Na FOLHA: Assessores de Dilma temem que Levy esteja forçando sua saída do Governo
Dilmistas temem que Levy esteja forçando saída, por (VALDO CRUZ E NATUZA NERY), DA FOLHA DE S. PAULO)
Assessores presidenciais avaliam que o ministro Joaquim Levy (Fazenda) "está esticando a corda" ao insistir em críticas públicas à "ambiguidade" do governo na área fiscal e na defesa de mais cortes.
No Planalto, o temor de alguns é que Levy acabe comprometendo sua permanência. Nas palavras de um interlocutor da presidente, ele pode se "inviabilizar" e sair no pior momento tanto para o governo como para ele, ficando com a imagem de derrotado.
Apesar de reconhecerem que as avaliações de Levy têm procedência, auxiliares dizem que ele erra em ficar só batendo na tecla do ajuste e que deveria estar buscando melhorar o clima da economia para a volta do investimento.
Nesta segunda (28), causou desconforto a entrevista de Levy ao jornal "Valor", na qual defendeu mais cortes e criticou o envio ao Congresso da proposta de Orçamento de 2016 com deficit, que levou à perda do grau de investimento por parte de uma agência.
Um auxiliar disse que Dilma reconheceu que Levy estava correto na defesa de mais cortes ao lançar a segunda fase do ajuste, mas que ele deveria estar empenhado em ajudar a aprová-lo e não ficar fazendo críticas ao governo.
"Tinha gente que achava que o 'downgrade' estava no preço e que, portanto, podíamos ser complacentes", disse o ministro na entrevista.
Interlocutores de Levy negam que sua intenção seja sair do governo. Seu objetivo, dizem, seria acelerar a aprovação do ajuste e ele não estaria falando só ao governo, mas principalmente para a sociedade, porque é um "problema real" que afeta a todos.
Insistir na importância do ajuste, segundo Levy disse a interlocutores, é papel de ministro da Fazenda e ele não vê isso como extrapolar suas funções.
Intelectuais pró-PT criticam ajuste fiscal
Documento apresentado em SP cobra redução de juro e aumento de gasto público para retomada do crescimento
Próximos a Lula, economistas Gonzaga Belluzzo e Marcio Pochmann formularam crítica à gestão fiscal
Economistas ligados ao PT e à esquerda traçaram um diagnóstico cético do ajuste fiscal conduzido pela presidente Dilma Rousseff e lançaram nesta segunda (28) um manifesto contra o pacote.
Conforme antecipado pela Folha, eles defendem que o corte de gastos e os juros altos para controlar a inflação vão desencadear um cenário de recessão profunda, reduzindo ainda mais a arrecadação de impostos e derrubando o ânimo dos investidores.
Os principais formuladores das críticas são economistas e intelectuais influentes à esquerda, como o ex-presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Marcio Pochmann e o ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e professor da Unicamp Luiz Gonzaga Belluzzo –ambos próximos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A receita oferecida no primeiro volume do estudo "Por um Brasil justo e democrático", lançado nesta segunda (28) em São Paulo, inclui queda da taxa de juros, veto ao corte de gastos sociais e a ampliação de investimentos a partir da revisão de isenções fiscais e combate à sonegação.
O documento defende a retirada dos investimentos do cálculo da meta do superavit, que deveria funcionar com sistema de bandas variáveis.
"É impressionante como os fatos passam na cara das pessoas e elas não veem. Obter superavit primário com a economia desacelerando não vai funcionar por uma razão simples: cai a receita fiscal, cai a renda e o volume de transações acumuladas, caem os lucros das empresas e os salários", disse Belluzzo.
Para Pochmann, que preside a Fundação Perseu Abramo (ligada ao PT), as premissas da política econômica do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, estão erradas.
Segundo ele, a retomada do crescimento econômico pela recuperação do investimento privado, como resultado do ajuste fiscal proposto por Joaquim Levy, não vai se confirmar.
"Todo ajuste fiscal reduz o nível de atividade econômica. O ministro Levy, por exemplo, em janeiro havia afirmado que nós teríamos uma recessão de apenas três meses, agora já está se falando que vai durar até 2017", afirmou.
As críticas obtiveram ressonância entre aqueles encarregados de defender Dilma no Congresso.
"A gente quer defender esse governo, mas esse governo só consegue se salvar da pressão contra ele se mudar de rumo. Esse é o momento em que o bom amigo não fica calado, com uma posição acrítica", disse o senador Lindbergh Faria (PT-RJ).
PSDB afirma que petistas devem pagar por erros
A propaganda nacional do PSDB veiculada nesta segunda (28) afirma que o partido não é oposição ao Brasil, mas sim ao governo, e que é hora de o PT pagar por seus erros.
Os tucanos Geraldo Alckmin, José Serra, Aécio Neves e Fernando Henrique Cardoso criticam medidas como a possível volta da CPMF e os cortes no Pronatec.
Na introdução da peça, atores usam máscaras da presidente Dilma, enquanto uma narradora diz que as pessoas que votaram nela esperavam uma coisa e se depararam com outra. Ao fim, todos tiram os adereços, e a narradora anuncia que "com tanta mentira, um dia a máscara cai".
Durante toda a propaganda, pessoas marcham com panelas, em alusão aos recentes panelaços contra o governo.
Nesta segunda, Aécio afirmou que o governo Dilma vive seus "estertores" [agonia].
"Eu falo hoje no programa de forma muito clara: a saída da crise se dará dentro daquilo que prevê a Constituição", disse o senador, no Rio.
ANÁLISE DE VINICIUS TORRES FREIRE:
O pior ainda piora: inflação
É remota a chance de IPCA perto da meta em 2016, mais uma frente ruim de incerteza
A PRETENSÃO de chegar à inflação de 4,5% em 2016 foi praticamente para as cucuias, como quase tudo mais na economia. Não bastassem todas as incertezas, caos, na verdade, abriu-se de vez outra frente de desarranjos sérios.
Em termos simples, a conversa na nova trincheira de desastres diz respeito ao que vai piorar mais: juros, dólar ou inflação? A pergunta é se o Banco Central vai: a) Elevar a taxa de juros (o que aprofunda ou prolonga a recessão e, agora, pode não fazer efeito); b) Intervir no câmbio (segurar o preço ora inflacionário do dólar: improvável); c) Jogar a toalha, esperar que pelo menos meia boca do pacote fiscal meia boca passe (improvável, diz o PMDB) e que seja o que Deus quiser.
Há duas opções restantes, claro. Primeira, o espírito de todos os santos baixa no governo, que apresenta milagrosamente um plano amplo e crível de arrumação de suas contas e de renúncia a bobagens econômicas de outra espécie, tirando o gás de dólar, juros etc. Segunda, credores incrédulos ligam o botão do colapso, com a disparada fatal de câmbio e juros.
Levar a inflação à meta de 4,5% no fim de 2016 sem elevar a taxa básica de juros além do nível atual, 14,25%, era o plano do BC até ao menos a quinta-feira passada, passado remoto, nas novas condições brasileiras.
Na semana passada, o próprio Banco Central previa inflação de 5,3% em 2016, mantida a taxa de juros atual, dólar ali por R$ 3,90 no final do ano etc. Ontem, os economistas que mais costumam acertar previsões, de acordo com o BC, estimavam inflação de 6,4% para 2016.
Previsões costumam estar erradas; não são destino. Mas é o que se tem à mão a fim de calibrar a taxa de juros a fim de evitar alta extra da inflação.
Pode ser que a recessão de 2015-16 seja grande o bastante para evitar altas adicionais de preços. Quer dizer, em termos "pop", só vai ser bom se for ruim.
Só que não.
A expectativas de inflação em alta, como agora, tendem a elevar a inflação. De resto, ainda não há perspectiva de contenção do preço ora inflacionário do dólar.
A economia indexada deve carregar pelo menos parte da inflação de agora para o ano que vem. Isto é, por meio de regras formais ou não, reajustar 2016 pelas altas de 2015. Por exemplo, haverá em 2016 um reajuste de 10% no salário mínimo, aliás letal para prefeituras. Mesmo que não esteja em contrato, as pessoas passam a fazer contas reajustando tudo por "10%".
Pode haver ainda reajustes de preços controlados pelo governo. Não está certo se a conta de luz já pagou todos os efeitos da seca e dos erros de Dilma Rousseff: pode haver mais reajustes extras. Dado o risco de desastre na Petrobras e a falta de dinheiro do governo para socorrê-la, não é absurdo imaginar que virão reajustes de combustíveis.
Note-se que o aumento das estimativas de inflação para 2016 não se deveu à previsão de inflação maior nos preços administrados. O pior pode piorar.
Em um governo crível, seria possível ter uma meta "extraordinária", intermediária, de inflação para 2016, com um plano estrito de redução da meta nos anos seguintes, o que permitiria segurar os juros sem rolo maior. Um governo crível teria plano fiscal para os próximos anos.
Não é o que temos.