O GLOBO (exclusivo): Documentos mostram que Lula fez lobby para a Odebrecht no exterior

Publicado em 19/07/2015 08:09
Telegramas diplomáticos relatam atuação a favor da empreiteira (POR CHICO DE GOIS, EDUARDO BRESCIANI E FRANCISCO LEALI, na edição deste domingo de O Globo)

BRASÍLIA — Telegramas diplomáticos trocados entre chefes de postos brasileiros no exterior e o Ministério das Relações Exteriores, entre 2011 e 2014, indicam que as atividades do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em favor do grupo Odebrecht no exterior foram além da contratação para proferir palestras, diferentemente do que o petista e a construtora têm sustentado. Os documentos apontam que Lula, em pelo menos duas ocasiões, atuou para beneficiar a Odebrecht — uma delas, com pedido expresso para que o primeiro-ministro de Portugal, Pedro Passos Coelho, desse atenção aos interesses da companhia num processo de privatização naquele país. Em outra, Lula atuou na prospecção para aperfeiçoamento da matriz energética cubana relacionada a Mariel, onde a empreiteira construiu um porto com recursos do BNDES. Na época, Cuba buscava financiamento externo para um ambicioso programa de modernização na área.

Liberados na última quinta-feira pelo Itamaraty a partir de pedido por meio da Lei de Acesso à Informação, os documentos descrevem, ainda, encontros de Lula em Cuba, sempre em companhia de altos representantes da construtora. Em uma das visitas à ilha, ele foi recepcionado no hotel pelo presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e pelo ex-ministro José Dirceu. Por meio da assessoria de imprensa de seu instituto, o ex-presidente Lula negou que tenha recebido de qualquer empresa para “dar consultoria, fazer lobby ou tráfico de influência”. A Odebrecht também negou ter usado serviços de Lula para tentar obter contratos.

Lula é investigado pela Procuradoria da República do Distrito Federal por suposto crime de “tráfico de influência em transação comercial internacional”, incluído no Código Penal em 2002. O tipo penal caracteriza como crime “solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, vantagem ou promessa de vantagem a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público estrangeiro no exercício de suas funções, relacionado a transação comercial internacional”. A pena prevista (2 a 5 anos de prisão) pode ter aumento de 50%, se o beneficiário da vantagem for estrangeiro. A legislação tem como origem uma convenção internacional de 1997, da qual o Brasil é signatário, com objetivo de combater a corrupção no comércio internacional.

 
 

A movimentação do ex-presidente a favor da Odebrecht em Portugal é relatada em dois telegramas. Em 25 de outubro de 2013, o embaixador brasileiro em Lisboa, Mario Vilalva, enviou comunicado abordando a visita de Lula a Portugal, ocorrida entre os dias 21 e 23 daquele ano. O diplomata deixou claro que a visita do ex-presidente se deu em razão de convite da Odebrecht, por conta dos 25 anos de presença da construtora brasileira em Portugal. Na descrição da agenda de Lula em Lisboa, o embaixador narrou que, no dia 22 de outubro, à tarde, o petista “encontrou-se com empresários brasileiros, dentre os quais o dr. Emílio Odebrecht”.

Menos de sete meses depois, em outro telegrama, Vilalva, em 2 de maio de 2014, fez uma análise sobre a privatização da Empresa Geral de Fomento (EGF), que encontrava resistência por parte de alguns municípios portugueses que, na avaliação do embaixador, havia gerado pouco resultado. Após descrever como estava o processo, o diplomata observou que as empresas brasileiras Odebrecht e Solvi, em parceria com o grupo português Visabeira, demonstraram interesse pela EGF, o que gerou simpatia dos formadores de opinião em Portugal. O diplomata registrou a ação direta de Lula em favor da Odebrecht.

“Repercutiu positivamente na mídia recente declaração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista à RTP no dia 27/04 último, no sentido de que o Brasil deve se engajar mais ativamente na aquisição de estatais portuguesas. O ex-presidente também reforçou o interesse da Odebrecht pela EGF ao primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, que reagiu positivamente ao pleito brasileiro”, informou o diplomata.

Lula, de fato, deu uma entrevista à televisão portuguesa, falando dos 40 anos da Revolução dos Cravos e abordando vários temas, inclusive defendendo maior participação de empresas brasileiras nas privatizações conduzidas em Portugal — mas sem citar nenhuma empresa especificamente. A gestão a favor da Odebrecht, pelo que se depreende do comunicado emitido pelo diplomata, foi feita em caráter privado ao primeiro-ministro português. Segundo site do Instituto Lula, o ex-presidente se encontrou com Passos Coelho no dia 24 de abril. Eles teriam falado apenas da situação econômica mundial e da Copa no Brasil.

Na ocasião do telegrama, a empreiteira brasileira era uma das sete que tinham manifestado oficialmente interesse no negócio. Dois meses depois, porém, a Odebrecht não formalizou proposta. A EGF acabou vendida por 149,9 milhões de euros para a Suma, consórcio entre as empresas Mota e Engil.

EM CUBA, RECEBIDO POR MARCELO ODEBRECHT

O encarregado de negócios brasileiros em Cuba, Marcelo Câmara, num telegrama de 3 de março de 2014, informou sobre a visita que Lula fez à ilha entre 24 e 27 de fevereiro do mesmo ano. Resumo da mensagem: “Tema central de suas interlocuções foi a prospecção de iniciativas para aperfeiçoamento da matriz energética à zona especial de Mariel, e o reforço da cultura de soja no país”. Nessa viagem, “em atendimento a convite do governo local e com apoio do grupo COI/Odebrecht”, como descreve o documento, Lula foi acompanhado, entre outros, do senador Blairo Maggi (PR-MT) e do ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau, que deixou o governo em 2007 acusado de receber propina para favorecer empresas com obras federais.

Os comunicados da diplomacia brasileira demonstram ainda que Lula também atuou para abrir as portas do BNDES a países africanos, embora não fique claro se houve ligação direta com a Odebrecht. Em comunicado enviado da sede do ministério para a representação brasileira no Zimbábue, há a descrição de que o ex-presidente solicitou que o embaixador daquele país fosse recebido no banco de fomento. A reunião teria ocorrido em 3 de maio de 2012.

Na lista de financiamentos de obras e serviços no exterior divulgada pelo BNDES não consta nenhum financiamento para a atuação de empresas brasileiras no Zimbábue, mas em 2013 por meio do Ministério de Desenvolvimento Agrário foram liberados recursos (US$ 98 milhões) para aquele país no âmbito do programa Mais Alimentos Internacional. Desde 1980, o Zimbábue é governado pelo ditador Robert Mugabe.

Os documentos do Itamaraty registram ainda outras viagens de Lula a Cuba. Em junho de 2011, ele foi recebido por Marcelo Odebrecht e por José Dirceu. “Em sua chegada ao hotel, Lula recebeu os cumprimentos do Senhor José Dirceu e do empresário Marcelo Odebrecht, Diretor-Presidente daquela construtora”, registrou o encarregado de negócios em Cuba na ocasião, Albino Poli Jr., em telegrama enviado para o ministério.

Marcelo está preso em Curitiba há um mês, após ser detido na fase “Erga Omnes” da Operação Lava-Jato. Dirceu está em prisão domiciliar por sua condenação no mensalão e já foi mencionado na Lava-Jato por alguns delatores como beneficiário de propina por meio de sua empresa de consultoria. Na visita em que fez na companhia deles a Cuba, o ex-presidente se reuniu com Raúl e Fidel Castro. Pelo relato do telegrama, Marcelo ficou fora das duas reuniões, enquanto Dirceu acompanhou Lula apenas na conversa com Raúl.

O ex-presidente teve ainda outra viagem ao país dos irmãos Castro associada à Odebrecht. Conforme revelado pelo GLOBO, Lula esteve no país em janeiro de 2013 com as despesas pagas pela empreiteira. Alexandrino Alencar, então diretor de Relações Institucionais da empresa, chegou no mesmo jatinho no qual viajou o ex-presidente. Alencar também foi preso na Lava-Jato no mês passado e deixou a empreiteira.


Leia mais sobre esse assunto em https://oglobo.globo.com

 

Seguranças e amante de Lula também gastaram com cartões corporativos

O escândalo dos R$ 615 milhões gastos pelos petistas com cartões corporativos (veja no post abaixo) inclui os seguintes episódios relatados pela IstoÉ:

1) Em São Bernardo do Campo, seguranças da família de Lula compraram equipamentos de musculação com os cartões da Presidência.

2) Seguranças de Lurian, a filha de Lula, gastaram cerca de R$ 55 mil em uma loja de material para construção.

3) A ex-secretária e amante de Lula, Rosemary Noronha, também está na mira da Polícia Federal, que aguarda uma decisão do Judiciário para ter acesso a gastos com esses cartões e concluir investigações sobre tráfico de influência que teria sido praticado por ela. A suspeita da PF é que Rosemary tenha usado o cartão corporativo durante anos para bancar gastos pessoais.

Eu entendo. Como dizia o velho samba de Chico da Silva:

“É preciso muito amor / Para suportar essa mulher / Tudo que ela vê numa vitrine ela quer / Tudo que ela quer, tenho que dar sem reclamar / Porque senão ela chora / E diz que vai embora, ô / Diz que vai embora…”

 

Petistas gastaram R$ 615 milhões com cartões corporativos, 95% em despesas secretas. TCU começa investigação

Parabéns, pagador de impostos.

Você ajudou os petistas a gastar R$ 615 milhões de dinheiro público entre 2003 e abril de 2015 com cartões corporativos dos governos Lula e Dilma Rousseff.

Não: você não sabe como cada um deles gastou o dinheiro que você suou para ganhar, porque cerca de 95% dessas despesas são consideradas “secretas”.

Só nos três primeiros meses desse segundo mandato de Dilma, durante o qual ela sufoca as empresas e as famílias para corrigir o desajuste que as gestões petistas provocaram, foram gastos R$ 14,3 milhões com cartões corporativos, segundo a IstoÉ, sendo R$ 4 milhões apenas na Presidência da República.

Para se ter uma ideia, no ano inteiro de 2002, o governo FHC consumiu R$ 3 milhões com os cartões, 1 milhão a menos do que só a Presidência de Dilma gastou em três meses!

A boa notícia, dada pela revista, é que, nas próximas semanas, o TCU começará uma investigação oficial para detalhar os gastos excessivos da era petista.

O processo sigiloso foi aberto em 29 de junho e terá como relator o ministro Benjamin Zymler.

“Sob o argumento de que por razões de segurança os gastos devem ser mantidos em sigilo vem se cometendo enormes absurdos. A sociedade precisa conhecer esses gastos. Essa falta de transparência atrapalha até mesmo o TCU, que não consegue checar se houve superfaturamento e [nem] sequer as justificativas para as despesas”, disse um dos auditores do tribunal.

Por razões de segurança, é preciso tirar o PT do poder.

Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil

 

 

FHC perdoou Dilma pelo dossiê dos cartões corporativos?

O escândalo dos R$ 615 milhões gastos pelos petistas com cartões corporativos (veja aqui), também usados por seguranças da família de Lula e por sua amante, Rosemary Noronha (vejaaqui), é um caso antigo que merece ser lembrado em mais detalhes.

No início de 2008, vieram a público revelações de que o primeiro escalão do governo Lula os utilizava para fins recreativos.

Descobriu-se primeiro que alguns ministros – Matilde Ribeiro, da Igualdade Racial, Orlando Silva, do Esporte, e Altemir Gregolin, da Pesca – haviam se habituado a usar o cartão para pagar desde tapioca até temporadas com a família em hotéis de luxo. Em seguida, soube-se que o abuso de 11.510 cartões nas mãos de 7.145 funcionários públicos era fato corriqueiro.

Os ministros se defenderam dizendo que haviam sido mal orientados, e o Planalto decidiu apoiar a criação de uma CPI – desde que englobasse os gastos dos cartões na gestão de FHC.

Foi a senha para que uma equipe da Casa Civil, então comandada por Dilma Rousseff, revirasse os arquivos da pasta atrás de informações desabonadoras para constranger os tucanos, de que resultaria um escandaloso dossiê, que o governo insistiu em chamar de ‘banco de dados’.

Em entrevista à TVeja no período eleitoral de 2014, FHC mostrou que não havia perdoado Dilma e o governo Lula por aquele dossiê, feito contra ele e Ruth Cardoso em 2008 para desviar o foco do escândalo petista.

Transcrevo o trecho.

FHC: Nem a Ruth nem eu, nós não somos de gastos, pessoalmente. Eu até sou famoso por ser pão-duro, não é? (Risos) E a Ruth era mais do que eu: sovina. (Risos) Mas com dinheiro público, foi zero! Zero! Bom, e insinuaram… A Dilma telefonou pra Ruth pra se desculpar, pra dizer que não era ela, que não era verdade, que não era assim [deixando a culpa para sua braço-direito Erenice Guerra] e tal. Aí a Ruth disse: ‘Mas eu gostaria de ouvir isso de público.’ E nunca veio nada de público. Então, de fato, não sei se foi ela quem mandou, mas fizeram!

JOICE: Então o perdão não veio, não é?

FHC: Não. Porque não foi propriamente pedido. Essas coisas são assim. Aí vem a presidente Dilma dizer que, no meu tempo, se botava a sujeira para baixo do tapete. Isso que eles fizeram foi botar debaixo do tapete a sujeira. Nós não pusemos sujeira nenhuma debaixo do tapete. Por que é que eles, nos seus 12 anos [de governo], se tinha sujeira no tapete, não tiraram o tapete para mostrar a sujeira? Aliás, eu desafio: mostre aí onde é que houve algo errado feito pelo meu governo e que tenha sido escondido. O que houve de acusação, e era acusação sem parar, foi tudo para os tribunais. [Resultado:] Nenhuma condenação. O Eduardo Jorge foi sacrificado em público. Ganhou todas! E ainda ganhou indenização. De modo que eu desafio: em vez de ficar dizendo que “botou debaixo do tapete”, que “tinha um engavetador geral”, diga o que foi! E por que a senhora, ou o seu antecessor, não reabriram a questão?

Pois é.

FHC foi grande naquelas respostas. Dias depois, no debate do SBT, o então candidato Aécio Neves (PSDB-MG) copiou dele essa última rebatida para nocautear Dilma, acusando a petista de prevaricação, como mostrei aqui.

Mas ficou por isso mesmo. Veio 2015 e FHC “voltou” a ser FHC, ignorando 615 milhões de motivos para tirar Dilma e o PT do poder.

Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil

Fonte: O Globo + VEJA

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