Na FOLHA: Lula diz a aliados que será próximo alvo do juiz Moro. PT está em "estado de alerta"

Publicado em 20/06/2015 06:37
na edição deste sabado

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse a aliados que a prisão dos presidentes da Odebrecht e da Andrade Guiterrez é uma demonstração de que ele será o próximo alvo da operação Lava Jato. Lula também reclamou nesta sexta-feira (19) do que chamou de inércia da presidente Dilma Rousseff para contenção dos danos causados pela investigação.

Ainda segundo seus interlocutores, Lula se queixa da atuação do ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que teria convencido Dilma a minimizar o impacto político da operação.

Nas conversas, ele se mostra preocupado pelo fato de não ter foro privilegiado, podendo ser chamado a depor a qualquer momento. Por isso, expressa insatisfação que o caso ainda esteja sob condução do juiz Sérgio Moro.

Para petistas, os desdobramentos podem afetar o caixa do partido e por em xeque a prestação de contas da campanha da presidente. A detenção de Marcelo Odebrecht e Otávio Azevedo colocou a cúpula do PT em "estado de alerta" e preocupa o Palácio do Planalto pelos efeitos negativos na economia.

Para assessores do ministro Joaquim Levy (Fazenda), o "ritmo da economia, que já está fraco, ficará mais lento".

No entanto, a estratégia adotada pelo partido e pelo governo foi a de afirmar que, dada influência das duas empreiteiras, a investigação atingirá as demais siglas, incluindo o PSDB.

Nessa linha, um ministro citou o nome da operação "Erga Omnes" (expressão em latim que significa "para todos") para afirmar que não só o PT será afetado.

Durante a campanha presidencial de 2014, segundo esses interlocutores do governo, ambos executivos fizeram chegar reservadamente ao Planalto a sua intenção de votar na oposição.

Nesta sexta, Lula manteve sua agenda: um almoço com o ministro da Educação, Renato Janine, e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, além do secretário municipal de Educação, Gabriel Chalita. Segundo participantes, ele exibia bom humor.

Apesar do argumento de que outros partidos serão afetados, a tensão é maior entre petistas. Desde o fim de 2014, a informação, que circulava no meio empresarial e político, era de que Marcelo Odebrecht não "cairia sozinho" caso fosse preso.

A empresa sempre negou ameaças. Entre executivos e políticos, contudo, as supostas ameaças eram vistas como um recado ao PT dada a proximidade entre a Odebrecht e Lula –a empresa patrocinou viagens do ex-presidente ao exterior, para tentar fomentar negócios na África e América Latina.

Um dos presos é Alexandrino Alencar, diretor da Odebrecht que acompanhava Lula nessas viagens patrocinadas pela empreiteira. Integrantes dizem que "querem pegar Lula". Lula também se encontrou com executivos da Odebrecht no exterior. 

Dilma se reuniu com Odebrecht durante visita ao México em maio

Executivo vinha tentando falar com presidente sobre empreiteira

A presidente Dilma Rousseff teve um encontro privado com o presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, em sua viagem ao México no final de maio. Preso nesta sexta (19) pela Polícia Federal na Operação Lava Jato, Marcelo conversou a sós com Dilma durante cerca de 20 minutos.

De uma fila de empresários que aguardavam para conversar com a presidente, Odebrecht foi o último a ser recebido no segundo dia da viagem da petista ao México (26 de maio). Segundo relatos obtidos pela Folha, os dois entraram sozinhos na sala reservada para Dilma receber empresários brasileiros que integravam a comitiva da visita de Estado ao México.

A comunicação da Presidência confirmou dois encontros de Dilma com Odebrecht no México, mas disse que a Lava Jato não foi discutida.

A primeira reunião ocorreu junto com o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto. A pauta foram os investimentos da empresa no país (de US$ 4,5 bi). A segunda se deu após o evento Brasil-México, no qual Marcelo era a "personalidade empresarial central'', afirma a assessoria de Dilma.

Interlocutores de Marcelo disseram à Folha que ele vinha tentando encontrar espaço na agenda de Dilma no Brasil para tratar de interesses de sua empresa.

Os mesmos interlocutores relataram ter conhecimento de pelo menos um assunto que Marcelo queria tratar com Dilma: a negociação de contratos entre sua empresa e a Petrobras. Eles não souberam dizer se a Lava Jato entrou na pauta da reunião privada.

Um mês antes, em abril, Odebrecht sentou-se à mesa do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em jantar oferecido ao tucano pelo empresário João Dória Jr.

 

VEJA: Nova fase da Lava Jato mostra lobby de empreiteiras ajudadas por Lula no exterior

 

Ex-presidente teria sugerido que OAS o levasse ao Chile para palestras logo após a eleição de Michele Bachelet

 

Mensagens interceptadas pela Polícia Federal entre executivos da construtora OAS, e que constam do processo contra a Odebrecht e a Andrade Gutierrez, descrevem com detalhes o esquema de lobby e indício de tráfico de influência do ex-presidente Lula em países da África e da América Latina. A 14ª fase da Operação Lava Jato foi deflagrada nesta sexta-feira, resultando na prisão dos executivos Marcelo Odebrecht e Otávio Azevedo.

A troca de mensagens ocorreu em 2013 entre Léo Pinheiro e Cezar Uzeda, presidente e diretor da área internacional da OAS, respectivamente. Nos textos, Lula leva o apelido "carinhoso" de Brahma e é citado nos termos de uma aproximação com o embaixador de Moçambique no Brasil, Murade Isaac Miguigy Murargy. O facilitador do encontro, segundo as mensagens, é o ex-ministro Franklin Martins. Diz Pinheiro: "Tem o Brahma no meio. Quem marcou (o encontro) foi a Mônica, mulher de Franklin (Martins). Segundo ela, seria uma aproximação para 2014. Ele deve coordenar. Disse-me também que os dois (Odebrecht e AG) estão em pé de guerra. Vou confirmar sua ida. Nesse mesmo horário vou estar com Aécio (Neves)", escreveu o ex-presidente da empreiteira, preso em novembro do ano passado, e que foi liberado após um pedido de habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

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A esposa de Franklin Martins, Monica, também enviou mensagem a Pinheiro detalhando o perfil do embaixador. "Diz ao Cesar (Uzeda) que estarei com ele. Me encontre na porta da Embaixada. Ele vai falar sobre campanha política e novos projetos. Ele que colocou a Suzano e a Andrade lá no governo. Era o chefe de gabinete do presidente (de Moçambique)", explica.

A troca de mensagens mostra que uma viagem ao Chile, onde Lula palestrou em novembro de 2013, bancada pela OAS, foi ideia do próprio ex-presidente. Na tarde do dia 12 de novembro, Léo Pinheiro questiona Cezar Uzeda sobre as obras da OAS no Chile, afirmando que "o Brahma está procurando saber". Quando o executivo responde listando as obras, a réplica de Pinheiro, às 22h do mesmo dia, detalha a ideia do ex-presidente. "O Brahma quer fazer a Palestra dia 24/25 ou 26/11 em Santiago. Seria uma mesa redonda com 20 a 30 pessoas. Quem poderíamos convidar e onde?", diz Pinheiro.

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Segundo o diretor da área internacional, os convites estavam condicionados às eleições presidenciais, em que a vencedora terminou sendo a socialista Michele Bachelet. "Os convidados dependerão do resultado das eleições de domingo próximo. O Chile é um país mais sofisticado. Talvez um almoço com participação de empresários, políticos com orientação mais à esquerda e intelectuais. Submeteríamos os convidados à crítica prévia dele (Lula)", diz Uzeda.

Em outra conversa, os empresários definem que a OAS bancará a viagem de avião, mas temem se é conveniente que a viagem seja na mesma aeronave que a do ex-presidente. "Leo, colocamos o avião à disposição de Lula pra sair amanhã ao meio dia. Seria bom você checar com Paulo Okamoto se é conveniente irmos no mesmo avião. Caso contrário, vamos na quarta feira", afirma o diretor da área internacional.

Em relação ao mesmo evento, os executivos conversam sobre as diferenças entre Dilma e Lula em relação à agenda internacional. "A agenda nem de longe produz os efeitos das anteriores do governo Brahma. No entanto, acho que ajuda a lubrificar as relações. A senhora não leva jeito, discurso fraco, confuso e desarticulado, falta carisma"

O mesmo modelo de visita, patrocinada pela OAS, ocorreu em janeiro de 2014, no Uruguai. Diz Uzeda: "Leo, o formato segue o modelo exato do que foi feito no Chile: pela manhã, grupo seleto de empresários uruguaios ou que atuam por lá. O tema passará sempre por alguma derivada da integração regional. Importante saber se ele gostaria de algum retoque ou mudança na organização. Quanto aos nossos interesses no Uruguai, na pauta está o porto de águas profundas em La Paloma (Odebrecht propôs uma PPP) e um gasoduto para levar gás ao Brasil".

Os executivos também citam contato do então ministro Fernando Pimentel para ajudar nas negociações na Argentina, sobre a construção de uma usina hidrelétrica. "(Julio) De Vido (ministro do Planejamento da Argentina) nos ligou preocupado porque o tema das UHE NK não estaria na pauta da reuniao da Camex (Câmara de Comércio Exterior ligada ao Ministério do Desenvolvimento, pilotado por Pimentel) da próxima terça e a data limite para apresentação pelas empresas brasileiras da carta do BNDES é dia 21/02 , data em que ele abrirá os envelopes de preço. Se não apresentamos a carta em 21/02 , seremos desclassificados e ficaremos mal na Argentina. A Odebrecht não está muito preocupada com isso. Ou acha que perde para nós no preço, ou ja está satisfeita por que ganhou do BNDES um financiamento para outra obra de 1,5 bilhão de dólares na Argentina", diz, Léo Pinheiro.

No mesmo diálogo, o executivo da OAS relata gestões de Pimentel para interceder pela Vale na Argentina. "FP vai para Argentina amanhã, domingo, resolver problema da Vale com o ministro De Vido. O governo da Argentina ameaçou a Vale: 'ou investe no país ou libera a mina de potássio do rio Colorado para a China explorar e sai do país'. Mais uma rateada de Murilinho (Murilo Ferreira, presidente da Vale), e o governo brasileiro se move em peso pra resolver", diz Pinheiro.

 

'Brahma', o apelido carinhoso de Lula entre os caciques da OAS

 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva era chamado carinhosamente de "Brahma" pelo ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, seu amigo próximo. O nome, que remete à marca de cerveja, aparece pelo menos três vezes na troca de mensagens entre Pinheiro e o ex-diretor da empreiteira Augusto César Uzêda, interceptada pela Polícia Federal no âmbito da Operação Lava Jato. No relatório de inteligência produzido pela PF, os investigadores concluíram que a menção se referia a Lula a partir do cruzamento de dados. Por exemplo, em uma mensagem, Pinheiro relata a Uzeda: "Nossa amigo Brahma pode fazer uma palestra no dia 26/11. Tema: Brasil/Chile". A PF, então, consultou a agenda do presidente pelo Instituto Lula, e verificou que, nos dias 26 e 27 de novembro de 2013, Lula participou de um seminário em Santiago, no Chile. Em outro recado, desta vez enviado por Uzeda, Lula é comparado à presidente Dilma Rousseff: "A agenda nem de longe produz os efeitos das anteriores do governo Brahma, no entanto, acho que ajuda a lubrificar as relações. (A senhora [Dilma] não leva jeito, discurso fraco, confuso e desarticulado, falta

carisma)". 

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Fonte: Folha de S. Paulo + VEJA

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