Eduardo ou Thomaz: qual dor é maior?, por LUIZ CAVERSAN , na FOLHA

Publicado em 04/04/2015 07:35
edição deste sábado da Folha de S. Paulo

Mais uma vez, o canal fétido de "comunicação" que em certos momentos têm se transformado as redes sociais (ou sociopatas?) deu o ar de sua graça. Agora, para achincalhar mortes. Mortes de jovens, mortes de filhos.

Como se fosse possível comparar mortes, sofrimentos, tragédias: por que a dor do pai de Eduardo, menino morto no morro do Alemão, é maior ou mais digna de pena ou mais importante do que a dor do pai do homem jovem, Thomaz, que morreu na queda do helicóptero em São Paulo?

Ah, entendi, porque o segundo é filho de governador, tem posses, teve oportunidades na vida, e, por algum motivo que ninguém sabe explicar direito, posto que de fato não tem explicação, deve ser responsabilizado pelo "poder" de sua família, enquanto o menino do Rio era um pequeno favelado, pai e mãe humildes, estava com uma vida pela frente, foi vítima da brutalidade social...

É isso que temos de engolir?

Como se fosse possível comparar a dor de pais que perdem filhos, veja a que ponto se chegou?

Nem que para isso, no caminho inverso ao "raciocínio" exposto acima, tenha que se levantar suspeitas de que a tragédia aérea pode ter sido causada por "petistas assassinos", como insinuou uma jovem no Twitter, para deleite e likes de seus seguidores –muitos outros posts nesta linha pulularam no Facebook também.

Causa náuseas, tanto um quanto outro tipo de barbaridade.

Anos atrás, a propósito de outra tragédia cotidiana, escrevi aqui mesmo que devia ser proibido pais morrerem antes de filhos. Se fizesse isso hoje a propósito da dor imensa que se abate sobre o casal Geraldo e Lu Alckmin, seria linchado pela "esquerda" em postagem pública. E se falasse apenas do menino da favela carioca, também seria escorraçado do mesmo jeito, mas pela "direita". Pensando bem, do jeito que a maldade, a falta de noção e a psicopatia política e social anda pautando o comportamento do brasileiro ultimamente, é bem provável que isso aconteça de qualquer jeito –a conferir nos comentários abaixo– porque ousei não achar nem Eduardo "melhor" do que Thomaz, nem Thomaz "mais pertinente" do que Eduardo.

Com se fosse possível, repito, comparar a dor que transpassa o coração de um pai e de uma mãe num momento desses.

Para quem acha que sim, que é possível comparar, não vou desejar que um dia isso possa ocorrer na sua vida, ok?

Afinal, é Páscoa, confere?

O SEPULTAMENTO:

Centenas de moradores de Pindamonhangaba compareceram ao sepultamento. Contido na maior parte do dia, Alckmin chorou bastante ao ser abraçado por uma irmã. 

Ao abraçar o governador, Aécio Neves ouviu o lamento de Alckmin de que Thomaz havia sido pai de sua última filha há apenas 50 dias.

Sem gravata e com blazer escuro, o governador recebia os cumprimentos das pessoas em pé e em silêncio. A primeira-dama, bastante abalada, permanecia sentada em uma cadeira, com um terço de madeira nas mãos.

 

Os pêsames seletivos de Dilma Rousseff e Luciana Genro

Três mortes trágicas ocuparam o noticiário de quinta-feira:

- A de Thomaz Rodrigues Alckmin, 31 anos, filho caçula do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, em queda de helicóptero.
- A de Eduardo de Jesus Ferreira, de apenas 10 anos, atingido por “bala perdida” em tiroteio no conjunto de favelas do Alemão, no Rio.
- A de Silvia Maria Arnaut da Costa, de 49 anos, atingida por três “balas perdidas” na saída de um shopping na Tijuca, no Rio, após tentativa de assalto à qual um segurança reagiu.

Dilma Rousseff lamentou a primeira, obviamente. Depois, a mesma presidente que se calou diante das 34 vítimas de bala perdida no Rio só em janeiro teve de lamentar a segunda para não piorar sua imagem com a militância de esquerda, que se aproveitava da tragédia para levantar suas bandeiras políticas nas redes sociais. A socialista Luciana Genro, do PSOL, resumira a tese:

Quem são “eles” que não lamentam? Luciana Genro não diz.

Aprendeu com Lula a afetar bom-mocismo contra sujeitos indeterminados que pressupõem uma elite dominante indiferente aos pobres.

Abaixo, Luciana Genro “lamenta” o fuzilamento de 17.000 dissidentes cubanos pela ditadura castrista (também apoiada por Dilma Rousseff), centenas deles, incluindo adolescentes, pelas mãos do porco fedorento Che Guevara:

Os pêsames seletivos de Luciana Genro e Dilma Rousseff ficaram ainda mais evidentes porque nenhuma delas lamentou a morte de Silvia Maria Arnaut da Costa na Tijuca, bairro de classe média da zona norte do Rio.

A morte de Silvia não serve para a propaganda das duas.

Que dirá se a polícia descobrir que os bandidos eram menores de idade…

Globo mostra massagem cardíaca que Silvia recebeu em vão de passantes. Luciana Genro, não

Felipe Moura Brasil ⎯ https://www.veja.com/felipemourabrasil

 

Na coluna PAINEL: 

Próxima fase -- O presidente do PPS, Roberto Freire (SP), apresenta na terça-feira uma PEC para instalar o regime parlamentarista no Brasil após a gestão Dilma Rousseff. Conversou sobre o tema com Aécio Neves (PSDB), que ficou de analisar a proposta.

 

ANDRÉ SINGER

Explicar, como?

O novo ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Edinho Silva, é conhecido por ser sensato e cauteloso. Mas a proposta que fez à presidente soa a coisa de doido. Segundo Edinho, Dilma precisaria explicar à população que o ajuste fiscal consiste de medidas "para que a economia possa crescer de forma sustentável, gerando emprego e distribuindo renda" (Folha, 2/4). Como dizer isso após o desemprego subir de 4,3% em dezembro para 5,9% em fevereiro sem que Mãos de Tesoura recue nos cortes que tornarão a situação ainda mais difícil para os trabalhadores?

O fato de que a atual onda de demissões ainda responda à estagnação do ano passado em nada ajuda. Depois de visto o tamanho do PIB de 2014 e dos cortes de vagas no primeiro bimestre de 2015, a presidente voltou a prometer, terça passada, um "grande corte, grande contingenciamento".

Somada a uma taxa de juros que não para de crescer, o tamanho do ajuste pretendido torna moderada a projeção de recessão de 1% a 1,5%. Mesmo assim, já seria um recuo bem maior do que o de 2009, quando o PIB caiu pela última vez. Naquela ocasião, houve uma série de providências para gerar empregos, entre elas o lançamento do Minha Casa, Minha Vida. E agora?

Não sou economista e torço pelo contrário, mas há sinais de que possamos viver a primeira recessão séria desde o começo da década de 1990, com as naturais consequências, que já andavam meio esquecidas, em matéria de clima cotidiano. Basta passar os olhos pelo jornal. A Oi vai demitir mil funcionários em abril; Vivo e Nextel fizeram o mesmo, cada uma, nos últimos dois meses; a Pirelli anuncia "layoff" de 1.500 empregados; a Ford paralisou em protesto contra a demissão de 137 que estavam em "layoff"; a Queiroz Galvão dispensou 70 e colocou 500 em aviso prévio.

Muitos comparam as medidas atuais com o ajuste de Lula em 2003. Ocorre que, apesar do forte aperto orçamentário daquele ano, houve crescimento de 1,15%. Com isso, o desemprego, que já era muito alto (10,5%), ficou praticamente estável (10,9%). Em consequência, o desgaste do governo foi moderado.

Hoje o quadro é outro. Houve melhora constante desde 2004. No primeiro mandato de Dilma o desemprego caiu, apesar do crescimento econômico anêmico. Foi, aliás, o que lhe permitiu conquistar a reeleição. Ir para o olho da rua, quando se votou esperando mais oportunidades, provocará revolta capaz de afetar o âmago do lulismo.

Estamos assistindo a uma ação deliberada para destruir o pleno emprego, considerado incompatível, pelo capital, com o investimento competitivo. Melhor mudar de política do que tentar explicar o inexplicável.

 

DEMÉTRIO MAGNOLI

Viva a classe média!

PT lembra que a Marcha da Família foi de classe média, mas esquece dos 'coxinhas' que gritaram 'Diretas Já!'

"Coxinhas, oh céus, coxinhas!". A acusação aos manifestantes do 15 de março, que prometem voltar no 12 de abril, não é um argumento político, mas uma condenação de classe. Sua fonte de inspiração encontra-se nas invectivas de Marilena Chaui, pronunciadas durante as celebrações de dez anos de governos lulopetistas, em 2013: "Eu odeio a classe média. A classe média é estupidez. É o que tem de reacionário, conservador, ignorante, petulante, arrogante, terrorista. A classe média é uma abominação política, porque ela é fascista, uma abominação ética, porque ela é violenta, e uma abominação cognitiva, porque é ignorante". No erro crasso da filósofa, discerne-se a natureza da crise que assola o PT.

Chaui, uma professora de classe média, odeia seus colegas, seus alunos, seus amigos --e a si mesma. Entretanto, ela não entende a classe média, nem no registro sociológico, nem no histórico.

Sociologicamente, a classe média não é una, mas diversa. O crescimento econômico e a modernização social acentuam a diversidade das classes médias (assim, no plural), borrando as fronteiras que as separam dos trabalhadores assalariados. Nas democracias opulentas do Ocidente, esses segmentos compõem a maioria da população. Como explicou Timothy G. Ash, a mensagem das revoluções de 1989 no leste europeu era "queremos também ser de classe média, no mesmo sentido em que os cidadãos da metade mais afortunada da Europa são de classe média". A tentativa de definir a classe média por uma coleção de adjetivos derrogatórios é uma prova, entre tantas, dos efeitos obscurantistas do pensamento ideológico.

Se há um traço comum às classes médias, ele se encontra na autonomia dos indivíduos inscritos nesses segmentos em relação ao poder estatal e às organizações corporativas. Em contraste com os trabalhadores organizados, as classes médias tendem a mover-se ao largo de sistemas rígidos de intermediação política, o que confere forte imprevisibilidade a seu comportamento na arena pública. Daí o incontido ódio da filósofa: as classes médias não se amoldam à caixinha dos partidos que anunciam a salvação do povo.

Historicamente, e por isso mesmo, as classes médias transitam da abulia política a mobilizações intensas, articuladas em torno de valores públicos gerais (liberdade, ordem, moralidade etc.). Desde, pelo menos, a década de 60, as classes médias situam-se no núcleo dos mais relevantes movimentos políticos. As revoluções operárias clássicas esmaecem no passado. Ironicamente, a última delas, o movimento polonês do Solidariedade, em 1980, foi um levante contra o "socialismo real" e um partido que declarava representar a classe trabalhadora.

Os protestos contra a Guerra do Vietnã basearam-se na classe média. A Primavera Árabe foi impulsionada pela classe média. "Coxinhas" persas mobilizaram-se pela liberdade no Irã dos aiatolás. "Coxinhas" franceses encheram as ruas de Paris para dizer "Eu sou Charlie". Fixado no passado remoto, o PT lembra com razão que a Marcha da Família foi de classe média, mas finge esquecer que eram "coxinhas" os que gritaram "Diretas Já!" e "Fora Collor!".

Chaui odeia a classe média. Pol Pot também odiava, especialmente os intelectuais. No seu Camboja, usar óculos era um passaporte seguro para os campos da morte. Dilma Rousseff faz tudo errado, mas sempre acertou na mosca sobre a meta que almeja: um país de classe média. Lula recorda-se bem que a influência do PT difundiu-se a partir da classe média. Por isso, em plenária de militantes, declarou-se "irritado" com "companheiros dizendo que quem vai para a rua contra nós são os que não prestam e nós somos os bons", para reconhecer: "Eles têm direito".

Chaui, a odienta, disse certa vez que "quando Lula fala, tudo se ilumina". Não é verdade --mas, nesse caso específico, a militância alucinada deveria ouvi-lo.

Fonte: Folha de S. Paulo

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