Na FOLHA: Em discurso de 7 de Setembro, Dilma defende 'remédios amargos' na crise

Publicado em 06/09/2015 20:44
+ editorial AMBIENTE DE RISCO, na folha de s. paulo

A presidente Dilma Rousseff disse nesta segunda-feira (7) que as dificuldades econômicas que o país enfrenta obrigaram o governo a administrar "remédios amargos" e exigem que as forças políticas ponham de lado "interesses individuais ou partidários".

Em pronunciamento divulgado nas redes sociais da internet para celebrar o 7 de Setembro, a presidente admitiu que políticas adotadas em seu primeiro mandato contribuíram para as dificuldades atuais, mas disse que seu objetivo era preservar empregos e investimentos.

"As dificuldades e os desafios resultam de um longo período em que o governo entendeu que deveria gastar o que fosse preciso para garantir o emprego e a renda do trabalhador, a continuidade dos investimentos e dos programas sociais", disse. "Agora, temos que reavaliar todas essas medidas e reduzir as que devem ser reduzidas."

Ela defendeu as medidas de austeridade adotadas pelo governo, que incluíram cortes de despesas e aumento das taxas de juros, como necessárias para conter a inflação e recuperar a economia.

"Se cometemos erros, e isso é possível, vamos superá-los e seguir em frente", afirmou. "Alguns remédios para essa situação, é verdade, são amargos, mas são indispensáveis".

"As medidas que estamos adotando são necessárias para botar a casa em ordem, reduzir a inflação, por exemplo, nos fortalecer diante do mundo e conduzir o mais breve possível o Brasil à retomada do crescimento", acrescentou.

Dilma defendeu o "esforço de todos" para superar a crise. "A união em torno dos interesses de nosso país e de nosso povo é a força capaz de nos conduzir nessa travessia", disse. "Devemos nesta hora estar acima das diferenças menores, colocando em segundo plano os interesses individuais ou partidários."

A presidente se disse "preparada" para "conduzir o Brasil no caminho de um novo ciclo de desenvolvimento", retomando o discurso que adotou na campanha eleitoral do ano passado, e disse que não haverá "recuos" nem "retrocessos".

"Nenhuma dificuldade me fará abrir mão da alma e do caráter do meu governo", afirmou. "A alma e o caráter do meu governo é assegurar, neste país de grande diversidade, oportunidades iguais para nossa população, sem recuos, sem retrocessos."

A presidente disse que o país deveria aproveitar o 7 de Setembro para celebrar a democracia: "A maior conquista alcançada e pela qual devemos zelar permanentemente: a democracia e a adoção do voto popular como método único de eleger nossos governantes e representantes".

PROTESTOS

Em Brasília, integrantes do MRP (Movimento da Resistência Popular) incendiaram pneus próximo ao local do desfile de 7 de Setembro. Os manifestantes protestaram contra o governo Dilma e o ajuste fiscal.

O Movimento Brasil também protestou nesta segunda com o boneco inflável do ex-presidente Lula e, pela primeira vez, com uma boneca da presidente Dilma.

O grupo ainda vendeu miniaturas do boneco Pixuleko.

Estelita Hass Carazzai/Folhapress  

O boneco inflável de Lula vestido de presidiário, apelidado de Pixuleko, durante 'tour' em Curitiba

Ambiente de risco (editorial)

Aumenta o descrédito quanto à capacidade do governo de pagar suas dívidas; situação pode provocar mais um ano de recessão profunda

Em 20 anos de relativa estabilidade da moeda, houve apenas um momento em que a desvalorização do real superou a verificada nos últimos 12 meses, de 72%. Foi em março de 1999, quando o país deixava atabalhoadamente o regime de câmbio quase fixo, uma perda de valor exagerada em parte pela própria natureza dessas transições.

A depreciação que se registra desde a eleição da presidente Dilma Rousseff (PT) excede mesmo aquela que se deveu ao pânico da eleição de Lula (PT), em ambiente econômico outra vez crítico.

No momento, parece não haver limite para a perda de valor do real, assim como não têm âncora as taxas de juros do mercado financeiro.

As tentativas do governo de apaziguar o ânimo dos agentes econômicos são cada vez mais desacreditadas, seja pelo descasamento de palavras e ações, seja pelas próprias declarações presidenciais, que se desdizem a respeito do ajuste das contas públicas.

Tal degradação realimenta a crise recessiva. A grande e contínua desvalorização do real pode reavivar a alta da inflação e travar a queda dos juros no início de 2016. A deterioração aguda das condições financeiras pode levar a um outro ano de recessão profunda.

Embora o Banco Central nesta semana não tenha alterado a Selic, taxa que regula o mercado de dinheiro no curto prazo, os juros futuros e de empréstimos mais longos sobem de modo preocupante.

A desorientação era tamanha que o Tesouro suspendeu um leilão de títulos prefixados. Ou seja, o governo deixou de tomar empréstimos a taxas de juros fixas, pois o custo estava alto demais.

O dólar em alta sem dúvida reflete também instabilidades na economia mundial. Mas a discrepância da desvalorização da moeda brasileira e a de países equivalentes indica um crescente descrédito na capacidade do governo e do Brasil de pagar suas contas.

Não é outro o sentido da elevação das taxas de juros, movimento em parte associado ao do dólar.

Em suma, o Brasil, seu governo e suas empresas são considerados um risco cada vez maior para os investidores, o que começa a tornar róseos os cenários de apenas estagnação em 2016.

Esse é o resultado direto das ações disparatadas do governo Dilma Rousseff, das notícias de que o plano de ajuste foi praticamente abandonado e, enfim, do rumor de que sua administração voltaria a ser conduzida pelas ideias que causaram o presente drama.

Caso continue a demonstrar descaso pelo tumulto que tem gerado, maior o risco de provocar um colapso, uma crise financeira aguda e uma recessão ainda mais desastrosa do que ora se imagina.

HENRIQUE MEIRELLES

Válvula de pressão

Participei recentemente de duas reuniões interessantes. Na primeira, exportadores disseram que a situação melhorou com a desvalorização cambial e melhorará mais se o dólar seguir subindo. Na segunda, industriais que usam insumos importados atacaram a alta do dólar por elevar custos na recessão. O que uniu os grupos foi a cobrança de postura mais ativa do governo –um, por mais aumento do dólar; outro, por sua contenção.

Isso deixa claro as dificuldades para definir taxa de câmbio ideal do país –ela muda de acordo com a atividade. O nível correto é o definido pela livre flutuação da moeda e resultado da entrada e saída de capitais do país.

Em 2003 e 2004, quando o real estava mais depreciado que hoje, as exportações começaram a crescer enquanto a estabilização econômica elevava a confiança das empresas para investir. Essa conjuntura atraiu dólares para a produção e o mercado de capitais e facilitou a emissão de títulos no exterior de empresas brasileiras em expansão. O aumento do saldo comercial e de conta corrente valorizou o real, movimento depois reforçado pela alta das commodities.

Simplificando equação, o câmbio reflete dinâmicas da economia internacional e, no plano interno, três números básicos: o preço das commodities, a taxa de risco do país e a conta corrente com o exterior. Quanto maior o risco, maior a taxa de retorno exigida para aplicar no Brasil, o que reduz a entrada de dólares. Já quanto maior o preço das commodities, mais dólares entram.

Não se pode controlar artificialmente um preço que é resultado dessas dinâmicas. Por isso, tentativas de governos de controlar o câmbio têm fracassado ao longo da história, inclusive no Brasil.

O que é possível fazer, e isso confunde muita gente, é absorver os excessos ou combater a falta de liquidez que podem causar distorções nos mercados. O controle do nível de liquidez é função básica do Banco Central, seja de moeda nacional, seja de estrangeira.

Na maior parte da década passada, dado o excesso de entrada de dólares, o BC compôs reservas internacionais significativas, absorvendo o excesso de liquidez, o que é muito diferente de tentar controlar o câmbio. O real permaneceu forte não pela ação do BC, mas pelos bons fundamentos da economia, que trouxeram ao país grande volume de capitais pela via das commodities e pelo baixo risco-país. Isso mesmo com o BC comprando dólares.

A taxa de câmbio deve funcionar como válvula de pressão para que a panela não exploda. No câmbio, como nos demais preços, a dinâmica de oferta e procura deve prevalecer. A discussão sobre a melhor taxa cambial para o país é inútil e pode nos levar a caminhos perigosos, como nos nossos vizinhos.

Fonte: Folha de S. Paulo

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