Na FOLHA: Pesquisa do Planalto mostra que só 17% da população acredita no Governo. Pior, oposição tem apenas 13%
Círculo vicioso Pesquisa interna da Secom da Presidência aponta que, para a maioria das pessoas, a crise no país é, antes de tudo, política, que agravou a recessão econômica. "As pessoas que apóiam o governo estão sem argumento para defender o governo no dia a dia", diz a conclusão do levantamento.
Vazio Na pesquisa, 69% não souberam citar nenhuma ação, programa, ou política do governo federal. Entre os que dizem apoiar o governo, 24% não conseguiram exprimir um motivo.
Colou A pesquisa interna mostrou que os entrevistados associam diretamente a corrupção à crise econômica. "Na cabeça das pessoas, foi a corrupção que provocou o rombo no Orçamento, o rebaixamento da nota e a elevação do custo de vida", diz.
Pau a pau A pesquisa procurou descobrir também se os entrevistados julgavam o governo e a oposição capazes de tirar o país da crise. Para 17%, o atual governo tem essa possibilidade. Só 13% acreditam que a oposição está apta a executar a tarefa.
ME DÊ MOTIVO - Geraldo Alckmin reuniu na noite de quinta oito grandes empresários para discutir o cenário nacional. O governador paulista mostrou pessimismo com a situação econômica e política e disse não ver saída com Dilma Rousseff no cargo. Mas o tucano ainda acredita que falta um motivo para o impeachment. Ele acha que, se Dilma cair por uma razão frágil, como as pedaladas fiscais, há risco para a democracia, pois nenhum governo terá mais segurança jurídica de que terminará o mandato.
Fagulha Alckmin disse aos empresários que, nesse caso, qualquer crise poderá ser pretexto para tirar do cargo um presidente ou governadores e prefeitos eleitos. Sobre as pedaladas, afirmou que há precedentes da manobra em Estados e municípios.
Tempo ao tempo Aos comensais Alckmin disse que é necessário "investigar, investigar e investigar", para que o Congresso decida se os pedidos de impeachment cumprem as exigências constitucionais, e que ainda podem surgir provas a partir das apurações nos fundos de pensão e no BNDES.
À mesa Participaram do jantar no Bandeirantes o presidente da BRF, Pedro Faria, o vice-presidente do Bradesco, Marcelo Noronha, e o presidente da Riachuelo, Flávio Rocha, entre outros.
Votação de vetos vira teste decisivo para Dilma, por Josias de Souza, do UOL
Presidente do Senado e do Congresso, Renan Calheiros marcou para a noite desta terça-feira (22) a votação de 32 vetos presidenciais. Três são especialmente delicados para o governo. Num, Dilma Rousseff barrou o reajuste salarial de até 78,56% que os congressistas haviam concedido aos servidores do Judiciário. Noutro, ela brecou a correção de todas as aposentadorias pelo mesmo índice do salário mínimo. No terceiro, invalidou a troca do fator previdenciário por uma fórmula mais generosa para os candidatos ao pijama.
Se mantiverem os vetos de Dilma, deputados e senadores sinalizarão ao país que se arrependeram de aprovar o que o governo chama de ‘pautas-bomba’ e estão dispostos a ajudar Dilma a superar a crise em que ela mergulhou a economia do país. Se derrubarem os vetos, os congressistas religarão as bombas e dirão à presidente que o mandato dela subiu no telhado. Ou Dilma mobiliza sua infantaria para salvar os vetos ou ficará demonstrado que ela já não dispõe de tropa para aprovar o ajuste baseado na volta da CPMF. Algo que levará água para o moinho do impeachment.
Sem a ajuda do vice-presidente Michel Temer, que se afastou da articulação política do governo, Dilma enviou ao front o ministro petista Ricardo Berzoini (Comunicações). Auxiliado por Giles Azevedo, assessor especial da presidente, Berzoini encostou a barriga no balcão. Logo, será possível verificar se, no toma-lá-dá-cá, o ministro deu o bastante para receber. Nesta segunda-feira (21), véspera do combate, Berzoini deve exibir o mapa da guerra na reunião de Dilma com os membros da sua coordenação de governo.
Jurista Hélio Bicudo, autor de pedido de impeachment, sugere "governo interino" até nova eleição
Para o jurista Hélio Bicudo, 93, um dos signatários do principal pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff protocolado na Câmara dos Deputados, a crise política não se resolverá apenas com a saída dela do Palácio do Planalto. "O melhor seria convocar novas eleições gerais. Mudar toda a Câmara e o Senado seria o remédio mais democrático", disse ele ao jornal "O Estado de S. Paulo".
Sua ideia sobre a antecipação das eleições prevê um governo interino do vice-presidente Michel Temer que duraria 90 dias. "É possível antecipar por meio de um decreto partindo do Executivo. Vamos convocar e ver que bicho dá".
Cortejado pela oposição desde que decidiu assinar a petição, Bicudo passou a ser criticado pelos petistas nas redes sociais, que questionam o fato de ele ser classificado como "fundador do PT". Para "corroborar" a tese de que o jurista estaria sendo "manipulado", defensores da presidente divulgaram um texto escrito por um dos sete filhos de Bicudo, José Eduardo Pereira Bicudo, que afirmou que o pai "está sendo usado pelos articuladores do golpe".
"Criei meus filhos democraticamente. Nunca exigi fidelidade aos meus pontos de vista. Atuo segundo minha consciência", afirma. O jurista foi candidato a vice de Luiz Inácio Lula da Silva em sua primeira disputa eleitoral, para o governo de São Paulo, em 1982.
Depois disso, foi deputado federal pelo PT e ocupou vários cargos na sigla, tendo sido vice-prefeito e secretário de Assuntos Jurídicos de Marta Suplicy na Prefeitura de São Paulo. Seu rompimento com o partido ocorreu em 2005, após a divulgação do caso do mensalão.
"Essas pessoas que me criticam hoje nas redes sociais talvez nem me conheçam. Faz dez anos que deixei o PT", afirma. Apesar de dizer que não se incomoda com as críticas dos ex-aliados, Bicudo responde no mesmo tom. "O PT tornou-se ponto de partida para enriquecimento ilícito."
Ele também se irrita quando alguém classifica sua iniciativa como "golpe". "Impeachment não é golpe coisa nenhuma. É um processo legal, jurídico. Dizer que é golpismo é escapismo, é fazer discussão política de baixo nível."
Parceria
A parceria com Miguel Reale Júnior, que foi ministro da Justiça do governo Fernando Henrique Cardoso, no pedido de impeachment reuniu pela primeira vez os dois juristas no mesmo campo político. Em um ato simbólico, os dois foram juntos na semana passada a um cartório de São Paulo para registrar o documento que foi protocolado na Câmara. Na hora da assinatura, ativistas entoaram palavras de ordem contra o PT e foram aplaudidos por Bicudo.
Ao falar sobre a aproximação com Reale, ele recordou de uma passagem curiosa. "Quando fiz a Faculdade de Direito na São Francisco nos anos 1940, nós estávamos unidos contra a ditadura do Getúlio Vargas. Havia na época uma reação muito forte contra o professor Miguel Reale, pai do Reale Júnior, porque ele era do Partido Integralista. Havia repulsa por ele ser professor. No dia em que foi dar sua primeira aula de Filosofia do Direito, em 1946, foi uma gritaria na Faculdade de Direito." Segundo Bicudo, naquele tempo, o Largo de São Francisco era uma "praça de guerra".