Dólar dispara 2,17% e encosta em R$ 3,30 por preocupações fiscais
Por Bruno Federowski
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar avançou mais de 2 por cento e encostou em 3,30 reais nesta quinta-feira, maior patamar em quatro meses, após o corte nas metas fiscais do governo alimentar temores de que o Brasil pode vir a perder seu valioso grau de investimento.
O dólar avançou 2,17 por cento, a 3,2958 reais na venda, maior patamar de fechamento desde 19 de março, quando a divisa ficou em 3,2965 reais. Com isso, a moeda norte-americana voltou a se aproximar das máximas em doze anos atingidas pela última vez em março.
"Cresceu significativamente a chance de o Brasil perder o grau de investimento. Talvez isso demore, mas a chance é alta", disse o superintendente de câmbio da corretora Intercam, Jaime Ferreira.
O mercado teme que o país, depois de esperado rebaixamento pela Moody's e pela Fitch, receba perspectiva negativa de alguma das agências. Com isso, ficaria na iminência de perder seu cobiçado grau de investimento. A Moody's deve manifestar-se sobre a nota brasileira em breve após visita ao país na semana passada.
Na véspera, o governo reduziu a meta de superávit primário deste ano para 8,747 bilhões de reais, ou 0,15 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), contra 66,3 bilhões de reais (1,1 por cento do PIB), previstos até então. Além disso, abriu a possibilidade de abater até 26,4 bilhões de reais que, no limite, pode até gerar novo déficit.
As metas para 2016 e 2017, por sua vez, caíram para o equivalente a 0,7 e 1,3 por cento do PIB, respectivamente. O objetivo anterior para cada um desses anos era de 2 por cento do PIB, percentual que agora só deverá ser alcançado em 2018.
Operadores também entenderam que a decisão representou uma derrota para o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, em seus esforços para reequilibrar as contas públicas brasileiras.
"Se parecer que o Levy vai continuar perdendo as batalhas, o mercado vai começar a colocar no preço a possibilidade de ele sair do governo, e aí sim o dólar explode", disse o operador de um importante banco internacional.
Nesse quadro, o dólar chegou a atingir 3,2998 reais na máxima desta sessão, debatendo-se com resistência no patamar de 3,30 reais. Segundo operadores, alguns investidores não acreditam que a divisa encontrará forças para superar esse patamar e, por isso, aproveitaram os avanços para vender.
Um fator importante para determinar os próximos passos da divisa é a postura do Banco Central em relação a suas intervenções no câmbio e expectativas de que ele, eventualmente, possa elevá-las. A expectativa é que o BC anuncie em breve a rolagem dos contratos de swap cambial, equivalentes a venda futura de dólares, que vencem em setembro, correspondentes a 10,027 bilhões de dólares.
"Se o BC continuar rolando apenas pouco mais de 70 por cento dos swaps, como tem feito, colocará um piso em 3,20 reais", escreveram estrategistas do Morgan Stanley em relatório.
O BC não tem rolado integralmente os contratos que vencem, sinal lido pelo mercado de que a autoridade monetária estaria disposta a tolerar o dólar mais elevado mesmo com a inflação pressionada, em meio ao cenário de fraca atividade econômica.
Nesta manhã, o BC vendeu a oferta total no leilão de rolagem de swaps cambiais, que equivalem a venda futura de dólares. Com isso, já rolou o equivalente a 4,804 bilhões de dólares, ou cerca de 45 por cento do lote que vence no início de agosto, que corresponde a 10,675 bilhões de dólares.