Na FOLHA: PT, Tremendo na base... (a cada dia pagamos R$ 1 bilhão em juros)

Publicado em 06/04/2015 15:26
na edição da Folha de S. Paulo desta 2a.-feira

Tremendo na base (na coluna PAINEL, por VERA MAGALHÃES)

Pesquisas internas do PT revelaram que a crise do segundo mandato de Dilma Rousseff provocou um "derretimento da base social" do governo, nas palavras de um cacique da sigla. Trabalhadores e famílias beneficiadas por políticas de inclusão de gestões petistas dizem não tolerar mais a corrupção e reclamam que as medidas recentes do Planalto não condizem com as bandeiras defendidas na campanha. "Perplexos", dirigentes dizem que o novo cenário "dificulta a reação" do partido.

Sem palavras A cúpula do PT tem feito reuniões periódicas em busca de um discurso para reconquistar os grupos tradicionalmente vinculados ao partido. Até agora, não conseguiram nenhuma fórmula mágica.

Prognóstico Em conversa recente com aliados, o ex-presidente Lula avaliou que a crise de popularidade de Dilma é "recuperável", mas destacou que o governo precisa de mais "atitude".

 

EDITORIAL DESTA TERÇA-FEIRA:

Pedagogia e demagogia

Foi demagógica, além de imprudente, a enésima vinculação feita por Dilma Rousseff (PT) entre melhora do ensino público e recursos do pré-sal. O discurso da presidente na posse do novo ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, indica que ela não assimilou o principal nessa matéria.

Há imprudência, por certo, em contar com o maná combustível no momento em que a Petrobras se afunda num escândalo que prejudicará por vários anos sua capacidade de investimento. Há demagogia porque a carência de recursos já não é mais o principal problema no âmbito da educação.

Como mostrou esta Folha no sábado (4), o gasto público no setor alcançou 6,6% do PIB em 2013. É mais que a média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, 5,6% (dado de 2011, o mais recente).

Quase todas as nações da OCDE são mais ricas que o Brasil e contam com proporção menor de jovens na população, o que multiplica o dispêndio anual por aluno. Nos EUA, ele era da ordem de US$ 12.600 (R$ 39.300) em 2013, mais que o sêxtuplo dos R$ 6.200 daqui.

A despesa brasileira por estudante já foi muito menor, contudo. Uma década antes, era de meros R$ 2.200 (em valores corrigidos para 2013); aumentou 180% desde então. O avanço é claro.

Menos evidente é o progresso educacional propiciado pelo crescimento das verbas. O Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) do ensino médio subiu de 3,4 (2005) para somente 3,7 (2013); nas primeiras séries do ensino fundamental, colheu-se resultado um pouco melhor (de 3,8 para 5,2).

Levantamento do Instituto Alfa e Beto citado no jornal "O Globo" indica que Estados que gastam mais nem sempre obtêm as melhores avaliações. O Distrito Federal despende 116% mais que São Paulo, mas a rede estadual paulista tem a melhor nota no Enem, enquanto o DF fica em terceiro lugar.

A Fundação Getulio Vargas, por seu lado, investigou a relação entre royalties do petróleo e ensino em 60 municípios de 15 Estados beneficiados desde os anos 1990. Comparando cidades semelhantes com e sem royalties, demonstrou que não houve diferença significativa na evolução de indicadores como anos de estudo.

Melhorar o ensino público no Brasil é um objetivo incontornável, mas há muitos obstáculos pela frente. Fixar-se no aumento dos gastos para chegar a 10% do PIB sem cuidar da eficiência no dispêndio é o mesmo que pensar apenas no combustível, sem ter ideia nem mapa de onde se quer chegar.

 

VINICIUS MOTA

A cada dia o seu bilhão

SÃO PAULO - Nos 12 meses compreendidos entre março de 2014 e fevereiro de 2015, o setor público brasileiro pagou R$ 344 bilhões de juros aos credores de sua dívida, ou R$ 1 bilhão a cada 25 horas e meia. Nos 365 dias até o fim de setembro do ano passado, o repasse de dinheiro de empresas e trabalhadores, que pagam os impostos, para os financiadores da despesa estatal havia sido 18% menor.

A taxa média de juros embutida na dívida do governo em fevereiro de 2015 era de 20,9% ao ano, alta de 4,7 pontos percentuais sobre agosto de 2014. A escalada na remuneração deveria atrair investidores para operações mais longas, no entanto mais de 1/4 (quase R$ 900 bilhões) de tudo o que o setor público devia tinha prazo de vencimento de 24 horas.

Diante desses indicadores, um analista desatento às particularidades da economia brasileira atestaria que se trata de um país quebrado. O observador calejado não chega a tanto, mas antevê, como consequência necessária para normalizar o quadro financeiro, uma longa dieta de crescimento reprimido, desemprego em alta e salários em baixa.

A esquerda, se quiser tirar lição da refrega, deveria jogar no lixo a doutrina econômica que sempre cultivou e viu adotada pelo governo federal a partir de 2009. As ações em nome do "desenvolvimentismo" redundarão num trágico e duradouro aumento da transferência de recursos dos mais pobres para os mais ricos.

O PT atravessa uma crise histórica, e a perspectiva de que continue a liderar a centro-esquerda nos próximos 30 anos de democracia depende da reconfiguração de suas crenças econômicas. O desafio inclui sujeitar-se ao princípio da escassez e valorizar o equilíbrio fiscal, o Orçamento e a tributação como meios primordiais de reduzir a desigualdade.

A agremiação de Lula pode se beneficiar mais que circunstancialmente da adesão de Joaquim Levy e sua turma ao governo Dilma Rousseff.

Fonte: Folha de S. Paulo + EL PAÍS)

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