Lula está com medo! Grita que é o próximo para ver se não é o próximo...

Publicado em 19/06/2015 18:47
por Reinaldo Azevedo, de veja.com (+ Folha)

Tática de Lula: gritar que é o próximo para ver se não é o próximo. Ou: Lula está com medo!

Escrevi ontem um post cujo título é este: “Primeira pergunta já tem resposta: ‘Quando vão pegar a Odebrecht?’. A segunda segue sem resposta: ‘Quando vão pegar Lula?’”. Leio agora na Folha que Lula diz a aliados que é ele o próximo alvo da Lava-Jato. O alarme soou no Palácio do Planalto. Se “pegarem” Lula, é claro que o governo Dilma vai junto. O ex-presidente está recorrendo a uma tática: ao anunciar que pretendem atingi-lo, denuncia uma suposta perseguição, buscando, então se proteger. Será que vai ser bem-sucedido? Vamos ver.

A Operação Lava-Jato segue, afinal, com o seu mistério, não é? Os políticos mais graduados que estão sob investigação são o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), hoje, respectivamente, presidentes da Câmara e do Senado. À época em que teriam cometido as irregularidades de que são acusados, nem exerciam essa função.

Se a Lava-Jato fosse um romance policial, seria de péssima qualidade porque o roteiro é inverossímil a mais não poder. Que se cometeram crimes em penca, não há a menor dúvida. Um simples gerente de Serviços se dispôs a devolver US$ 97 milhões. Naquele ambiente de esbórnia, dá para imaginar o que não terão feito os que tinham o mesmo caráter que ele, mas com mais poder.

Quando se olha a lista das pessoas sob investigação, os leitores desse romance seriam convidados a acreditar que um esquema multibilionário de fraudes foi urdido por uns dois ou três políticos à época de médio porte, um monte de parlamentares de terceira linha — a maioria ligada ao PP, um partido que é periferia do poder, um grupo enorme de empreiteiros malvados mais alguns diretores larápios. E pronto! Desde que a operação começou, em março do ano passado, pergunto: CADÊ O PODER EXECUTIVO? Não existe. É impressionante, mas nem José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras no período daquela soma de desatinos, é investigado. E olhem que poucos presidentes das estatal foram tão autocráticos como este senhor.

É evidente que essa história não fecha! Então as empreiteiras teriam se unido num cartel para assaltar a Petrobras. Para que prosperassem no seu intento, tinham de contar com a colaboração de diretores safados. Eis que os safados estão lá, do outro lado do guichê, devidamente nomeados pelo… Poder Executivo, certo? Tudo coincidência, né? As empreiteiras cartelizadas teriam tido a sorte de os políticos terem nomeado justamente os larápios de que precisavam. Tenham paciência! Aí se descobre que boa parte dos desvios era carreada para partidos políticos. Mas nada de o Executivo entrar na história.

De volta a Lula
É claro que essa narrativa não para em pé, Santo Deus! E é justamente essa inverossimilhança que deixa Lula em pânico. Ele sabe que ninguém com um mínimo de miolos aposta que tudo não passou de um conluio entre empreiteiros, servidores corruptos e políticos sem importância. Algo da magnitude do petrolão não se faz sem a colaboração de alguém — ou “alguéns” — com efetivo poder no governo e na Petrobras.

Por Reinaldo Azevedo

 

 

Primeira pergunta já tem resposta: “Quando vão pegar a Odebrecht?”. A segunda segue sem resposta: “Quando vão pegar Lula?”

O nome das operações e fases de operação da Polícia Federal hão de merecer, algum dia, uma tese de doutorado em linguística. A que atinge agora a Odebrecht e a Andrade Gutierrez chama-se de “erga omnes” — literalmente, “para todos”.  Assim, a PF estaria mandado um recado e embutindo já um juízo de valor: “É para todos, também para as grandes”. Como expressão jurídica, é uma impropriedade. Os atos “erga omnes” têm outro caráter e se referem a decisões tomadas pela Justiça que têm alcance geral; não se referem ao fundamento de que ninguém deve estar acima da lei. Mas sigamos.

A pergunta que não queria calar, com ou sem fundamento, era esta: “Quando vão (o sujeito sempre indeterminado) pegar a Odebrecht?”. Pronto! Pegaram. A Andrade Gutierrez, também uma gigante do setor, provocava menos clamor. E, nesse caso, há um dado meio silencioso que acompanhava a torcida: dá-se de barato que a Odebrecht é, de todas as empresas, aquela que está mais próxima de Lula. Em muitas cabeças, a pergunta “Quando vão pegar a Odebrecht?” quer dizer literalmente: “Quando vão pegar Lula?”.

Quando a PF chama a nova fase da operação de “erga omnes”, parece estar respondendo a esse clamor: “Bem, vocês nos perguntavam quando pegaríamos a gigante, certo? Pronto! Pegamos!”.

Li o que está disponível sobre as razões da prisão. Vamos ver. Há um e-mail de um executivo que fala em “sobrepreço”, que seguiu com cópia para Marcelo Odebrecht. A PF e a Justiça o exibem como evidência material do que é uma convicção. Afirma, por exemplo, o delegado Igor Romário de Paula:
“A forma de contratação criminosa era disseminada dentro da Odebrecht e parece impossível se cogitar que não era de conhecimento deles (do presidente e executivos presos). Há prova material de que tinham conhecimento de prática de sobrepreço nas contratações com a Petrobras e que também haveria a participação deles direta nas divisões de contratos a serem contratos dentro do cartel”.

A “disseminação”, como se percebe, é uma convicção; o domínio que o presidente da Odebrecht teria é outra, daí o “parece impossível se cogitar” e o “haveria (atenção para o tempo do verbo) a participação direta”. Quando o caso chegar a uma instância decisória da Justiça, será preciso mais do que isso. Faço o alerta porque, depois, as coisas não acontecem de acordo com a expectativa do clamor, e aí se grita: “Impunidade!”.

Percebam que o tom do juiz Sergio Moro é o mesmo, até com o emprego da mesma expressão: “parece impossível”:
“Considerando a duração do esquema criminoso, pelo menos desde 2004, a dimensão bilionária dos contratos obtidos com os crimes junto à Petrobras e o valor milionário das propinas pagas aos dirigentes da Petrobras, parece inviável que ele fosse desconhecido dos Presidentes das duas empreiteiras, Marcelo Bahia Odebrecht e Otávio Marques de Azevedo”.

Ninguém será condenado com “parece impossível” nem com “parece possível”. Em direito, essas expressões querem dizer a mesma coisa.

Na sequência, o juiz faz uma afirmação temerária:
“Mesmo ganhando a investigação notoriedade, com divulgação de notícias do possível envolvimento da Odebrecht e da Andrade Gutierrez, bem como a instauração de inquéritos, não há registro de que os dirigentes das duas empreiteiras, incluindo os Presidentes, tenham tomado qualquer providência para apurar, em seu âmbito interno, o ocorrido, punindo eventuais subordinados que tivessem, sem conhecimento da presidência, se desviado. A falta de qualquer providência da espécie é indicativo do envolvimento da cúpula diretiva e que os desvios não decorreram de ação individual, mas da política da empresa.”

Bem, o fato de “não haver notícia” não quer dizer que não tenha acontecido. Mais: o que vai acima é um juízo moral, não indício de um crime a sustentar uma decretação de prisão preventiva.

Obrigação
A obrigação é dizer tudo, não fazer torcida. Se Marcelo Odebrecht e os demais empreiteiros cometeram os crimes de que são acusados, que paguem. Só estou apontando aqui algumas evidências de fragilidade e deixando claro que não basta o “só pode ser” para condenar alguém. Cada um leia como quiser. Meu papel é fazer análise, não me comportar como líder de facção. A advertência é importante porque, depois, a coisa morre no meio do caminho, e logo começam as teorias conspiratórias.

Sim, numa democracia, a lei é para todos. Mas cabe a quem acusa apresentar as provas, não suas convicções e juízos de valor. Isso, sim, vale “para todos”, mesmo para as pessoas cuja culpa consideramos certa.

Bem, vamos ver o andamento das coisas. A primeira pergunta já tem resposta: “Quando vão pegar a Odebrecht?”. Pegaram. No dia 19 de junho de 2015. A outra pergunta segue sem resposta: “Quando vão pegar Lula?”.

Por Reinaldo Azevedo

 

Na FOLHA: Presidente da Odebrecht achava que não seria preso

Preso na manhã desta sexta-feira (19) na 14ª fase daOperação Lava Jato, o empresário Marcelo Odebrecht vinha pedindo a seus executivos que defendessem o grupo das acusações de ter pago propina para conseguir obras na Petrobras.

Chegou a enviar uma carta interna a seus milhares de funcionários pedindo isso.

Dizia que o fato de nenhum executivo do grupo ter sido preso até então, ao contrário do que ocorreu com a maior parte das grandes empreiteiras, depunha a favor da companhia. Segundo pessoas que estiveram com ele recentemente, Marcelo achava muito remota a possibilidade de ser preso, embora outros executivos do grupo não mostrassem tanta certeza.

De todas as companhias envolvidas na Operação Lava Jato, a Odebrecht é a de maior poder econômico e influência política. Sua construtora é a maior do país, e a Braskem é líder da petroquímica na América Latina.

Na política, está entre os principais financiadores de campanhas e seus controladores são próximos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Depois de deixar o governo, o ex-presidente teve viagens a países da África e à América Latina bancadas pela Odebrecht.

Marcelo sempre negou a participação de sua empresa no esquema de corrupção da Petrobras. No ano passado, em entrevista à Folha, o empresário afirmou que é obrigação dos empresários tentar influenciar asdecisões do governo, sempre de maneira legítima e transparente.

"Não faria nenhum pedido que não pudesse ser feito de maneira transparente. Que mais tarde pudesse me deixar mal com meus filhos", afirmou, na ocasião.

Marcelo assumiu um dos maiores grupos empresariais do país, fundado pelo avô Norberto, no começo de 2009. Casado e pai de três filhas, é uma pessoa de opiniões fortes.

Esse traço de personalidade lhe custou a antipatia da presidente Dilma Rousseff, que achava Marcelo arrogante desde que era ministra. A opinião só mudou depois de uma viagem a Cuba, em que a presidente ficou bem impressionada com a relação próxima dele com os irmãos Fidel e Raul Castro.

A Odebrecht constrói no país caribenho o porto de Mariel, com ajuda de umpolêmico financiamento do BNDES.

Marcelo comanda hoje um conglomerado com faturamento de R$ 107,7 bilhões, que lidera nos segmentos de construção civil e petroquímica, mas também está presente nos ramos imobiliário, bioenergia, óleo e gás e naval.

No ano passado, a empresa que surgiu na Bahia completou 70 anos de história, com 168 mil funcionários.

Por causa da fama de pavio curto, Marcelo também enfrentou alguma desconfiança da parte dos funcionários mais antigos quando assumiu a empresa. Sob seu comando o grupo aumentou as apostas nas concessões de serviços públicos, na área de saneamento básico e no mercado externo.

Hoje a empresa atua em 21 países e já obtém 49% de sua receita no exterior. 

O empresário Marcelo Odebrecht, dono da construtora, preso pela Polícia Federal

 

Ação da Lava Jato contra empreiteiros chega perto de Lula e da oposição

A prisão dos presidentes da Odebrecht e da Andrade Gutierrez colocou a cúpula do PT em "estado de alerta" e preocupa o Palácio do Planalto pelos efeitos negativos na economia.

Marcelo Odebrecht e Otávio Marques de Azevedoforam presos nesta sexta-feira (19) no âmbito das investigações da Operação Lava Jato.

Na avaliação do governo, contudo, "não há o que fazer", até porque a nova fase da operação que investiga um esquema de corrupção na Petrobras promete fazer jus a seu nome latino e "valer para todo mundo".

Isso porque a "Erga Omnes" (expressão em latim que significa "para todos" e que em direito designa a ação que vale para todos os cidadãos, mesmo que não tenham ingressado em juízo) não atinge apenas figuras centrais ligadas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não é segredo que Marcelo Odebrechet e Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez, têm excelentes relações não só com o petista, mas também com a oposição –especialmente o PSDB.

Durante a campanha presidencial de 2014, segundo esses interlocutores do governo, ambos os executivos fizeram chegar reservadamente ao Planalto a sua intenção de votar na oposição.

De todo modo, o nível de alerta é maior entre os petistas. Desde o fim do ano passado, governo e partido trabalhavam com a informação, que circulava no meio empresarial e político, de que Marcelo Odebrecht não "cairia sozinho" caso fosse preso na Lava Jato.

A empresa sempre negou tais ameaças. Entre empresários e políticos, contudo, as supostas ameaças eram vistas como um recado ao PT dada a proximidade entre a Odebrecht e Lula –a empresa patrocinou viagens do ex-presidente ao exterior, para tentar fomentar negócios na África e América Latina.

Um dos presos nesta sexta (19), aliás, é Alexandrino Alencar, diretor da Odebrecht que acompanhava pessoalmente Lula em suas viagens às custas da empreiteira após deixar a Presidência. Este dado causou particularmente "pânico" entre alguns aliados do petista.

Esses interlocutores vão ainda além, dizendo que a polícia "quer pegar o Lula". Contemporizam, contudo, ao comentar a relação das empresas com políticos da oposição.

Na PF, que naturalmente nega qualquer viés político em suas operações, a preocupação maior é a de que o escopo atingido nesta fase da Lava Jato posso trazer mais pressão contra sua ação. Reservadamente, dentro do órgão se diz que "agora nenhum partido irá nos defender".

IMPACTO ECONÔMICO

Apesar da avaliação de que a ação da PF era inevitável, o Planalto também teme o efeito econômico desta fase da operação.

A Odebrecht é a maior empreiteira do Brasil, e o cenário já ruim na construção civil pode piorar ainda mais a recessão que atinge o país neste ano.

Por outro lado, há a possibilidade de atração de empresas estrangeiras para o programa de concessões recentemente lançado pela presidente Dilma, além de dar mais espaço para as pequenas e médias empresas brasileiras.

  Zanone Fraissat - 19.ago.2013/Folhapress  
O empresário Otávio Marques de Azevedo, durante jantar em homenagem a Eduardo Paes (PMDB-RJ)

 

PF na Braskem (por Lauro Jardim, de veja.com)

Braskem: parceria entre Petrobras e Odebrecht

Além das buscas na sede da Odebrecht em São Paulo, a PF esteve hoje na Braskem. A investigação finalmente chegou ao setor petroquímico.

Por Lauro Jardim

 

Economia: A incompetência imodesta do petismo. Desemprego, recessão e inflação piores do que esperava o mercado

Por onde começar? Todos os indicadores econômicos — todos, sem exceção — estão piores do que esperava o mercado. Não há uma boa notícia na economia nem para fazer remédio. Vamos ver.

1: Segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregos e Desempregados), o país fechou 115 mil vagas formais de trabalho em maio, o pior número desde 1992 — em 23 anos! Entre janeiro e maio, desapareceram 243.948 postos. No acumulado de 12 meses, 452 mil.

2: Dados do IBC-Br, um índice que é considerado uma prévia do PIB, divulgados pelo Banco Central, indicam que o país registrou uma queda de 0,84%, bem pior do que o 0,4% esperado pelo mercado. Em relação a abril do ano passado, a atividade despencou 3,24%. Isso aponta para uma recessão acima de 2% em 2015.

3: Bem, com a recessão em curso e os juros já na estratosfera, a inflação poderia estar em queda, certo? Ainda não. A prévia de junho, na comparação com maio, aponta uma alta de 0,99%. Em 12 meses, a taxa está em 8,8%

Pode parecer impressionante, mas eles conseguiram chegar ao estado da arte da incompetência: recessão severa, juros brutais e desemprego tendente a cavalar.

Não pensem que isso se consegue sem determinação. Só se chega aí com muita imodéstia.

Por Reinaldo Azevedo

 

Pedaladas fiscais – A tentativa de acusar o mordomo. Ou: Augustin se oferece ao sacrifício em lugar de Dilma. Ou: A confissão

Calma lá! Est modus in rebus! Há um limite nas coisas. O governo Dilma sabe que as pedaladas fiscais são uma coisa grave e que infringem as leis — no caso, leis mesmo, no plural. O procedimento é punido pela Lei 1.079, que define crime de responsabilidade, e pelo Artigo 359 do Código Penal, que tipifica a pune os crimes contra as finanças públicas.

As lambanças aconteceram. E agora? Pois é… Em documento, assinado a 30 de dezembro do ano passado, último dia de trabalho, Augustin assumiu a responsabilidade por tudo. Curioso, não? Então havia a consciência da tramoia com os números. Considerasse o próprio governo que era tudo regular, pra que assumir isso ou aquilo? Não faria sentido. Ou vocês já viram alguém deixar registrado num documento algo como: “Confesso que segui a lei?”.

Era só o que faltava. O senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, apontou o óbvio: estão querendo usar Augustin como bode expiatório para livrar a cara de Dilma.

Em direito, conhece-se a figura do mau direito que é a “responsabilização objetiva”: acusa-se alguém de alguma irregularidade simplesmente porque estava na chefia ou no comando. É claro que isso não é bom nem correto. Um chefe nem sempre sabe o que faz seu subordinado. Vá lá: Dilma até pode dizer que ignorava as safadezas na Petrobras perpetradas por aqueles que ela nomeou ou manteve no cargo.

Em matéria de Orçamento? Aí não dá! Dilma, a dita centralizadora, vai dizer que não sabia o que seu secretário do Tesouro fazia com as contas públicas? Bem, então o presidente era ele, não ela. Não se trata aqui de afirmar: “Ah, não tem como não saber…”. O ponto é outro: as decisões que estão sob contestação no TCU apelam às mais altas responsabilidades que pode ter um presidente da República. Ainda que não conheça as minudências, é ele quem autoriza os procedimentos.

Dilma alegar que não sabia que tipo de negociação Nestor Cerveró havia feito com a Astra para comprar a refinaria em Pasadena, vá lá… Se ela não tem noção nem das operações macro do Tesouro, aí, então, é caso de acusá-la de prevaricação.

Reitero: Augustin ter assinado tal documento vale como confissão das irregularidades cometidas. Só que o responsável não é ele.

Por Reinaldo Azevedo

 

A baba dos ressentidos e dos idiotas financiados com dinheiro público

Ancoro o programa “Os Pingos nos Is”, na Jovem Pan AM e FM, hoje a maior audiência do rádio brasileiro, felizmente, de segunda a sexta, entre 18h e 19h. O programa está no ar desde abril do ano passado, e a audiência não para de crescer — como sabem também as outras emissoras. Trata-se apenas de um fato.

É claro que os idiotas procuram as teorias as mais exóticas para explicar o “fenômeno”. Tendo a achar que assim é porque o programa é bom — e não, eu não acho que tudo o que dá audiência é bom nem que tudo o que é bom dá audiência. Mas também não estou entre aqueles que acreditam que a qualidade de um programa jornalístico é inversamente proporcional a seu público. Há muita gente que não é ouvida — ou vista ou lida — por quase ninguém porque é chata, incompetente, primária.

Quem ouve o programa sabe qual é a nossa praia. Talvez seja a atração da radiodifusão brasileira que mais recomende livros, filmes, músicas etc. E ela trata, afinal, basicamente, de política e economia. Não havia uma fórmula para começar. A coisa foi acontecendo assim. Trata-se de um programa essencialmente opinativo. Mas só se pode opinar sobre um fato, e este tem de ser inconteste, ou a opinião não será boa nem má, mas apenas errada. Sim, existem opiniões erradas. Basta que lide, por exemplo, com números falsos.

Se você é favor da legalização do aborto porque lhe contaram que morrem por ano 200 mil mulheres em razão desse procedimento, como se repetia por aí, a sua opinião está errada porque o número é falso. Morrem pouco mais de mil. É muito? É. Mas não são 200 mil. Se você é contra a redução da maioridade penal porque os adolescentes cometeriam menos de 1% dos delitos graves, a sua opinião é igualmente errada. Esse número não existe. Eu sou contra a mudança da lei do aborto e a favor da mudança do texto constitucional sobre a maioridade. Convivo com gente que pensa o contrário. Desde que esteja com os números certos, é claro!

O programa não lidera com tanta folga porque tem este ou aquele viés ideológico. Até porque aposto que boa parte dos ouvintes não concorda comigo. E eu não sou o tipo de sociopata que aposta que um dia todos descobrirão “a verdade”: a minha. Por que essa longa consideração?

Nesta quinta, entrevistamos a senadora Marta Suplicy, sem partido no momento, possível candidata à Prefeitura de São Paulo. É claro que já discordei de Marta muitas vezes — aliás, aconteceu durante a entrevista. Dado o tempo, foram feitas as perguntas possíveis, com a dureza necessária. E, por razões óbvias, dado que ela saiu do PT e que o partido foi à Justiça para tomar o seu mandato, a senadora criticou o petismo e suas gestões na capital paulista e no país.

Foi o que bastou para a Al Qaeda eletrônica cair de pau na senadora. Oh, como ela ousa conceder uma entrevista a alguém como eu, um notório crítico do PT? É claro que eles não escreveram “notório crítico do PT”, né? As prostitutas do financiamento estatal, disfarçadas de jornalistas, são mais bocudas do que isso.

Ora, e por que a senadora não falaria ao programa de rádio mais ouvido do país? Só porque ela discorda de mim? Só porque eu discordo dela? Venham cá: agora que ela está rompida com o PT, esses veículos financiados pelo leite de pata do dinheiro público vão continuar a elogiá-la, como faziam antes, ou ela virou uma “inimiga”? Eu entrevistei Marta sem concordar com ela — manifestando, inclusive, essa discordância. A gritaria é puro alarido de ressentidos, de idiotas, de incompetentes.

Ademais, a repercussão do programa, refiro-me à positiva, foi realmente espantosa. Por “positiva”, quero dizer o seguinte: gente que reconhece que foi jornalisticamente relevante. Parece que os vermelhinhos que gostam das verdinhas oficiais ficaram furiosos porque cutuquei Marta, perguntando-lhe a razão de jamais falar mal de Lula — e ela acabou falando. Entendi: eles, porque se dizem “progressistas”, jamais fariam uma entrevista com a senadora; e eu, porque sou “conservador”, jamais deveria entrevistá-la. No mundo dourado desses cretinos, quando alguém abandona tem de ser banido da vida.

Eu entrevisto quem se disponha a responder às perguntas que tenho a fazer. Quanto aos ressentidos, fazer o quê? Vão lá entrar na fila do guichê para pegar mais um capilé oficial. Ou vão curtir a sua irrelevância de maneira um pouco mais digna.

Por Reinaldo Azevedo

 

 

Fonte: Folha de S. Paulo + VEJA

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