"LULA IMITANDO GOEBBELS - Quem só comunica também se trumbica", por JOSÉ NÊUMANNE

Publicado em 07/04/2015 21:21
Dilma já mentiu tanto que nem marqueteiro achará alguma verdade capaz de ressuscitá-la (em O Estado de S. Paulo)
Quem é que o padim Lula de Caetés pensa que engana com essa lorota de que a enorme crise que tornou sua afilhada Dilma Rousseff uma pata manca no Palácio do Planalto se deve à desarticulação política de Aloizio Oliva, que usa o sobrenome da mãe, Mercadante, para ninguém se tocar de que o pai era figurinha carimbada na ditadura militar?
Ao completar seu terceiro mês de mandato um dia depois de o golpe de 1964 ter completado 51 anos, a escolhida dele empatou com José Sarney, recordista absoluto de impopularidade desde 1989, com 64% de respostas “ruim” ou “péssimo” à pergunta do Ibope sobre o desempenho de seu governo. Com uma má notícia por dia, alternando recordes negativos na economia com revelações de novas gatunagens ou anúncios de medidas impopulares para tentar corrigir o incorrigível, ninguém precisa ter um sexto sentido premonitório para prever que não demora muito para ela sair de lanterna em punho pelos desvãos e porões palacianos onde tenta se esconder da plebe. E enquanto a pesquisa não revela o novo retrato, Sarney virou arroz de cuxá nos bailes do Planalto Fiscal.
Aí padim tirou do baú seu sermão de profeta da barcaça que afunda ao peso dos ratos do porão. Segundo a colega Vera Rosa, Sua ex-Excelência intensificou a pressão sobre a pupila para ela modificar a desarticulação política do governo, concentrando fogo no filho do general: “Mercadante vive falando de rating pra cá, rating pra lá. Que rating, que nada! A crise é política e o governo tem que resgatar a confiança. O resto vem naturalmente”. Resto de quê, cara hirsuta? Lula tem motivos para não gostar do Mazarino do cerrado. Pois foi surrado por Fernando Henrique no primeiro turno da eleição presidencial de 1994 após ter levado em conta a falácia dele de que o Plano Real seria estelionato eleitoral. E depois chamou de “aloprados” seus asseclas que falsificaram dossiê contra José Serra na disputa da eleição estadual paulista de 2006. Mas essa é uma questão dele e Dilma não abre mão do direito de errar.
Na última pesquisa Datafolha, em que a avaliação de “bom” ou “ótimo” do governo federal desceu a cabalísticos 13%, o Congresso Nacional foi lembrado positivamente por apenas 9%. Devoto praticante da verdade pela metade, a mais enganadora das formas da mentira, o demiurgo do ABC só olhou para um lado da questão. Sim, é verdade que a relação da presidente com o Congresso é péssima, como atesta pesquisa da consultoria política Arko Advice, que ouviu 102 deputados federais de 22 partidos e constatou que 61% deles avaliam como “ruim” ou “péssimo” o convívio do Legislativo com o Executivo. Mas a verdade completa é que somente melhorar tal relação em nada tornará a “comandanta” mais popular.
De um lado, porque a imagem de deputados e senadores está ainda mais emporcalhada que a dela. De outro, porque as boas relações entre esses dois Poderes dependem muito menos de qualidades que Oliva não ostenta do que da gana dos parlamentares por um butim palaciano cada vez mais escasso nestes idos de vacas magras. O convívio entre os dois lados da Praça dos Três Poderes só vai melhorar quando houver mais verbas e cargos a distribuir. Se houvesse, nenhum congressista se melindraria com o chefe da Casa Civil lhe fazendo ouvidos de Mercadante nem com o estilo “deixa que eu cuspo” da chefona irritadiça.
O PMDB desconfia da irrelevância de articulação política para salvar o que resta deste desgoverno. Por isso Eliseu Padilha hesitou em aceitar o lugar de Pepe Nada Legal Vargas. Embora tudo leve a crer que ele se arrastará Ladeira do Pelourinho abaixo até o canto do cisne de 2018. Seu desprestígio crescente não resulta da falta de saliva em corredor, mas da sobra de material orgânico à tona sempre que se levanta algum tapete ou capacho. As obras não iniciadas ou atrasadas em 57% da rede de saneamento básico no Brasil passaram a ser a metáfora pronta ao alcance do nariz.
Na verdade, Dilma mentiu tanto que nem seu espírito santo de orelha, João Patinhas Santana do Bendegó, será mais capaz de resgatar alguma verdade que ela tenha dito por acaso e dela criar uma peça publicitária para ressuscitá-la neste pós-Páscoa. Tudo depõe contra isso: da delação premiada de Paulinho de Lula às fotografias em que ela foi flagrada ao lado do cão de guarda do Partido dos Trabalhadores na Petrobrás, Renato Duque. Na imagem que esboroa a olhos nus, os restos de verniz de sua honestidade pessoal, que evitam um processo de impeachment, são apagados por pegadas de sua protegida Erenice Guerra no cofre da Viúva. Sob o manto protetor de Dilma, Erenice, esse embrião de Graciosa Foster no Ministério de Minas e Energia e na Casa Civil, para a qual – suprema infâmia contra a Pátria – ela a indicou, prosperou à sombra do ancestral benefício da dúvida. A Operação Zelotes ameaça revelar a explicação para a ascensão social que moveu a fiel factótum de uma cidade-satélite para as margens do Paranoá.
Como sabe disso tudo e de muito mais, Lula não acredita nas próprias bazófias de intriga florentina contra o filho do general. Logo ele, que vendeu à Nação a suprema inverdade da gerentona que entrará para a História como o pior presidente da República! E que agora recorre ao velho truque de continuar enganando para não se enganar nem ser enganado. Não o faz por burrice, pois inteligência tem de sobra, ou alienação, por mais soberba que exiba e arrote. Mas, sim, porque não têm saída. Só lhes resta apostar na sorte, essa deusa caprichosa e cega, que sempre esbanjaram. Lula não confia em Dilma, mas na própria capacidade de evitar que ela repita a saga do Pedro da lenda infantil, devorado pelo lobo diante da omissão da aldeia que, após ouvir muitos pedidos de socorro mentirosos, não lhe acudiu.
Lula conta com a mágica de Goebbels, que fabricava verdades de mentiras somadas. É que Chacrinha disse: “Quem não se comunica se trumbica”. Mas não contou que “quem só comunica também se trumbica”.
(José Neumanne é jornalista, poeta e escritor)

 

Governo e PT perdem apoios

editorial de O ESTADO DE S.PAULO

 

Partidos, sindicatos e organizações sociais. É com base nesse tripé e em políticas econômica e social populistas que o PT tem conseguido até agora se manter no poder. Enquanto uma conjuntura internacional favorável ajudou e o governo tinha gordura para queimar, foi tudo festa. Mas depois que o mundo mudou e Dilma não percebeu, mantendo escancarada a cornucópia do Estado-provedor, a nau lulopetista, que a essa altura já não fazia distinção entre governo e partido, começou a fazer água. Os indicadores econômicos e sociais despencaram, carregando junto a credibilidade e a popularidade da presidente. Eram os primeiros sintomas do esgotamento do modelo lulopetista. Hora da debandada dos partidos, sindicatos e organizações sociais.

Depois da pesquisa CNI/Ibope que na semana passada confirmou a tendência e revelou que 74% dos brasileiros não confiam na presidente da República, multiplicaram-se na mídia manifestações de líderes partidários, de dirigentes sindicais e de organizações sociais fazendo críticas e sinalizando a disposição de manter distância do Palácio do Planalto.

Na área política, a dissolução da "base aliada" é consequência menos da crise econômica do que da incompetência política de Dilma, que iniciou o segundo mandato imbuída da determinação de consolidar sua hegemonia pelo enfraquecimento da força política de seu mais importante aliado, o PMDB. Deu no que se vê. A tal base aliada continua, no papel, a mais ampla de que um governo jamais dispôs na história da República. Mas Dilma é refém dos presidentes peemedebistas do Senado Federal e da Câmara dos Deputados e sofre derrotas sucessivas no Congresso.

A base sindical é um dos esteios do PT desde sua origem. Concentra-se principalmente na maior central, a CUT, que leva seus filiados às ruas em manifestações "espontâneas" de apoio ao governo que a manipula. Mas até a CUT já não é mais a mesma. Além de ter sido incapaz de evitar a desfiliação de sindicatos importantes nos últimos meses - como o dos professores de Porto Alegre -, a central, que jamais disfarçou sua condição de braço sindical do PT, já registra o surgimento de um movimento oposicionista interno. São dirigentes jovens que percebem o risco que significa, em termos de fidelidade de seus filiados, manter-se incondicionalmente atrelada aos interesses do governo. De acordo com dados do Ministério do Trabalho, quando Dilma assumiu o governo, a CUT representava 38,2% do total de trabalhadores registrados. Hoje são 33,6%.

Para manter o apoio "das ruas", os dirigentes petistas sempre contaram com o apoio de toda sorte de organizações sociais, até porque muitas delas constituíram o núcleo fundador do partido. Mas hoje até as organizações sociais mais politicamente ativas, como o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), formulam críticas pesadas ao governo petista.

De modo geral, entre partidos, organizações sindicais e sociais que historicamente dão apoio ao PT, a crítica principal - até porque é de entendimento mais fácil pelo público em geral e envolve conteúdo de forte apelo social - é a de que as medidas de ajuste fiscal que estão sendo propostas para botar em ordem as contas públicas, devastadas pela gastança irresponsável, prejudicam apenas os interesses dos trabalhadores.

Em entrevista do jornal Valor, o líder do MTST, Guilherme Boulos, centra suas críticas exatamente nesse ponto: o caráter "antipopular" do ajuste fiscal proposto pelo governo. "Não se joga a conta da crise no colo dos trabalhadores, dos mais pobres." Mas Boulos não se arrisca, como em geral todos os críticos do ajuste fiscal, a indicar caminhos concretos para resolver o problema das contas governamentais. Prefere ser genérico: "Vai ser preciso fazer um novo projeto político. Não dá mais para haver avanço popular sem reformas estruturais". E explica que tanto Lula quanto Dilma sempre tentaram "conciliar" os interesses populares com os "da banca", o que agora não é mais possível: "A política de fazer conciliação se esgotou. (...) Achar que se governa sem comprar briga é uma ilusão. Dilma preferiu comprar briga com o povo". E ameaça: "Do jeito que as coisas estão, é difícil pensar em 2018. Tem que ver se esse governo termina 2015". Boulos parece sugerir que, se depender do "povo", não termina.

 

O Brasil visto de fora

por ILAN GOLDFAJN (ECONOMISTA-CHEFE E SÓCIO DO ITAÚ UNIBANCO), artigo em O ESTADO DE S.PAULO

 

Acabo de voltar do exterior. A sensação é de déjà vu, de um passado distante. Explicar o Brasil voltou a ser complexo. "Li sobre as denúncias, passeatas, déficits e crises; o que acontece no Brasil?", perguntou-me um investidor estrangeiro. A resposta inevitavelmente tende a ser longa e começaria com um "veja bem". Mas faço um esforço para resumir. Foi um ciclo favorável, não investimos o suficiente e não reconhecemos seu fim a tempo. Insistimos em voltar ao passado, a ponto de precisarmos ajustar tudo simultaneamente no presente para evitar uma crise maior no futuro. Porém nada é estanque: com a depreciação recente do real, já há investidor externo de olho em oportunidades. A bolsa subiu nos últimos dias por causa disso.

Todas as economias da América Latina - desde Argentina e Venezuela até Chile e Peru - estão enfrentando queda de crescimento. Sinal de um fator comum: o fim do ciclo externo favorável - boom de commodities e crescimento na China, capital abundante no mundo. Até denúncias e investigações estão ocorrendo em outros países, como México e Chile, o que indica que a tolerância a desvios é também cíclica.

A desaceleração é geral, mas não igual. A intensidade da desaceleração econômica depende das políticas domésticas. Algumas políticas amplificam os choques externos, outras criam resiliência. Há exemplos de ambas na América Latina. Na Argentina a economia está no seu segundo ano de recessão, enquanto na Colômbia o crescimento ainda é razoável (acima de 3%).

Não vejo perspectiva realista de recuperação robusta dos preços das commodities. Quando os preços das commodities são analisados desde 1913 em termos reais (isto é, preços em dólar deflacionados pela inflação nos EUA), observa-se uma tendência lenta e persistente de declínio (ver Macro Visão: Declínio secular das commodities, de volta à tendência? em bit.ly/declinio_commodities).

O ciclo recente de forte alta dos preços iniciado em 2002 (associado ao crescimento da China) foi precedido de três ciclos: o primeiro, entre 1915 e 1919, associado à 1.ª Guerra Mundial; o segundo coincidindo com a 2.ª Guerra Mundial e a reconstrução da Europa no pós-guerra; e o terceiro começando com a elevação dos preços do petróleo em 1973 e continuando com o repasse de custos maiores de energia às demais commodities.

A queda recente dos preços entre 2011 e 2014 apenas os trouxe de volta à tendência de longo prazo. Os preços não estão deprimidos sob uma perspectiva histórica e, portanto, não é de esperar um retorno rápido. Na realidade, os ciclos de alta anteriores foram sucedidos por undershootings, preços caindo para abaixo da tendência, por um tempo.

O declínio secular é concentrado nos preços das commodities agrícolas, mas os preços dos manufaturados também caíram em termos reais. A queda de ambos é em relação aos preços de serviços, que têm subido em termos reais.

As perspectivas, portanto, são de crescimento menor na América Latina, afetado pelo preço dessas commodities. É claro que a perspectiva de recuperação global, devida à retomada do crescimento nos EUA, ajuda. Mas para um patamar menor que o projetado antes da crise.

No Brasil estamos em plena temporada de ajustes. Identificamos ao menos cinco relevantes em curso: fiscal, parafiscal, realismo tarifário, balança de pagamentos e meta de inflação.

O ajuste fiscal são as metas de superávit primário (de -0,6% para 1,2% do PIB) e da dinâmica da dívida pública. É o principal ajuste para reconquistar a credibilidade e permitir a recuperação da economia.

O ajuste parafiscal refere-se aos gastos (ou crédito) fora do Orçamento (fora da meta de superávit primário), mas que são parte do esforço de recuperação da responsabilidade fiscal.

O realismo tarifário é o ajuste dos preços administrados (gasolina, eletricidade, etc.) que ficaram defasados nos últimos anos.

O ajuste na balança de pagamentos é o esforço de redução do déficit em conta corrente (de 4% para menos 2,5% do PIB). O fim do programa de intervenção diária de venda de swap e a forte depreciação (de R$ 2,65 por dólar no começo do ano para R$ 3,1 por dólar) fazem parte desse ajuste.

O último ajuste é a busca do centro da meta de inflação de 4,5%, a partir de uma inflação acima de 8% este ano.

É muito ajuste de uma só vez. Cada ajuste é custoso e, portanto, desafiador. A implementação dos vários ajustes simultaneamente é ainda mais difícil. Mas os ajustes (pelo menos o fiscal e o parafiscal) são necessários para a retomada da confiança no curto prazo e a recuperação do crescimento. Perseverar é fundamental para avançar.

Mas mesmo implementados, os ajustes são "apenas" reparos, que recuperam as disciplinas fiscal, parafiscal, monetária, cambial e de preços administrados, e não reformas propriamente ditas. As reformas, como a tributária, a previdenciária, a do comércio exterior e a da educação (ou, simplesmente, muitas pequenas medidas que facilitariam a vida), são as que alavancam o crescimento via aumento da produtividade. Fica difícil imaginar, na atual situação, capacidade para implementar os ajustes e as reformas ao mesmo tempo.

Mas os ajustes têm seu efeito. À medida que o pior cenário ficar mais distante, os preços mais depreciados (taxa de câmbio e outros ativos) devem voltar a atrair interesse em investir no Brasil.

Não é necessário (nos atuais preços) ter grandes anúncios, por não serem esperados. Basta evitar a perda do grau de investimento pelo Brasil e o descontrole (econômico, político, etc.). Na ausência de estabilidade e sob o risco do pior cenário, os atuais preços não atraíram interessados, com receio de perdas de capital (no jargão dos investidores, "os preços ficarão ainda mais baratos").

O mundo observa-nos como num reality show, mas está preocupado com o outro BBB: o da classificação de risco do Brasil. Não haverá volta dos investidores de forma permanente sem a implementação dos ajustes ora em curso.

 

 

Fonte: O Estado de S. Paulo

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