Dilma volta a subir tom e diz que oposição não encontrará irregularidades contra ela
(Reuters) - Em seu terceiro evento público nesta quarta-feira, a presidente Dilma Rousseff voltou a subir o tom contra seus adversários, a quem chamou de golpistas, e os desafiou a encontrar quaisquer irregularidades que tenha cometido em sua vida política ou pessoal.
Em discurso durante congresso de pequenos agricultores em São Bernardo do Campo (SP), a presidente disse que setores da oposição tentam um "golpe disfarçado" não contra ela, mas contra o projeto que representa, repetindo declarações dadas na véspera em evento da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
"Na verdade o que eles querem é um atalho, querem um atalho para o poder, querem um atalho para chegar mais rápido em 2018", disparou a presidente em referência ao movimento de oposicionistas que buscam seu impeachment, com base na decisão do Tribunal de Contas da União de recomendar a rejeição das contas do governo do ano passado e pela acusação de que as chamadas pedaladas fiscais continuaram neste ano.
"Nós não vamos permitir que eles golpeiem o mandato que nós conquistamos nas urnas com 54 milhões de votos", garantiu.
Ao se referir às pedaladas, manobra fiscal apontada pelo TCU como irregular, Dilma disse que essa crítica camufla um ataque ao pagamento de programas sociais como o Minha Casa Minha Vida e o Bolsa Família.
A presidente também lançou um desafio aos adversários ao repetir, por mais de uma vez, que em nenhum momento de sua vida cometeu quaisquer irregularidades.
"Eu me defendo com muita serenidade, até porque não cometi nenhum desvio de conduta. Jamais utilizei em meu proveito a atividade que exerci dignamente como presidente da República", disse.
"Eu tenho certeza que eles tentaram, eles buscaram encontrar alguma coisa contra mim, mas nunca vão encontrar, porque jamais cometi um malfeito na minha vida política ou pessoal. Eu desconheço entre os que se movem contra o meu mandato quem tenha força moral, reputação ilibada e biografia limpa suficientes para atacar a minha honra. Desconheço."
Os líderes do PSDB e do DEM na Câmara dos Deputados e no Senado Federal divulgaram nota nesta quarta-feira rejeitando as declarações da presidente. "Não reconhecemos autoridade moral na presidente que mentiu para vencer as eleições e continua mentindo para se manter no poder", disseram os líderes oposicionistas.
DESVALORIZAÇÃO DO REAL
Mais cedo, e em tom mais ameno, Dilma disse durante cerimônia de inauguração do Laboratório de Biotecnologia Agrícola do Centro de Tecnologia Canavieira, em Piracicaba (SP), que o país precisa aproveitar a desvalorização do real para impulsionar as exportações e a substituição de importações.
"Se o câmbio se desvalorizou, é hora de nós apostarmos no que já está acontecendo, que é o aumento das nossas exportações", disse Dilma.
O dólar saltou quase 50 por cento em relação ao real neste ano até terça-feira, refletindo a apreensão dos investidores com a crise política e econômica brasileira e a perspectiva de elevação dos juros nos Estados Unidos, que reduziria a atratividade de investimentos em países emergentes.
"Essa desvalorização cambial, até porque nosso câmbio estava sem sombra de dúvidas extremamente valorizado, vai implicar numa alteração nas condições de substituição de importação", acrescentou a presidente.
A balança comercial brasileira reverteu o déficit do ano passado e registra no ano até setembro superávit de 10,247 bilhões de dólares. No entanto, a melhora do saldo comercial vem principalmente da queda das importações mais acentuada que das exportações, em meio à fragilidade da economia brasileira.
Ainda em Piracicaba, Dilma, que em evento de entrega de moradias mais cedo nesta quarta havia dito que seu governo está "tomando todas as medidas" para o Brasil voltar a crescer, defendeu em Piracicaba união para fazer as mudanças necessárias para a retomada econômica.
"Essa é a hora de nós nos unirmos e buscarmos fazer aquelas mudanças, aquelas alterações, aquelas iniciativas, aquelas obras que vão de fato construir as pontes que nos levarão para um outro estágio de desenvolvimento do nosso país", disse a presidente.
"O Brasil sem dúvida é mais robusto, mais resiliente, mais forte agora do que foi em qualquer um dos momentos anteriores", disse a presidente.
(Por Eduardo Simões, em São Paulo)