senado, denúncia contra o filho do Lula, denúncia contra Lula. Eu tenho mais três filhos que não foram denunciados, sete netos e uma nora que está grávida. Porra, não vai terminar nunca isso? E me criaram um problema desgraçado. Disseram que uma nora recebeu R$ 2 milhões. Aí vão perguntar quem está rico na família. Daqui a pouco uma nora entra com um processo contra a outra", declarou sob risos da plateia formada por dirigentes do PT.

Em documento elaborado pela cúpula do partido, que pode sofrer alterações antes de ser divulgado nesta quinta, o PT pede que a militância petista saia em defesa de Lula e de seu "legado", afirmando que o ex-presidente se tornou "alvo prioritário de armações que se multiplicam em núcleos da Polícia Federal, do Ministério Público e do Poder Judiciário vinculados a operações supostamente anticorrupção".

"Vazamentos seletivos, prisões abusivas, investigações plenas de atropelo e denúncias baseadas em delações arrancadas a fórceps e sem provas comprobatórias, entre outros eventos, revelam a apropriação de destacamentos repressivos e judiciais por grupos subordinados ao antipetismo, que atuam com o intuito de difamar o principal partido da classe trabalhadora, seus dirigentes e o maior líder da história brasileira".

A empresa do filho de Lula é suspeita de ter recebido repasses da Marcondes & Mautoni, firma de lobistas que atuaram na aprovação de uma medida provisória que prorrogou a isenção de imposto para a indústria automobilística. A Marcondes pagou R$ 2,4 milhões à empresa de Luis Cláudio. Aliados do filho de Lula dizem que ele tem notas que comprovam o serviço prestado, mas os recibos ainda não vieram a público.

 

Fazenda e Receita pedem quebra de sigilos de filho de Lula (Luís Cláudio) e ex-ministro Gilberto Carvalho

Na tentativa de ampliar a investigação da Operação Zelotes, o Ministério da Fazenda e a Receita Federal propuseram a quebra dos sigilos fiscal e bancário de Luis Cláudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula, e de Gilberto Carvalho, ex-ministro da presidente Dilma Rousseff e ex-chefe de gabinete do ex-presidente Lula.

Nas investigações sobre Luis Claudio, estão na mira, além de suas movimentações pessoais, os dados da LFT Marketing Esportivo e da Touchdown Promoções e Eventos Esportivos, das quais ele é sócio. No caso de Gilberto Carvalho, o pedido inclui a quebra dos sigilos fiscal e bancário de sua mulher, de seus filhos e de várias empresas ligadas à família.

Ao todo, o relatório produzido pela Corregedoria-Geral da Fazenda e pelo setor de inteligência do fisco pedem a quebra de sigilos, de 2008 a 2015, de 21 empresas e 28 pessoas.

A expectativa na Receita é que o Ministério Público Federal, a quem cabe formalizar as solicitações, as acate e envie os pedidos à Justiça Federal nesta quarta-feira (28).

Mesmo sem ter nenhum funcionário, segundo os auditores da Receita, a LFT recebeu R$ 2,4 milhões da Marcondes e Mautoni Empreendimentos, cujo dono, Mauro Marcondes, foi preso na mais recente etapa da operação, segunda (26). Ele é suspeito de ter participado da suposta compra de medidas provisórias que beneficiam a indústria automotiva.

"Tal constatação [...] aduz ao questionamento sobre que tipo de serviço foi prestado pela LFT à Marconi & Mautoni que motivou pagamento de tão grande quantia", indagaram os auditores no relatório.

As sugestões constam no relatório elaborado pela Receita e anexado ao inquérito da Operação Zelotes, que encontrou indícios de venda das MPs e pagamentos de propina a integrantes do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), vinculado ao Ministério da Fazenda.

A Coordenadoria de Investigação da Receita, responsável pelo documentos, quer identificar as origens e destinos das movimentações financeiras do filho de ex-presidente e de suas empresas, além dos valores que passaram pelas contas.

A Receita pleiteia ainda acesso às informações fiscais e bancárias de um restaurante da filha do ex-ministro Gilberto Carvalho, que também foi chefe de gabinete de Lula.

O Fisco propõs derrubar os sigilos da Cantina Sanfelice de 2008 a 2015, estabelecimento em Brasília que pertencia à filha de Carvalho e seu ex-marido. Segundo o ex-ministro, o restaurante quebrou e foi vendido, com dívidas de mais de R$ 1 milhão.

Luis Cláudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula

GILBERTO CARVALHO

Além de Gilberto Carvalho, foi pedida a quebra de sigilos fiscal e bancário de Floripes dos Santos, mulher do ex-ministro, e dos filhos Gabriel, Samuel e Myriam de Albuquerque Carvalho.

Entre as empresas, além da cantina que pertencia à filha de Carvalho, foram alvo da recomendação de quebra de sigilo as empresas MRS Comércio de Alimentos e a Sanfelice Comércio de Massas Artesanais Ltda.

Foi alvo da recomendação ainda o ex-secretário adjunto do Ministério da Fazenda Diogo Henrique de Oliveira.

EX-SECRETÁRIO

O ex-secretário adjunto da Fazenda Dyogo Henrique de Oliveira se tornou alvo porque os investigadores da Zelotes encontraram seu nome nas anotações do lobista Alexandre Paes dos Santos, preso pela operação.

A anotação dizia "LDO-5 anos" acompanhado de Diogo/José Ricardo. A suspeita dos investigadores é que os lobistas queriam ajuda de Diogo para contornar a Lei de Diretrizes Orçamentárias, que impedia a prorrogação dos incentivos fiscais usufruídos pela MMC e CAOA por dez anos, que era o plano inicial dessas montadoras.

OUTRO LADO

Em contato com a Folha nesta terça (27), o ex-ministro Gilberto Carvalho classificou como "um absurdo" a recomendação da Receita pela quebra dos sigilos do restaurante que foi de sua filha. Afirmou que já pôs à disposição da PF seus dados bancários, fiscais e telefônicos.

"Absurdo pessoas agirem sem comprovação, envolvendo minha família, como fizeram com a família do Lula. Vão verificar que é uma empresa que quebrou", disse.

Carvalho reiterou ainda que seu patrimônio não supera R$ 1 milhão: "Tenho uma chácara, um apartamento financiado em 19 anos e um carro de R$ 45 mil".

Folha ligou para o advogado de Luis Cláudio Lula da Silva, Cristiano Zanin Martins, nesta terça e quarta, mas ele não retornou as ligações.

Em nota divulgada na segunda (26), disse que protocolará junto ao Tribunal Regional Federal medida judicial questionando "as manifestas ilegalidades" na autorização de busca ocorrida no escritório de seu cliente, no dia da operação.

Já o ex-secretário Dyogo Henrique de Oliveira afirmou que "uma de suas atribuições manter reuniões regulares com diversos setores produtivos, durante as quais esclarecia aspectos legais e técnicos das medidas econômicas em debate. Era comum, também, a discussão sobre o prazo de duração de eventuais benefícios fiscais, que a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), desde 2001, limita em, no máximo, cinco anos."

Ele afirmou que não mantém "qualquer tipo de relacionamento com as pessoas citadas como lobistas pela imprensa e que está à disposição para prestar esclarecimentos às autoridades da investigação".

 

O papo furado do PT

POR ROGÉRIO GENTILLE

SÃO PAULO - O PT reagiu às investigações sobre o filho de Lula com os mesmos argumentos que usa sistematicamente desde o mensalão: é perseguição política, é preconceito da elite contra o retirante que ousou governar o Brasil, é o império do ódio, querem destruir o partido, temem que ele volte etc.

Mas quem assinou a decisão que autorizou a operação da Polícia Federal? Quem escreveu "tem razão o Ministério Público Federal ao afirmar ser muito suspeito uma empresa de marketing esportivo receber valor tão expressivo de uma empresa especializada em manter contatos com a administração pública"?

A culpada por tal "heresia" é uma juíza que, para azar do PT e o seu discurso da vitimização, tem afinidades ideológicas com a esquerda.

Célia Regina Ody Bernardes assinou em 2012 manifesto em favor da instalação da Comissão da Verdade, criada por Dilma Rousseff. No texto, a juíza defendeu, inclusive, a "determinação judicial de responsabilidades", a despeito da Lei da Anistia.

Em 2014, a juíza também apoiou decreto da presidente Dilma que regulamentou o funcionamento dos conselhos populares na administração pública, chamados de "bolivarianos" pela oposição. Para a magistrada, o decreto aprofundava "as práticas democráticas".

A juíza também subscreveu declaração pública rechaçando a "exploração política" da morte do cinegrafista Santiago de Andrade (atingido por black blocs em protesto no Rio), defendeu a desmilitarização das polícias e protestou contra projeto que previa a redução da maioridade penal –seu nome, neste último texto, aliás, aparece ao lado do de Rui Falcão, o presidente do PT.

É possível que a juíza esteja equivocada ao desconfiar das transações do filho do ex-presidente Lula, que tudo não passe de um grande engano e que ele seja o homem mais honesto da face da terra.

Só não dá para dizer que o PT é vítima de um complô da direita. 

 

 

Um temporal na calmaria

por VINICIUS TORRES FREIRE

Um minuto antes de o banco central dos Estados Unidos anunciar seu oráculo sobre o futuro das taxas de juros, o dólar caía uns 0,7% em relação ao preço de terça-feira. Às 16h de ontem, os povos do mercado pularam de susto quando o BC americano, o Fed, deu uma dica ainda remota de possível alta de juros por lá, em dezembro.

Às 16h20, o dólar subia 0,9%. Uma virada radical, para quem trabalha com dinheiro grosso. No final do dia, fechou em alta de ainda quase 0,7%. O euro subiu ainda mais, como tantas moedas e os juros na praça americana.

Pode ter sido apenas um susto, um acerto de contas passageiro. Pode ser o início de uma grande inimizade. Sabe-se lá. Isso importa um tanto para o Brasil, embora a esta altura a interpretação dos efeitos de uma alta de juros nos Estados Unidos seja cada vez mais controversa, aqui e alhures. De qualquer modo, é mais risco para nós, que estamos com água suja pelo nariz.

Note-se que a calmaria financeira que víamos desde o início de outubro se devia em grande parte à suposição de que a virada monetária americana tinha ficado pelo menos para o ano que vem.

O que virá, repita-se, é incerto. Mesmo os donos do dinheiro do mundo e seus melhores porta-vozes dão interpretações disparatadas. Desde maio de 2013, quando começou a novela dos juros americanos, aconteceu de tudo e seu contrário, além de tumultos financeiros e corridas exageradas do dólar que ajudaram a empurrar o Brasil para o buraco sombrio onde está.

Ontem, o oráculo do Fed insinuou que não se deve descartar uma alta de juros no dia 16 de dezembro, próxima reunião do comitê de política monetária, o Copom deles. Em setembro, o Fed parecia ter motivos para esperar. Dado que tais fatores não mudaram muito, não se esperava grande novidade agora.

Em setembro, discutia-se o risco de um dólar forte demais afetar o crescimento americano (em tese juros mais altos, dólar mais forte, mais importações). Pensava-se que juros mais altos poderiam prejudicar a China e economias emergentes, um baque que poderia repercutir nos EUA. A inflação americana continuava, como continua, muito baixa. De resto, não houve sinais de aquecimento maior da economia –ao contrário, começou até um boato meio adoidado sobre risco de recessão.

De novidade maior, o tumulto provocado por más notícias na China passou. O mundo emergente continua em baixa, porém. Nem poderia ter havido notícia relevante sobre esse assunto em período tão curto.

Enfim, pareciam esses os motivos da surpresa e dos solavancos da tarde de ontem.

O que vai acontecer com a virada monetária americana depende um tanto do ritmo da alta de juros, do que a Europa fará de sua pasmaceira (pode haver mais estímulos em dezembro), de haver ou não novos solavancos na transição chinesa, de possíveis esqueletos escondidos em algum armário da grande finança mundial etc.

Para nós, ressalte-se, os riscos aumentam. Um descrédito ainda maior do governo (desconfiança maior no futuro das contas públicas), inflação em alta, taxa de juros parada por aqui e em alta lá fora montam uma equação que pode ter como resposta uma baita desvalorização do real. Para começar.

 

O líder que não lidera

POR BERNARDO MELLO FRANCO

BRASÍLIA - "Bando de vagabundos! São vagabundos! Vocês são vagabundos! Vamos para o pau com vocês agora!". As frases foram gritadas pelo deputado acriano Sibá Machado, líder do PT na Câmara. Ele se dirigia a cerca de 30 militantes pró-impeachment que exibiam uma faixa contra Dilma Rousseff nas galerias do plenário, na noite de terça-feira.

O destempero, que contribuiu para a tensão de ontem no gramado em frente ao Congresso, não surpreende quem conhece o personagem. Sibá é o deputado que sugeriu que a CIA estava por trás das manifestações contra o governo. A fala o transformou em motivo de chacota, no momento em que o Planalto tentava dar uma resposta séria aos protestos de rua.

Valente para ameaçar manifestantes, o petista costuma se encolher diante de Eduardo Cunha. Em março, disse que não havia "nenhuma razão" para o peemedebista ser investigado na Lava Jato. Neste mês, após a divulgação das contas na Suíça, insistiu que não via "nada de contundente" contra o presidente da Câmara. Acrescentou que o eventual afastamento dele era uma "questão de foro íntimo". Como Cunha não quer sair, está tudo bem para Sibá.

Quando não diz bobagens, o petista parece estar no mundo da lua. Em setembro, ele sumiu de Brasília no momento em que Dilma começava a enfrentar a ameaça de impeachment. Foi descoberto em passeio oficial pelos Estados Unidos, para irritação de seus colegas de bancada.

A abulia de Sibá virou um constrangimento para o PT e a maioria dos 62 deputados da sigla. Os mais experientes chegaram a discutir sua destituição da liderança, por falta de condições para exercê-la. Optou-se por uma intervenção branca. O deputado passou a falar só o obrigatório, e os vice-líderes montaram um rodízio para substituí-lo na tribuna.

Esvaziado, Sibá agora preocupa menos porque se transformou num líder que não lidera. Por este ponto de vista, ele parece o homem certo para representar Dilma na Câmara.

 

Fonte: Folha de S. Paulo

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