Lava Jato chega ao setor elétrico e presidente licenciado da Eletronuclear é preso
Por Sergio Spagnuolo
CURITIBA (Reuters) - A Polícia Federal prendeu nesta terça-feira o presidente licenciado da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva, em ofensiva que marca a chegada formal da operação Lava Jato ao setor elétrico.
De acordo com a PF, a investigação da fase batizada como "Radioatividade" se concentra em contratos firmados por empresas já mencionadas na Lava Jato com a Eletronuclear, subsidiária da estatal federal Eletrobras <ELET6.SA>, inclusive em licitação para as obras da usina nuclear de Angra 3.
O presidente licenciado da Eletronuclear é acusado de receber propina de 4,5 milhões de reais. Ele está afastado do cargo desde abril, quando surgiram denúncias de pagamento de propina a dirigentes da companhia. Flavio Barra, executivo responsável pela área de energia na Andrade Gutierrez, também foi preso nesta manhã.
Além das duas prisões temporárias, a PF realizava cinco conduções coercitivas, de um total de 30 mandados judiciais da 16ª fase da Lava Jato nas cidades de Brasília, Rio de Janeiro, Niterói, São Paulo e Barueri.
Segundo a PF, são "objeto de apuração nesta fase a formação de cartel e o prévio ajustamento de licitações nas obras de Angra 3, e o pagamento indevido de vantagens financeiras a empregados" da Eletronuclear.
"É um primeiro passo dentro da investigação (Lava Jato) na área de energia", disse a jornalistas o delegado da PF Igor Romário de Paula em entrevista coletiva em Curitiba, onde estão concentradas as investigações da Lava Jato.
Segundo o procurador Athayde Ribeiro Costa, da força-tarefa da Lava Jato, "há indicativos de que a corrupção se espalhou para muitos órgãos da administração e de entidades da administração pública".
"A corrupção é endêmica e estamos em processo de metástase", afirmou o procurador.
O Ministério Público Federal acredita haver indícios de que a Andrade Gutierrez e a Engevix passaram valores de vantagens indevidas por meio de intermediárias para empresas de propriedade do então presidente da Eletronuclear.
ANGRA 3
A Lava Jato revelou inicialmente um esquema de corrupção bilionário de sobrepreço em obras da Petrobras <PETR4.SA>, com desvio de dinheiro envolvendo funcionários da petroleira, executivos de fornecedoras, políticos e partidos.
Os investigadores já vinham afirmando que existiam indícios de irregularidades em contratos de outras estatais, mas é a primeira vez que uma fase da Lava Jato se concentra fora da Petrobras e dentro do setor elétrico.
A investigação mais recente da Lava Jato inclui o consórcio Angramon, contratado em setembro de 2014 pela Eletronuclear para executar a montagem eletromecânica da usina nuclear de Angra 3, e a Engevix, entre outras sociedades.
As companhias que integram a Angramon são UTC Engenharia (empresa líder), Construtora Norberto Odebrecht, Construtora Andrade Gutierrez, Construtora e Comércio Carmago Corrêa, Construtora Queiroz Galvão, Empresa Brasileira de Engenharia (EBE) e Techint Engenharia e Construção.
A Andrade Gutierrez disse que está acompanhando a nova fase da Lava Jato e seus advogados estão analisando os termos da ação da Polícia Federal para se pronunciar.
A nova etapa da operação acontece depois que o presidente da Camargo Corrêa, Dalton Avancini, disse em delação premiada na semana passada no âmbito da Lava Jato que empreiteiras, incluindo sua empresa e a Odebrecht, fizeram reuniões para discutir o pagamento de propinas a dirigentes da Eletrobras em agosto de 2014, quando as investigações já estavam em andamento e eram públicas.[nL1N1042BK]
Perguntado se há envolvimento de políticos na mais recente investigação, o procurador Costa disse que a 16ª fase da Lava Jato esteve concentrada no presidente afastado da Eletronuclear. Ele se recusou a comentar sobre novos desdobramentos para o setor elétrico dentro da Lava Jato, quando questionado sobre suposta irregularidade na usina hidrelétrica Belo Monte.
(Reportagem adicional de Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro)