Ao deixar cargo, Cid diz que Dilma está limpando o governo da corrupção
BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Educação, Cid Gomes, pediu demissão nesta quarta-feira, argumentando que sua presença no governo criaria dificuldades com a base aliada, depois que confrontou deputados no plenário da Câmara, e disse que a presidente Dilma Rousseff está limpando a corrupção no país.
Pouco antes de pedir demissão à presidente, o ministro havia abandonado uma sessão no plenário da Câmara para qual tinha sido convocado para explicar a declaração de que haveria no Congresso “300 ou 400 achacadores” que se aproveitam da fragilidade do governo.
Cid abandonou a sessão depois que um deputado disse que ele estava fazendo "papel de palhaço". A saída do ministro do governo foi anunciada no plenário da Câmara pelo presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que foi informado pelo ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante.
"Muita gente fala de corrupção e isso parece ser uma coisa intrínseca ao governo, mas o que a Dilma está fazendo é exatamente limpar o governo de corrupção que aconteceu no passado. Isso que ela está fazendo e por isso que a gente vive uma crise hoje", afirmou Cid a jornalistas no Palácio do Planalto depois de falar com a presidente.
"Quem demitiu esse Paulo Roberto (Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras), quem demitiu esse Renato Duque (ex-diretor de Serviços da Petrobras) foi ela, muito tempo atrás", disse Cid em referência aos dois ex-dirigentes da estatal que são alvo de investigações da operação Lava Jato, que apontou um esquema de corrupção que desviou bilhões de reais da Petrobras, e que comandavam a empresa no governo Lula.
"Ela, ao contrário, como é seria, está limpando e não permitindo isso. E é isso que fragiliza a sua relação com boa parte dos partidos", argumentou Cid.
"Isso era a base do poder. E ela está mudando isso. E isso, óbvio, cria desconforto", acrescentou o ministro.
CRISE
Cid disse que acredita que a presidente tem condições de superar a crise política atual, "porque tem as qualidades necessárias para isso".
Segundo ele, sua permanência no governo criaria dificuldades adicionais com a base aliada e, por isso, pediu para deixar o governo.
"A minha declaração e, mais do que ela, a forma como eu coloquei a minha posição na Câmara é obvio que cria dificuldades para a base do governo. Portanto, eu não quis criar nenhum constrangimento e pedi minha demissão em caráter irrevogável", explicou.
O secretário-executivo, Luiz Cláudio Costa, assume o ministério interinamente.
Dilma tem sido orientada por aliados próximos a resolver rapidamente os problemas políticos com o Congresso e o enfrentamento de Cid com os deputados não colabora com essa estratégia de pacificação da coalizão.
Além disso, a presidente está sofrendo uma crise de popularidade e viu no domingo centenas de milhares de pessoas irem às ruas contra o seu governo.
Segundo pesquisa Datafolha realizada nos dois dias seguintes aos protestos de domingo, a avaliação ruim/péssima do governo disparou para 62 por cento em março, de forma generalizada por renda e regiões geográficas. No início de fevereiro, a avaliação ruim/péssima de Dilma estava em 44 por cento.
Ainda segundo a pesquisa, os que consideram o governo Dilma ótimo/bom caíram para apenas 13 por cento, contra 23 por cento no levantamento anterior. Em dezembro, esse índice chegava a 42 por cento.
(Reportagem de Jeferson Ribeiro)