Levy diz que economia brasileira verá "desacelerada forte" neste começo de ano

Publicado em 27/03/2015 17:34

RIO DE JANEIRO (Reuters) - O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou nesta sexta-feira que não houve surpresa nos dados do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro referentes ao ano passado divulgados pela manhã, mas que os números apontaram para um início de 2015 sem impulso na atividade doméstica.

"Vamos descobrir (adiante) que a economia deu uma desacelerada forte neste começo de ano", disse Levy a jornalistas, em entrevista para comentar os dados divulgados mais cedo pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o quarto trimestre e todo o ano de 2014.

Levy repetiu que o Brasil vive um momento de transição e que os ajustes em curso na política econômica são necessários para que a confiança seja retomada e os investimentos cresçam.

O ministro afirmou ainda que o real mais depreciado ajudará as exportações, beneficiando a economia brasileira à frente.

Em relação aos investimentos, ele espera uma recuperação no segundo semestre deste ano.

O IBGE divulgou que a economia brasileira cresceu 0,3 por cento no quarto trimestre na comparação com os três meses anteriores, beneficiada pela expansão do setor agropecuário. No acumulado de 2014, porém, a atividade teve expansão mínima de 0,1 por cento, com a Formação Bruta de Capital Fixo --medida de investimentos-- recuando 4,4 por cento, o pior resultado desde 1999.

(Por Rodrigo Viga Gaier; Texto de Cesar Bianconi)

Levy diz que cumprimento da meta fiscal depende apenas do Congresso

RIO DE JANEIRO (Reuters) - O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse nesta sexta-feira que o cumprimento da meta de superávit primário de 1,2 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano depende apenas da aprovação das medidas já propostas pelo governo no Congresso e não do desempenho.

Levy fez a afirmação respondendo a questionamento de jornalistas sobre a capacidade do governo de cumprir a meta fiscal mesmo com um eventual enfraquecimento da economia em 2015, destacando ainda que o governo não pode gastar mais do que arrecada e, por isso, encaminhou as medidas de ajuste fiscal ao Congresso.

Sobre a expectativa pela aprovação das propostas, o ministro afirmou que tem conversado com muitos senadores e deputados, e que eles têm mostrado que entendem a importância do ajuste fiscal.

(Por Rodrigo Viga Gaier)

 

Nova metodologia do IBGE ajudou para o que resultado não fosse pior; maior impacto negativo veio da indústria

 

Economia brasileira escapa por pouco da retração ao subir 0,1% em 2014

 

A economia brasileira cresceu apenas 0,1% em 2014, em relação ao ano anterior, divulgou nesta sexta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2013, o crescimento foi de 2,7%, de acordo com dados revisados - antes apontava para avanço de 2,5%. Apesar de positivo, o resultado é o pior dos últimos cinco anos, só perdendo para o de 2009, quando a economia encolheu 0,2%.

O resultado verificado no ano passado foi salvo, segundo economistas, pela revisão da metodologia de cálculo do IBGE. Em valores correntes, o Produto Interno Bruto (PIB) atingiu 5,52 trilhões de reais no ano passado. Já o PIB per capita ficou em 27.229 reais, queda de 0,7% em volume em relação a 2013.

O PIB é analisado pelos economistas sob duas óticas distintas: a da oferta, representada pelo setor produtivo (agropecuária, indústria e serviços) e a da demanda, representada por investimentos, consumo das famílias, gastos do governo e balança comercial (exportações menos importações).

Do lado da oferta, o destaque do desempenho pífio no ano foi para a queda de 1,2% da indústria. Já a agricultura cresceu 0,4% e o setor de serviços mostrou variação positiva de 0,7%. Sob a ótica da demanda, os investimentos tiveram baixa de 4,4% e o consumo das famílias subiu 0,9%. Já os gastos do governo aumentaram 1,3% em relação a 2013, lembrando que 2014 foi ano eleitoral.

Segundo o IBGE divulgou nesta manhã, a taxa de investimento no ano de 2014 foi de 19,7% do PIB, abaixo do observado em 2013 (20,5%). A taxa de poupança foi de 15,8% em 2014, ante 17,0% em 2013.

Na análise do setor externo, as exportações recuaram 1,1% e as importações de bens e serviços caíram 1%. Entre as exportações, os destaques negativos foram a indústria automotiva (incluindo caminhões e ônibus) e embarcações e estruturas flutuantes. Por outro lado, o Brasil vendeu mais ao exterior produtos siderúrgicos, celulose e produtos de madeira. No caso das importações, o país comprou mais máquinas e equipamentos e indústria automotiva (incluindo peças e acessórios).

Lava Jato - A paradeira verificada em 2014 ainda não havia captado os efeitos da Operação Lava Jato no setor da construção civil e ainda tinha o atenuante da Copa do Mundo, que movimentou bilhões de reais em serviços. Em 2015, não só a Lava Jato deve impactar em cheio o setor de infraestrutura, como o país também padecerá dos efeitos do ajuste fiscal - que é necessário, porém mais doloroso quando feito em períodos de recessão.

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Quarto trimestre - Considerando apenas o quarto trimestre em relação ao terceiro, houve aumento de 0,3% no PIB, salvo pela agropecuária que cresceu 1,8%. O setor de serviços ajudou também ao registrar alta de 0,3%, mas a indústria recuou 0,1%. Contudo, se comparado ao quarto trimestre de 2013, na série sem ajustes sazonais, a economia brasileira retrocedeu 0,2%. O IBGE revisou ainda o PIB do terceiro trimestre, que passou de avanço de 0,1% para alta de 0,2% ante abril a junho.

Na avaliação de economistas consultados pelo site de VEJA, o importante não é o número do PIB em si, mas a tendência de queda para os próximos trimestres - algo que o próprio ministro da Fazenda Joaquim Levy admitiu recentemente. "A herança de 2014 será muito ruim. O governo gastou muito, perdeu receitas importantes e levou o país a um déficit público recorde de 6,7% do PIB. Essa herança vai deixar a situação para o Brasil em 2015 ainda mais difícil. O cenário é de contração do crédito, risco de racionamentos de água e energia, e ainda inflação alta", diz Francisco Assunção e Silva, coordenador da Comissão de Política Econômica do Conselho Federal de Economia (Cofecon).

Já o professor de Economia da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), Tharcisio Souza Santos, argumenta que, não bastassem os números ruins, há ainda a questão da mudança de cálculo do PIB, que provoca questionamentos entre estudiosos. "O pior nem é o ajuste, mas é essa revisão da metodologia que não sabemos direito como será e até que ponto é necessária. Perdemos um pouco da previsibilidade do que virá com o número", afirma.

Metodologia - Economistas já esperavam que as mudanças no cálculo do PIB, promovidas pelo instituto, aumentariam o tamanho da economia do país e afastariam o risco de recessão em 2014. As contas nacionais agora incorporam gastos bélicos e com pesquisa e desenvolvimento ao investimento e calculam melhor dados da construção civil e saúde.

As alterações estão sendo trabalhadas pelo IBGE desde 2012 e promovem uma mudança no ano-base da série histórica. Atualmente, a base é considerada o ano 2000, e com a atualização passará ao ano de 2010. O novo sistema também incorpora dados do Censo Agropecuário de 2006 e da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2008-2009, além de se adaptar às recomendações internacionais. Dessa forma, o PIB brasileiro se tornará mais comparável com o de outros países.

(IBGE/VEJA)

Maior impacto foi a retração da indústria(Marcelo Almeida/EXAME/VEJA)
Fonte: Reuters + VEJA

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