SCOT inicia movimento de repúdio à invasão da Fazenda Figueira, pelo MST

Publicado em 19/08/2015 03:44
"Uma negação aos direitos do homem e ao desenvolvimento humano"

Invasão da Fazenda Figueira (Estação Experimental Agro zootécnica Hildegard Georgina Von Pritzelvitz, )Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiróz):

A Scot Consultoria vem, através desta nota, expressar a sua solidariedade aos pesquisadores e trabalhadores da Fazenda Figueira, (Londrina/PR) invadida na segunda-feira. A invasão foi perpetrada por um grupo de pessoas autodenominadas Movimento dos Trabalhadores Sem Terra.Esse grupo, que age tal e qual uma milícia, é célebre pelo rastro de destruição que deixa, pela truculência de métodos e pela intimidação. Uma negação aos direitos do homem e ao desenvolvimento humano.

A Fazenda Figueira (Estação Experimental Agro zootécnica Hildegard Georgina Von Pritzelvitz - Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz) é uma instituição de pesquisa e fomento que, ao longo desses anos, tem ensinado a agricultores e pecuaristas as normas corretas de produção. Além disso, é organizada de tal forma e gerida com tal carinho e competência que os resultados são extraordinariamente positivos. Uma fazenda de pesquisa e ensino, rentável e livre. Um modelo de exploração atrelado à realidade brasileira.

Um pouco da história da Fazenda Figueira:

Ao falecer, em janeiro de 2000, o engenheiro agrônomo Alexandre Von Pritzelwitz deixou, em testamento, para a Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz - FEALQ, uma propriedade agrícola denominada Fazenda Figueira, localizada no município de Londrina, Paraná, com as determinações de que fosse administrada pela Fundação, promovendo parcerias para a realização de pesquisa com o Departamento de Zootecnia da ESALQ/USP e outras instituições; que mantivesse a pecuária de corte como atividade principal e se criasse uma estação agro zootécnica com o nome de sua progenitora, Hildegard Georgina Von Pritzelwitz. Uma Comissão Técnica, indicada pelo Departamento de Zootecnia, foi encarregada do desenvolvimento da fazenda com o objetivo de torna-la produtiva e autossustentável. Uma Comissão Científica, indicada pela FEALQ, analisa e aprova os projetos de pesquisa desenvolvidos na Estação Experimental.

Um sonho e um ideal que agora estão sendo ameaçados por um punhado de vândalos que, queremos crer, não sabem o que fazem. Se sabem, são criminosamente responsáveis pelos seus atos de esbulho. Estão ameaçando destruir um bem cujo objetivo é a agregação de conhecimento no meio rural nacional. Na Fazenda Figueira está a maior reserva florestal de Londrina, agora em risco.

Conclamamos à sociedade rural, em particular, e à sociedade brasileira como um todo, que repudiem essa violência de maneira incisiva. Rogamos que as autoridades restabeleçam prontamente o estado de direito e de ordem, protegendo a pesquisa, o ensino e o fomento do conhecimento agrário.

Chega de violência e de violadores.

Alcides Torres
engenheiro agrônomo
diretor

 

A propaganda picareta do PT na TV. Ou: Boulos, o coxinha chapa-branca e enfezado se pintando de vermelho

O PT programou para esta terça inserções na TV convocando a população para uma manifestação no dia 20, quinta-feira. A peça é desonesta de várias formas distintas, mas devidamente combinadas. Vamos lá. Segundo o partido, o ato vai reunir “movimentos sociais, partidos políticos, centrais sindicais e todos aqueles que acreditam que o Brasil é maior do que a crise”. Vejam o vídeo. Volto em seguida.

Pela ordem
Para não variar, petistas e esquerdistas no geral convocam o ato para uma quinta-feira, dia útil, coisa que aqueles que eles chamam “direita” não fazem por motivos óbvios, não é?, de um lado e de outro.

Os supostos “direitistas” trabalham, estudam, precisam garantir o sustento com o seu esforço. Os companheiros, como já sabemos, aprenderam o gosto da boa vida aproveitando-se do esforço alheio. Daí que os principais convocados pela patuscada sejam os tais “movimentos sociais” — quase todos eles são franjas do PT —, partidos (de esquerda!) e centrais sindicais.

A peça só recebe a assinatura do PT nos segundos finais. O locutor nem mesmo cita o nome do partido. O vermelho foi quase banido, a não ser por umas poucas imagens desfocadas. Parece que o PT realmente descobriu que a nossa bandeira não será vermelha. Se o sujeito não prestar atenção, acaba indo a um ato em defesa do PT e de Dilma pensando estar fazendo o contrário.

A vigarice política vai longe. A peça publicitária convoca os brasileiros a ir às ruas em defesa dos direitos trabalhistas e das conquistas sociais. Ora, quem tenta cortar alguns privilégios nessas áreas, curiosamente, é o governo… Dilma!  Ou existe algum plano dos adversários do PT?

A propaganda também convoca a manifestação em defesa da democracia. É mesmo? Quem a ameaça no momento? Talvez Vagner Freitas, o presidente da CUT, aquele que falou em luta armada…

O mais patético é ver um Guilherme Boulos, chefão do MTST, se comportando como chapa-branca independente. Ele levará a sua turma para a manifestação, mas, segundo diz, não será um ato “viva Dilma”. Os alvos do seu grupo serão o ajuste fiscal — eles são contra, claro! — e a tal Agenda Brasil, proposta por Renan Calheiros.

Vale dizer: Boulos, só para manter a fama de mau e justificar aquele seu ar de coxinha enfezado, o birrento preferido das tias, vai lá fingir ser contra as duas tábuas de salvação que Dilma arranjou. E, assim, pode dar um truque na sua massa de manobra.

Resta evidente que eu sou contrário à agenda dos esquerdistas, mas eles poderiam ao menos ser honestos no gênero.

Por Reinaldo Azevedo

Manifestantes rasgam a bandeira do PT em 20 de junho de 2013. / JOEL SILVA (FOLHAPRESS)

 

Dilma engana empresários de um lado e militantes do outro. Pelegada se une mais contra Cunha que a favor dela

 

A coluna Painel, da Folha, exemplifica hoje o que escrevi em 9 de julho.

As informações são as seguintes:

“Apesar de já não alimentar expectativa de recompor boas relações com a Câmara, o governo acredita que uma pauta focada na melhoria do ambiente de investimento empresarial no país é a única que pode permitir ao Planalto sobreviver até o fim do ano legislativo sem derrotas mais significativas. A articulação política de Dilma Rousseff conta com a ascendência do setor privado sobre o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para estabelecer pontos mínimos de convergência.

Enquanto o governo assopra, o PT morde: Cunha será alvo dos atos de quinta, organizado por movimentos sociais e sindicatos, com o apoio do partido” (lê-se: pão com mortadela).

“Em contraponto às manifestações de domingo, que pediram a saída de Dilma, os militantes levarão cartazes de ‘fora Cunha’.”

O tom dos atos, no entanto, tem rendido discussões entre os organizadores.

“Enquanto parte dos movimentos defende que se saia às ruas em defesa de Dilma, o MTST quer se descolar do apoio ao governo, batendo no ajuste fiscal de Joaquim Levy (Fazenda) e na Agenda Brasil de Renan Calheiros.”

Guilherme Boulos, líder do movimento, continua afetando insatisfação com a política econômica, supostamente alinhada à direita.

Como tuitei em dezembro de 2014:

Quando Boulos anunciou o protesto e a pauta 40 dias atrás, antecipei aqui:

“Por enquanto, Dilma fica com Levy em vez de Boulos. Ela só fará a guinada à extrema esquerda se sentir que não tem outra saída. Até lá, continuará tentando enganar os empresários de um lado e os militantes de outro, como manda a tradição do esquema petista de poder.”

Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil

 

PT: de mais amado a mais odiado (no EL PAÍS)

Em 20 de junho de 2013, a avenida Paulista foi tomada por simpatizantes do Movimento Passe Livre (MPL) que comemoravam a queda do aumento da tarifa de transporte público, uma vitória da onda de protestos que durou 13 dias e se espalhou por todo o país. Atrás da massa, seguia um pequeno grupo de militantes petistas, que até então tinham participado timidamente dos atos, constrangidos pelo aumento decretado, na cidade, por um prefeito do partido.

Ao darem os primeiros passos, os petistas foram cercados por homens que se diziam “antipartido”. Após um bate-boca acalorado, a bandeira vermelha que carregavam foi agarrada e queimada. Em protesto ao gesto, chamado de “antidemocrático”, os simpatizantes do MPL se retiraram com os representantes de outras agremiações e as manifestações brasileiras, que se estenderiam ainda por semanas, passaram a ser protagonizadas, ainda que não somente, por um grupo mais conservador, o mesmo que no próximo domingo exigirá oimpeachment da presidenta Dilma Rousseff.

A batalha na Paulista foi simbólica. Ela mostrou que o Partido dos Trabalhadores havia perdido seu posto de grande mobilizador popular, adquirido nas décadas de 80 e 90. A vitória do MPL era a primeira conquista de movimentos populares que não contava com a participação ativa dos petistas em décadas. O episódio também deixava claro que o PT tampouco havida sido acolhido pelas camadas mais ricas e conservadoras, apesar de ter implementado, ao longo de sua década de poder, uma série de medidas que beneficiaram essa parcela da população. Criticada por todos os lados, Dilma Rousseff mergulharia em uma queda livre de aceitação popular, ao lado de seu partido.

Em março de 2013, três meses antes dos protestos, o PT era o partido preferido de 29% dos entrevistados pelo Instituto Datafolha. A agremiação, que aparecia a frente de todas as demais desde 1989, atingia seu ápice de aceitação. O Governo de Rousseff também nadava em maré favorável: era considerado ótimo ou bom por 65% das pessoas entrevistadas, um índice alavancado pelos programas sociais, como o Bolsa Família, e pelos índices positivos da economia. Neste mês, quando o instituto divulgou sua última pesquisa, apenas 8% dos brasileiros disseram considerar o governo Rousseff bom ou ótimo –uma rejeição recorde desde a redemocratização. E 9% dos brasileiros afirmaram preferir o PT, que ainda aparecia na dianteira, mas colado a PMDB e PSDB, ambos com 6% das preferências. A diferença que é tucanos e peemedebistas exibiam seu patamar histórico e relativamente estável em quase três décadas.

O ódio pelo PT por parte de um segmento mais rico e conservador se tornou evidente —e até perigoso— nas ruas. Três prédios ligados ao partido foram alvos de ataques de bombas caseiras e comprar um simples isqueiro vermelho se tornou passível de questionamentos raivosos, como presenciou o EL PAÍS.

Mas a insatisfação com o Governo também atinge suas bases. Dentre os que afirmavam preferir o PT, 40% disseram considerar o Governo atual ruim ou péssimo e 27% afirmaram que ele é regular. A rejeição é um sintoma do paradoxo que começou a afugentar muitos simpatizantes desde a primeira vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002: o partido que durante muitos anos alavancou as lutas populares dos trabalhadores agora era o que aumentava a tarifa de transportes públicos, o que promovia ajustes que afetavam os trabalhadores, e o que adotava uma política econômica similar a do “neoliberal”Fernando Henrique Cardoso (FHC), que na década de 90 era alvo da fúria dos petistas, que marchavam pela mesma Paulista aos gritos de “Fora já, fora já daqui. Fora FHC e o FMI [Fundo Monetário Internacional]”. Desde que chegou ao poder, o partido também teve sua imagem desgastada por se envolver com escândalos de corrupção, como o mensalão e o petrolão.

Outras bandeiras de segmentos históricos da sigla também ficaram em segundo plano. O Governo de Rousseff também foi o que menos demarcou terras indígenas e o que menos promoveu reforma agrárianos últimos 20 anos. “O PT, que surgiu como o partido dos pobres, da ética e das transformações sociais abandonou esse propósito ao chegar ao poder, em 2003”, afirma Frei Betto, um dos fundadores do partido, amigo de Lula, e coordenador no primeiro governo petista do programa Fome Zero, embrião do Bolsa Família. “O PT se afastou das suas bases e adotou uma política de consumismo populista, quando deveria promover seu objetivo de organizar a classe trabalhadora.”

A fórmula funcionou enquanto havia condições favoráveis para financiar esse modelo. O ex-presidente Lula, que governou até 2010, se beneficiou de um cenário internacional positivo, com o auge da China e o boom das matérias primas ao mesmo tempo em que ampliava o crédito popular que multiplicou o consumo dos brasileiros e ajudou a criar quase 20 milhões de empregos. Se vendia uma imagem de prosperidade que parecia não ter fim, inclusive após 2009, quando o mundo entrou em colapso com a crise financeira que começou nos EUA.

Ao suceder Lula, em 2011, Rousseff manteve a mesma política econômica, mas nem tudo funcionou como antes. As despesas públicas aumentaram para que o povo continuasse consumindo e a economia girando, e o cenário externo não voltou aos níveis de antes de 2008. A cobrança desse excesso de otimismo começou este ano, com as desconfianças sobre a capacidade de Rousseff de manipular a economia. A mandatária recorreu, então, a Joaquim Levy, um ministro de Economia de escola ortodoxa, para promover cortes, o ajuste fiscal, um paradoxo para os que defendiam seu Governo e um contraste inclusive com o prometido na campanha da reeleição.

A nova alma de 2002

Depois de alguns anos em que o partido acreditou poder ensaiar uma "nova matriz econômica", de caráter desenvolvimentista, com um pé na exploração do petróleo e corte de juros, o PT voltava à política econômica com a qual havia se comprometido em 2002. Foi nesse ano eleitoral, que antecedeu a primeira vitória de Lula, que o partido divulgou a Carta ao Povo Brasileiro, em que se comprometia com os “sólidos fundamentos econômicos”. O mesmo PT que perdeu a eleição presidencial de 1989 por se negar a fazer aliança com o fisiológico PMDB aliou-se em 2002 a José Sarney, o maior nome peemedebista na época. “Era um verdadeiro mergulho no pragmatismo tradicional brasileiro, cuja recusa fora antes bandeira do partido”, ressaltou o cientista político da USP André Singer, ex-ministro de Lula, em um artigo de 2010 em que analisa tais mudanças.

Com isso, a identidade petista mudou. A classe média, mais conectada à ideologia do partido, se afastou. E as camadas de baixa renda, beneficiadas por programas sociais e pelo crescimento econômico, se aproximou. Em 2010, o Datafolha apontava que a proporção dos apoiadores do PT situados à esquerda teria se reduzido 32%, ao passo que subiu 35% entre os mais à direita, ressalta Singer no artigo. A desconexão crescente com a almaoriginal do partido levou o PT a perder para o PSDB, pela primeira vez, o posto de agremiação com a maior votação na legenda para a Câmara, nas eleições de 2014.

O descontentamento crescente explodiu após a reeleição de Rousseff, quando as investigações da Operação Lava Jato chegaram a nomes de peso do partido, como o tesoureiro João Vaccari Neto. A frente de esquerda que se uniu para assegurar a vitória dela, temendo a eleição de Aécio Neves, também recebeu um balde de água fria. Esperavam que o apoio, que se mostrou crucial na reta final do pleito, faria Rousseff  optar por uma guinada à esquerda em seu novo Governo. Mas ocorreu o oposto. A economia foi dada a Levy, em uma formação ministerial que incluía ainda Kátia Abreu, na Agricultura, uma ruralista contrária à reforma agrária.

Neste primeiro semestre, Rousseff realizou ainda um ajuste fiscal e cortes em direitos trabalhistas. Em meio a um Congresso conservador comandado pelo antipetista Eduardo Cunha, não teve forças, nem uma articulação política hábil, para aprovar a reforma eleitoral pedida pelo partido, que queria o fim do financiamento privado de campanha. Também não conseguiu evitar a aprovação, em primeira votação, da redução da maioridade penal. “A ampla frente de esquerda, democrática, que conquistou a vitória de outubro, se afastou”, resume Paulo Skoromov, de 68 anos, sindicalista que presidiu a assembleia que fundou o partido, em 10 de fevereiro de 1980, no colégio Sion, em São Paulo. “A gente apoia a presidenta, até com a última gota de sangue, contra o golpe do impeachment. Mas é o que dizem: com Levy e Kátia Abreu fica difícil dizer que o Governo é meu.”

Como num último suspiro de confiança e diante do que acreditam ser uma ameaça maior, uma frente de esquerda formada por movimentos sociais e sindicatos promete voltar às ruas no próximo dia 20, quatro dias após a mobilização pró-impeachment. Para evitar o constrangimento de serem acusados de defenderem cegamente o Governo, fazem questão de enfatizar que pedirão respeito à democracia, mas também o fim do ajuste fiscal.

A pedido de Lula, a presidenta recebeu parte desses militantes no último dia 13, em Brasília, em um evento público. Guilherme Boulos, liderança do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), foi convidado a assumir o microfone e, diante de uma Rousseff visivelmente desconfortável, avisou: “A agenda do Brasil é a da distribuição de renda, a de reformas sociais (...) Estaremos firmes e decididos nas ruas para defender essa agenda com unhas e dentes. A saída para o nosso país é com o povo e pela esquerda, presidenta”. 

Governo apela a um pouco de “manteguismo” na gestão Levy… É o custo da falta de credibilidade

Quem está no comanda da economia? Com a chegada de Joaquim Levy à Fazenda, esperava-se que tivesse chegado ao fim os tais “incentivos” do governo à indústria, política que ele mesmo considerou em passado recente desastrada. Eis que, para, oficialmente ao menos, minorar os efeitos da recessão, o governo decidiu conceder uma linha de empréstimos da CEF a alguns setores. O compromisso para ter acesso ao dinheiro é não demitir ninguém por certo período.

Só a CEF vai liberar R$ 5 bilhões, a juros subsidiados, para a cadeia produtiva do setor automobilístico. Nesta quarta, o Banco do Brasil vai anunciar o seu pacote. Será um golpe de “manteguismo” em plena era Levy. Alguém dirá: “Vai deixar a indústria morrer?” A pergunta é outra: “Isso vai adiantar?” Bem, vejam no que resultou esse modelo de intervenção. Devem ser anda contemplados os setores de celulose, eletroeletrônicos e construção civil.

O problema não está, em si, em ajudar ou não, mas na coerência das escolhas. No momento em que o governo busca desesperadamente apoio na sociedade, inclusive o dos empresários, é evidente que isso surge como uma espécie de moeda de troca.

Mas isso ainda é de menos. Os juros no país estão a 14,25% ao ano. O objetivo claro é dar um tranco na demanda para forçar a inflação a cair. Ela se disseminou e disseminada ainda está, e seu epicentro são os preços administrados. O país terá uma recessão neste ano da ordem de 2% e já se considera certo que encolha também no ano que vem.

Dado esse quadro, vai se compensar a indústria com juros subsidiados para minorar os efeitos da recessão em certos setores, enquanto a economia como um todo sofre os efeitos das escolhas oficiais? Sem o dinheiro falsamente barato do BNDES e com a falência da política de desonerações, o governo decidiu queimar parte da saúde de dois bancos oficiais para ver se consegue atravessar o deserto.

Não se trata de ser contra ou a favor empréstimos a juros subsidiados para o setor A ou B. A questão é saber se a medida faz sentido no conjunto das escolhas feitas pelo governo. E, obviamente, não faz. Só estamos diante de uma ação ditada pelo desespero de uma presidente em busca de apoio.

Eis aí uma das faces perversas de um governo sem credibilidade, que busca se segurar a qualquer custo.

Por Reinaldo Azevedo

 

J. R. Guzzo no Aqui entre Nós: “Não existe beco sem saída para um país”

PARADOXOS – Na véspera de o PT ir à rua em defesa de Dilma e contra a pauta de Dilma, o que avançou em Brasília foi o impeachment de Dilma

O PSDB afinou o seu discurso para um eventual pós-Dilma e, se querem saber, isso é uma boa notícia, embora seja necessário dizer que, dada a realidade, com a Operação Lava-Jato em curso, todo equilíbrio alternativo já nasce precário. Por enquanto, costumo dizer, só a esperança continua no fundo daquela caixa de Pandora. Os monstros todos estão à solta. Tudo pode acontecer. Vamos ver.

Ainda que o PT tenha convocado as esquerdas a sair às ruas na quinta em defesa do governo Dilma e contra a pauta do governo Dilma (!!!), a verdade é que ninguém acredita, nem entre petistas, que a presidente conclua o mandato. E essa sensação vai se generalizando entre os atores políticos e, para ser genérico, os atores sociais. Em algum lugar, tem de estar o eixo da governabilidade. Onde?

FHC reuniu os líderes tucanos para propor essa questão e tentar achar uma resposta. Já afirmei aqui que considero remota a possibilidade de que o TSE casse a chapa que elegeu Dilma — e, pois, junto com ela, Michel Temer, o vice — sem uma prova material, além de testemunhos, de que houve recursos ilegais na campanha. De toda sorte, o senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, fez bem em alertar que os tribunais não podem estar sujeitos à pressão do Planalto. Já chego lá.

O caminho mais curto continua a ser a renúncia, mas esse é um gesto unilateral. Há pouco a dizer a respeito. Não combina com a mística que Dilma criou para si mesma. O impeachment, no confronto com a eventual cassação pelo TSE — o que ensejaria novas eleições, se ocorrida nos dois primeiros anos de mandato, ou eleições indiretas, se nos dois finais —, é um caminho mais curto e sujeito a menos recursos do que o do tribunal eleitoral. O período de “sursis” seria abreviado.

E é evidente que essa saída não vai se construir se o PSDB não passar a conversar de forma mais clara e determinada com o PMDB. É simples assim: o maior partido da oposição terá de dialogar com o maior partido da atual base aliada, que pode herdar a cadeira presidencial, para ver o que vem depois. Em certa medida, algo semelhante se deu nós pós-Collor — embora, com efeito, para o bem e para o mal, Michel Temer não seja Itamar Franco.

Não o é para o bem: tem muito mais articulação política do que aquele e jamais proporia a volta do Fusca, para ficar nos símbolos. Mas não o é para o mal: Itamar não tinha de prestar contas a partido nenhum. À época, estava filiado a um inexistente PRN. O vice atual tem de se haver com a máquina peemedebista, o que não é fácil.

Aécio decidiu entabular conversações com peemedebistas que também não creem na sobrevivência do mandato de Dilma. Como me disse nesta terça uma liderança do partido que anda muito perto dessas articulações, “tudo fica velho muito depressa”. Segundo ele, a tentativa de fazer de Renan Calheiros o novo homem forte do PMDB, isolando Eduardo Cunha e Michel Temer a um só tempo, “foi tão desastrada que acabou caindo no ridículo”. Indaguei, em tom de pilhéria, se, num eventual governo Temer, talvez com apoio tucano, Renan ficaria de fora. Ele respondeu: “Só se for por causa da Lava-Jato. Ele estaria onde sempre esteve: com o poder”.

Vamos conjecturar mais um pouco. E o PT? Bem, meus caros, se vocês querem esse partido definitivamente fora do jogo em 2018, então lutem para que Dilma fique por aí. O problema é o que a gente faria depois com este grande Haiti, quando ela deixasse o que teria restado do país. Qualquer outra solução terá o PT na oposição, com meia dúzia de esquerdistas berrando permanentemente na rua, e com Lula candidato em 2018.

Lava-Jato
Mas é preciso ser prudente com os equilíbrios alternativos, também instáveis. A Lava-Jato tem o que se sabe porque oficial, o que se vaza, o que se fofoca e o que, de fato, pode estar guardado a sete chaves. Nas três primeiras categorias (a outra é incógnita), não consta que esteja o nome de Michel Temer. E, vamos ser claros, não pode estar. Ou solução não é.

Vigília
Nesta terça, o senador Aécio Neves advertiu para a necessidade de blindar os tribunais — referia-se ao TSE e ao TCU — das pressões oficiais. Elas existem, e todos sabemos disso. No primeiro, Luiz Fux pediu vista e retardou a decisão do tribunal sobre abrir ou não um processo para investigar irregularidades na campanha eleitoral de Dilma.

No TCU, ministros estão sob assédio para mudar o seu voto. Aviso: ainda hoje, a despeito de acordões e arranjões, o placar é contrário ao governo. Por enquanto, os que anunciaram uma vitória ao Planalto não estão podendo entregar o que prometeram.

Em síntese, tem-se o seguinte: um dia antes de as esquerdas irem às ruas em defesa do governo Dilma e contra a pauta do governo Dilma, o que é esquizofrênico, o que avançou um pouco em Brasília foi a possibilidade do impeachment de Dilma.

Fonte: SCOT + VEJA

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