Youssef diz que Planalto sabia do esquema na Petrobras

Publicado em 11/05/2015 14:58
Doleiro reafirmou que pagou propina a uma agência de publicidade por ordem do ex-presidente da estatal Sérgio Gabrielli, acionado por Lula

Em depoimento prestado nesta segunda-feira à CPI da Petrobras, na sede da Justiça Federal, em Curitiba, o doleiro Alberto Youssef disse que o Planalto sabia do esquema de corrupção na estatal e citou os nomes de dois ex-ministros do governo Dilma Rousseff (PT) – Idelli Salvatti (Relações Institucionais) e Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência).

“Lembro que foi conversado com Idelli Salvatti e com secretário Gilberto Carvalho”, afirmou Youssef, dizendo, que os ministros trataram, inclusive, da discussão sobre a mudança de liderança do PP na Câmara. “Em 2012 ou 2011 houve um racha no Partido Progressista e foi motivo de discussão entre líderes governistas, onde houve queda do Nelson Meurer. O Arthur de Lira assumiu a liderança do partido. Isso foi discutido tanto pelo líder Nelson Meurer como pelo Arthur de Lira e Ciro Nogueira, como foi discutido com Gilberto Carvalho e Ideli. Paulo Roberto Costa deixou claro que esse assunto teria que chegar através do Palácio a quem ele iria se reportar”, afirmou, respondendo a pergunta do deputado Bruno Covas (PSDB-SP).

No depoimento, Youssef também reafirmou que pagou R$ 6 milhões em propina a uma agência de publicidade, a Muranno, a pedido do ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, que, segundo ele, teria recebido a ordem do ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli, que teria sido acionado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Leia a reportagem na íntegra no site Terra

Em VEJA: Doleiro volta a dizer

que Planalto sabia do petrolão

Deputados da CPI tomam depoimentos de 14 acusados de

participar do assalto aos cofres da estatal para abastecer

o PT e partidos aliados

 

 

 

 

 

 

Primeiro a depor na CPI da Petrobras, o doleiro Alberto Youssef voltou a afirmar nesta segunda-feira que o Palácio do Planalto sabia dos desvios para pagamento de propina na Petrobras, conforme VEJA revelou no ano passado. Os deputados foram incisivos na pergunta: o ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff sabiam do esquema criminoso? "Sim. Esta é uma opinião minha", respondeu o doleiro, em Curitiba (PR), onde ocorre uma nova etapa dos depoimentos.

Um dos delatores do petrolão, Youssef disse que, "em determinado momento, houve um racha no Partido Progressista (PP) e essa situação foi parar no Palácio do Planalto".

Questionado pelos parlamentares, Youssef apontou como alguns dos contatos no governo os ministros Ideli Salvatti, à época chefe da Secretaria de Relações Institucionais, e Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência. "O Paulo Roberto Costa [um dos operadores do esquema] sempre mencionava quando havia um imprevisto e alguma discussão entre os partidos que tinha de ter o aval do Palácio."

O doleiro também citou a anuência do Planalto ao narrar um episódio no qual o ex-ministro Paulo Bernardo (Comunicações) pediu dinheiro para bancar a campanha de sua mulher, a ex-chefe da Casa Civil Gleisi Hoffmann, ao governo do Paraná no ano passado. "Não tenho como imaginar que o Palácio não sabia."

Youssef: "O Planalto sabia de tudo!" Delegado: "Quem?" Youssef: "Lula e Dilma"

Também estão agendados para hoje os depoimentos do ex-diretor de Internacional Nestor Cerveró e do lobista Fernando Antônio Falcão Soares, o Fernando Baiano, ligados ao PMDB. Serão ouvidos ainda Mário Góes, Guilherme Esteves e Adir Assad, outros três lobistas acusados de operarem propina na Diretoria de Serviços, então cota do PT do propinoduto.

Nesta terça, serão ouvidos os depoimentos dos ex-deputados André Vargas (ex-PT) e Pedro Corrêa (PP). Eles estão presos na carceragem do Centro Médico Prisional, na Região Metropolitana de Curitiba.

PT e PP - Youssef repetiu partes de seus depoimentos que contrariam a defesa do ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Ele afirmou que encontrou pessoalmente com Vaccari em restaurantes e disse que, em 2014, o petista foi pessoalmente ao seu escritório, mas em um momento em que não estava presente para recebê-lo. O doleiro reafirmou também ter entregado pessoalmente remessa de 400.000 reais para a cunhada de Vaccari, Marice Lima, e ter feito outra entrega em dinheiro no diretório do PT.

Segundo o depoimento, PT e PP dividiram 6 milhões de propina que paga à agência Muranno Marketing Brasil, em 2010, a pedido do ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa.

Youssef já havia relatado essa parte do esquema de corrupção em depoimento à força-tarefa da Operação Lava Jato. Segundo o doleiro, o valor pago para a Muranno foi uma ordem do ex-presidente da Petrobrás José Sérgio Gabrielli a pedido do ex-presidente Lula.

Segundo ele, quem pagou a parte do PT foi o lobista Julio Camargo, representante no Brasil do Grupo Mitsui. "Em determinado momento, Julio Camargo fez os repasses da parte da conta do PT."

A Muranno apareceu no rastreamento de valores da empresa MO Consultoria, uma das usadas na lavanderia de Youssef. Os delatores explicaram que o valor era referente a uma extorsão que seria feita pelo dono da Muranno, Ricardo Villani, para que valores atrasados a receber da Petrobras fossem pagos. A Muranno prestou serviços para a Petrobras, em provas da Fórmula Indy, nos Estados Unidos sem contrato.

Cunha e Renan - O doleiro disse que não pode confirmar a remessa de dinheiro da empreiteira OAS para o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). "Recebi da OAS para que fosse entregue o recurso nesse endereço. Não sabia quem era morador dessa residência", disse Youssef aos parlamentares. "Eu recebia o endereço, o local, a cidade e quem iria receber", disse Youssef.

Segundo ele, quem fez a entrega foi o policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, conhecido como Careca. Sobre o depoimento de Careca, que implicou Cunha e o senador Antonio Anastasia (PSDB), o doleiro disse não saber se o policial disse a verdade. "Não tenho ideia. Não sei se ele inventou nomes, porque quem foi ao endereço foi ele."

Youssef disse não conhecer pessoalmente Cunha nem ter lhe repassado diretamente recursos. O doleiro disse também não conhecer ou ter dado dinheiro ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Porém, disse ter feito repasses para Fernando Baiano, operador do PMDB no esquema.

'Operação abafa' - O doleiro voltou a citar um pagamento de 10 milhões de reais para abafar as investigações de outra comissão parlamentar, que funcionou em 2010, destinada a apurar irregularidades na estatal. Segundo ele, o pagamento teria sido exigência do ex-presidente do PSDB Sergio Guerra, morto no ano passado.

"Em 2010, fui cobrar a empreiteira Queiroz Galvão para que ela pudesse pagar seus débitos na diretoria de Abastecimento da Petrobras e fui informado que eles teriam repassado 10 milhõesde reais a pedido do ex-diretor Paulo Roberto Costa", afirmou Youssef, citando um dos operadores do esquema.

(Com Estadão Conteúdo)

 

O Chile de Bachelet, uma lição para Dilma Rousseff? (por JUAN ÁRIAS, no EL PAÍS)

Até quando a presidenta do Brasil vai resistir a tomar uma decisão, pelo menos simbólica, mostrando que aceita com humildade que o país está em crise e irritado?

 

Chile e Brasil se pareciam muito dentro do continente latino-americano. Ambos os países manifestavam orgulho em se sentir moralmente superiores aos outros e de ter criado um milagre econômico, como destacou neste jornal John Carlin.

Os dois países estão governados por duas mulheres de valor, ambas de esquerda. O pai de Michelle Bachelet foi assassinado pela ditadura do general Pinochet e Dilma Rousseff foi torturada durante outra ditadura militar. Hoje, ambos os países e Governos e suas duas mandatárias vivem momentos de baixa, fustigados por uma grave crise política, econômica e ética. Já não podem se apresentar no continente como líderes da mudança. A popularidade das duas presidentas despencou do céu ao inferno. A de Rousseff, muito mais do que a de Bachelet.

Acusadas de não reagir diante da queda da confiança de seus respectivos eleitores, ambas tentando minimizar uma crise que as pesquisas revelavam com evidência, Bachelet acabou tomando uma decisão drástica como resposta aos protestos populares: substituir todo o Governo e anunciar que o Chile terá um novo ministério em um prazo de 74 horas.

E Dilma? Os últimos eventos mostram um Congresso no qual sua maioria se desgasta a cada hora, ao mesmo tempo em que a presidenta se vê obrigada a isolar-se e a proteger-se da rua por medo de ser criticada. Tudo isso somado a um partido que põe obstáculos às suas medidas de ajuste e a uma opinião pública que continua gritando “Fora Dilma” e “Fora PT”, um partido que é recebido com panelaços em vários Estados durante seu programa transmitido em cadeia nacional na TV, apesar de ter sido protagonizado pelo carismático ex-presidente Lula, diante da ausência da presidenta.

Se as crises nunca são iguais, não resta dúvida que as vividas pelo Chile e pelo Brasil, protagonizadas por dois Governos de esquerda e progressistas, parecem reflexos uma da outra. Assim como Bachelet tentou fazer em vão —acusada de ser lenta em suas reações frente à crise—, Dilma continua na ilusão de negar a crise, classificando-a de “passageira”, sem entender o sentimento das ruas, cada vez mais crítico contra ela e seu partido.

A mandatária chilena rendeu-se e passou uma rasteira em seu Governo para começar de novo. Talvez isso não seja suficiente, mas é um gesto com o qual tenta dizer à opinião pública que entendeu o motivo pelo qual perdeu a confiança dos eleitores. Até quando Dilma vai resistir a tomar uma decisão, pelo menos simbólica, mostrando que aceita com humildade que o país está em crise e irritado, à espera de algo que resgate sua confiança?

Em entrevista recente ao jornalista Roberto D'Ávila na Globo News, o senador do PSDB José Serra afirmou que o problema do Brasil não é apenas a corrupção ou a economia, mas sobretudo a fragilidade do Governo Dilma. “É um Governo fraco”, afirmou. Tão fraco que, como demonstra diariamente, açoitado e humilhado pelo Congresso Nacional, perdeu sua iniciativa diante da crise.

Dilma, em um gesto de Pilatos, lavou as mãos frente à crise terceirizando suas duas maiores responsabilidades: a econômica, nas mãos de Joaquim Levy, mais próximo da visão liberal da oposição do que da sua; e a política, ao aliado PMDB, na figura de seu vice-presidente Michel Temer, do partido que hoje já é de clara oposição no Parlamento.

Será suficiente para Dilma lavar as mãos para recuperar a confiança perdida dos 54 milhões de brasileiros que a reelegeram nas urnas? Ou necessitaria fazer, como no caso chileno, um gesto de ruptura? Um reconhecimento de que a gestão econômica de seu primeiro mandato foi equivocada e que provocou uma crise que a obriga a fazer ajustes que afetarão os trabalhadores e os mais pobres. Reconhecerá que a crise da Petrobras, uma empresa que esteve tantos anos sob seus cuidados, não foi apenas ética, mas também de má gestão e de falcatruas de políticos e de executivos sem escrúpulos, seus aliados, que transformaram a companhia no quintal de sua própria casa?

Quando os brasileiros gritam nas ruas “Fora Dilma”, talvez estejam esperando, pelo menos, um gesto inequívoco dizendo que a presidenta entendeu a crise e está disposta a enfrentá-la. Não enterrando a cabeça, nem terceirizando, mas oferecendo uma medida radical como a de Bachelet.

 

Livro de Mujica: Dilma valeu-se de espiões cubanos para convencê-lo a expulsar o Paraguai do Mercosul

Por Leonardo Coutinho, na VEJA.com:

Um livro dos jornalistas uruguaios Andrés Danza e Ernesto Tulbovitz revela que a presidente Dilma Rousseff interveio diretamente para punir o Paraguai depois que o congresso do país votou pelo impeachment do presidente Fernando Lugo, em 22 de junho de 2012. Uma Ovelha Negra no Poder, sobre o ex-presidente do Uruguai José Mujica, é a mesma obra que revelou confidências do presidente Lula sobre o mensalão.

Lugo sofreu impeachment por mau desempenho de suas funções a nove meses das eleições presidenciais no Paraguai. O posto passou a ser ocupado pelo vice-presidente, Federico Franco. Faz parte do jogo democrático ter instrumentos para afastar presidentes incompetentes, criminosos ou corruptos. No Paraguai, tudo ocorreu em obediência à Constituição, ainda que as votações no Congresso e no Senado tenham sido muito rápidas. Apenas um deputado e quatro senadores pediram a absolvição de Lugo. No total, 112 parlamentares votaram por “la condena”, pela condenação. O prazo para o presidente apresentar sua defesa foi curto, mas não violou as regras para o impeachment.

Argentina e Brasil sustentaram que o processo significava uma “ruptura democrática”, apesar de ter ocorrido em conformidade com as leis paraguaias. Para punir o governo interino, os governos dos dois países decidiram expulsar o Paraguai do Mercosul. Mas o uruguaio Mujica era contra a medida. O livro de Danza e Tulbovitz revela como o governo brasileiro o convenceu a mudar de ideia e como a presidente Dilma Rousseff foi fundamental para isso.

O trecho abaixo, contido no livro Uma Ovelha Negra no Poder, foi publicado no semanário Busqueda, do qual Danza, um dos autores da obra, é diretor de redação:

Quando Lugo foi destituído pelo Senado paraguaio e antes que se celebrasse a cúpula do Mercosul para resolver as sanções, uma das pessoas de maior confiança de Mujica recebeu uma chamada de Marco Aurélio Garcia, mão direita de Dilma.

“Dilma quer transmitir uma mensagem muito importante para o presidente Mujica”, disse o funcionário brasileiro em uma mistura de português e espanhol.

“Não tem problema, vamos estabelecer uma comunicação entre os dois presidentes”, foi a resposta do uruguaio.

“Não, não pode haver comunicação nem por telefone, nem por email. É pessoalmente”, argumentou o brasileiro.

Um encontro tão fugaz e repentino entre presidentes levantaria suspeitas, motivo pelo qual o governo brasileiro resolveu enviar um avião a Montevidéu para transportar o emissário de Mujica à residência de Dilma, em Brasília.

Assim foi feito, e quando uruguaio chegou, Dilma estava lhe esperando em seu escritório. A conversa formal sobre questões gerais durou apenas poucos minutos porque não havia muito tempo.

“Vamos ao que interessa”, interrompeu Dilma e o emissário tomou uma caderneta e começou a anotar o que a presidente brasileira informava. “Sem anotações”, disse ela e fez com que ele rasgasse o papel. “Esta reunião nunca existiu.”

Durante a conversa, Dilma mostrou a ele fotos, gravações e informes dos serviços de inteligência brasileiros, venezuelanos e cubanos, que registravam como foi gestado um “golpe de estado” contra Lugo por um grupo de “mafiosos” que, a partir da queda do presidente, assumiram o poder. “O Brasil necessita que o Paraguai fique de fora do Mercosul para, dessa forma, acelerar as eleições no país”, concluiu Dilma.

Na semana seguinte, no início do julho de 2012, todos os presidentes do Mercosul votavam, em uma cúpula na cidade argentina de Mendoza, a suspensão do Paraguai.

A Constituição Federal não deixa dúvidas. Em seu artigo 4°, estão previstos os princípios da política internacional brasileira, entre eles a autodeterminação dos povos e a não-intervenção. Esses valores são evocados como um mantra inclusive para justificar a apatia do governo petista frente a violações de direitos humanos em países admirados pelo partido, como Cuba e Venezuela. Se a revelação feita pelo livro estiver correta, Dilma não se sentiu constrangida em usar informações levantadas pelos espiões desses países para intervir numa questão doméstica do Paraguai.

Por Reinaldo Azevedo

 

Fonte: Terra + VEJA + el país

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