Joaquim Levy luta para manter influência em meio a aumento do clima antiausteridade

Publicado em 29/07/2015 16:46
Na reuters (+ Mulheres sapiens, mandiocas e batatas (por Rodrigo Constantino, de veja.com)

Por Alonso Soto

BRASÍLIA (Reuters) - O papel do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, como principal formulador da política econômica do Brasil está sob ameaça em meio a seus esforços para aprovar medidas de austeridade impopulares com o objetivo de salvar o grau de investimento do país.

Em uma entrevista coletiva ao lado do ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, na semana passada, Levy anunciou um corte drástico nas metas de superávit fiscal para 2015 e os dois próximos anos, chocando os mercados e desencadeando uma onda de venda de ativos financeiros brasileiros.

Embora a equipe econômica tenha sido parcialmente forçada a reduzir as metas fiscais pela queda na arrecadação, os objetivos menos ambiciosos indicaram como a influência de Levy dentro do governo está sendo testada por Barbosa, economista de esquerda que advoga um ajuste fiscal mais moderado.

Para piorar as coisas, na terça-feira a agência de classificação de risco Standard & Poor's ameaçou retirar do Brasil o cobiçado grau de investimento, aumentando a pressão para que a presidente Dilma Rousseff imponha a austeridade fiscal apesar da resistência aguerrida do Congresso.

O recuo nas metas fiscais encerrou a lua de mel de Levy com investidores que até recentemente o viam como um defensor das políticas simpáticas ao mercado, mas agora duvidam que ele consiga cumprir as promessas e corrigir erros passados.

"Esse é o tipo de coisa que pode arruinar um caso de amor", disse o analista João Pedro Ribeiro, da Nomura, em Nova York. "A interpretação do que aconteceu é que ele (Levy) está muito mais fraco no governo."

Autoridades dentro do governo declararam à Reuters que Levy continua sendo uma figura poderosa e que conta com a confiança de Dilma, mas também que Barbosa está ganhando terreno.

Enquanto Levy, ex-diretor-superintentende da Bradesco Asset Management, está buscando medidas de austeridade agressivas para sanear as finanças governamentais e controlar a inflação, Barbosa, que foi secretário-executivo da Fazenda no primeiro mandato de Dilma, acredita que o aperto no cinto pode ser feito sem sufocar uma economia já caminhando para sua pior recessão em 25 anos.

"Ele (Barbosa) cresceu nesse proceso. Não estou dizendo que o Levy tenha diminuído, mas o contraponto cresceu", opinou um sênior legislador governista envolvido diretamente nas decisões de política econômica. "O Nelson Barbosa é ideologicamente mais próximo a Dilma... Eles são muito próximos, têm uma relação estreita", acrescentou.

Inicialmente, Levy discordou sobre o momento de anúncio da redução das metas de superávit primário, mas quando a deterioração da arrecadação se tornou mais evidente ele cedeu e apoiou a proposta de Barbosa de fazer as mudanças de imediato.

OPOSTOS TRABALHANDO JUNTOS

Barbosa, como Dilma, defende o Estado como um importante impulsionador do crescimento econômico.

Outrora cogitado por Dilma para ser o titular do Ministério da Fazenda, Barbosa tem uma boa relação de trabalho com Levy, mas os dois não poderiam ser mais diferentes.

Barbosa estudou na New School for Social Research em Nova York, faculdade conhecida por estimular um forte envolvimento estatal na economia.

Levy é um economista saído da Universidade de Chicago que trabalhou no Fundo Monetário Internacional (FMI) e endossa uma contenção fiscal mais ortodoxa e clássica para encorajar o investimento privado.

Como primeiro sinal de sua influência crescente, Barbosa convenceu Dilma a optar por uma corte orçamentário mais moderado em maio do que o proposto por Levy --o que irritou o ministro da Fazenda, que não compareceu ao anúncio do contingenciamento em protesto, disseram autoridades do governo. Mais tarde Levy afirmou que uma gripe forte o impediu de comparecer à coletiva de imprensa.

"A pressão para Dilma evitar uma recessão mais profunda fortaleceu a posição de Barbosa", disse o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, em São Paulo. Na semana passada, a agência local de classificação de risco reduziu a nota de dívida do Brasil ao nível "junk" (especulativo).

"Isso é inegavelmente negativo, porque significa que o governo não irá implementar as medidas necessárias para colocar a casa em ordem."

BATALHAS ADIANTE

Lidar com um Congresso rebelde tampouco está facilitando o trabalho de Levy.

Tentando se distanciar de Dilma, que amarga os piores índices de aprovação desde que assumiu, deputados e senadores da base governista diluíram as propostas de austeridade fiscal e aprovaram algumas medidas que, inclusive, aumentam os gastos públicos.

A crise política cada vez mais grave decorrente do escândalo de corrupção envolvendo a Petrobras ameaça estragar os planos de Levy de obter a aprovação de projetos de lei que reduzem a desoneração da folha de pagamentos e que permitem a regularização de bens não-declarados no exterior.

Levy tomou a atitude atípica de liderar negociações com o Congresso, apesar da resistência pública à austeridade manifestada por alguns quadros do PT de Dilma.

Para as batalhas legislativas, Levy provavelmente continuará tendo o apoio da presidente, que sabe que precisa da ajuda dele junto a investidores.

"Levy personifica a pouca credibilidade que o Brasil ainda tem nos mercados", afirmou o estrategista político Thiago de Aragão, da Arko Advice, que trabalhou brevemente para o governo no início deste ano.

 

Após avaliação da S&P, Levy tenta acalmar investidor estrangeiro

Na VEJA.com:


Depois do anúncio da revisão da perspectiva da nota do Brasil pela Standard & Poors, a preocupação do governo agora é com o risco de as agências Fitch e Moody’s seguirem o mesmo caminho. Em conversas realizadas nesta terça-feira com investidores estrangeiros para tranquilizar o mercado, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, reafirmou o compromisso do governo com o controle de gastos e da trajetória da relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB). À noite, o Ministério da Fazenda divulgou nota oficial reforçando as declarações de Levy.

Com mais uma notícia ruim para a economia, a avaliação que ganhou força no governo foi a de que a decisão da S&P pode fazer o Congresso “acordar” e aprovar as reformas necessárias o mais rápido possível. Levy reforçou nos contatos com os investidores a necessidade de apoio dos parlamentares às medidas de ajuste fiscal e de estímulo ao crescimento. O papel do Congresso para evitar o risco de perda do grau de investimento ficou mais em evidência, diante do relatório da S&P que apontou preocupações com as turbulências políticas no país.   Embora temida pela área econômica e até certo ponto esperada por causa da crise política associada ao baixo crescimento, a revisão da perspectiva da nota do Brasil surpreendeu pelo momento do anúncio. A equipe econômica não contava com um movimento da S&P “agora” – o governo recebeu a informação da S&P no fim da manhã. O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, afirmou esperar que o viés negativo de rebaixamento não se concretize. “Trabalhamos para melhorar a situação econômica do país”, disse o ministro, depois de conversas com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Levy não comentou a decisão.Efeito contágio.
 
 
A expectativa dada como certa na equipe do governo era a de um rebaixamento pela Moody’s, o que colocaria a nota do Brasil na mesma situação da S&P. Uma missão da Moody’s esteve no Brasil este mês para a avaliação da nota brasileira e, agora, o movimento da S&P pode contaminar a decisão. A Fitch já esteve no Brasil este ano, quando decidiu não mudar a nota, mas pode fazer uma revisão para seguir as concorrentes.Nenhuma agência se sente confortável quando fica muito atrás na avaliação do rating, o que alimenta uma “competição” entre elas. Para integrantes do governo, a S&P não quis ficar atrás da Moody’s, que ainda terá de anunciar o resultado da sua revisão. “O risco de as outras seguirem é grande”, reconheceu uma fonte da área econômica. O governo vai trabalhar agora para evitar essa contaminação, buscando ampliar o diálogo ainda mais e tentando mostrar que há direção.
 
 

Mulheres sapiens, mandiocas e batatas (por Rodrigo Constantino)

Essas mulheres sapiens que galgaram degraus até o topo do poder na política nacional, para provar como o sexo frágil sofre preconceito em nosso país, são mesmo curiosas. O circo pegando fogo, com a labareda acesa pela própria presidenta, e elas nem aí pra hora do Brasil. Inflação de quase 10%? Dólar a R$ 3,40? Queda do PIB de 2%? Aprovação do governo abaixo de 8%? Quem liga? O importante é celebrar a mandioca, essa incrível conquista do Brasil para a civilização ocidental. E plantar batatas! Sim, vejam com que se ocupou a ministra Kátia Abreu em seu Twitter nos últimos dias:

Pois é, senadora, a fartura não está tanta assim na mesa do brasileiro, graças ao governo que a senhora defende. A menos que consideremos fartura num sentido mais lulista da coisa: “farta” feijão, “farta” arroz e, principalmente, “farta” carne! É uma “fartura” enorme por conta da inflação de 10% que sua presidenta produziu. Enquanto isso, a senhora aí, como se vivesse em outro planeta, como se não tivesse nada a ver com essa crise enorme que foi causada pela presidenta que defende, para quem pediu votos. Como disse um leitor, tem abóbora de todos os tamanhos mesmo, e abobrinha inclusive, muita abobrinha…

Com todo respeito, senadora, vai plantar batatas!

Rodrigo Constantino

 

Fonte: Reuters + Veja.com

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