Em VEJA: As provas do cala-a-boca sobre a morte de Celso Daniel (por FELIPE MOURA BRASIL)

Publicado em 02/08/2015 10:40
em veja.com (+ Reinaldo Azevedo)

As provas do cala-a-boca sobre a morte de Celso Daniel (por FELIPE MOURA BRASIL)

Cadáver insepulto: corpo de Celso Daniel encontrado numa estrada de Juquitiba, alvejado por oito tiros (Epitácio Pessoa/AE/VEJA)

Claudio Dantas informa na IstoÉ:

“Aos poucos vão se confirmando as denúncias do publicitário Marcos Valério feitas em depoimento ao MP em 2012. Já há provas do empréstimo feito pelo pecuarista Bumlai no banco Schahin ­supostamente para comprar o silêncio ­sobre a morte de Celso Daniel [1], e registro da possível conta usada pelo PT para receber propina da Portugal Telecom no exterior [2].”

Bumlai e Lula: amigos íntimos

1) Relembro a história da compra do silêncio:

O empresário Ronan Maria Pinto, segundo Valério, ameaçava implicar o PT, o então presidente Lula e o chefe de gabinete Gilberto Carvalho no misterioso assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel.

Valério confirmou que o então secretário-geral do PT, Silvio Pereira, lhe pediu 6 milhões de reais para resolver o problema. Ele reafirmou que não quis se envolver na história, mas que o dinheiro da chantagem acabou sendo pago pelo pecuarista José Carlos Bumlai, amigo íntimo de Lula, por meio de um empréstimo contraído no Banco Schahin.

2) Época revelou na semana passada adescoberta da Polícia Federal de uma conta no exterior destinada a saldar dívidas da campanha eleitoral de Lula em 2012, que havia sido citada especificamente por Valério em depoimento naquele ano.

A conta “movimentou 7 milhões de reais e envolvia o próprio Lula, Antonio Palocci e Miguel Horta e Costa, da Portugal Telecom”, segundo o publicitário condenado a 37 anos de cadeia pelo mensalão.

Valério dissera que Lula e Palocci combinaram que uma fornecedora da Portugal Telecom em Macau, na China, transferiria os 7 milhões aos petistas e que o dinheiro entrou no Brasil pelas contas de publicitários que prestaram serviços a campanhas do PT.

Resumindo:

As provas de ambas as operações podem piorar ainda mais a fase do Brahma.

Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil

 

Eletrolão pode derrubar Dilma Rousseff. PF vai bater na porta do Palácio do Planalto

Braço-direito caindo. Falta o esquerdo

Claudio Dantas mostra na IstoÉ como o Eletrolão pode derrubar Dilma Rousseff, com a investigação de seus comparsas: o ministro Aloizio Mercadante, a antiga auxiliar Erenice Guerra (foto) e o diretor da Eletrobras, Valter Cardeal.

“Em julho de 2007, Dilma Rousseff reuniu alguns ministros num comitê que tinha como missão fixar novas metas para o programa nuclear brasileiro. Aficionada às questões do setor elétrico, Dilma puxou para si o papel de coordenadora do grupo. O trabalho resultou num plano que previa, dentre tantas metas ambiciosas, a conclusão das obras da usina nuclear de Angra 3, paralisadas nos anos 80.

No comando operacional da empreitada estava o presidente da Eletronuclear, almirante Othon Pinheiro da Silva, que se tornou na semana passada o principal alvo da 16ª fase da Lava Jato. Embora o militar tenha surgido como a face mais visível do esquema, a PF tem elementos que podem fazer com que as investigações atinjam outras personagens muito próximas da presidente Dilma. ‘É possível que a gente chegue aos políticos’, disse o delegado Igor Romário de Paula.

Chegar aos políticos é quase um eufemismo. Ao mergulhar no setor elétrico, a PF vai bater na porta do Palácio do Planalto. Não há um só projeto no setor elétrico que Dilma não tenha acompanhado de perto. Se como presidente do Conselho da Petrobras a presidente alega que não tinha informações completas sobre o que acontecia na estatal, dificilmente poderá dizer que desconhecia os rolos em Angra 3 ou na usina de Belo Monte, os dois maiores investimentos do governo em geração de energia. Em ambos os casos, os investigadores já têm indícios de envolvimento de gente de confiança da petista.”

Em abril, mostrei na TVeja o Belo Monte de propinas do PT. Recordar é viver:

Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil

 

Lula calcula o impeachment de Dilma

O repórter Claudio Dantas escreve na IstoÉ:

“Lula já faz seus cálculos ante um possível impeachment de Dilma… ou eventual renúncia. A familiares o cacique petista confessou estar arrependido de tê-la escolhido como pupila. Dilma revelou-se incontrolável, pouco competente e está destruindo sua ‘herança política’. ‘Eu errei feio. Poderia ter escolhido o Jaques Wagner ou qualquer outro’, diz. Para ele, a melhor solução é ‘Dilma sair logo’. Nessa equação, Michel Temer assume a Presidência com o compromisso de não disputar a reeleição em 2018. Até lá, Lula espera uma recuperação econômica que crie condições para voltar”.

Até lá, esperamos um trabalho competente do Ministério Público.

A reclamação disciplinar contra o procurador Valtan Timbó, que assinou a abertura de investigação sobre Lula, foi arquivada ontem.

Começamos bem.

Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil

 

Petistas em pânico: Renato Duque aceita delação

A coluna Expresso, da Época, informa que Renato Duque, homem de José Dirceu na Petrobras, aceitou na sexta-feira fazer delação premiada com o Ministério Público Federal, embora seu advogado queira demovê-lo da decisão, dizendo-se contra.

Duque, contra quem o juiz Sergio Moro aceitou nova denúncia, deve ter cansado de mandar recados por Mônica Bergamo e decidiu, no mínimo, fazer uma ameaça mais contundente.

A jornalista havia afirmado que ele “poderá envolver novos nomes nos depoimentos que prestará à Justiça” e garantido que “os recados chegaram a dirigentes do PT”.

De fato, a coluna Painel, da Folha, agora informa: “Petistas passaram a sexta-feira em pânico com o teor da delação de Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras.”

Motivos não faltam: se contar tudo o que sabe, Duque pode derrubar o PT, com o Brahma e tudo.

Esperamos que ele não amarele.

Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil

“Do asfalto ao Planalto” e outras cinco notas de Carlos Brickmann

Já estamos em agosto ─ o mês mais famoso das crises brasileiras, o mês em que Getúlio Vargas se matou, Jânio renunciou e Juscelino Kubitschek morreu.

Já neste início de semana se ouve o batucar dos tambores de guerra. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, anunciou que pretende em poucos dias recuperar um grande atraso: votar as contas da Presidência da República, de Collor a Lula. Fica assim aberto o caminho para a análise das contas de Dilma. É bem possível que o Tribunal de Contas recomende sua rejeição. E, caso a Câmara aceite a recomendação, o passo seguinte é o pedido de impeachment de Dilma.

Aliás, já há doze pedidos de impeachment aguardando votação, e Cunha promete colocá-los em pauta. O impeachment precisa ter embasamento jurídico, mas aplicá-lo é sempre uma decisão política. Os pedidos de impeachment, mais a decisão do TCU a respeito das contas, serão por isso examinados depois do dia 16 – data prevista para as manifestações Fora, Dilma. Também será levado em conta um ruído mais próximo: o bater de panelas nesta quinta, 6, dia em que Dilma, Lula e o comando do PT estarão na TV, em cadeia nacional. Cadeia? Vá lá, em rede nacional. E com muitos em risco de cair na rede da Justiça.

Há ainda CPIs espinhosas, como a do BNDES e a dos Fundos de Pensão, prontinhas para começar. Há novas delações premiadas, na área de energia. Há a possibilidade de que Eduardo Cunha seja acusado pelo Ministério Público, e reaja criando mais dificuldades para o governo. E agosto é mês longo, de 31 dias.


A história oficial

A advogada Beatriz Catta Preta conduziu nove delações premiadas, criando dificuldades para empresários e políticos que, claro, se irritaram. A advogada, experiente, por certo não se surpreendeu com essa hostilidade. Foi convocada pela CPI da Petrobras; mas a queda da convocação no Supremo, por ilegal, era quase certa (e caiu mesmo). Os advogados têm o direito de não falar sobre suas conversas com clientes. E dizer-se ameaçada, não diretamente, mas veladamente, e por isso abandonar a advocacia? Demitir o pessoal, esvaziar o escritório e chamar a Globo, dizendo que teme por sua família, mas não pretende deixar o Brasil ─ quando o jornalista Cláudio Humberto já informou que, há menos de um ano, montou uma empresa, a Catta Preta Consulting LLC, em Miami? 

Então, tá. 

A história analisada

Do sociólogo Rubens Figueiredo, sobre Beatriz Catta Preta: “Ela disse que é ‘ameaçada de forma velada através da imprensa’. Ora, ou é velada ou é através da imprensa. As duas coisas juntas são impossíveis. Também disse que desistiu dos processos da Lava Jato ‘para não causar exposição indevida dos seus clientes’. Ora, ora: o que será mais indevido do que estar preso por corrupção, com fotos e imagens em todos os meios de comunicação?”

A história de sempre 1

Diante da erosão de sua base política, Dilma reagiu como de costume: anunciou a liberação de R$ 1 bilhão para honrar emendas parlamentares já aprovadas e acalmar deputados e senadores, irritados com promessas sempre reiteradas e jamais cumpridas. 

O resultado foi o de sempre: os parlamentares continuam dispostos a só confiar na presidente quando a verba for liberada de verdade.

A história de sempre 2

E, buscando o apoio dos estados, o governo agiu como de costume: inventando. Após a reunião de Dilma com governadores, o blog da Presidência divulgou, às 23h23 do dia 30, uma falsidade. “Os governadores (…) fizeram uma defesa clara (…) da manutenção do mandato legítimo da presidenta Dilma e dos eleitos em 2014. (…) os representantes dos 27 Estados deixaram clara sua posição de unidade em favor da estabilidade política do país”. 

Só que o tema nem foi discutido. O que houve foi uma opinião do maranhense Flávio Dino, do PCdoB, em entrevista (“defendemos a manutenção do mandato legítimo da presidenta Dilma Rousseff”). Geraldo Alckmin, PSDB, desmentiu Dino na hora: negou qualquer manifestação dos governadores sobre o tema e disse que é preciso cumprir a Constituição. Alckmin foi ignorado no blog da Presidência. Adiantou? 

Depende: se o caro leitor acha que o blog da Presidência tem muitos leitores, todos crédulos, e que influencia a opinião pública, então adiantou. Senão, não.

História puxa história

O senador Romário, PSB do Rio, presidente da CPI do Futebol, disse que não permitirá a convocação de José Maria Marin para depor no Brasil. Teme que, aqui, Marin se livre da extradição para os EUA. Quer ouvi-lo, mas na Suíça. 

Romário já foi mais amável com Marin. Em 22 de agosto de 2012, quando quis trocar o técnico da Seleção (foi atendido), postou nas redes sociais: “Presidente José Maria Marin, depois dessa bela ação de ter trocado o comando da comissão de arbitragem, que já era uma vergonha, continue com boas ações, faça seu papel, mande este sujeito para onde ele já deveria ter ido depois da Copa América. (…) Não faça da sua gestão uma gestão perdedora por causa de um treinador que não vai te dar nada, os interesses dele são maiores que os da Seleção. Ouça seu vice Marco Polo del Nero, que é um grande conhecedor do futebol.” 

Marina acha golpismo pedir o impeachment de Dilma, mas defende a saída de Cunha

Marina Silva concedeu uma entrevista à Folha deste domingo. Como de hábito, seu pensamento parece ter atingido o lugar da santidade, só permitido aos mártires. Ela é contra o impeachment de Dilma Rousseff, mas quer o afastamento de Eduardo Cunha. E lamenta, coitadinha!, que tenha de enfrentar tanta incompreensão.

Diz a pensadora, depois de constatar que o país, sob Dilma, sofre perdas econômicas e sociais:
“Não podemos, em hipótese alguma, colocar em xeque o investimento que fizemos na democracia. Você não troca de presidente por discordar dele ou por não estar satisfeito. Se há materialidade dos fatos, não há por que tergiversar. Se não há, o caminho doloroso de respeito à democracia tem que prevalecer.”

Pela ordem:
1: quem está tentando trocar de presidente “só por discordar dela”?:
2: quem está disposto a pôr em xeque o investimento na democracia?;
3: os que pedem a saída de Dilma o fazem apontando “a materialidade dos fatos”.

Marina Silva já leu a Lei 1.079?

E que papo é esse de “caminho doloroso da democracia”? Doloroso, minha senhora, é abrir mão das faculdades que a democracia oferece — entre elas, o impeachment.

E ela prossegue:
“Alguns políticos estão tentando instrumentalizar a crise, em vez de resolvê-la. Na democracia, não se resolve a crise passando por cima do processo constitucional.”

É?

Marina é minha candidata, a partir de agora, a “resolver a crise, em vez de instrumentalizá-la”. E está obrigada a dizer quem está tentando “passar por cima do processo constitucional”. Ela não empregou a palavra “golpistas” para classificar os que defendem o impeachment, mas é o que acha que são: golpistas. Ou merece outra designação quem “passa por cima do processo constitucional”?

Com Eduardo Cunha, no entanto, ela é mais severa. Diz: “Uma vez denunciado, é óbvio que ele deve ser afastado, sem que isso seja um pré-julgamento”. Entendi. Não é pré-julgamento, mas ele tem de sair. Noto que Marina nem mesmo esperaria o Supremo aceitar ou recusar a denúncia: bastaria Rodrigo Janot estalar os dedos.

O mesmo Janot que não demonstrou, até agora, nem coragem nem autonomia para pedir ao menos a abertura de um inquérito contra Dilma, conforme autorizam a Constituição e a jurisprudência do Supremo. E Marina deve pensar o mesmo sobre Renan Calheiros, presidente do Senado. Nota à margem: ainda que o tribunal aceite denúncia contra ambos, não são obrigados a deixar os respectivos cargos.

Dilma deveria demitir Aloizio Mercadante e levar Marina para a Casa Civil. Ela saiu do PT, mas o PT obviamente não saiu dela.

E falta que a líder do ainda inexistente “Rede” aponte uma saída, certo? Sim, ela tem a resposta. Há, segundo disse, dois trilhos:
1: o da investigação, que tem de continuar autônoma…;
2: “o outro trilho é dos rumos da nação”.

Ah, bom! Agora ficou fácil!

Marina acha que, caso se encontrem os “rumos da nação”, o resto está resolvido.

Que bom!

Deve ser a isso que ela chama não ser sem nem situação nem oposição, mas “ter posição”.

Como diz a minha mulher, “dê um problema difícil para Marina, que ela lhe devolve um trocadilho”.

Por Reinaldo Azevedo

 

A delação premiada tem de ser regulamentada para não pôr em risco o combate ao crime. Ou: Advogado de porta de cadeia e de porta de MP

A Operação Lava Jato, escoimados exageros e ilegalidades, pode fazer um bem ao país se mudar — mas terá de ser para melhor, por óbvio — a relação entre o estado (e seus entes) e as empresas que ele contrata para tocar serviços e obras. Cumpre notar à margem, desde sempre, que não haverá a desejada redução da corrupção no país enquanto o ente estatal tiver o tamanho que tem no Brasil. A Lei de Licitações, a 8.666, é, sim, um bom texto. Mas seu espírito pode ser fraudado já na redação de um edital. Basta que se incluam exigências no texto que restrinjam a disputa a duas ou três empresas de qualquer setor.

Você não gosta de corrupção, leitor? Há duas saídas: a) apostar todas as fichas na natureza humana; b) cobrar a redução drástica do tamanho do estado, de modo que ele restrinja a sua atuação a saúde, educação, segurança e regulação. E ponto. Não vai zerar a safadeza, não, porque isso remonta à cobra e à maçã, mas vai melhorar muito. Sigamos.

Não se teria chegado tão longe na descoberta das falcatruas que envolveram o assalto à Petrobras não fosse o estatuto da delação premiada. Mas a realidade está a gritar uma obviedade: ELA PRECISA SER DISCIPLINADA. E COM URGÊNCIA. Como está, as coisas podem assumir contornos bastante perigosos. ADVOGADOS ACUSAM A CPI DA PETROBRAS DE ESTAR SENDO USADA PARA SE VINGAR DESSE OU DAQUELE. É? Faço aqui uma pergunta: A ESTA ALTURA, NÃO HÁ PESSOAS TENTANDO USAR A LAVA-JATO PARA FAZER A MESMA COISA?

Quantas delações?
Vamos ver. Volto à inefável doutora Beatriz Catta Preta. Confesso que já acho um tanto estranho haver um escritório que se especializa em delações premiadas. Na porta, poderia haver uma plaquinha: “São bem-vindos os bandidos que, mesmo sem arrependimento, querem livrar a cara”. NÃO! NÃO ESTOU DIZENDO QUE A DELAÇÃO PREMIADA É UM MAL EM SI. REITERO: TEM DE SER DISCIPLINADA.

Vamos ver. Faz sentido um mesmo advogado ter uma penca de delatores sob seus cuidados? Há um momento, suponho, em que o larápio tem de contar para o seu defensor o que fez. Se a versão do larápio A não combina com a do larápio B, que, por sua vez, diverge da do larápio C, o advogado em questão faz o quê? Leva seus clientes para a Corte, com todas as suas contradições, ou faz um “encontro de versões”? Acho que a resposta é mais do que óbvia, não é mesmo?

Doutora Beatriz, que desistiu da carreira, segunda ela própria, era bastante voraz até outro dia: fez nada menos de nove das vinte (se não perdi a conta) que foram homologadas até agora. É evidente que ela tem de se ocupar, por imposição lógica, menos da “verdade” do que da coerência, não é mesmo? Ou os seus defendidos vão acabar se complicando nos tribunais.

Pouca gente se lembra a esta altura da confusão, mas, inicialmente, Rodrigo Janot acrescentou o deputado Eduardo Cunha à sua lista porque o policial Jayme de Oliveira Filho afirmou que havia entregado dinheiro, a mando de Alberto Youssef, para um emissário do parlamentar. O advogado do doleiro, Antonio Figueiredo Basto, negava veementemente que isso tivesse acontecido. Creio que essa negativa ainda está mantida. Basto passou a elevar muito a temperatura de sua retórica contra Cunha quando passou a ter um segundo delator premiado: justamente Julio Camargo, ex-cliente de Catta Preta — aquele que mudou radicalmente sua versão sobre o agora presidente da Câmara.

Uma investigação, aqui ou em qualquer lugar, não pode ser um arranjo de versões, de sorte a compor uma narrativa ao gosto daquele ou daqueles que têm o poder de lhe dar a redação final. Assim, o primeiro ato de disciplinamento tem de dizer respeito ao número de clientes em delação premiada que pode ser abrigado por um advogado ou por um escritório. Sugiro: a cada caso, apenas um!!!

Que aquele escritório fechado pela doutora Beatriz fosse uma espécie de indústria de delações, isso parece evidente. E, como se nota, estimular um bandido a entregar seus comparsas rende bons frutos. Indagada se é verdade que recebeu R$ 20 milhões pelas nove delações, ela disse que não chegou “nem à metade”. Se tivesse dito “nem a um terço”, seria abaixo de “R$ 6,7 milhões”. Não tendo sido “nem a metade”, dá para chutar um R$ 8 milhões, R$ 9 milhões. É um bom dinheiro para submeter as versões a um arranjo. Em Hollywood, só roteiristas de primeiro time recebem isso tudo.

Mudança de versão
A delação não pode ser também uma “obra aberta”. Há de haver o momento solene da tomada do depoimento e da resposta dada. O benefício, segundo se entende, só pode advir de o depoente dizer a verdade, mas não quando lhe der na veneta. Se, no tal momento solene, ele mentir, não há mais como lhe dar o benefício caso a verdade surja da árvore dos fatos, não de sua confissão. Ou, por óbvio, a coisa vira a festa do caqui: o delator vai ajustando a sua versão à medida que isso se torna necessário. Em vez de ser beneficiado porque disse a verdade, ele extrai seus benefícios das mentiras convenientes que conta.

A ética do advogado
Eu me orgulho muito de contar com o respeito de advogados das mais variadas correntes do direito — com a exceção provável daqueles que desprezam os códigos escritos, pactuados na democracia, e entendem que o direito sai do alarido de grupos militantes.

Operadores da área das mais variadas correntes e ideologias reconhecem, e isso me honra, o meu apreço pela defesa. Sempre tive. É assim desde que me ocupo de temas públicos. Compreendo o fundamento básico de que, diante do estado acusador, é preciso assegurar as garantias para o indivíduo. Por essa razão, o estado tem de garantir a privacidade da relação entre o advogado e o investigado, acusado ou réu.

É papel de um defensor tentar descaracterizar as evidências que o ente acusador apresenta contra o seu cliente. Mas atenção! Não é prerrogativa de um advogado mentir de forma deliberada a depender do rumo dos ventos — em especial quando está em curso um acordo de delação premiada.

Questão óbvia
Voltemos aos oito de Beatriz. Se Julio Camargo pôde mentir, antes ou agora, com tanta desfaçatez sobre o pagamento de propina a Eduardo Cunha, por que devemos confiar necessariamente na versão apresentada pelos demais clientes que estavam sob seus cuidados? A sombra da suspeição não acaba se estendendo aos demais casos?

Se queremos que a delação premiada passe a ser um instrumento realmente útil à verdade, esse procedimento tem de estar protegido da ação deletéria de certo profissional que mais põe em risco uma operação saneadora do que colabora com ela.

O antigo advogado de porta de cadeia, uma caricatura, não pode ser substituído pelo advogado de porta de Ministério Público. É bom que a OAB e o Parlamento comecem a pensar essa questão, propondo uma regulamentação em benefício da verdade e contra a impunidade.

Por Reinaldo Azevedo

 

Oliver: Por que parei de escrever

VLADY OLIVER

Eu me sinto exatamente como aquele morador do morro entre duas quadrilhas, ambas trocando chumbo grosso pelo controle do tráfico no local. Tudo o que eu quero é acordar, ir pro meu trabalho e voltar em paz. Na minha porta não tem esgoto, não tem saúde, não tem escola nem poder público. Mas sobram balas perdidas e corpos amontoados por todos os cantos. O “Brasil político” que conheço é dividido em duas facções complementares, que se interseccionam e se inter-relacionam, numa frenética troca de interesses espúrios.

 

Temos os “sócio-comunistas” – que inventaram o Foro de São Paulo, a Pátria Grande e outras empulhações transnacionais, com o único intuito de detonar os cofres públicos e drenar dinheiro para as suas organizações paraestatais – e os “políticos da forma geral”; ladrõezinhos velhos e conhecidos da galera, cujas intenções passam mesmo é pelos pequenos roubos e desvios de conduta sem maiores consequências. É claro que quem quer ser equidistante dessas duas facções não tem amigos.

Já quem toma partido de uma delas ou está quase perdendo ou quase ganhando a batalha, no momento. Nesse caldo, é possível pensar que “assim que defenestrarmos essa quadrilha ora no poder, voltaremos ao paraíso”. Pois eu digo que vivemos num inferno e assim que essa quadrilha atual for defenestrada, entraremos num novo inferno. Ou no inferno velho de sempre; como quiserem. Simples assim.

Os milhões de indignados que saem às ruas têm representatividade zero. Os que assumem posições equidistantes das quadrilhas na blogosfera – e atiram para todos os lados – já contabilizam 30 milhões de órfãos, juntos e misturados na sensação de que o Brasil é uma soma nula; um resultado vergonhoso de tudo o que está aí. Já aqueles que se comprometem com as “forças atuais” ou com o “progressismo” nem sabem mais em quem atiram, furando o bote inflável no tiroteio e afundando com uma nação picareta.

Juntas e misturadas no poder, as duas quadrilhas parecem uma só, professando os mesmos desatinos, só buscando formas originais de fazê-lo. É nessa toada que temos um patrulhamento em nossa própria goma. Pessoas que não se furtam a usar o mais torpe dos argumentos, que é o de matar o mensageiro pela mensagem transmitida, sempre fingindo elegância, bons modos e as melhores das intenções.

São pessoas que querem doutrinar o que querem ler, para não enfrentar a própria natureza mesquinha de suas certezas edulcoradas e verdades mancas. É nesse palco de atuações comezinhas que os “profissionais da área” comemoram os nervos de aço de sempre, para terem que aturar tamanho estado de putrefação contaminando suas carreiras e mesmo assim terem que ver com lentes rosinha-bebê tudo o que estão vendo, ouvindo e fingindo acreditar.

Augusto Nunes, para mim, é o melhor jornalista brasileiro. O mais ponderado. Aquele que sabe dosar o bom texto com o soco no estômago. Generoso como sempre, permite que me expresse aqui com imensa liberdade de fazê-lo. Nenhum outro espaço da blogosfera tem esse praticável montado à disposição de seus aprendizes. É claro que isso é valioso. Ambicioso que não sou, no entanto, trocaria tudo isso que escrevi por aqui até hoje por um país que presta.

Acho que seria uma troca justa e mais que desejada. Sumiria das prateleiras feliz com meus impropérios, achando que eles realmente surtiram algum efeito prático nessa nação vigarista. Acho que meu mestre e amigo entenderia o meu sacrifício. O Nirvana, no entanto, é logo ali. Kurt Cobain que o diga.

 

O papelão do tucano Perillo na defesa de Dilma Rousseff

A coluna Painel, da Folha, informa que o comentário geral sobre a reunião dos governadores com Dilma Rousseff foi a ênfase com que o tucano Marconi Perillo (GO) defendeu a permanência de Dilma no cargo.

“Ele foi bem mais enfático que o Flávio Dino, que é governista e o antecedeu”, notou um convidado, segundo o jornal.

Perillo, relembro, foi quem sugeriu a Lula a criação do Bolsa-Família, conforme o próprio petista admitiu em vídeo no lançamento do programa.

Para quem já brindou o PT com a maior fonte de votos dos petistas, defender a permanência de Dilma – reconheço – é apenas coerência na cumplicidade.

Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil

 

 

Vê se toma tenência e vergonha na cara, FHC!

Assim não dá. Assim não é possível. Se fosse para escolher uma só oposição, qual você escolheria? Ora, o PSDB representando por FHC, claro! Uma “oposição” dessas até Fidel Castro aceitaria em Cuba! O Brasil vive a “tempestade perfeita”, os escândalos de corrupção chegaram até o cangote da presidente Dilma, que já não tem apoio algum. A economia desce ladeira abaixo por conta das trapalhadas passadas e da inoperância presente do governo. O PT passa a ser desprezado pela população que pensa. E o que faz Fernando Henrique? Elogia Dilma! Novamente, com aquela entonação de voz dele: Assim não dá. Assim não é possível.

Leio na Exame que o ex-presidente, em entrevista a uma revista alemã, baixou o tom e saiu em defesa da presidente Dilma. Estou com alguma esperança, minúscula, confesso, de que seja um problema de tradução. O entrevistador não compreendeu direito. Só pode ser isso! Alemão é uma língua difícil mesmo, tentei aprender por seis meses e sei do que falo. Pois, tirando essa hipótese, o que temos é um “líder de oposição” que mais parece um companheiro, um camarada escalado pela própria Dilma para aliviar sua barra nesse momento delicado. Vejam:

De acordo com a DW, FHC disse na entrevista, publicada em alemão na edição da revista deste sábado, 1º, que Dilma não está envolvida nos desvios da estatal petrolífera, mas que o PT está. Ele lembrou que João Vaccari, ex-tesoureiro da sigla, foi detido na operação.

“Eu a considero uma pessoa honrada, e não tenho nenhuma consideração por ódio na política, também não pelo ódio dentro do meu partido, ódio que se volta agora contra o PT”, diz FHC, creditando a Lula a responsabilidade por todo o escândalo.

E disse que talvez Lula tenha que depor como testemunha, “o que já seria suficientemente desmoralizante”.

“Não se deve quebrar esse símbolo (Lula), mesmo que isso fosse vantajoso para o meu próprio partido. É necessário sempre ter em mente o futuro do país”, disse o ex-presidente tucano na entrevista.

FHC chegou até a elogiar o petista: “Ele certamente tem muitos méritos e uma história pessoal emocionante. Um trabalhador humilde que conseguiu ser presidente da sétima maior economia do mundo.”

Como é que é? Dilma, uma pessoa honrada? Em que planeta? Sua trajetória é a de uma terrorista, assaltante, disposta aos meios mais nefastos não para defender a democracia, mas para impor o comunismo! Depois foi eleita como um “poste”, sem jamais ter recebido votos e com a única experiência administrativa de ter quebrado uma lojinha de bugingangas. Foi reeleita depois com muito abuso da máquina estatal e o estelionato eleitoral em curso. Uma pessoa honrada? O que FH entende por honra, meu Deus?!

Lula também recebeu elogios? Não se deve quebrar um símbolo? Qual símbolo? O de um sujeito imoral, indecente, cínico e mentiroso, disposto a “fazer o diabo” para ficar no poder? Ou o de um populista safado amigo dos piores ditadores do planeta? É esse símbolo que FH quer tanto preservar em prol do nosso futuro? Um futuro bolivariano, talvez? Quais foram os méritos de Lula em sua trajetória? Quem diz isso tem um conceito muito diferente do meu sobre mérito!

Vê se toma tenência, FH! Vai mesmo se afundar junto do PT? Seu ranço socialista ainda é tão grande assim? Não é capaz de compreender o momento em que vive o Brasil, a indignação popular com essa cambada de ladrões, a revolta com o caos social e econômico plantado pelo governo? Não sente os ventos de mudança, que não deixam mais espaço para uma “oposição” covarde, pusilânime, “amiguinha” que tenta salvar a cara dos vilões de nossa democracia? Não aprendeu com os erros de 2005 no mensalão? Vergonha na cara, FH! Ou vai abraçar os afogados e descer junto com eles para o fundo do pântano, de onde tais criaturas jamais deveriam ter emergido!

Rodrigo Constantino

Fonte: veja.com

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