China cancela compra em massa de ações e Bolsas voltam a cair
China cancela compra em massa de ações e culpa especuladores
Avaliação é que incentivos não foram 'bem utilizados'; Bolsa fecha em queda em Xangai (-0,78%)
JAMIL ANDERLINIDO "FINANCIAL TIMES", EM PEQUIM
O governo chinês decidiu abandonar os incentivos ao mercado de ações por meio de compras em grande escala. Os esforços deverão se concentrar, agora, em investigar e punir os suspeitos de "desestabilizar o mercado", de acordo com autoridades.
Nos últimos dois meses, um grupo nacional de fundos e instituições de investimento estatais gastou cerca de US$ 200 bilhões na tentativa de impulsionar o mercado, que caiu 37% desde seu pico em meados de junho.
A avaliação, no entanto, é que o resgate ao mercado de ações foi mal utilizado, permitindo que "informações demais se tornassem públicas", segundo autoridades do setor de regulação em reunião feita na quinta-feira (27).
O colapso das ações na semana passada, que gerou uma turbulência nos mercados globais, foi parcialmente atribuído à abstenção das autoridades em relação às compras, que vinham ocorrendo desde julho.
Depois de ficar à margem por mais de uma semana, o governo retomou, na quinta-feira, a compra de ações em grande escala, ajudando o índice de referência de Xangai a se recuperar de uma pequena perda e fechar o dia com alta de mais de 5%. O mercado subiu quase 5% também no dia seguinte.
Nesta segunda-feira (31), as ações caíam mais de 2% no início da sessão, fechando com queda menor: (-0,78%). Mas as repercussões são enormes - a bolsa de Toquio caiu mais 1,28%. E as commodities (principalmente as mais demandadas pela china, petroleo, minerio de ferro e soja) perdem valor nesta 2a.-feira.
Autoridades reguladoras do sistema financeiro avaliam que as últimas intervenções foram uma anomalia e afirmam que o governo chines vai se abster de futuras compras de ações em massa.
CRUZADA LANÇADA
As autoridades planejam investigar e punir indivíduos e instituições que possam ter tirado vantagem do resgate para obter lucros.
Na semana passada, o regulador de valores mobiliários convocou funcionários de 19 corretoras, Bolsas e associações industriais controladas pelo estado e ordenou que intensificassem a supervisão dos mercados.
A autoridade reguladora informou que 22 casos de informação privilegiada, de manipulação de mercado e de "espalhar rumores de mercado" foram entregues à polícia.
Na terça-feira (25), depois de uma queda de 22% no mercado da China ao longo de quatro dias de negociação, 11 pessoas foram detidas sob suspeitas de atividades ilegais" de mercado, incluindo oito gestores do Citic Securities, um dos maiores bancos de investimento da China.
Em um sinal preocupante para os investidores globais com negócios na China, algumas autoridades chegaram a defender uma repressão às "forças estrangeiras", que dizem ter intencionalmente desestabilizado o mercado.
Desaceleração se espalha e traz desafios a países latinos
Turbulências na China e queda no valor de commodity prejudicam região
Países como o Brasil, que não aproveitaram o período de bonança para poupar e fazer reformas, sofrerão mais
MARIANA CARNEIRODE BUENOS AIRES
Os anos dourados da América Latina ficaram para trás. Após quatro anos de redução nos preços das commodities, ninguém mais duvida que o período de vacas gordas passou para as nações que se especializaram em produzir petróleo, minérios e alimentos.
Segundo a Cepal (comissão econômica ligada à ONU), a região deverá ter em 2015 a menor expansão dos últimos 16 anos –com exceção de 2009, quando a crise americana afetou o mundo inteiro.
As recentes turbulências no mercado financeiro chinês, hoje principal parceiro comercial da maioria dos países latinos, alimentam a previsão de anos difíceis pela frente.
"Não voltaremos a ver por muito tempo o crescimento alto que vimos na região nos anos 2000. Com sorte, voltaremos a crescer a taxas perto de 3% ao ano", diz o economista argentino Guillermo Calvo, professor da universidade americana de Columbia.
A China está em processo de desaceleração e consumindo menos matérias-primas. Segundo a Cepal, 80% das vendas da América Latina para o gigante são commodities.
Além disso, os investidores estão cada vez mais convencidos da recuperação dos EUA, deixando de lado a aposta em ativos ligados a matérias-primas, o que contribui para a liquidação nos preços das commodities.
De janeiro de 2011 a maio deste ano, segundo a Cepal, os preços das matérias-primas energéticas caíram 29%, as minerais, 39% e as alimentares, 30%. O preço do barril do petróleo, que há um ano custava US$ 106, valia menos de US$ 40 na última semana. Isso propagou as dificuldades que já se viam em Brasil, Argentina e Venezuela a países produtores de petróleo, como Colômbia e México.
"Viramos a fase do superciclo [de alta], e desapareceu o fator automático de elevação do PIB por meio das commodities. Mas não se está no desastre de preços dos anos 80 e 90", afirma Otaviano Canuto, diretor do FMI (Fundo Monetário Internacional).
GASTAR MENOS
Amparados no consumo doméstico, Paraguai e Bolívia, as novíssimas economias emergentes da região, terão crescimento ao redor de 4% neste ano. Mas não são imunes ao contágio da moderação sobre os países vizinhos.
Colômbia, Peru e Chile aproveitaram os anos dourados para fazer reformas e poupar e, por isso, também têm mais fôlego agora.
Já Brasil, Argentina, Venezuela e Uruguai "esbanjaram" na fase da bonança e entram nessa etapa com maior vulnerabilidade.
"Os países gastaram muito, e não apenas os governos, as famílias também. Todos terão que gastar menos", diz Calvo, referindo-se a ajustes, como o que está em curso no Brasil.
Canuto lamenta que o país não tenha aproveitado a boa fase para reduzir a dívida pública ou fazer reformas que ajudassem setores a sustentar a economia na baixa. Como resultado, há o risco de perda do grau de investimento e desindustrialização.
Para Daniel Titelman, chefe da divisão de desenvolvimento econômico da Cepal, as dificuldades continuarão pelos próximos dois anos pelo menos. E o que mais preocupa o analista é a contração dos investimentos na região.
"Os países têm que reativar os investimentos em setores não relacionados às commodities, como a infraestrutura, por exemplo."
Segundo Calvo, a má notícia é que as previsões de menor crescimento freiam também as expectativas de ganhos sociais, medidos pela renda per capita da população. "Como reagirá a população que ascendeu à classe média e poderá voltar à pobreza? Isso não é um problema de Dilma Rousseff ou de Aécio Neves, é de todos. A direita e a esquerda se enfrentarão com os mesmos problemas, lamentavelmente".
Exportação brasileira sofre com o enfraquecimento de vizinhos
DE BUENOS AIRES
O baixo crescimento da América Latina é negativo para a indústria brasileira, que tem na região seu principal consumidor.
Um em cada quatro itens industriais exportados pelo país vai para a América do Sul. No ano passado, segundo estudo da CNI (Confederação Nacional da Indústria), a exportação chegou ao nível mais baixo em sete anos.
Para os industriais brasileiros, mais do que a crise internacional e o efeito China, a perda de mercado é resultado de falhas domésticas.
"Os acordos comerciais que nós tínhamos ficaram parados no tempo, não acompanharam as negociações que os países fizeram com outros parceiros", diz Carlos Eduardo Abijaodi, diretor da CNI.
Segundo ele, além das barreiras tarifárias, o Brasil deve negociar investimentos, serviços e compras governamentais com os vizinhos, para ter acesso aos seus mercados.
"Temos que parar de nos preocuparmos com as importações e focarmos nas exportações. A produção está mais globalizada, se fugirmos disso vamos ficar fora."
A CNI detectou que a indústria brasileira perdeu vendas principalmente de tratores e pneus no Paraguai, produtos de aço e máquinas agrícolas na Bolívia e autopeças no Uruguai. E sugere que novas frentes possam ser a venda de peças, óleo de soja e automóveis para Chile e Peru.
"Temos que trabalhar para recuperar mercados que foram nossos", diz Abijaodi.
CLÓVIS ROSSI
A crise que só Dilma não viu
De como a presidente ocultou a verdade, ganhou a eleição, mas perdeu a governabilidade
De duas, uma: ou a presidente Dilma Rousseff é muito distraída ou mentiu na entrevista dada na semana passada à Folha, Globo e Estadão.
Nela, afirmou: "A crise começa em agosto, mas só vai ficar grave, grave mesmo, entre novembro e dezembro [de 2014]".
Não, presidente, a crise já estava grave, muito grave, antes disso: a economia brasileira retrocedeu nos dois primeiros trimestres de 2014, o que, tecnicamente, significa recessão.
Portanto, em agosto (o mês em que os dados do segundo trimestre foram dados a público), a situação já era "grave mesmo". Ou recessão não é grave, presidente?
Pior: o investimento vinha caindo desde o terceiro trimestre de 2013 e continuou caindo em todos os trimestres sucessivos até agora.
Ora, qualquer criança escolarizada sabe que queda do investimento, ainda mais em série, é sinal de crise grave, porque o crescimento à frente fica anêmico ou desaparece (como de fato desapareceu).
Tem mais: o site "Aos Fatos" justificou o nome e montou uma tabelinha sobre a arrecadação federal que mostra que, antes de agosto, a economia já estava estrebuchando: em julho/14, a arrecadação foi 0,23% inferior à de julho/13.
Foi o terceiro mês consecutivo em que a arrecadação aumentou muito menos do que nos mesmos períodos de 2013 ou até retrocedeu, como em julho.
Arrecadação crescendo pouco ou nada é óbvio sinal de problemas para as contas públicas.
Problemas para a economia vinham de mais longe ainda, conforme se lê na Carta de Conjuntura do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) de dezembro de 2013, igualmente recuperada pelo "Aos Fatos".
O texto do Ipea dizia que "a perda de dinamismo da região [América do Sul] se deve basicamente a três fatores: a deterioração dos termos de troca; o menor crescimento da economia mundial, especialmente com a recessão na Europa e a desaceleração chinesa; e o esgotamento do impacto das medidas anticíclicas adotadas em toda a região em reação à crise financeira de 2008""2009. Aparentemente, os países do Mercado Comum do Sul (Mercosul) –em especial, a Argentina, o Brasil e o Paraguai– foram mais rapidamente afetados, de forma que o crescimento do PIB se desacelerou fortemente já em 2012".
De fato, a economia brasileira cresceu, em 2012, apenas 1% na comparação com o ano anterior.
Uma gerente atenta teria acendido o sinal vermelho ante dados (oficiais) desse teor.
No entanto, a gerente Dilma só viu algo um pouco preocupante no mês seguinte, agosto, mas esperou até novembro e dezembro para constatar algo "grave, grave mesmo".
Agora, a presidente diz que, "talvez", a inflexão da política econômica devesse ter começado antes.
Deveria, claro, mas havia no horizonte um obstáculo intransponível, a eleição de outubro.
Você conhece algum governante, fora Winston Churchill, que se anime a pedir "sangue, suor e lágrimas"?
Se, ocultando a verdade, Dilma venceu por pouco, imagine o que aconteceria se não a ocultasse. Ela ganhou o governo, mas arruinou a governabilidade.
VALDO CRUZ
Quem aguenta?
BRASÍLIA - A imprudência e o voluntarismo do governo Dilma em seu primeiro mandato quebraram o Estado. A tal ponto que, numa atitude inédita, o Orçamento da União de 2016 será enviado ao Congresso Nacional com previsão de déficit.
Fica difícil, neste momento, avaliar o que teria sido pior. Fazer mágicas para tapar o rombo previsto no orçamento do ano que vem ou admitir que o governo não tem dinheiro para bancar todas as suas despesas.
No ano passado, a equipe de Dilma optou pelas pedaladas fiscais, uma maquiagem para tentar esconder o buraco nas contas públicas. Não deu. Fechou 2014 sendo obrigada a se endividar para pagar seus débitos. E nem pagou todos.
O fato é que Dilma adora um gasto para chamar de seu. A presidente é adepta do Estado forte, intervencionista, dono e agente direto dos rumos da economia. Ela não se satisfaz em dar apenas as diretrizes.
Deu no que deu. Imprevidente, gastou mais do que arrecada. Estimulou o aumento de alguns gastos e não tomou nenhuma medida para segurar outros. Torrou o colchão de poupança deixado para ela por Lula.
Numa atitude de desespero, lançou de última hora a ideia de ressuscitar a CPMF, o imposto do cheque. A operação foi tão atrapalhada, com oposição à ideia vindo de dentro do próprio governo, que durou meros três dias. Teve vida curtíssima.
Resultado, o governo Dilma tem hoje estreita margem de ação para: combater uma recessão que deve durar dois anos, uma inflação acima de 9% e um desemprego em alta.
Aí, para tentar respirar, inventa não só a volta da CPMF como diz que vai cortar dez ministérios, no timing errado, na dose errada, espalhando medo e paralisia na sua equipe.
Enfim, este é um governo que não precisa de oposição. A ponto de um aliado muito próximo de Dilma Rousseff desabafar: "Deste jeito, não sei se vamos aguentar. Se a gente quer destruir o nosso governo, estamos no caminho certo".
VINICIUS MOTA
Antes que se arrebente
SÃO PAULO - Há gente experta na política a vaticinar que o Brasil só escapará da encalacrada atual depois de esborrachar-se no muro. Não bastaria antever a aproximação do armagedom para mudar de rota. Seria preciso experimentá-lo.
Souvarine, o sabotador anarquista do "Germinal" de Zola, era um esteta do gênero: "Ateiem fogo aos quatro cantos das cidades, ceifem os povos, arrasem tudo e, quando nada mais sobrar deste mundo podre, talvez surja dele um melhor", dizia e praticava. A proclamação chega a ser esplêndida na literatura. Quando acontece na vida vivida, é apenas desgraça.
É para a desgraça certa que se desenrolam os acontecimentos da política brasileira. Estivesse a crise resumida a quizilas de poder, não haveria razão para desespero, mas ela arrasta para o fogo a segurança material de 200 milhões de almas.
O problema é como restaurar a responsabilidade dos atores políticos no momento em que o príncipe do nosso sistema, o presidente da República, reduziu-se a figura simbólica. A saída mais rápida seria repactuar forças em torno de Dilma Rousseff, o que no entanto tem sido dificultado pela inapetência da presidente e pela sua proximidade dos vetores desagregadores representados por Lula e pelo PT.
Não será possível salvar o governo Dilma, o ex-presidente Lula e o PT. Se a presidente continuar conectada ao seu mentor e ao seu partido, ninguém mais chegará perto dela para negociar saídas. O isolamento ficará tão intenso que a renúncia se tornará um recurso de misericórdia.
Outra opção seria organizar em torno de Michel Temer um governo de fato, fundado na partilha de responsabilidade com grupos dominantes no Congresso. A substância do acordo teria de conter reformas dolorosas nas despesas e nas receitas do Estado, além da "despetização" do Executivo. A um pacto forte assim, Dilma seria obrigada a submeter-se ou cair fora.
COLUNA PAINEL (EDIÇÃO DESTA 2A.-FEIRA)
Parecer feito por técnicos do Tribunal de Contas da União mostra que a presidente Dilma liberou créditos suplementares por decreto, sem passar pelo Congresso, o que é expressamente vedado pela Constituição.
Chico... Marco Aurélio de Carvalho, advogado do PT que estava com José Eduardo Cardozo ontem -quando o ministro da Justiça foi hostilizado na Paulista-, defende que o partido reaja com humor às manifestações.
... e Francisco "Quem sabe não está na hora de fazermos uma coxinha inflável e colocar ela para percorrer o país?", sugere Carvalho, como resposta ao Lula inflável.
Deixa disso 1 Dentro do Conjunto Nacional, Cardozo teve que interferir numa discussão acalorada, quando clientes da livraria Cultura começaram a chamar os manifestantes de fascistas.
Deixa disso 2 "Calma, gente, estamos em uma democracia. E vocês não estavam aqui para se manifestar contra mim?", disse Cardozo.
Tudo em paz Um médico que havia xingado Cardozo na Paulista seguiu o ministro até a livraria para se desculpar. Disse que, apesar de discordar do governo petista, havia passado do limite.
Como é? O delegado que registrou o caso do furo no boneco inflável do ex-presidente Lula, na sexta, levou um susto quando foi informado do ocorrido. Inicialmente, disseram a ele apenas que "esfaquearam o Lula".
Efeito retardado Apesar de ter vindo à tona em junho, em depoimento na Lava Jato, o termo "pixuleco" só virou piada na internet em agosto, segundo a ferramenta de monitoramento do Google. A principal busca relacionada é "pixuleco significado".
Papo de salão Nas últimas vezes em que cortou o cabelo, o senador Fernando Collor (PTB-AL) -alvo da Lava Jato- pediu ao seu cabeleireiro para ir a uma cabine reservada. Ele tem receio de ser alvo de xingamentos das madames que frequentam o salão Helio Diff, no Lago Sul.
RICARDO MELO
Tentativa e erro
A Dilma só resta escolher um lado e insistir nele. Tentar navegar em duas canoas é garantia de tormenta
O recuo da presidente Dilma em relação à CPMF coroou uma série de iniciativas desorientadas que comandam o governo desde as ameaças de impeachment.
Primeiro foi a Agenda Brasil, coleção de postulados conservadores destinada a afagar a elite. Alguém sério ainda lembra dela?
Depois veio o anúncio atabalhoado do corte de ministérios. Quantos? Quais? Quando? Deixa pra lá.
Agora o ensaio de ressurreição da CPMF. Nem se trata de entrar no mérito da proposta. Tampouco perder muito tempo em registrar o cinismo de oposicionistas e outros tantos que criaram o imposto no passado e agora posam de seus maiores adversários.
A raiz do problema continua sendo a mesma. Como compatibilizar um governo que se diz social –e que, por isso, tem sido reeleito–, mas insiste em procurar socorro naqueles que nunca engoliram a hegemonia de um partido fora do cenário tradicional da política brasileira. O pau que bate em Chico continua preferindo os Chicos, este é o fato.
O resultado constrange. A tal base política esfarela-se dia após dia. As concessões a torto e, principalmente à direita, não surtem efeito. De uma certa forma, o Planalto caiu na armadilha montada pela oposição. O fantasma golpista passou a guiar todos os passos da administração.
Cada lado festeja vitórias fátuas em tribunais que há muito perderam o respeito público. Além do TCU, Dilma vem sendo ameaçada pelo TSE. Ora, na mesma corte o PSDB é suspeito de cometer pelo menos 15 irregularidades na campanha presidencial. Você sabia disso? Provavelmente não. O assunto está confinado ao pé de página de alguns jornais. Uma das acusações, veja só, refere-se a doações de empreiteiras citadas na mesma Lava Jato que sataniza o PT.
Isso sem falar do escândalo do HSBC e da roubalheira assumida na sonegação fiscal na Receita. Talvez a Operação Zelotes não seja tão sexy, como diria o ministro Levy. Nesta nem foi preciso recorrer a vazamentos premiados de criminosos reincidentes. O próprio juiz responsável pelo caso, aprendiz de Gilmar Mendes, tratou de bloquear a investigação.
O Brasil vive sobretudo uma luta política. Mas quem vai decidir o desfecho são aqueles que sentem na pele o emprego minguar, os preços aumentarem, o acesso à educação, à moradia e a benefícios trabalhistas duramente conquistados ficarem mais difíceis. Isso não se resolve com discursos ou batalhas apenas pelo poder, seja de que lado for.
ENCONTROS E DESPEDIDAS
Por motivos pessoais e profissionais encerro hoje mais uma etapa nestaFolha, a terceira em minha carreira de jornalista. Acredito ter correspondido aos objetivos a que me propus em minha coluna inicial.
O debate sobre a democratização dos meios de comunicação está na ordem do dia, e ultrapassa os efeitos decorrentes da multiplicação de tecnologias. A radicalização política muitas vezes envenena a discussão, cuja peça central deve ser assegurar a verdadeira liberdade de imprensa.
Qualquer que seja esta nova paisagem, a Folha tem seu lugar assegurado. Durante todo o período como colunista, nunca fui censurado, tampouco instado a mudar opiniões, conceitos e princípios. Ao contrário: sempre gozei de completa liberdade, e incentivo, para exprimir minhas ideias –independentemente de diferenças editoriais.
Sempre terá sido uma honra dividir esta página com jornalistas consagrados como Janio de Freitas, Clóvis Rossi, Marcelo Coelho e tantos outros que a restrição de espaço impede citar. À Direção de Redação, capitaneada por Otavio Frias Filho, agradeço o apoio e respeito profissional irrestritos. Espero ter retribuído à altura.
Muito do que aprendi neste ofício devo aos anos trabalhados nesta Folha. E me orgulho disso.