Renan chama de "ridícula" ausência de Dilma em rede nacional no 1º de Maio
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), classificou de "coisa ridícula" a ausência de um pronunciamento da presidente Dilma Rousseff em rede nacional de rádio e TV no Dia do Trabalho e disse que, na democracia, é necessário "deixar as panelas falarem", numa referência a possíveis manifestações populares.
O senador também fez críticas à articulação política do governo, comandada pelo vice-presidente da República e presidente do PMDB, Michel Temer.
Renan, que tem subido o tom nas declarações em relação a Dilma e ao governo, criticou o que chamou de "paralisia" do Executivo e defendeu um "pacto" pelo emprego, afirmando esperar que a presidente "compre a ideia" desse pacto.
"Não há nada pior do que a paralisia, do que a falta de iniciativa, do que o vazio. Nós fizemos a democracia para deixar as panelas falarem. As panelas precisam se manifestar. Nós precisamos todos ouvir o que as panelas dizem", afirmou a jornalistas, segundo a Agência Senado.
"Certamente a presidente Dilma não vai falar no dia 1º de Maio, porque não tem o que dizer", acrescentou.
Dilma decidiu não fazer um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV no Dia do Trabalho, comemorado em 1º de maio, optando por usar as redes sociais para, nas palavras do governo, "dialogar" com os trabalhadores e com a sociedade.
A decisão de não falar em rede nacional foi tomada depois que o último pronunciamento de Dilma deste tipo, feito no Dia Internacional da Mulher, provocou um panelaço contrário à presidente durante a transmissão do discurso em várias cidades do país.
"Essa coisa de a presidente da República não poder falar no dia 1º de Maio por não ter o que dizer é uma coisa ridícula. Isso enfraquece muito o governo", disparou Renan. Ele defendeu que, assim como há uma meta de inflação, o governo tenha também uma meta de emprego.
Questionado sobre as declarações de Renan, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto, afirmou que o governo não "teme" manifestações democráticas e argumentou que há conquistas a se comemorar neste 1o de Maio, como a medida enviada ao Congresso que estabelece uma política de valorização do salário mínimo até 2019.
O ministro acrescentou que a presidente irá, sim, se manifestar, mas por meio das redes sociais.
Praticamente ao mesmo tempo em que o presidente do Senado falava a jornalistas, a presidente anunciava, em reunião com centrais sindicais, a constituição de um fórum quadripartite para discutir diversas medidas ligadas a emprego, trabalho e previdência e para discutir temas como o fator previdenciário e a rotatividade no mercado.
"ARTICULAÇÃO DE RH"
Também nesta quinta, Renan criticou a articulação política do governo Dilma, comandada por Temer, e disse que o PMDB não pode adotar "o que de pior" faz o PT.
"O pior papel que o PMDB pode fazer é substituir o PT no que o PT tem de pior, que é o aparelhamento do Estado... O PMDB não pode transformar a coordenação política, a sua participação no governo, em uma articulação de RH, para distribuir cargos e boquinhas", disse.
"A condução do presidente Temer, a sua articulação, tem que ter como objetivo dar um fundamento à coalizão, qualificar a coalizão de governo", disse.
Renan foi enfático ao afirmar que "de forma nenhuma" participará da indicação de cargos no Executivo e disse que essa prática é "incompatível" com um Senado independente.
Apontado como afilhado político de Renan Calheiros, o ex-ministro do Turismo Vinícius Lage foi substituído neste mês no cargo pelo ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves, que teve o apoio do atual presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Após deixar o ministério, Lages foi nomeado por Renan seu chefe de gabinete.
O presidente do Senado também trava uma queda de braço com Cunha, por conta da tramitação do projeto de lei que regulamenta a terceirização.
Renan, que é contra o texto sobre terceirização aprovado na Câmara, já cobrou uma manifestação clara de Dilma sobre a proposta e criticou o ajuste fiscal proposto pelo governo ao Congresso que, no entendimento dele, é um "ajuste trabalhista".
Para o presidente do Senado, o governo ainda não cortou na própria carne ao realizar o esforço pelo reequilíbrio das contas públicas.
(Reportagem de Eduardo Simões, com reportagem adicional de Maria Carolina Marcello, em Brasília)