REINALDO AZEVEDO: Deputado do PT me acusa de receber “propina”; contra a tentativa de intimidação, resta-me o caminho da Justiça

Publicado em 20/05/2015 22:28
Na VEJA.COM + Estadão

REINALDO AZEVEDO: Deputado do PT me acusa de receber “propina”; contra a tentativa de intimidação, resta-me o caminho da Justiça. Ataque não funcionou antes; não funcionará agora

Leitores me informam que o deputado Valmir Prascidelli (PT-SP) me acusou nesta quarta, na CPI da Petrobras, de ter recebido propina da Camargo Corrêa. Propina? Não sabia que eu era funcionário público. Depois ele trocou por “presentinho”. É mesmo? Será que eu poderia facilitar algum negócio feito pela empresa? Com que poder?

Este senhor tem a imunidade parlamentar, e eu sei disso. Mesmo assim, acabo de falar com meu advogado. Vou entrar com uma queixa-crime contra ele. Vamos ver o andamento. Acho que a coisa acabará no Supremo. Ele sabe que se trata de uma mentira.

Essa história começou em 2010. Escrevi, então, a respeito. O post está aqui. Entre os papeis apreendidos pela Operação Castelo de Areia, havia uma agenda — não uma tabela ou planilha — de um dos diretores com o meu nome, o da revista “Primeira Leitura“, que dirigi entre 2001 e 2006, e o valor: R$ 50 mil. Sim, fui falar, então, com a empresa e com outras tantas em busca de anúncio. A esta altura, nem me lembro se consegui ou não. Isso veio a público em 2010, mas a revista fechou as portas em abril de 2006. Logo, a anotação é, obviamente, anterior a essa data.

Prascidelli tenta me intimidar. No trecho de sua fala que cita meu nome, diz que sou um crítico duro do PT, o que é verdade. E, parece, ele não gosta disso. Afirma ter tido acesso a esses papeis em contato com a Polícia Federal. Embora a operação tenha sido extinta, não há nada de sigilo nisso. SABEM QUEM TROUXE A FOLHA DA AGENDA Á LUZ? EU!!!

O assunto é aborrecido, mas não dá para deixar assim. O papelório da Polícia Federal que começou a circular clandestinamente em 2010 era dividido em duas partes: A primeira, chamada “relatório de mídia”, listava as coisas apreendidas pela PF. E havia a segunda, que era o relatório final entregue à Justiça. Meu nome aparece na primeira, não na segunda. Ou por outra: a própria PF ignorou aquele elemento, e o deputado, se realmente viu os papéis, sabe disso.

Aliás, no relatório final da PF, meu blog era, sim, citado. Mas na forma de um link de um  dos textos do clipping, que a PF usa como reforço para  a sua apuração. Assim, o trabalho da polícia usou a minha página como referência informativa!

Nunca fui um investigado da Castelo de Areia.
Nunca fui um acusado!
Nunca fui um indicado!

Nunca tive nada a ver com a dita-cuja.

NUNCA HOUVE RIGOROSAMENTE NADA CONTRA MIM A NÃO SER A MALEDICÊNCIA DE QUEM, ESPERO, ARQUE COM O PESO LEGAL DE SUAS ESCOLHAS.

O deputado tenta emprestar ao troço a aparência de coisa secreta. SECRETA NÃO É. EU A TROUXE A PÚBLICO.

Qual é, afinal, a hipótese dessa gente? A de que a revista Primeira Leitura, com uma tiragem de 30 mil exemplares, poderia ter sido útil a propósitos supostamente inconfessáveis de uma gigante como a Camargo Correa? Tenham paciência!!! Eu jamais me dei tanta importância!

O doutor deixou claros seus motivos. Como não tenho simpatia pelo PT, ele resolve usar a tática da retaliação, ainda que, para tanto, recorra à calúnia. Já constituí advogado para cuidar do caso. Quero crer que um deputado, escudado pela imunidade parlamentar, não tenha o direito de sair caluniando por aí. Não foi para isso que o povo lhe deu um mandato.

Essa canalhice apareceu em 2010. Voltou à baila nas manifestações de protesto contra o governo neste ano (alguns petistas me acusaram de ser responsável por ela, imaginem o delírio…). Tratei do assunto na entrevista que concedi à revista Playboy no mês passado.

Sei lá qual é a aposta de Prascidelli. A de que vou ficar com medo? Não vai acontecer. Em sua fala, ele me associa àqueles que supostamente dizem que a corrupção foi inaugurada quando o PT chegou ao poder. Não! Eu nunca disse ou escrevi essa tolice. O que disse, escrevi e sustento é que os petistas são os únicos seres políticos que tentam provar que a corrupção existe para o nosso bem.

E finalmente
Eu não me deixo intimidar por isso, não. Todos sabem que sou um crítico da tese do cartel — crimes em penca foram cometidos, mas outros. Alguns imbecis já tentam associar essa minha opinião ao conteúdo da calúnia do deputado. Eu não permito que aqueles que não gostam de mim pautem o meu pensamento. Fatalmente, por razões óbvias, ele me induziriam a erro.

Taí, deputado! Poucas pessoas conheciam o seu ataque. Agora, milhares vão ficar sabendo. Eu faço questão que todos os meus leitores tenham ciência do seu ataque. Doutor Roberto Podval se encarregará dos aspectos legais. Ah, sim: antes que alguém “descubra”, Podval é advogado, entre muitos outros, de José Dirceu. Mas já tinha me defendido antes disso.

Por Reinaldo Azevedo

 

ESTADÃO: "O pesadelo de Lula", Editorial desta quarta

“Não estou numa fase muito boa”, teria repetido o ex-presidente Lula nas conversas que manteve na sexta-feira em Brasília. Poderia ser um tardio reconhecimento das consequências do que fez ou deixou de fazer nos últimos 12 anos. Afinal, se o País vai de mal a pior, o grande responsável por essa situação não poderia sentir-se de modo diferente. Mas não se imagine que Lula está preocupado com os destinos do País. O que o incomoda são as perspectivas sombrias que se abatem sobre seu próprio futuro político.

A crise que levou o País à retração econômica não é, como tenta justificar a presidente Dilma Rousseff, consequência da conjuntura internacional desfavorável, mas resultado de erros do governo do PT. É a prova mais evidente do esgotamento de um modelo que era viável enquanto o País surfava nas ondas de um mercado internacional favorável a economias cujo crescimento depende das exportações de matérias-primas, como a brasileira. Enquanto foi possível, o governo petista irresponsavelmente estimulou a gastança interna, elevando as despesas públicas e ampliando o consumo. Investimentos ambiciosos foram prometidos pelo governo. Dispondo de emprego e tendo acesso a crédito abundante, a classe média foi às compras, iludida pela propaganda oficial que lhe prometia quase o paraíso.

O sonho acabou. Agora, faltam salário e crédito para comprar eletrodomésticos, casa própria e automóvel, e não há recursos públicos para investir em bens sociais e em infraestrutura. O governo tenta cortar na própria carne – e na dos assalariados – para botar ordem nas suas contas e evitar a completa perda de credibilidade.

O PT colhe o que plantou. E o dono do PT paga o preço da soberba, da ambição e da autoconfiança desmedidas que o levaram a tratar o Brasil como sua propriedade por oito anos e ao erro fatal, do qual já se deu conta, de se valer de sua popularidade para escolher uma sucessora que lhe garantisse sua volta triunfal ao Planalto – se fosse possível, já em 2014.

O erro de Lula em 2010 foi imaginar que Dilma Rousseff permaneceria docilmente submetida à sua vontade de todo-poderoso Pai da Pátria – e, claro, do PT. Muito menos “pragmática” do que ele, cega pelo mesmo radicalismo dogmático dos grupos nos quais militou durante a ditadura militar, Dilma não se deu conta da encruzilhada em que o País se encontrava quando assumiu o poder e assim colocou, ela e o País, no caminho errado.

Em seus dois últimos anos na Presidência, Lula lograra minimizar os efeitos da crise internacional sobre o Brasil. Mas a crise impunha ao País a necessidade de se ater aos fundamentos macroeconômicos herdados da era FHC. Lula até que os preservara, mas começou a afrouxá-los, iludido pelos resultados positivos da economia brasileira. Por isso, quando a crise de 2008 se abateu sobre o mundo globalizado, países com finanças públicas mais organizadas e governos mais atentos e fiscalmente responsáveis escaparam dos seus efeitos com relativa rapidez, mas o Brasil não.

Ao chegar à Presidência, em 2011, Dilma ampliou a intervenção do Estado na economia. Reelegeu-se prometendo exatamente o contrário do que era necessário e urgente fazer. Atolou-se e levou junto o PT ao pântano do descrédito popular em que se encontra. Enquanto o País, acéfalo, fica nas mãos do mais puro oportunismo político encastelado no comando do Congresso Nacional, o PT e Lula falam em “repactuar” o partido, seja lá o que isso signifique.

Não adianta Lula declarar-se incomodado, tentar reformular o PT mudando toda a direção nacional, convocar personalidades de seu círculo de relações para encontrar uma saída para o beco em que se meteu. A culpa por “tudo isso que está aí” – como ele gostava de proclamar antes de 2002 para apontar o alvo de sua fúria oposicionista – é dele, Luiz Inácio Lula da Silva. Dilma é apenas uma coadjuvante desmoralizada politicamente ao ser apanhada nas mentiras do marketing político que a reelegeu. Foi praticamente abandonada pelo próprio partido, que hesita em apoiá-la nas medidas de ajuste fiscal.

A presidente ainda tem três anos e meio de mandato. É impossível prever o que virá, mas talvez lhe esteja reservado o papel involuntário de eliminar, com seus desacertos, qualquer possibilidade de volta de Lula ao poder.

(O Estado de S. Paulo)

 

Onze senadores redigem manifesto contra política econômica: dois são do PT lulista!

O deputado petista Valmir Prascidelli (PT) descobriu que sou um crítico do PT!!! Ulalá! E está bravo comigo (ver post anterior). Deve achar que sou quem cria dificuldades para o governo Dilma. Eu não! No máximo, tento impedir a presidente de fazer besteira, levando, por exemplo, para a OEA Guilherme Patriota, um homem que tem Marco Aurélio Garcia e Emir Sader como guias intelectuais. Em muitos aspectos, quem diria?, eu defendo mais medidas propostas pela governanta do que alguns petistas. A coisa não tem a sua graça?

É bem verdade que eu defendo, desde o primeiro momento, o pacote fiscal sem abrir mão de acusar o estelionato do PT. E, dessa parte, mesmo os companheiros dilmistas não gostam. Eles querem esquecer o passado. Não dá. Mas notem: eu não tenho voto, né? O meu “sim ou o meu “não” às MPs do ajuste fiscal não aparecem no painel eletrônico.

A oposição, ao dar combate às propostas, cumpre o seu papel. É minoria e lhe cabe resistir, muito especialmente porque, na campanha eleitoral, Dilma afirmou o contrário do que está fazendo. É uma posição política. Não é sabotagem. Eu, que pretendo ver o PT longe do poder por muitos anos, apoio o pacote fiscal porque entendo que, sem ele, será pior para o país. Pacote sim, PT não! Também é uma posição política. E técnica. Não é adesão. Meu “voto” não tem valor nenhum.

Mas e os parlamentares da base que se organizam contra o pacote, que militam contra, que votam contra? Bem, aí me parece haver uma espécie de sabotagem mesmo. Um grupo de 11 senadores redigiu um “manifesto” contra a política econômica do governo e anunciou que votará contra a MP 665, a que restringe o acesso ao seguro-desemprego e que só foi aprovada na Câmara graças aos votos do DEM e do PSB, formalmente de oposição.

Eis os signatários: Lindbergh Farias (PT-RJ), Paulo Paim (PT-RS), Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), Roberto Requião (PMDB-PR), Cristovam Buarque (PDT-DF), Lídice da Mata (PSB-BA), Antônio Carlos Valadares (PSB-SE), João Capiberibe (PSB-AP), Roberto Rocha (PSB-MA), Hélio José (PSD-DF) e Marcelo Crivella (PRB-RJ).

Atenção! Não se pode dizer que os paramentares do PSB sejam da base. Não são. O psolista Randolfe também não. Está à esquerda do governo. Os outros seis são — muito especialmente Lindbergh Farias e Paulo Paim, não é?, ambos petistas.

Olhem aqui: a oposição pode, sim, votar contra o pacote sem ter de oferecer uma alternativa a Dilma, mas a base governista, convenham, tem, então, de apontar uma saída. Há muito tempo afirmo que, se há conspiração contra o governo, como gostam de apontar alguns petistas, seus protagonistas devem ser buscados na própria base, no PT muito especialmente. Na Câmara, não custa lembrar, nove “companheiros” se ausentaram — incluindo o lulista Vicentinho (SP) —, e um votou contra.

Dilma teria de chamar os petistas para explicar que esse partido gigante e a conquista de um quarto mandato também se devem às muitas irresponsabilidades praticadas nos três primeiros: agora chegou a hora da contenção e de acertar as contas. Sabem como é… Petistas foram feitos para atacar adversários e para cair nos braços do povo. Não estão preparados para defender as, como é mesmo?, “medidas amargas”. Afinal, isso era coisa que só aconteceria se Aécio tivesse vencido a eleição, né?

Que gente!

Por Reinaldo Azevedo

 

Renan e Cunha em ritmo de governo parlamentarista

Enquanto os próprios petistas tentam sabotar o esforço fiscal, Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, e Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, parecem, desta vez às escâncaras, ensaiar uma espécie de governo parlamentar — e tendo, ora vejam, os governadores como interlocutores. A parte manca da equação é uma só: a economia. Mas é também a penúria que faz com que os governadores vejam na dupla interlocutores respeitáveis.

Renan se reuniu com 27 governadores para debater uma tal agenda federativa — projetos que são do interesse de Estados e municípios e que estão emperrados aqui e ali. Ele e Cunha se encontraram depois para tentar definir um cronograma.

Sobrou pancadaria para o governo federal. Em todas as áreas. Ainda que com circunlóquio, o presidente do Senado apontou o estelionato eleitoral: “Aquele Brasil projetado em 2014 não é o Brasil que estamos vivendo hoje. Esse Brasil que nós estamos vivendo hoje precisa, dentre outras coisas, garantir o equilíbrio do pacto federativo. Aquele Brasil era um Brasil para campanha eleitoral”.

É verdade. Só não se pode dizer que Renan tenha descoberto isso agora, certo?

Antes, o presidente do Senado já havia cobrado uma ação clara do Executivo na área de segurança pública e anteviu que o Senado pode derrubar as MPs do ajuste fiscal caso Dilma insista em vetar a mudança na aposentadoria aprovada pela Câmara, que, na prática, extinguiu o fator previdenciário.

O presidente do Senado tocou música aos ouvidos dos governadores: “Eu acho que nós precisamos qualificar o ajuste. O ajuste dos governos estaduais é muito mais efetivo do que o ajuste do poder central. E a Federação, ela está distorcida e tem agravado essa distorção”.

Não há um só prefeito e um só governador que não pensem a mesma coisa. Até porque, vocês devem saber, Estados e Municípios estão sujeitos à Lei de Responsabilidade Fiscal; a União não está.

A postura mais dura de Renan contra Dilma tem sido associada ao fato de ele ser hoje um dos investigados da Operação Lava Jato. O que se dá de barato na imprensa é que se trata de uma retaliação. O que ninguém consegue explicar é por que ele retaliaria a presidente por uma decisão que é, afinal de contas, do Ministério Público. A menos que considere que Janot age instrumentalizado pelo Planalto.

Por Reinaldo Azevedo

Fonte: Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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