Na FOLHA (exclusivo): Em conversas, Lula responsabiliza Dilma por ação em empresa de filho

Publicado em 26/10/2015 23:20
na http://www1.folha.uol.com.br/

Dizendo-se indignado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva responsabilizou, nesta segunda-feira (26), a presidente Dilma Rousseff pela operação de busca e apreensão na empresa LFT Marketing Esportivo, que pertence a seu filho Luis Cláudio Lula da Silva.

Nas conversas com aliados, Lula apresentou duas hipóteses para a ação da PF no escritório do filho, num desdobramento da operação Zelotes. Para Lula, ou essa é uma demonstração de desgoverno da presidente, ou uma prova de que Dilma orientou seu ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a unicamente protegê-la, ainda que seu padrinho político tenha que pagar o preço disso. Nos dois casos, afirmou, a responsabilidade é dela.

Segundo aliados de Lula, o ex-presidente se diz cada vez mais convencido de que Dilma permite investigações contra ele para se preservar.

Ainda segundo aliados, Lula está tão irritado que acusa Dilma de destruir seu legado para construir a imagem da presidente que combateu a corrupção. Ao criticar Cardozo, Lula disse que não quer "ganhar no tapetão", mas que é papel do ministro da Justiça zelar pela Constituição.

Para confirmar sua tese, Lula diz que, quando quer, o governo trabalha para se defender na Justiça, como é o caso das pedaladas fiscais, e que faria o mesmo se tivesse o interesse de poupá-lo. Nas conversas, Lula repetiu que "passou dos limites".

De acordo com petistas, ele disse também que Dilma destruiu a economia, o partido e agora quer acabar com seu legado. Na quinta-feira (29), Lula fará um discurso no encontro do partido.

A avaliação de aliados do petista é de que o episódio se trata de uma nova tentativa de enfraquecê-lo politicamente e demonstra que tem faltado pulso firme do Ministério da Justiça no comando da Polícia Federal.

Para pessoas próximas ao petista, causa estranheza o fato de a Polícia Federal não ter feito busca e apreensão a escritórios de grandes empresas que estão no foco da Operação Zelotes, como Gerdau e Marcopolo, mas ter realizado no da empresa do filho do ex-presidente.

Na nova fase da Operação Zelotes, que investiga um esquema de pagamento de propina a integrantes do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), a Polícia Federal prendeu Mauro Marcondes, sócio da Marcondes e Mautoni (M&M). O escritório teve relações com Luis Cláudio. Em 2014, contratou a LFT Marketing Esportivo, por R$ 2,4 milhões.

O ex-presidente não deve, pelo menos por enquanto, pronunciar-se publicamente. Ele tem dito que ainda não tem elementos para uma manifestação sobre o episódio. O posicionamento público ficou a cargo dos advogados do filho de Lula.

O advogado Cristiano Zanin Martins, que defende o empresário, pediu à Justiça Federal e à Polícia Federal acesso a todo o material usado para justificar a medida.

Ele disse que a falta de acesso aos autos "impede que a defesa possa exercer o contraditório e tomar outras medidas cabíveis".

No início da tarde desta segunda-feira, o ex-presidente se deslocou para o Instituto Lula, escritório de onde despacha em São Paulo. O presidente do PT, Rui Falcão, o presidente do instituto, Paulo Okamotto, e o advogado Martins estiveram com Lula, mas negaram ter tratado da operação da PF.

ASSESSORES DO GOVERNO

Diante das reclamações do ex-presidente Lula sobre a operação de busca e apreensão em escritório de um de seus filhos, assessores presidenciais, reservadamente, comentaram que o petista não tem razão em suas queixas porque não foi a Polícia Federal que pediu autorização.

Segundo auxiliares, a operação, inclusive, não constava do pedido da PF e foi incluída por solicitação do Ministério Público Federal.

Dentro do governo, assessores lembram ainda que, quando Lula era presidente, a PF fez uma operação de busca e apreensão na casa de seu irmão, Genival Inácio da Silva, em 2007. Isto mostra, segundo estes auxiliares, que o governo não pode e não tem como interferir nos trabalhos da polícia.

Por isto, diz o auxiliar, mesmo que o pedido de busca de apreensão no escritório do filho de Lula tivesse sido feito pela PF nada poderia ser feito contra.

'COMPLETAMENTE FALSAS'

À noite, o Instituto Lula divulgou uma nota afirmando que "não tem qualquer fundamento" a informação de que Lula acusava a presidente de permitir as investigações para se preservar. Segundo a nota, as informações são falsas. Três interlocutores de Lula relataram o desabafo à Folha.

"Não tem qualquer fundamento a matéria do jornal Folha de S. Paulo "Em conversas, Lula responsabiliza Dilma por ação em empresa de filho". As informações nela contida são completamente falsas'.

ANIVERSÁRIO

O ex-presidente informou a seus aliados que não vai comemorar seu aniversário nesta terça-feira (27), limitando-se a uma confraternização no instituto Lula. A aliados, Lula disse que não há clima para festa. Nas conversas, Lula recomenda que os interlocutores ponham-se em seu lugar e pergunta como se sentiriam caso o escritório de um filho fosse alvo de investigação.

Para comprovar a tese de que há uma perseguição política, o ex-presidente afirma que não há elo entre a empresa de seu filho e a operação Zelotes, que investiga fraudes nos julgamentos do (CARF) Conselho Administrativo de Recursos Fiscais.

 

Gilberto Carvalho e um dos filhos de Lula… Eita gente pra gostar de gente enrolada, não é mesmo? (por REINALDO AZEVEDO)

É impressionante como sempre tem petista metido com gente errada, né? Que vocação tem essa gente! Nesta segunda, Gilberto Carvalho, ex-secretário-geral da Presidência (governo Lula) e segundo homem mais importante do PT — só perde para o Luiz Inácio Apedeuta da Silva —, prestou depoimento à Polícia Federal no âmbito da Operação Zelotes. O que há a respeito dele? A suspeita de que atuou em favor de um lobby que resultou na assinatura de uma Medida Provisória, em 2009, que estendeu benefícios fiscais para o setor automobilístico.

As decisões judiciais que deflagraram a terceira fase da operação foram motivadas pelos, como vou chamar?, sinais de que Carvalho transitou nos bastidores de uma Medida Provisória, edita por Lula em 2005, que favoreceu o setor automobilístico.

A PF constatou que era grande a proximidade entre Carvalho e Mauro Marcondes, um dos sócios da empresa Marcondes & Mautoni Empreendimentos e Diplomacia Corporativa, uma simples microempresa. Pois bem, há indícios de que a dita-cuja, em companhia da SGR Consultoria Empresarial, pagou R$ 6,4 milhões a “colaboradores” que atuaram nos bastidores da política em favor da MP. Segundo a PF, as duas empresas mais beneficiadas pela nova MP foram a MMC Automotores do Brasil e a Caoa Montadora de Veículos.

A PF aponta que a MP, de 2009, foi baixada quatro dias depois de um evento que teria ocorrido no dia 16 de novembro de 2009 com a inscrição “Café: Gilberto Carvalho”, encontrada em papel apreendido na casa de outro lobista, Alexandre Paes dos Santos, preso nesta segunda-feira. Alexandre, conhecido como APS, procurem nos arquivos, é um velho conhecido das lambanças de Brasília.

Afirma o relatório da PF:
“Constatamos que as relações mantidas entre a empresa do lobista Mauro Marcondes e o Gilberto Carvalho são deveras estreitas. Os documentos que seguem abaixo fortalecem a hipótese da ‘compra’ da medida provisória para beneficiamento do setor automotivo utilizando-se do ministro que ocupava a ‘antessala’ do então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, responsável direto pela edição de medidas provisórias”.

Diz o Ministério Público: “Há indicativos que servidores públicos do Poder Executivo, inclusive da Presidência da República, possam ter recebido vantagem indevida para colaborar no processo de edição da Medida Provisória”. A Folha Online informa que, em uma planilha apreendida pela PF na casa de Alexandre Paes dos Santos, Gilberto Carvalho é citado, entre outras pessoas, dentro de um certo “projeto de prorrogação por mais cinco anos (2015-2020) do Benefício Fiscal para a Caoa”.

Para lembrar, a empresa de marketing esportivo de Luiz Cláudio, um dos filhos de Lula, recebeu R$ 2,4 milhões por supostos serviços prestados à Marcondes & Mautoni Empreendimentos e Diplomacia Corporativa, cujo dono aparece em evidente intimidade com Gilberto Carvalho.

Pode ser tudo coincidência? É… Os petistas estão mais sujeitos a elas do que qualquer outro grupo, pelo visto. Mas insisto: impressiona a frequência com que os companheiros aparecem em más companhias. Por alguma razão há de ser, não é?

Corra, Lula! Polícia já encurralou seu filho e Gilberto Carvalho! (por FELIPE MOURA BRASIL)

 

Tal pai, tal filho

A semana começou explosiva para a família Lula.

Vamos contextualizar, por partes, as informações.

A Operação Zelotes:

A Operação Zelotes começou investigando um esquema de propinas para reduzir ou cancelar multas milionárias no Carf, conselho responsável pelos processos administrativos tributários e previdenciários, ligado ao Ministério da Fazenda.

Com o avanço das investigações, chegou-se à compra de Medidas Provisórias na gestão Lula, que favoreciam empresas automotivas do ponto de vista fiscal.

Fatos sobre o filho de Lula:

A empresa LFT Marketing Esportivo, de Luis Cláudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula, recebeu 2,4 milhões de reais da Marcondes e Mautoni Entretenimentos, de Mauro Marcondes, um dos lobistas investigados por negociar a edição e a aprovação, durante o governo Lula, da Medida Provisória 471, que favoreceu montadoras de veículos.

Empresas do setor teriam negociado pagamentos de até 36 milhões de reais a lobistas para conseguir do Executivo um “ato normativo” que resultasse em incentivos fiscais de 1,3 bilhão de reais por ano.

As suspeitas da Operação Zelotes:

– Luis Cláudio, filho de Lula, teria recebido o dinheiro pelo lobby em favor de medida(s) provisória(s) assinada(s) no governo (do partido) do pai.

– Gilberto Carvalho, ex-ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência do governo Dilma e ex-chefe do gabinete pessoal do então presidente Lula, teria sido o principal interlocutor dos lobistas, em especial dos sócios da consultoria SGR (encarregada do lobby para as montadoras), além de ter mantido relações “deveras estreitas” com Mauro Marcondes.

Lula é amigo do lobista:

Gilberto Carvalho disse à Folha que Marcondes “conhece Lula de longa data”, desde a época de metalúrgico.

O “low profile” Carvalho:

Uma mensagem obtida pela PF mostra um pedido de Marcondes ao “amigo” Carvalho para que entregasse documento a Lula “daquela forma informal” e “low profile” que só ele consegue fazer, sem “formalidades” e no momento oportuno.

Daquela forma informal, Carvalho se explicou à Folha, implicando outro coleguinha:

“Eu disse que não era da minha área e que poderia ver se o ministro Guido [Mantega] poderia recebê-lo, mas confesso que esqueci e depois soube que ele já estava negociando na Fazenda”.

Aham. Como dizia José Dirceu: “Gilberto Carvalho, para com isso…”

Os rastros de Carvalho:

O Estadão informa que “o ex-ministro teria se reunido com representantes das montadoras para tratar dos incentivos fiscais quatro dias antes da edição da MP 471″.

Um encontro consta de uma agenda do lobista Alexandre Paes dos Santos, o “APS”, que tem ligações com a ex-ministra Erenice Guerra, secretária executiva da Casa Civil na época das tratativas.

Em 2006, VEJA já descrevia APS como “homem de relações perigosas e de uma vasta ficha criminal”.

As empresas do lobby:

A investigação revelou “com segurança” que as empresas Marcondes e Mautoni e SGR “nada produzem de lícito. Limitam-se apenas a intermediar interesses espúrios perante a administração pública”.

Busca e apreensão na empresa do filho de Lula:

A Polícia Federal apreendeu documentos no escritório da LFT Marketing Esportivo, do filho de Lula, na manhã desta segunda-feira (26), em São Paulo.

Os alvos das prisões preventivas nesta fase da operação foram:

– Alexandre Paes dos Santos;
– Mauro Marcondes Machado;
– José Ricardo da Silva;
– Eduardo Gonçalves Valadão;
– Cristina Mautoni Marcondes Machado;
– Halysson Carvalho Silva.

Defesa:

Em nota à imprensa no começo da tarde, o advogado Cristiano Zanin Martins, que defende Luis Cláudio, havia argumentado:

“A simples observação da data da constituição da empresa” LFT Marketing Esportivo “é o que basta [para] afastá-la de qualquer envolvimento com as suspeitas levantadas”.

Motivo alegado:

“A citada MP foi editada em 2009 e a LFT constituída em 2011 — 2 anos depois. A prestação de serviços da LFT para a Marcondes & Maltone ocorreu entre 2014 e 2015 – mais de 5 anos depois da referida MP e está restrita à atuação no âmbito de marketing esportivo.”

Procuradoria desmente a defesa:

A Procuradoria da República no DF, na prática, desmente a tese da defesa sobre a distância das datas ao observar que o grupo de lobistas atuou entre 2013 e 2014 para RENOVAR a MP de 2009.

Diz a Folha:“Entre 2013 e 2014, segundo a investigação, o grupo de lobistas atuou para renovar uma medida provisória de 2009, com prazo de validade de cinco anos, que na época havia gerado o pagamento de ‘comissões’. A nova empreitada ocorrida entre 2013 e 2014, de acordo com a Zelotes, resultou na edição da medida provisória n° 627, de 2013, que foi convertida na lei nº 12.973, de 2014.”

Os pagamentos ao filho de Lula, portanto, ocorreram logo após a conversão da MP 627 em lei.

“Muito suspeito”:

Para a Procuradoria, “é muito suspeito que uma empresa de marketing esportivo [a do filho de Lula, no caso] receba valor tão expressivo de uma empresa especializada em manter contatos com a administração pública (Marcondes e Mautoni)”.

2ª maior beneficiária:

A Procuradoria concluiu, segundo a Folha, que a firma de Luis Cláudio “estranhamente” foi o segundo maior destino dos R$ 16 milhões obtidos pela Marcondes e Mautoni em 2014 das firmas automotivas MMC e Caoa, as mesmas que são alvo de investigação relativa à MP de 2009.

Busca e apreensão justificadas:

“Dentro desse contexto”, diz a Procuradoria, “justifica-se a execução de busca e apreensão na sede da empresa” LFT, cumprida nesta segunda (26) em São Paulo.

Três empresas no mesmo endereço:

A Procuradoria apurou que “outras duas empresas, que têm vínculos societários entre si, têm a mesma sede”:

– Touchdown Promoção de Eventos Esportivos Ltda, que organiza o campeonato brasileiro de futebol americano e cuja única sócia seria a LFT;

– Silva e Cassaro Corretora de Seguros Ltda, cujos sócios seriam Lilian e Marcos Cassaro e, com 50% das cotas, Fatima Regina Cassaro da Silva, também sócia da LFT.

Fatima é casada com o próprio Luis Claudio Lula da Silva, que foi sócio da corretora entre 2014 e 2015.

“Promiscuidade”:

“Enfim”, conclui a Procuradoria, “ante o quadro de promiscuidade apresentado, tudo indica que as empresas representam uma única entidade. Nessa linha, não há como, na atual fase da investigação, abrir mão do material localizado no endereço do condomínio empresarial. A unidade das empresas (física e societária) é evidente, tudo girando em torno de Luis Claudio Lula da Silva”.

Conclusão do blog:

Em junho, escrevi aqui o post “Os ganhos pornográficos da família Brahma“, mostrando que, com Lula no poder, a pornografia público-privada no Brasil, que remonta à carta de Pero Vaz de Caminha, atingiu o ápice.

Que a procuradoria fale em “promiscuidade”, é apenas mais um sintoma de toda essa suruba lulopetista.

Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil

Fonte: Folha de S. Paulo + VEJA

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