Dólar sobe 1,28% ante real por preocupações com medidas fiscais
Por Bruno Federowski
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em alta de mais de 1 por cento sobre o real nesta terça-feira, com investidores preocupados com a perspectiva de as medidas fiscais anunciadas na véspera não sobrevivam ao Congresso e adotando cautela antes da reunião do Federal Reserve, banco central norte-americano, nesta semana e que pode anunciar aumento na taxa de juros.
O dólar avançou 1,28 por cento, a 3,8626 reais na venda, revertendo boa parte da queda na véspera, de 1,63 por cento, quando o mercado reagiu bem às medidas, com a avaliação de que esforço fiscal poderia evitar que o Brasil perdesse o selo de bom pagador por outras agências de classificação de risco além da Standard & Poor's.
"A maioria das medidas depende da aprovação do Congresso e levando em conta a baixa popularidade (da presidente Dilma Rousseff) e as relações difíceis com o Legislativo, vai ser difícil", afirmou o superintendente de câmbio da corretora Intercam, Jaime Ferreira.
O governo anunciou na véspera um pacote de medidas fiscais de 65 bilhões de reais, com o objetivo de garantir superávit primário em 2016 e resgatar a credibilidade das contas públicas. A principal proposta é a recriação da polêmica CPMF, imposto sobre operações financeiras, que deverá ter tramitação difícil no Congresso Nacional.
Pouco após o anúncio, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou que é "temeroso" que o governo condicione o ajuste fiscal à volta da CPMF.
O analista da Moody's Mauro Leos informou em comunicado nesta terça-feira que as medidas pelo governo brasileiro na véspera são um "desenvolvimento positivo" e mais equilibradas do que as propostas anteriores, que lidavam basicamente com medidas do lado da receita.
"O resultado final é: as medidas apontam na direção correta, mas dificilmente vão ser aprovadas como um todo e não lidam com os problemas de longo prazo", resumiu o operador de um banco nacional.
No campo externo, a proximidade da reunião do Fed gerou cautela. As turbulências financeiras recentes originadas por temores de desaceleração da China lançaram dúvidas sobre a perspectiva de início do aperto monetário nos Estados Unidos, que pode atrair recursos aplicados atualmente em outros países.
"Após seis anos de recuperação, nossos economistas para os EUA veem probabilidade de 60 por cento de que o próximo ciclo monetário nos EUA comece nesta semana", escreveu o estrategista do UBS, em nota a clientes, Geoff Dennis, citando o mercado brasileiro entre os mais vulneráveis.
Operadores, no entanto, atribuem uma chance menor de que isso se confirme. Após a divulgação de dados fortes sobre as vendas no varejo norte-americano, os contratos futuros de taxas de juros dos EUA passaram a apontar chance de 27 por cento de que o Fed encerre a política de juros quase zerados na quinta-feira, contra 23 por cento na segunda-feira passada, de acordo com o programa FedWatch, da CME Group.
A alta recente da moeda norte-americana reacendeu nas mesas de câmbio o debate sobre a intervenção do Banco Central, uma vez que o fortalecimento do dólar tende a pressionar a inflação, ao encarecer importados. Em audiência no Senado o presidente do BC, Alexandre Tombini, apontou diversas vezes que, se há perda nesse lado com o avanço do dólar frente ao real, por outro o mesmo movimento vem impactando favoravelmente as reservas cambiais.
Nesta manhã, o BC deu continuidade à rolagem dos swaps cambiais que vencem em outubro, vendendo a oferta total de até 9,45 mil contratos, equivalentes a venda futura de dólares. Ao todo, a autoridade monetária já rolou o equivalente a 4,525 bilhões de dólares, ou cerca de 48 por cento do lote total, que corresponde a 9,458 bilhões de dólares.