Dólar cai cerca de 1% ante real por aposta em manutenção de juros nos EUA
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar recuava cerca de 1 por cento sobre o real nesta quarta-feira, acompanhando a queda da moeda nos mercados externos diante da percepção de que o Federal Reserve, banco central norte-americano, pode elevar os juros somente em 2016 em meio a uma rodada de dados fracos nos Estados Unidos e na China, favorecendo mercados emergentes.
No entanto, investidores continuavam com um pé atrás e operadores afirmavam que qualquer susto pode levá-los a correr para a segurança do dólar e voltar a elevar a cotação, em meio ao cenário político conturbado no Brasil.
Às 10:33, o dólar recuava 0,76 por cento, a 3,8641 reais na venda, após marcar na véspera a maior alta em mais de quatro anos. Na mínima desta sessão, chegou a cair a 3,8436 reais.
"Julgando por toda a comunicação do Fed e por todos os fundamentos, não vejo nenhum motivo para ter pressa para subir juros. Não ficaria surpreso se a alta viesse só na metade do ano que vem", disse o tesoureiro de um banco nacional.
Dados fracos sobre a inflação na China alimentaram apostas de que a desaceleração da segunda maior economia do mundo esteja respingando sobre os EUA, o que daria argumentos para o Fed manter os juros quase zerados até o ano que vem.
Além disso, dados nos EUA também corroboraram essa visão. Os preços ao produtor nos país recuaram 0,5 por cento em setembro, queda bem maior do que a baixa de 0,2 por cento projetada por analistas em pesquisa da Reuters. Já as vendas no varejo subiram 0,1 por cento no período, contra expectativas de alta de 0,2 por cento.
A possibilidade de o Fed não elevar juros neste ano sustenta a atratividade de ativos de países emergentes, que oferecem rendimentos maiores. Nesse contexto, a divisa dos EUA perdia terreno em relação a moedas como os pesos chileno e mexicano.
No entanto, operadores não descartavam a possibilidade de o real voltar a ser pressionado por preocupações locais. A pesada incerteza sobre eventual processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff vem assustando investidores, após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de barrar temporariamente o rito desenhado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
"Todo este quadro de indefinição da cena política, que prejudica e posterga cada vez mais o ajuste fiscal e a retomada do crescimento do Brasil, leva o investidor para um cenário de aversão ao risco e a procura por segurança no dólar", escreveu o operador da corretora Correparti Jefferson Luiz Rugik em nota a clientes.
Nesta manhã, o Banco Central dará continuidade à rolagem dos swaps cambiais que vencem em novembro, com oferta de até 10.275 contratos, que equivalem a venda futura de dólares.
(Por Bruno Federowski)