Análise da FOLHA: Moratória da crise está longe de ser decretada...

Publicado em 13/04/2015 09:20
POR IGOR GIELOW, DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A batida charada existencial do "copo meio cheio ou meio vazio" se aplica bem ao que ocorreu neste domingo, 12 de abril, segunda etapa das manifestações de rua contra o governo Dilma Rousseff.

Certamente há motivos para comemoração no Palácio do Planalto, mesmo com a propaganda interna informando a inevitabilidade de um "grande fracasso".

Afinal de contas, o movimento do 15 de março poderia ter mantido ou aumentado sua intensidade –embora em São Paulo, bastião mais vistoso do antipetismo hoje no país, as cenas ainda fossem algo impressionantes.

Esta é a visão "copo cheio", do ponto de vista governista. Foi trombeteada por seus apoiadores em redes sociais e, especialmente, por um certo jornalismo online financiado por verbas oficiais.

Na mão contrária, Dilma assistiu a 25 mil pessoas (segundo a PM local) irem à rua em seu quintal brasiliense. Público formado por funcionários públicos usualmente amáveis ao governo, qualquer que seja. Não foram os 45 mil de um mês atrás, mas longe da inexpressividade.

Em São Paulo, se insinua um cenário no qual os atos tendem a se consolidar ao estilo das "manifs" parisienses, um elemento perene do ambiente urbano.

Mais do que isso, o número que realmente importa neste fim de semana para o governo não é o de contagens feitas nas ruas. É o do Datafolha que mostrou uma estabilização da rejeição ao governo, além de comprovar que muito mais gente do que foi visto na avenida Paulista no domingo está a defender o impeachment de Dilma.

Novamente a lógica do copo se impõe para fins de discurso. Um otimista governista dirá que a popularidade de Dilma parou de cair e que o Planalto tem, a partir da reformulação de sua articulação política com o vice Michel Temer, espaço para tentar melhorar sua agenda pública.

Para o pessimista governista (ou um otimista oposicionista), qualquer governo com níveis de rejeição registrados pelo de Dilma não tem motivos para dormir bem à noite.

No registro do real, é notável que, se alcançar algum nível de governabilidade no Congresso, isso não resolve o problema da paralisia econômica do país ou dos investimentos engessados.

No meio do caminho, onde geralmente a realidade se encontra, o domingo trouxe algum respiro ao Planalto e mostrou uma oposição reticente para empunhar de fato bandeiras ainda incertas, dadas as condições políticas objetivas: estamos hoje mais num parlamentarismo branco comandado pelo PMDB do que à beira do impeachment de Dilma –e consequente unção da oposição.

Mas o alívio está longe, contudo, de ser profundo o suficiente para ser decretada a moratória da crise.

Editorial desta 2a.-feira: "Emprego em queda"

Dados do IBGE mostram aumento de pessoas procurando trabalho, fruto da deterioração geral da economia doméstica

Nos últimos dois anos, apesar da deterioração geral da economia brasileira, o desemprego permaneceu baixo, enquanto a renda do trabalho avançou de forma razoável. O período de graça, no entanto, parece ter ficado para trás.

Segundo dados da Pnad-Contínua, pesquisa de abrangência nacional do IBGE iniciada no ano passado, a taxa de desemprego atingiu 7,4% no trimestre encerrado em fevereiro --no mesmo período de 2014, o índice estava em 6,8%.

O aumento da desocupação decorre da criação de vagas a um ritmo menor que o da expansão da força de trabalho. O crescimento da renda salarial (1,1%), por sua vez, representa cerca de um terço do registrado há um ano.

Os dados da Pesquisa Mensal do Emprego, feita pelo IBGE em seis regiões metropolitanas, mostram resultados piores: geração de vagas e de renda em terreno negativo, indicando desaceleração ainda mais intensa nas grandes capitais.

O mercado de trabalho normalmente leva mais tempo para sucumbir ao quadro de desalento porque o primeiro ajuste diante de uma contração econômica se dá nas horas trabalhadas. As empresas cortam a produção e evitam demitir, para não incorrer em custos nem desperdiçar o investimento em treinamento dos profissionais.

Quando a recessão é persistente, porém, passa a ser inevitável reduzir a folha de pagamento.

Além disso, houve, nos últimos anos, outro fator importante para a baixa desocupação: uma parcela menor que a usual da população considerada economicamente ativa partia em busca de trabalho.

Uma das explicações para tal comportamento está nas camadas mais jovens da população. Segundo Naercio Menezes Filho, em artigo publicado no jornal "Valor Econômico", em 2013 havia 19 milhões de pessoas de 15 a 24 anos empregadas ou procurando emprego, 4 milhões a menos do que em 2005.

Talvez uma influência seja a situação econômica dos adultos do domicílio, o que afeta as decisões dos jovens sobre prolongar os estudos ou procurar trabalho. O crescimento da renda, em especial das mulheres, talvez por causa do aumento do salário mínimo (acima da inflação), pode ter facilitado a permanência na escola.

Desenha-se agora efeito oposto. A degradação do quadro econômico, ao destruir empregos e dificultar a continuidade dos ganhos de renda dos adultos, pode forçar muitos jovens a acelerar sua entrada no mercado de trabalho num momento desfavorável.

Por todos esses fatores, é plausível que o desemprego continue crescendo depressa nos próximos meses --e, de novo, os erros cometidos pelo governo na gestão da economia recairão desproporcionalmente sobre os mais frágeis.

 

Ediorial do ESTADÃO: "Desemprego na contramão"

O Brasil continua na contramão da economia mundial e isso é confirmado pelos novos números do desemprego. Enquanto o mercado de trabalho melhora na maior parte dos demais países, aumenta a porcentagem de brasileiros com dificuldade para conseguir uma vaga. A piora das condições de emprego é apontada por todos os levantamentos oficiais. A desocupação chegou a 7,4% da força de trabalho no trimestre dezembro-fevereiro, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, conduzida em cerca de 3.500 municípios pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre outubro e dezembro havia ficado em 6,5%.

O cenário brasileiro é bem pior que o de várias economias avançadas e também emergentes. Já era assim no ano passado, embora a presidente Dilma Rousseff ainda insistisse em falar de um Brasil razoavelmente próspero e seguro num mundo em crise. Ela estava errada, assim como esteve durante os quatro anos de seu primeiro mandato, quando o Brasil cresceu muito menos que os demais emergentes e acumulou enormes desajustes nos preços, nas finanças públicas e nas contas externas. O descompasso entre a economia brasileira e as dos países governados com alguma seriedade fica muito claro quando se tomam, por exemplo, os dados de novembro a janeiro dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Nos três meses terminados em janeiro, o desemprego médio das sete maiores economias capitalistas (G-7) ficou em 6,1%. Esse grupo inclui Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá. No Brasil já estava em 6,8%, de acordo com a Pnad Contínua. França e Itália exibem taxas de desemprego maiores que a brasileira, mas os demais países do grupo, assim como a maior parte dos membros da OCDE, estão em condições muito melhores. A desocupação no Brasil tem sido maior, há meses, que a de 18 dos 34 países da organização, incluídos Coreia, Suíça, Chile e México, além de 5 das potências do G-7.

Desse descompasso podem resultar mais dificuldades para o Brasil. A redução do desemprego nos Estados Unidos (taxa de 5,5% em fevereiro) abre caminho para o aumento de juros, talvez já neste ano, pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA). Se isso ocorrer, o acesso ao crédito internacional ficará mais difícil para países e empresas com problemas financeiros.

Esse é mais um motivo para o governo brasileiro se empenhar na arrumação de suas contas e evitar mais um corte na nota de crédito soberano. A Petrobrás, assolada pela corrupção e prejudicada por graves erros políticos do governo petista, já teve de recorrer, há poucos dias, a uma fonte especialmente acessível, um banco estatal da China. O controle de preços de combustíveis foi um desses erros muito custosos.

Outros números oficiais indicam também a piora do mercado de empregos no Brasil. A pesquisa mensal de emprego e desemprego do IBGE, realizada somente nas seis maiores áreas metropolitanas, apontou um aumento da taxa de desocupação de 5,3% em janeiro para 5,9% em fevereiro.

O Cadastro Geral do Ministério do Trabalho mostrou uma ligeira redução - de 0,01% - na criação mensal de vagas com registro em carteira em fevereiro. Em 12 meses, o fechamento de postos de trabalho foi 0,11% maior que a abertura, por causa do mau desempenho da indústria de transformação, da indústria extrativa mineral e da construção civil, com saldos negativos de 2,91%, 2,78% e 6,81%. Os números, mais uma vez, confirmam o fiasco da política industrial e também dos programas de infraestrutura e de habitação popular, alardeados como grandes realizações do PT.

Com ritmos diferentes entre países, a economia global se recupera e o desemprego diminui, embora continue alto em partes da Europa. Na maior parte do mundo a inflação é baixa. Enquanto isso, o governo brasileiro inicia com atraso um ajuste penoso e inevitável, num cenário de desemprego em alta e inflação elevada. Sair da contramão pode ser muito difícil.

 

ANÁLISE DE VINICIUS MOTA, NA FOLHA: 

Rainha, enfim

SÃO PAULO - Premonitórias foram as palavras do publicitário João Santana logo após a primeira eleição de sua pupila Dilma Rousseff. Ela estaria fadada a ocupar "a cadeira da rainha", uma lacuna na "mitologia política e sentimental brasileira".

A profecia agora se cumpre. Como ocorre com o monarca no Reino Unido, Dilma Segunda se senta no trono, mas não governa. Acalentou personificar a força da mulher e das minorias, mas entregou o cetro a quatro homens brancos, que farão o oposto do prometido na campanha.

Esse arremedo de república (ou, caricaturalmente, de monarquia) parlamentarista é a resultante não controlada nem planejada de um processo político estrambótico, em meio à deterioração da economia e da popularidade presidencial e à eclosão nas ruas de um movimento de centro-direita.

O arranjo político deve, por um momento, estancar a sangria em que se converteu a governabilidade nos últimos 90 dias. A popularidade da presidente parou de piorar, há sinais de distensão no Congresso, e a agenda de centro-esquerda do PT foi trocada por uma de centro-direita, liberal na economia e conservadora nos costumes e na distribuição de danos.

Desse modo o "governo de fato" se sintoniza com o que parece ser o sentimento majoritário circunstancial da sociedade. Amolda-se também ao tacão dos credores do governo e do país, que exige recomposição mínima de equilíbrio financeiro.

Fruto do improviso, esse balanço exótico de forças, que faz de Dilma uma presidente-observadora, não apresenta resposta duradoura à crise. Uma camada de gelo fino se cristalizou sobre um mar tumultuoso que continua a agitar-se logo abaixo.

A degradação da renda e do emprego da população apenas se inicia e veio para ficar por um longo tempo. O escândalo da corrupção partidária ainda tem muitos cartuchos para queimar. Faltará pão para saciar a fome de políticos vorazes.

 
Em VEJA: COLUNA Direto ao Ponto, de Augusto Nunes:

Os embusteiros que ignoram o recado das ruas agonizam brincando com fogo

O impeachment chega ao canteiro central da Paulista (foto de Luzia Lacerda)

Pela segunda vez em menos de um mês, centenas de milhares de manifestantes, espalhados por mais de 500 municípios de 22 Estados e do Distrito Federal, saíram às ruas neste 12 de abril para condenar a corrupção impune e a incompetência endêmica, ambas institucionalizadas pelos governos lulopetistas ─ e exigir o imediato despejo da presidente Dilma Rousseff. Em qualquer paragem do planeta, tamanha onda de atos de protesto promovidos pela oposição real (e agora majoritária) seria um fato político de alta relevância.

É muito mais que isso num Brasil em que só se vê multidão ao ar livre no Carnaval, na parada gay, no réveillon ou nas grandes celebrações evangélicas. Trinta anos depois da campanha pelas Diretas-Já, o Brasil decente redescobriu a rua ─ e vai aprendendo que esse é o caminho mais curto para o futuro. Duas mobilizações de grosso calibre bastaram para chancelar a mudança de dono dos espaços urbanos aparentemente expropriados pelo PT. As ruas agora pertencem aos país que pena e presta. Passaram ao controle dos incontáveis democratas unidos em torno de palavras de ordem: Fora Dilma! Fora PT! Fora Lula! Fora corruptos!

Unificadas as inscrições nos cartazes e faixas, integrantes dos maiores grupos envolvidos na organização do movimento Impeachment Eles vêm desmatando trilhas que contornam armadilhas e tdriblam tocaias com a determinação de quem só admite descansar depois de atingidos os alvos prioritários e lancetados os tumores que determinam a indignação coletiva. Há pouco, participei na TVEJA de um debate sobre o 12 de abril ao lado de Joice Hasselmann, Carlos Graieb, Marco Antonio Villa e Ricardo Setti. Não deixem de ver o vídeo logo acima. Lá está tudo o que tenho a dizer sobre mais um dia com alguns parágrafos já assegurados nos livros que tentarão decifrar estes tempos estranhos.

“Abril é o mais cruel dos meses”, avisa o poeta T. S. Elliot num verso de The Waste Land. O primeiro trimestre inteiro foi impiedoso com Dilma e seu partido, mas o quarto mês do ano tem sido exemplarmente feroz. Nesta sexta, o índice da inflação anual e a taxa de desemprego passaram a rondar a fronteira dos dois dígitos. No sábado, a constatação menos desoladora extraída da pesquisa Datafolha informou que o raquítico índice de aprovação da governante à deriva não piorou. No domingo, Hoje, os acólitos de Dilma e os devotos de Lula quase sucumbiram a um surto de euforia ao saberem que as manifestações de rua foram menos portentosas que as de 15 de março.

Talvez sejam apenas cínicos. Talvez estejam homiziados num mundo imaginário. Em qualquer hipótese, os incapazes capazes de tudo não entenderam nada, não aprenderam nada. Pior: os parceiros de bando nem desconfiam que agonizam brincando com fogo.

(por Augusto Nunes)

 

Atos do PT x Atos anti-Dilma (em números)

Número de manifestantes nos maiores atos do PT, segundo a PM:

- 13 de março (SP): 12 mil pessoas;

- 7 de abril (Brasília): 2,5 mil pessoas. (Em SP, foram menos de 200, mas estou sendo generoso, já que o PT alega ter mandado a tropa paulista também para o DF.)

Queda de 79,2%.

Número de manifestantes nos atos anti-Dilma em São Paulo, segundo a PM:

- 15 de março: 1 milhão de pessoas;

- 12 de abril: 275 mil pessoas.

Queda de 72,5%.

Comparação direta:

1º ato principal: Manifestantes anti-Dilma venceram por 988 mil pessoas.

2º ato principal: Manifestantes anti-Dilma venceram por 272,5 mil pessoas.

Queda do número de petistas foi 6,7% maior que a queda do número de manifestantes anti-Dilma.

Conclusão:

Vencemos em todos os aspectos - sem contar que os atos de domingo se deram em 24 estados mais Distrito Federal, reunindo um total de 700 mil pessoas em centenas de cidades.

O partido anti-Dilma é hoje o maior do Brasil e sua capacidade de mobilização nacional é muito superior à do PT.

Sem central sindical, transporte gratuito, boquinha para defender na máquina do Estado e cachê de 35 reais, pão com mortadela e boné.

Vitória de goleada também no placar moral

* Como comentou um leitor:

Felipe Moura Brasil
https://www.veja.com/felipemourabrasil

 

 

12 de abril: Caiado nas ruas, Aécio no sofá

Ronaldo Caiado (DEM-GO) foi às ruas.

Aécio Neves (PSDB-MG) ficou em casa, com medo da propaganda do PT.

Enquanto o senador tucano não divulga sua foto de indignado de sofá, vai uma antiga mesmo.

Não é mesmo de hoje que ele terceiriza o trabalho de oposição para o povo brasileiro.

Aécio amarelão no sofá; Caiado de amarelo com Lobão na rua. “Basta” de amarelar

Felipe Moura Brasil
https://www.veja.com/felipemourabrasil

 

12 de abril: Vídeo do discurso de Felipe Moura Brasil contra Dilma, Lula, PT e Foro de SP, editado com provas

Dei um breve recado no carro de som do ato anti-Dilma em Copacabana neste domingo.

Os líderes do Movimento Brasil Livre pediram, ali na hora, que eu falasse um pouco do Foro de São Paulo e de Lula para completar os protestos contra Dilma Rousseff.

Os manifestantes vaiaram o petista e aplaudiram o juiz federal Sergio Moro e os procuradores da Operação Lava Jato.

Editei o vídeo do discurso, intercalando as imagens que comprovam minhas palavras (e, para mais informações, basta ver os links no fim deste post).

Obrigado pelo carinho dos leitores na orla. Foi uma alegria.

Abaixo, manifestantes fazem uma enorme fila para assinar o pedido de impeachment de Dilma Rousseff, ao som da minha música “Renuncia que dói menos”. Grande momento.

Saiba mais:
Conheça o Foro de São Paulo, o maior inimigo do Brasil
O Belo Monte de 100 milhões de reais
A campanha criminosa de Dilma: veja as denúncias
Minha música anti-Dilma: “Renuncia que dói menos”

Felipe Moura Brasil
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Fonte: Folha + Estadão + VEJA

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