Stédile, do MST, convoca reunião da esquerda para reagir a ataques dos conservadores

Publicado em 27/06/2015 22:19
na FOLHA DE S. PAULO

Convocado pelo líder do MST, João Pedro Stédile, dirigentes do PT, como o presidente nacional da sigla, Rui Falcão, e o secretário nacional de comunicação petista, deputado José Américo Dias (SP) iniciaram negociações pela criação de uma frente de esquerda. 

Após uma longa reunião em São Paulo,neste sábado, dirigentes do PT, PSOL, PC do B e movimentos sociais, fecharam uma pauta de eventos para divulgar as atividades e anseios do que agora será chamado de "Grupo Brasil", o embrião da coalizão das esquerdas. 

O "Grupo Brasil" também definiu que haverá uma primeira conferência nacional da frente, prevista para acontecer dia 5 ou 6 de setembro. A ideia é que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vá a esse encontro.

Os cabeças do movimento marcaram um novo encontro para o dia 25 de julho, no qual vão discutir as diretrizes do grupo num encontro que contará com a participação de economistas que falarão sobre os problemas da economia e o ajuste fiscal promovido pelo governo da presidente Dilma Rousseff.

Dois nomes foram mencionados pelos integrantes da reunião de hoje para integrarem o próximo encontro: Luiz Gonzaga Beluzzo e Márcio Pochmann. Ambos têm feito críticas à política econômica implementada no segundo mandato da presidente. Após essa segunda reunião, o grupo pretende lançar um documento apontando o que pensa sobre os rumos do país e da esquerda.

A iniciativa é uma aposta para fortalecer os partidos de esquerda, em especial o PT, que atravessa a mais grave crise institucional de sua história. No encontro deste sábado, integrantes do grupo argumentaram que está em gestação um escalada do conservadorismo no Brasil, que não mira só o petismo, mas uma série de pautas progressistas, como os direitos LGBT.

Apesar de fortalecer alas e bandeiras históricas do PT, a formação do grupo pode contribuir para pressionar ainda mais o governo Dilma a mudar os rumos de suas decisões na economia e a condução das negociações com o Congresso Nacional.

RETOMADA

Militantes de esquerda que se afastaram do PT desde sua chegada ao poder, em 2003, aceitaram conversar sobre a construção da frente e participaram da reunião do grupo neste sábado. Ex-preso político e ex-deputado federal, Vladmir Palmeira, que rompeu com a sigla por discordar de sua política de alianças, por exemplo, participou do debate hoje.

O PCdoB foi representado pela deputada Jandira Feghali e o ex-presidente da legenda, Renato Rabelo. O deputado federal do PSOL de São Paulo, Ivan Valente, enviou um representante. O sociólogo Leo Lince, articulador da legenda no Rio de Janeiro, também participou das discussões.

O grupo que promover, logo após seu lançamento nacional, na conferência em setembro, um "grande ato de massas", com a presença de militantes das diversas siglas e integrantes dos movimentos sociais e sindicatos.

"A ideia é ter unidade popular mesmo, não é apenas uma questão eleitoral", disse Rui Falcão, ao deixar o encontro.

 

Dilma escala ministros e vê delação 'seletiva' para atingir sua campanha

Reunida em Brasília com a cúpula do governo, Dilma Rousseff escalou neste sábado (27) os ministros petistas Edinho Silva (Comunicação Social) e José Eduardo Cardozo (Justiça) para rebater as acusações sobre dinheiro ilegal para a sua campanha presidencial em 2014.

A acusação foi feita em delação premiada pelo dono da UTC, Ricardo Pessoa no âmbito da Operação Lava Jato, e homologada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) na quinta-feira (25).

Os ministros darão coletiva nesta tarde, em Brasília. A presidente embarcou após a reunião para os EUA em viagem para atrair investidores para o Plano de Investimento em Logística, lançado este mês.

O ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil), previsto para acompanhar a presidente na viagem, cancelou sua participação na comitiva por ordem da presidente. Embora não seja habitual que o ministro da Casa Civil faça viagens ao exterior, a principal razão para ele ficar foi a divulgação da delação.

Pessoa citou, em seu depoimento, doação a Mercadante para a campanha de 2010.

Na reunião no Palácio do Alvorada nesta manhã, antes de viajar, a presidente se mostrou ''indignada'' pois avaliou, junto com os ministros, que há uma tentativa de aprofundar a tese que criminaliza doações legais para atingir sua campanha e desestabilizar a sua presidência. E que há um ''vazamento seletivo'' para atingir sua campanha e ''isentar' as demais campanhas adversárias, ''inclusive a de Aécio Neves'', segundo um ministro ouvido pelaFolha.

DOAÇÕES

Ricardo Pessoa afirmou que doou oficialmente R$ 7,5 milhões à campanha de reeleição da presidente no ano passado por temer prejuízos em seus negócios na Petrobras caso não ajudasse o PT. Como a Folha revelou em maio, a doação foi feita legalmente e ele disse que tratou da contribuição diretamente com o tesoureiro da campanha de Dilma, o atual ministro da Secom.

Presentes à reunião, os ministros Cardozo, Mercadante, Edinho Silva e Giles Azevedo, assessor especial, bateram na tecla de que o PSDB foi poupado na delação. Os assessores disseram haver doações feitas pela UTC no mesmo dia para o candidato tucano e para a presidente, nos registros do Tribunal Superior Eleitoral, mas ''para o PSDB não vale'', queixam-se.

''É um ataque seletivo'', disse um ministro à Folha.

Em 2014, Dilma queria descolar a sua campanha da direção do PT e nomeou Edinho Silva como tesoureiro para ''blindar'' as contas presidenciais. Ele foi uma escolha pessoal da presidente, que acompanhou de perto as doações à sua campanha.

Nos bastidores, auxiliares próximos relatavam que a presidente não queria misturar as finanças do comitê presidencial com a do PT, por desconfiar do modo como João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT e preso pela Operação Lava Jato, conduzia as finanças do partido.

Por isso, argumentam aliados de Dilma, ela está ''indignada'' com a delação de Pessoa envolvendo irregularidades na campanha de 2014.

Petistas temem que a delação de Pessoa reacenda o debate sobre impeachment  na oposição. 

 

Dono da UTC relatou propina a senador para enterrar CPI, diz revista

O dono da empreiteira UTC, Ricardo Pessoa, disse aos procuradores da Operação Lava Jato que negociou com o senador Gim Argello (PTB-DF) o repasse de R$ 5 milhões a quatro partidos para enterrar uma CPI criada pelo Congresso para investigar a Petrobras no ano passado.

Argello era vice-presidente da CPI e foi o porta-voz da negociação porque, segundo Pessoa, exercia influência sobre o presidente da CPI, o então senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), e o relator, deputado Marco Maia (PT-RS).

Vital do Rêgo atualmente é ministro do TCU (Tribunal de Contas da União), posto que assumiu em fevereiro.

Pessoa diz que se encontrou duas vezes com Argello para tratar do assunto, na casa do senador no Lago Sul, em Brasília. Além de esvaziar a CPI, o empreiteiro pretendia impedir sua convocação para prestar depoimento aos parlamentares. A comissão foi encerrada após alguns meses sem ter avançado nas investigações nem convocado empreiteiros para depor.

Informações sobre a acusação a Argello foram antecipadas pela revista "Veja" na edição que começou a circular neste sábado (27) e confirmadas depois pelaFolha.

De acordo com Pessoa, os R$ 5 milhões foram distribuídos em doações a quatro partidos, PR, DEM, PMN e PRTB, a pedido de Argello.

Procurado pela Folha, o senador não retornou aos contatos feitos na manhã de sábado. Na noite de sexta (26), ele disse que todas as doações recebidas da UTC foram declaradas à Justiça Eleitoral. Vital do Rêgo e Marco Maia também não foram localizados pela reportagem.
Até o momento, nenhum deles ainda havia sido alvo de investigação na Lava Jato.

O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, outro delator da Lava Jato, disse no ano passado que pagou propina ao falecido senador Sérgio Guerra (PSDB-CE) para enterrar outra CPI criada para investigar a estatal em 2009.

Em sua delação premiada , Pessoa também afirmou ter pago propina ao senador e ex-presidente da República Fernando Collor (PTB-AL). Segundo a revista "Veja", Collor teria usado sua influência na BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras, para facilitar negócios para a UTC.

O empreiteiro afirma que pagou R$ 20 milhões a Collor por intermédio do seu ex-ministro Pedro Paulo Leoni Ramos, que tinha negócios com o doleiro Alberto Youssef, um dos principais operadores do esquema de corrupção descoberto na Petrobras.

Youssef, que também fez acordo para colaborar com as investigações, diz que pagou a Collor R$ 3 milhões em propina associada a outro negócio, entre a BR Distribuidora e uma rede de postos de combustível em São Paulo.

Collor é alvo de um inquérito aberto com autorização do Supremo Tribunal Federal por causa das suspeitas em torno dessa transação. Procurada neste sábado, sua assessoria não atendeu aos contatos da reportagem.

PRESSÃO AO PT

Em sua delação, Pessoa citou doações provenientes de propina à campanha da presidente Dilma Rousseff em 2014 e implicou o envolvimento do atual ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, e do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, segundo a "Veja".

No caso de Mercadante, o relato da delação de Pessoa diz que ele fez repasses ilegais à campanha do petista ao governo de São Paulo em 2010. De acordo com a prestação de contas apresentada pelo PT à Justiça Eleitoral em 2010, a UTC doou R$ 250 mil para a campanha de Mercadante.

Por meio de sua assessoria, Mercadante afirmou que todas as contribuições para sua campanha em 2010 foram feitas de acordo com a legislação eleitoral e estão registradas na prestação de contas entregue ao TSE. 

Fonte: Folha de S. Paulo

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