Lava Jato teve impacto no recuo do PIB, avaliam economistas

Publicado em 29/05/2015 18:31
Desdobramentos da operação derrubaram o indicador de investimentos no país, que caiu pela sétima vez seguida

Com as incertezas em relação à retomada do crescimento econômico, os investimentos caíram 1,3% no primeiro trimestre deste ano em relação aos três últimos meses 2014. Trata-se da sétima queda consecutiva do indicador que integra o cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em comparação com igual período do ano passado, a queda foi ainda mais acentuada, de 7,8%.

O principal responsável por esse resultado negativo é o sentimento de desconfiança do empresariado, que quer a garantia de que seus negócios terão retorno. Parte dessa insegurança é reflexo dos desdobramentos da Operação Lava Jato, que, ao investigar um esquema de corrupção bilionário na Petrobras, ajudou a paralisar as maiores empreiteiras do Brasil. Cerca de 5% do PIB corresponde aos negócios da petroleira e das companhias alvos da Lava Jato, o que é "bastante significativo", diz a economista da consultoria Tendências, Alessandra Ribeiro.

Leia a reportagem completa no site em Veja on line

 

FOLHA: Recessão do 1º tri marca o fim do ciclo de consumo de gestão do PT

Era de crescimento fora impulsionada por ascensão social, transferência de renda e crédito

Primeira queda sobre mesmo tri do ano anterior desde 2003 resulta de inflação, desemprego e juro alto

DO ENVIADO AO RIODO RIO

Uma das principais marcas da administração petista, a expansão do consumo das famílias sofreu neste ano sua interrupção mais explícita.

No primeiro trimestre, as compras caíram 1,5% e ficaram 0,9% abaixo do patamar de um ano atrás --foi a primeira queda nessa base de comparação desde 2003, primeiro ano do governo Lula.

O crescimento iniciado na década passada foi impulsionado por ascensão social, programas de transferência de renda e ampliação do crédito; a queda de agora resulta de inflação, desemprego e juros mais elevados.

Se o consumo não é mais o motor da economia, o investimento --as obras de infraestrutura e as compras de equipamentos destinados a ampliar a capacidade produtiva-- está longe de poder assumir esse papel.

Investimentos públicos e privados recuaram 1,3% entre janeiro e março, em uma sucessão de sete quedas trimestrais, inédita nas estatísticas disponíveis desde 1996.

Em fase de penúria orçamentária, o governo federal e suas estatais --em especial a Petrobras, dona do maior caixa-- contribuem para a retração das obras.

O custeio da administração pública, incluindo União, Estados e municípios, caiu 1,3%, em meio à freada da arrecadação tributária e os ajustes de início de mandato da atual safra de governadores.

Diante da retração geral da demanda, a renda encolheu na indústria --uma rotina nos últimos anos-- e no setor de serviços, que responde por cerca de 70% da economia.

A queda do PIB só não foi maior porque a agropecuária e as exportações, favorecidas pela alta das cotações do dólar, ajudaram.

Não está no horizonte visível, porém, uma nova escalada dos preços dos produtos agrícolas e minerais como a que impulsionou recordes da balança comercial brasileira na década passada.

EXPECTATIVAS

Na ausência de motores econômicos, as expectativas pessimistas não se limitam a este ano: governo e analistas de mercado concordam que haverá queda do PIB neste ano --as apostas se concentram entre 1% a 2%-- e uma recuperação modesta em 2016 --1% já parece otimismo.

Em suas projeções mais recentes para o Brasil, o FMI (Fundo Monetário Internacional) não acredita em taxas acima de 2,5% até 2020.

 

Família, empresa e governo cortam despesa

Movimento simultâneo dos três agentes econômicos derruba a atividade econômica do país no primeiro trimestre

Recessão, com queda de empregos e salários, em coexistência com inflação aponta para a chamada estagflação

GUSTAVO PATUENVIADO ESPECIAL AO RIOBRUNO VILLAS BÔASDO RIO

Sob a pressão dos preços, das dívidas e das incertezas em alta, famílias, empresas e governo cortaram despesas ao mesmo tempo e derrubaram a economia do país.

Medida da produção e da renda nacional, o PIB (Produto Interno Bruto) encolheu 0,2% no primeiro trimestre do ano, na comparação com os últimos três meses de 2014, conforme dados divulgados nesta sexta (29).

A taxa não foi tão ruim quanto se temia --os cálculos do Banco Central, por exemplo, apontavam uma queda de 0,8%. É o detalhamento dos dados, no entanto, que mostra a extensão dos danos.

Numa rara combinação, as compras de bens e serviços despencaram em todas as modalidades: para consumo, para investimentos e para o custeio do governo federal, dos Estados e das cidades.

Ainda mais anômala é a coexistência de uma recessão em andamento, com queda de empregos e salários, e a inflação mais elevada desde 2003 --trata-se, em uma palavra, da estagflação, na versão mais evidente em 12 anos.

O cenário resulta de desequilíbrios acumulados ao longo do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, que exigiram um reviravolta brusca da política econômica após a reeleição.

A expansão contínua dos gastos públicos nos últimos anos elevou a dívida pública, alimentou a inflação e minou a confiança de empreendedores e consumidores.

Os ajustes de agora incluem bloqueio de despesas, aumento de impostos, de tarifas públicas e de juros. Em outras palavras, o governo é obrigado a deprimir ainda mais uma economia já prostrada --e que ainda não chegou ao fundo do poço.

Os números de hoje não são, ao menos por enquanto, tão ruins quanto os da recessão anterior, na virada de 2008 para 2009. Naquele período de agravamento da crise internacional, o PIB teve quedas trimestrais de 4,1% e 2,2% em sequência.

Mas as alternativas da política econômica eram, então, mais simples: a inflação, como costuma acontecer, entrou em trajetória de queda com a freada do comércio, permitindo ao governo reduzir juros, conceder incentivos tributários e elevar gastos para reanimar o mercado.

Já a estratégia atual se limita a esperar que, mais à frente, o ajuste fiscal e o controle da inflação restabeleçam a confiança de empresas e famílias no futuro.

 

Atividade em abril sinaliza segundo trimestre ainda pior

Venda de papelão, fluxo de veículos pesados, consumo de energia e intenção de consumo caíram no mês passado

De 8 consultorias ouvidas, 7 estimam queda mais acentuada do PIB; projeções vão de -0,5% a -1,3%

RENATA AGOSTINIJOANA CUNHADE SÃO PAULO

Se os três primeiros meses do ano foram ruins para a economia, com queda de 0,2% no PIB, o segundo trimestre deve ser ainda pior, apontam indicadores da atividade econômica em abril.

Chamados de indicadores antecedentes, eles ajudam a medir o que ocorre na economia real e sinalizam tendências. É o caso do papelão ondulado. Usado na confecção de embalagens, é um valioso indicador de produção. No mês passado, segundo dados da ABPO, associação do setor, as vendas ficaram 2,2% abaixo das de abril de 2014.

O fluxo de veículos pesados, que capta o transporte de mercadorias, caiu 6,1% no primeiro mês do segundo trimestre ante o mesmo período de 2014, de acordo com a ABCR, associação de concessionárias de rodovias.

Também houve retração no licenciamento de veículos novos, que indica como andam as vendas. No mês passado, o número foi 25% menor do que o de abril de 2014.

O consumo de energia seguiu em queda no ano pelo quarto mês consecutivo. Segundo o governo, boa parte da redução ocorreu diante da menor demanda da indústria -- ou seja, a produção nas fábricas está caindo.

As famílias, por sua vez, desejam cortar mais gastos. No primeiro trimestre, o consumo das famílias caiu 1,5%, a maior queda desde o fim de de 2008, quando estourou a crise financeira. E o aperto no orçamento deve continuar.

O índice de intenção de consumo, calculado pela CNC (Confederação Nacional do Comércio), alcançou em maio o menor patamar desde 2010, quando foi criado. "A situação ainda deve piorar no segundo trimestre, antes de começar a melhorar", diz Fabio Bentes, economista da CNC. A entidade usa o indicador para antecipar o potencial de vendas do comércio.

O indicador é um dos que mais preocupam analistas.

"Já esperávamos queda no investimento e no consumo do governo. O que chama a atenção agora é o consumo das famílias, que vinha segurando a economia, mas está caindo num ritmo muito forte", diz Thiago Biscuola, economista da RC Consultores.

Do lado dos empresários, o pessimismo indica que os investimentos devem seguir represados. O Índice de Confiança da Indústria, da FGV, chegou em maio ao patamar mais baixo da série histórica, iniciada em abril de 2005. O indicador mede tanto a situação atual como a a expectativa de produção e vendas para os próximos meses.

EM QUEDA

De 8 consultorias ouvidas pela Folha, 7 estimam queda mais acentuada no PIB no segundo trimestre. As projeções vão de -0,5% a -1,3%.

"O primeiro trimestre não foi o fundo do poço. Os indicadores de confiança de empresários e consumidores mostram que podemos esperar desemprego maior, renda real em queda, consumo mais fraco, menos investimento", diz Bernard Goni, da Bozano Investimentos, que reviu a estimativa para o segundo trimestre de -1,0% para -1,2%.

A consultoria Tendências foi a única prever desempenho estável, de -0,2%.

 

Rearranjo no PIB

Num resultado antevisto, economia recua no 1º trimestre; haverá ainda alto custo social antes de país conhecer uma retomada

A queda de 0,2% no PIB do primeiro trimestre (na comparação com o último de 2014) confirmou o quadro recessivo já indicado pela piora do emprego, das vendas no varejo e da produção industrial.

Está em curso uma forte mudança estrutural, fruto dos enormes equívocos perpetrado no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff (PT). Sem dúvida doloroso, o rearranjo deve deixar a economia em melhores condições de crescimento nos próximos anos.

Entre todos os indicadores divulgados nesta sexta-feira (29), chama a atenção a retração de 1,5% no consumo das famílias no período, ritmo observado somente em momentos de crise aguda, como no último trimestre de 2008 ou durante o apagão de energia em 2001.

Trata-se de dado relevante porque o consumo tende a oscilar menos que itens como os investimentos, sempre mais suscetíveis aos humores da conjuntura.

Se as famílias gastaram menos no trimestre, não foi uma simples variação momentânea, mas consequência do cenário anuviado: o desemprego aumenta desde janeiro deste ano e a renda real (desconsiderada a inflação) encolhe de forma significativa.

Os próximos meses serão difíceis. A maior perda de empregos formais (98 mil vagas) ocorreu em abril, e não há sinais de estabilização. Projeta-se queda de até 1,5% no PIB no ano, com o fundo do poço a ser atingido no terceiro trimestre.

A mudança fundamental em relação aos últimos anos é que o consumo interno (soma de gastos de famílias e do governo) agora cai mais que a oferta de bens e serviços. Assim, em breve se consolidará uma tendência de redução da inflação que levará o Banco Central a encerrar a política de alta de juros.

A economia nacional parece se reacomodar de modo a superar os desequilíbrios dos últimos anos. Na tentativa quase desesperada de impulsionar o crescimento, o governo Dilma estimulou o consumo interno, expandindo gastos públicos. Ocorre que o problema não estava na falta de demanda.

O desafio, ao contrário, era destravar a produção e os investimentos, algo que não ocorreu em parte devido ao intervencionismo estatal. Daí resultou o consumo interno acima da capacidade de produção do país, com a inflação em alta.

O ajuste chegou a fórceps, e o melhor que o governo tem a fazer é persistir na arrumação de contas.

Quanto ao setor privado, a redução dos custos internos e a desvalorização do real contribuirão para incentivar a produção. A menor pressão inflacionária permitirá a redução dos juros em alguns meses. A retomada virá e pode até surpreender em 2016, mas não sem antes cobrar um alto custo social.

Fonte: veja.com + Folha

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