CPMF – Ah, que bonitinho! Queria a oposição rachando com Dilma a impopularidade? Ou: O que ela disse e o que ela faz

Publicado em 27/09/2015 08:34
POR REINALDO AZEVEDO, NA VEJA.COM + FOLHA DE S. PAULO (edição deste domingo)

É certo que a população está indignada com a roubalheira, e a cada novo episódio a revelar a desfaçatez com que essa gente governa o Brasil e a sem-cerimônia com que meteu a mão no dinheiro público, a revolta cresce. Mas não é menos verdade que, fosse outra a situação econômica, talvez Dilma vivesse dias melhores. Já escrevi aqui e reitero: em 2005, o mensalão também abalou bastante a reputação de Lula. Mas a economia se encarregou de minimizar os estragos e se sabia que viria pela frente uma jornada positiva. E agora? Bem, agora a situação é radicalmente distinta.

Indignação e crise econômica não compõem um boa mistura para nenhum governante. Mas é claro que a brutal impopularidade de Dilma decorre do estelionato eleitoral, visível como nunca antes na história e coisa e tal. Notem: em 2003, Lula também jogou fora boa parte das bobagens que disse em campanha. Só que a situação era diferente.

Lula estreou no poder se desmentindo, mas aquilo foi bom para o país. Ainda bem que os petistas jogaram no lixo suas ideias esdrúxulas, que começaram a ser aplicadas para valer só no segundo mandato de Lula e levadas ao extremo no primeiro de Dilma. O estelionato do Babalorixá de Banânia, à sua maneira, pacificava o país; o de Dilma inflama as ruas.

Nesta semana, vai ao ar o programa do PSDB no horário político. E, mais uma vez, o partido vai confrontar Dilma com Dilma: mais uma vez, se vai pegar o que Dilma fez para confrontar com o que Dilma fala. E, meus caros, fazer o quê? Já presidente, ela se disse, sim, contrária à recriação da CPMF e, numa entrevista à jornalista Patrícia Poeta, em 2011, no “Jornal Nacional”, não teve dúvida: chamou o imposto de “engodo”.

Taí. Ela se disse contra a CPMF em 2011. Ainda assim, quando se referiu à dita-cuja, falou sobre a necessidade de arrumar fontes de financiamento para a Saúde. O governo quer, no entanto, criar uma taxação atrelada à Previdência.

O tema apareceu, sim, no debate eleitoral de 2014. Dilma avançou sobre Marina Silva, que não soube se defender, acusando-a de ter votado contra a CPMF, mas de se dizer a favor. A líder da Rede se atrapalha um tanto. Vejam.

Peixes e petistas morrem pela boca, não?

É do balacobaco ter de ouvir Dilma dizer que “governar o Brasil requer firmeza, coragem, posições claras e atitude firme”. Aquela que mandou para o Congresso um Orçamento com rombo de R$ 305 bilhões para dizer, uma semana depois que havia mudado de ideia, ainda ousou: “Não dá para improvisar”. É bem verdade que ela soltou tudo isso, de forma encadeada, porque estava lendo um papel.

Há quem fique bravo com o PSDB por levar ao ar cobranças assim. Que coisa, né? Vai ver os tucanos, depois de perder a eleição para Dilma, que faz o exato oposto do que prometeu, deveriam agora apoiar a presidente e dizer no máximo: “Viram? Nós falamos que ela estava contando mentiras…”

Não! A presidente tem de responder por suas palavras e por seus atos. Se, no espaço institucional, não for a oposição a cobrar isso dela, será quem? Afinal, as ruas já estão cobrando! Ou alguém sugere que os oposicionistas rachem com Dilma o ônus de governar e a impopularidade?

Deveria haver um limite para a vigarice intelectual e política. Mas, infelizmente, não há.

Por Reinaldo Azevedo

 

O recado do dólar (editorial da FOLHA)

Alta da moeda americana eleva risco inflacionário e ameaça prolongar a recessão, encurtando o prazo para o ajuste das contas públicas

Na semana que passou, o país assistiu atônito a uma depreciação abrupta do valor de sua moeda. Flutuando agora ao redor dos R$ 4, as cotações do dólar indicam que se esgota rapidamente o prazo para evitar um cataclismo econômico de difícil reversão.

A intensidade da oscilação cambial traduz o descrédito, praticamente unânime entre credores e investidores, quanto à capacidade do governo Dilma Rousseff (PT) de oferecer uma estratégia consistente para estancar a expansão acelerada da dívida pública.

Se não são debelados a tempo, movimentos de pânico como o atual se convertem em profecias autorrealizáveis –e o círculo vicioso começa justamente quando o mercado, incerto quanto à solvência futura do Tesouro, busca segurança na moeda norte-americana.

Impulsionada por essa demanda, a alta do dólar encarece os importados, pressiona a inflação e torna mais remota a queda dos juros do Banco Central. Ao mesmo tempo, disparam as taxas cobradas nos empréstimos de prazo mais longo, cruciais para o financiamento do governo e do setor privado.

Uma trapalhada grosseira da administração petista foi o que disparou tais alarmes financeiros. No final de agosto, foi enviado ao Congresso um projeto de Orçamento para 2016 em que as receitas esperadas eram insuficientes para cobrir as despesas com pessoal, programas sociais, custeio e obras.

Tamanha sandice custou, dias depois, a perda do certificado de investimento seguro conferido ao país por uma das principais agências de classificação de risco. A passo de tartaruga, o Planalto procura agora restaurar a peça orçamentária –mas os danos a serem sanados mudaram de patamar.

As contas dos especialistas já dão como certa uma escalada da dívida pública neste ano, de 59% para o equivalente a 67% do Produto Interno Bruto. Se nada for feito, essa proporção, que já é a maior entre as economias emergentes, chegará aos 80% até 2018.

Com tal trajetória, serão inevitáveis novos rebaixamentos na nota de crédito do governo e dificuldades crescentes para a venda dos títulos da dívida federal –fenômeno que já começa a ser observado.

Juros internos em elevação travam o crédito para os investimentos das empresas e o consumo das famílias, levando ainda ao aumento da inadimplência. Já a depreciação cambial traz uma ameaça mais imediata às empresas com dívida em moeda estrangeira.

Um caso crítico é o da Petrobras, nada menos que a maior empresa do país em patrimônio. Os passivos da estatal já foram inflados em R$ 100 bilhões desde o final de junho apenas devido à derrocada do real. Não por acaso, os papéis de sua dívida negociados na praça já incorporam o risco de insolvência.

Mantido tal quadro, não é apenas uma recessão mais profunda e prolongada que se avizinha. À medida que se esvaem as condições de endividamento, resta ao governo recorrer crescentemente à inflação para corroer o valor de suas despesas e fechar as contas orçamentárias. É o que ocorre hoje na Argentina e na Venezuela.

O mundo político, deploravelmente, não dá sinais de perceber a rapidez da degradação do quadro econômico. Alheia ao que ocorre no mundo real, na ilha da fantasia que é Brasília, a presidente se ocupa de negociações com o baixo clero do PMDB em um esforço para sustar um processo de impeachment.

Na ausência de ajuda do Planalto durante a semana tensa, o Banco Central se viu obrigado a atuar. O presidente da instituição, Alexandre Tombini, anunciou a disposição de vender dólares das reservas oficiais, se necessário, e obteve algum recuo das cotações.

Com a ajuda adicional de uma intervenção do Tesouro, que recomprou títulos de investidores em estado de quase desespero, chegou-se à sexta-feira (25) com menos nervosismo. A melhora será efêmera, entretanto, se não houver ações enérgicas.

Fazer caminhar no Congresso o ajuste emergencial, baseado na proposta de emenda constitucional que ressuscita a CPMF, é apenas um primeiro e difícil passo. Afinal, o superavit primário (receitas menos despesas, excluídos gastos com juros) almejado, de 0,7% do PIB, ainda será insuficiente para estabilizar a dívida.

A despeito da gravidade do momento, um fator fundamental diferencia a crise atual de suas antecessoras, todas causadas ou reforçadas pela histórica escassez de moeda estrangeira. Desta vez, o país dispõe de reservas volumosas, de US$ 370 bilhões, e não enfrenta maiores dificuldades nas transações com o resto do mundo.

Descarta-se, assim, a necessidade de ajuda financeira de organismos internacionais, como o Fundo Monetário Internacional, tão comum no passado. As fragilidades, por graves que sejam, são domésticas, e a saída da crise depende de providências ao alcance do governo e do Congresso.

análise de VINICIUS MOTA:

Uma corrida perigosa

SÃO PAULO - Uma arte ao mesmo tempo poderosa e difícil de manejar é a comunicação entre o Banco Central e seu público, os agentes econômicos. Basta uma palavra mal colocada, ou dita no tempo errado, para macular meses de trabalho.

O contrário também vale. O recado tempestivo e bem dado poupa esforço e recursos. Na semana passada, Alexandre Tombini, chefe do BC, agarrou uma dessas oportunidades.

Quando o dólar explodia a R$ 4,25, Tombini surgiu para dizer que o banco poderia valer-se de sua caixa de moeda forte sonante, de US$ 370 bilhões, para impedir a disparada. Deu no mínimo sorte, pois o mergulho do real foi revertido, mas provavelmente também acertou o alvo.

A vitória momentânea, no entanto, poderá tornar-se um tormento logo ali na frente. Parte dos agentes das finanças ficou assanhada para saber se o BC diz a verdade. Na próxima empinada violenta do dólar, o banco talvez não possa limitar-se a apenas falar do que é capaz.

Se não vender verdinhas, desmoraliza-se. Se as vender, dará a largada para uma corrida perigosa, embora inevitável caso persista a falta de ação para deter a degradação fiscal.

Está em curso um programa de assunção, pelo governo federal, do risco de empresas endividadas em dólares, que já comprometeu cerca de US$ 100 bilhões em contratos nos mercados futuros. O uso das reservas aceleraria esse processo que, a prolongar-se, terminaria com o setor público assumindo o risco de calote externo da economia brasileira.

Seria a volta de mais um fantasma que Lula, em seu tempo de Napoleão dos pobres, comemorou ter espantado. Logo à frente estaria satanás, o Fundo Monetário Internacional.

Teremos deixado o jardim da infância dos povos a ponto de tomarmos agora, nós mesmos, as medidas que nos livrem da desgraça? Ou vamos precisar ser colocados mais uma vez de joelhos diante de alguém que, de fora, nos obrigue a tomar jeito?

 

ANÁLISE DE VINICIUS TORRES FREIRE: 

Dilma e as invasões bárbaras

Avanço da ruína econômica não atingiu cada canto da vida cotidiana, mas vai bater na porta

O DESASTRE provocado por Dilma Rousseff ainda não se espalhou por todo e cada canto da economia, embora muito problema já tenha sido encomendado, faltando apenas a entrega. Um pacote-bomba, por exemplo, é a Petrobras –resta apenas saber o tamanho desse presentão oferecido pela presidente.

Ainda assim, um passeio nem tão aleatório pela economia permite descobrir lugares da "vida cotidiana" que não foram devastados pelo ataque dos hunos, Isto é, a bárbara política econômica de 2011-14. Dá tempo, pouco, de evitar o avanço da ruína.

Há motivos para se preocupar com o aumento da inadimplência e, talvez, seus efeitos em bancos, tanto mais porque temos recessão garantida pelo menos até meados de 2016. Inadimplência e pagamentos atrasados de empréstimos têm aumentado desde o final de 2014, desacelerando um pouco desde março, por aí. No entanto, estão em níveis bem mais baixos do que os verificados de 2011 a 2013.

Parte da conta do futuro calote já deve estar no correio, decerto. O desemprego nas maiores metrópoles passou de 5% em agosto de 2014 para 7,6% em agosto passado. O salário médio caiu 3,5% (descontada a inflação). O total dos rendimentos baixou mais de 5%, horror inédito em mais de década. Mas não há indícios de inadimplência descontrolada adiante –por ora.

A despesa média das famílias com pagamentos de juros e amortização de suas dívidas está em nível alto, 21,9% da renda mensal, porém quase estável desde 2013. Não aparenta disparada (mas, dado o modo como é calculada, a medida não parece muito precisa no curto prazo). Em 2005, quando tal medida começou a ser calculada, o comprometimento da renda com o serviço da dívida era de 16,5%. Na crise anterior, 2008-2009, em torno de 19%. O pior momento foi o final de 2011.

Isto posto, não convém brincar com fogo. As famílias tentam se desendividar –em um ano caiu quase 5% o total de crédito para pessoas físicas (com taxas livres, em termos reais). Mas os juros estão em alta, a renda, em baixa. Perigo.

O estoque de patrimônio financeiro das famílias, aplicações em fundos de investimento e poupança, padece, mas não se vê colapso, embora faltem dados consolidados atuais. Dada a disparada de juros de agosto-setembro, pode ter havido ou sobrevir estrago mais feio nos fundos.

Uma redução acentuada da riqueza financeira das famílias tende a ter impacto adicional na confiança já deprimida e no consumo. De resto, baques em fundos de renda fixa criam problemas para o governo rolar sua dívida (o grosso das aplicações desses fundos são empréstimos para o governo).

Em agosto, nos total dos fundos havia R$ 2,9 trilhões; na poupança, R$ 645 bilhões (caiu para R$ 641 bilhões na semana passada).

Nos anos ruins de 2002 e de 2008, o patrimônio líquido dos fundos caiu 18% e 11%, respectivamente. Neste ano, o patrimônio dos fundos mal cresce. Mas não há tombo –por ora.

Evitar desastres maiores e mais amplos, da Petrobras ao crediário, exige conter a disparada de juros e dólar, para ficar no popular, o que depende de um plano imediato de contenção do aumento da dívida pública, como todo mundo está cansado de ouvir. Não há sinal de tal coisa no horizonte.

 

opinião de HENRIQUE MEIRELLES:

Para amanhã ser outro dia

Há mais de 20 anos, passei alguns meses no exterior e esperava encontrar um país mudado na volta. Quando parti, o Brasil estava em crise, com grande volatilidade nos mercados, que toda sexta-feira aguardavam o anúncio de mudanças fundamentais. Mas acabei encontrando praticamente a mesma situação, pautada por ansiedades e discussões de curto prazo.

Estamos de novo em crise. Olhando a história, fica claro que, para superá-la, é preciso parar de focar na volatilidade diária de dólar, juros e risco-país e buscar soluções que estabilizem a dívida pública e gerem crescimento sustentável. As taxas de crescimento brasileiras têm sido decrescentes e, mesmo depois desta recessão, as previsões são de taxas modestas na próxima década.

O primeiro passo para mudar o quadro é a estabilização fiscal, com a adoção, legal ou constitucional, de teto às despesas públicas como proporção do PIB, proposto aqui na semana passada. Os passos seguintes seriam a adoção de soluções exequíveis aos problemas estruturais da economia.

Comparando fatores de crescimento, comecemos pelo o que não é problema. Não temos problema de escala, pois somos o oitavo mercado mundial. Nem problemas políticos de longo prazo, se medimos eficiência política com parâmetros técnicos como eleições regulares, posse dos eleitos, imprensa livre, Judiciário independente. Apesar da crise atual, temos fundamentos políticos superiores aos dos emergentes.

O primeiro dos grandes problemas é a educação, diretamente ligada à produtividade. A escolaridade média cresceu muito, mas o problema está na qualidade. E já há conhecimento acumulado sobre como melhorá-la drasticamente.

Outra questão vital é reduzir a elevada carga tributária. Nossa tributação equivale à de países de alta renda e alto nível de serviços públicos, mas sem a renda e o nível de serviços equivalentes. O próximo ponto é o custo de energia, equivalente ou superior ao de Japão e Alemanha, que, ao contrário do Brasil, não têm recursos energéticos. Seguem como grandes entraves a logística inadequada, a burocracia e os empecilhos aos negócios.

Para todos esses grandes problemas, já existem soluções, tecnologia e capital disponíveis. Bastam visão, disposição e competência para fazer. Na medida em que a situação fiscal se estabilize e um plano pró-crescimento seja implementado com vigor, foco, eficácia e credibilidade, o Brasil terá condições de sair da crise e iniciar período sustentável de crescimento com estabilidade.

O caminho é claro. Mas é preciso liderança política, clareza das prioridades, energia e foco para mobilizar a sociedade em torno das verdadeiras soluções dos problemas.

Eleitor de Aécio, Picciani escancara vulnerabilidade do governo de Dilma, (no blog do Josias)

Há um ano, Leonardo Picciani (esquerda), pedia votos para Aécio; hoje, exige ministérios de Dilma

A foto acima, uma selfie tirada pelo deputado federal Leonardo Picciani em agosto de 2014, no centro do Rio, diz muito sobre o atual estágio do governo Dilma. Junto com seu irmão, o deputado estadual Rafael Picciani, à direita na imagem, o atual líder do PMDB na Câmara pediu votos para o tucano Aécio Neves na última eleição presidencial. Até dois meses atrás, Dilma negaria um cumprimento ao deputado se cruzasse com ele. Na semana passada, ofereceu-lhe dois ministérios. Entre eles o da Saúde, maior orçamento da Esplanada —coisa de R$ 106 bilhões.

No esforço que realiza para reformar o gabinete loteado e convencional que anunciou há apenas nove meses, Dilma sucumbiu sem ressalvas ao fisiologismo. A ideia de que a presidente dirige os rumos do país nesta ou naquela direção tornou-se uma ilusão no instante em que ela convocou Leonardo Picciani ao balcão. Nessa hora, equilibrando-se em meio ao entrechoque das crises econômica e política, Dilma deixou claro que, governada pelas circunstâncias, sua prioridade é não cair. Para evitar o impeachment, submete-se à chantagem de Picciani.

Dilma planejara anunciar seu novo gabinete na última quarta-feira. Adiou para quinta. E voou para os Estados Unidos sem conseguir divulgar o “novo” formato da Esplanada e os nomes dos ministros. Antes de embarcar, numa conversa com o vice-presidente Michel Temer, Dilma atribuiu a demora a Picciani.

Dilma já havia fechado a cota ministerial do PMDB. Manteria em seus cargos: Kátia Abreu (Agricultura), Eduardo Braga (Minas e Energia), Henrique Eduardo Alves (Turismo) e Eliseu Padilha (Aviação). Extinguiria a Pesca, transferindo seu titular, Helder Barbalho, filho do senador Jader Barbalho, para Portos. E acomodaria na Saúde um dos indicados por Picciani.

Ao saber que a Câmara ganharia apenas um novo ministro e não dois, Picciani elevou o timbre. Recordou que a presidente comprometera-se em acomodar um deputado também na pasta da Infraestrutura, que resultaria da fusão de Portos com Aviação Civil. E exigiu a entrega da mercadoria. Sob pena de retirar os nomes que havia apresentado.

O mais curioso é que o timbre grosso de Picciani não orna com sua capacidade de fornecer votos para Dilma no plenário da Câmara. Na sessão em que o Congresso cedeu vitória parcial a Dilma na análise de vetos presidenciais, o PMDB entregou ao governo apenas 34 dos seus 64 votos. Em privado, Eliseu Padilha disse que, no período em que auxiliou Michel Temer na articulação política, assegurou entre 48 e 50 votos nas votações do ajuste fiscal.

Quer dizer: ainda que resolva ceder às exigências de Picciani, Dilma não terá a segurança de um apoio coeso da bancada do PMDB na Câmara. Seu interlocutor negocia algo que não está disponível no PMDB: unidade. Defensor do impeachment, Geddel Vieira Lima, presidente do PDMB da Bahia, diz que seu partido “faz book rosa” com Dilma. Já se sabia que a política é a segunda profissão mais antiga do mundo. Geddel insinua que ficou muito parecida com a primeira a partir da transação entre Dilma e o PMDB.

(por Josias de Souza, do UOL)

"Joias no cofre", por VERA MAGALHÃES (na coluna PAINEL):

São três as "joias da Coroa" que fazem o Ministério da Saúde ser cobiçado por políticos do PMDB do Rio: a estrutura de seis hospitais e três institutos no Estado, o DataSUS e a verba de publicidade da pasta, cuja licitação vai à praça ainda este ano. Justamente graças à ingerência política e a denúncias de desvios recorrentes nessas áreas, os controles foram reforçados: a CGU (Controladoria Geral da União) e o Ministério Público Federal atuam diretamente nesses contratos mais "sensíveis".

Cifras Juntos, os hospitais e institutos federais no Rio têm orçamento de R$ 3,5 bilhões ao ano. São visados para indicações políticas e foram foco de investigações como a de desvio de medicamentos no Inca (Instituto Nacional do Câncer) em 2011.

No berço Uma força-tarefa da Polícia Federal, Ministério Público e CGU realiza hoje o controle prévio dos contratos desses equipamentos.

Cinto Só neste ano, a Controladoria já determinou a redução de R$ 70 milhões em contratos da Saúde.

Banco de dados O DataSUS, órgão responsável pela informatização da pasta, tem dotação anual de R$ 500 milhões. Empresas de informática passaram a atuar fortemente no financiamento de campanha nos últimos anos.

Spot A pasta vai contratar quatro agências para dividir um bolo de R$ 175 milhões em propaganda em 2016, ano eleitoral. Agências de publicidade têm sido investigadas sob acusação de triangulação de verbas públicas para pagar campanhas eleitorais.

Alô, ministro? Em meio às negociações, Manoel Júnior -um dos indicados pelo PMDB para a Saúde- já recebeu telefonemas de secretários estaduais da área para falar de ações da pasta.

Fila Peemedebistas veem na movimentação do líder Leonardo Picciani (RJ) para defender dois ministérios para a bancada uma tentativa de se cacifar à sucessão do correligionário Eduardo Cunha na presidência da Câmara.

Sem acordo O prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), disse à direção da Frente Nacional de Prefeitos que, caso haja algum movimento para que as prefeituras negociem com o governo a aprovação da CPMF, ele comandará articulação contrária.

E a palavra? "O meu argumento é um só: o governo não é confiável. Todos os acordos feitos no primeiro semestre não foram cumpridos. Por que cumpririam agora?", disse ACM Neto à coluna.

 

Com Cunha e Renan, Marta ataca a corrupção (??!!!)

Marta Suplicy deixou o PT fazendo pose de navio que abandona os ratos. Numa entrevista concedida em janeiro, ela ensaiara o movimento: “Cada vez que abro um jornal, fico mais estarrecida com os desmandos do que no dia anterior. É esse o partido que ajudei a criar e fundar?”.

Neste sábado (26), Marta filiou-se ao PMDB —um partido que quer “livrar o Brasil da corrupção e da mentira”, ela discursou. A ex-petista tinha do seu lado, entre outros, Renan Calheiros e Eduardo Cunha. A dupla não oferece propriamente um bom exemplo. Mas é um extraordinário aviso.

“A gente quer um Brasil livre da corrupção e das mentiras, livre daqueles que usam a política como meio de obter vantagens pessoais”, Marta insistiu. “Afinal, eu estou no PMDB do doutor Ulysses, que redemocratizou o país, e do Michel, que vai reunificar o país.”

Marta ainda não se deu conta, mas o PMDB de Ulysses Guimarães morreu. Mergulhou nas águas de Angra dos Reis em outubro de 1992. E seus restos mortais jamais foram localizados. Quanto a Michel Temer, antes de “reunificar o país”, ele terá de esperar até que o PMDB, às voltas com a penúltima reforma ministerial de Dilma, satisfaça todas as suas pulsões fisiológicas.

Se a sensibilidade auditiva fosse transportada para o nariz, quem escutasse Marta discursando no ato de filiação ao PMDB sentiria um mau cheiro insuportável.

FOLHA DÁ OUTRA CANJA (ENTREVISTA) PARA KÁTIA ABREU SE MOSTRAR COMO "A MELHOR AMIGA DE DILMA"

Folha - Seu nome foi cotado para a Casa Civil. Foi convidada?

Kátia Abreu - Não sei de onde isso surgiu nem para onde foi. A presidente nunca tocou nesse assunto comigo.

O PMDB se apressou em dizer que a sra. não seria indicação do partido.

Não sou uma intrusa, tampouco oferecida. Eu fui para o PMDB com um convite especial de pessoas que eu gosto muito no partido, começando pelo presidente Michel Temer, Renan Calheiros, Valdir Raupp, Romero Jucá. E disse que não queria ser tratada a vida inteira como cristã-nova. O PMDB às vezes têm pessoas filiadas há dez anos e continuam com esse carimbo. Sei que quem chega por último não senta na janela. Não quero passar por cima das lideranças já consolidadas do meu partido, mas também não sou uma mulher amordaçada ou encabrestada. Não preciso de autorização de ninguém para fazer política.

Quem a critica?

Não sei. Isso para mim é como se fosse política feita no metrô, subterrânea. Eu só sei fazer política à luz do sol, na superfície. Essas pessoas que fazem isso são infelizes, invejosas, que estão em posições inferiorizadas. De certa forma, me envaidece. Ninguém joga pedra em fruta podre. Se estão jogando pedra em mim é porque a fruta está bonita, não tem mosca.

Boa parte do seu partido defende o impeachment...

O impeachment, em primeiro lugar, é um instrumento que está na Constituição. O que está sendo atropelado são os seus procedimentos. Impeachment não pode ser com adjetivação, tem que ter substância. Só vejo adjetivação, porque a presidente não gosta do Congresso, porque é impopular, porque briga, etc. A presidente pode ter muitos defeitos, todos temos, mas ninguém nunca ouviu dizer que ela tenha furtado uma caneta BIC. É isso o que me aproxima dela, a sua honestidade.

A presidente está emocionalmente bem?

É admirável o controle dela. Não significa que está alegre. Continua valente, brigona, aquele jeito dela, mas você não percebe que ela esteja um tom a mais nervosa por causa da crise.

Pretende se candidatar à Presidência em 2018?

Olha, já estive pensando muito nesse processo para 2018. É a mesma coisa de você estar voando de avião, sem radar, e o tempo estar nublado, sem visibilidade. Acho 2018 muito distante. Mesmo porque, a minha vida, sempre foi feita muito no curto prazo. Nunca projetei o Ministério da Agricultura quando fiquei viúva. Naquele tempo minha vontade era sair no "Globo Rural", era meu sonho. Entrei no sindicato, fui para política. Agora, Presidência da República, sinceramente, não está na minha meta.

(NA EDIÇÃO DA FOLHA DESTA 2A.-FEIRA).

 

Sectarismo do PSOL faz Randolfe deixar legenda. Ou: Marina e seus notáveis “de posição, à frente”…

O PSOL, por si, não tem importância, é claro! É um partido com uma presença na imprensa absolutamente desproporcional à sua atuação e a seu naniquismo. Explica-se: conta com a simpatia de muitos jornalistas de esquerda, especialmente do Rio, que hoje se envergonham do petismo. Reúne ainda alguns políticos-celebridades, como o ex-BBB Jean Wyllys e Marcelo Freixo. O primeiro é capaz de dizer bobagens assombrosas com o destemor de quem se imagina ainda acompanhado por câmeras ocultas. O outro virou uma espécie de líder dos socialistas do Leblon… Pois é.

O partido, dada a sua dimensão liliputiana, sofreu três baixas importantes: deixaram a legenda a vereadora por Maceió Heloísa Helena, que migrou para a Rede, de Marina Silva; o senador Randolfe Rodrigues, do Amapá, e o prefeito de Macapá, Clécio Luís, que foi para o PC do B. No Congresso, agora, a legenda será representada apenas pelos deputados Chico Alencar (RJ), Jean Wyllys (RJ), Edmilson Rodrigues (PA), Ivan Valente (SP) e Glauber Braga (RJ), que se abrigou na sigla na quarta, oriundo do PSB.

Clécio justificou a decisão explicando que o cargo de prefeito “impõe imensos problemas a resolver”,  os quais “exigem relações políticas mais amplas, capacidade de fazer alianças maiores e um trabalho articulado com outros entes do poder público, como o governo federal”. Resumo: cansou de fazer oposição de esquerda ao PT. Ou ainda: um prefeito não pode ficar apenas berrando na rua. Tem de trabalhar. Heloísa Helena há tempos estava rompida com a direção do partido, que ela acusa — imaginem vocês! — de sectária.

Embora tenha feito uma cartinha de despedida elegante, elogiando os parceiros de trajetória, o sectarismo do PSOL está na raiz da desfiliação de Randolfe. O senador, destaque-se, sempre deu o voto mais à esquerda possível no Parlamento, mas isso é pouco para a turma. Se bem se lembram, ele era o escolhido para disputar a Presidência da República pelo partido, mais foi apeado do posto por Luciana Genro e seus extremistas amestrados.

O troço é de tal natureza estúpido que os psolistas patrulhavam o seu senador, entre outros motivos, porque este tentava levar recursos federais para seu estado. Segundo a “linha justa”, isso representaria uma espécie de capitulação, evidenciando que o partido estaria se rendendo ao jogo parlamentar.

Na sua carta de despedida, escreve Randolfe:
“(…) o ambiente político exige uma maior capacidade de articulação política. Exige amplitude, exige multiplicidade de relações, para que se construam organizações políticas capazes de atrair jovens, intelectuais, artistas, membros do movimento social, ativistas, militantes das redes sociais e todos aqueles que possam abraçar uma agenda comum em defesa do desenvolvimento soberano e sustentável e da superação das desigualdades econômicas e sociais.”

Isso, obviamente, tem sotaque, jeito e perfil da Rede. A ida do senador para a legenda é dada como certa. Marina vai formando, assim, o seu pequeno exército de notáveis. Miro Teixeira deixou o PROS e Alessandro Molon abandonou o PT. Os dois deputados do Rio agora integram aquele partido que, segundo a sua inspiradora, não é nem situação nem oposição, mas tem “posição”. Também não é nem de esquerda nem de direita, mas está à frente.

Sei lá o que isso tudo significa. Uma coisa é certa: Marina não quer  nem ouvir falar em impeachment. Segundo diz, não há motivos para isso. Deve ser isso a tal “posição à frente”.  Que coisa! É bem parecida com a retaguarda do PT, né?

Por Reinaldo Azevedo

 

Fonte: VEJA.COM + Folha de S. Paulo

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