Cid Gomes não recua e PMDB avisa a Dilma: ou ele sai ou o partido deixa a base..
Em VEJA: Cid volta a irritar deputados, que pedem sua demissão
Deputados se revezam na tribuna contra o ministro da Educação, que não recuou da acusação que a Câmara é formada por 'achacadores'
Há 20 dias, o ministro da Educação, Cid Gomes, irritou deputados governistas e de oposição ao afirmar que a Câmara tinha "400, 300 deputados achadores" durante uma palestra na Universidade Federal do Pará. Acabou convocado a dar explicações sobre a fala na Câmara, o que conseguiu adiar alegando problemas de saúde. Nesta quarta-feira, Cid Gomes finalmente compareceu ao chamado dos deputados, que aguardavam por um recuo ou até que ele se desculpasse. Mas Gomes fez exatamente o contrário: repetiu o que disse, provocou diretamente o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e incendiou o plenário.
Gomes iniciou seu discurso exaltando as políticas nacionais de educação e os programas federais que dão acesso às universidades. Depois de meia hora, tratou do motivo de sua presença: "Eu fui acusado de ser mal educado. O ministro da Educação é mal educado", afirmou, em referência à declaração de Eduardo Cunha, feita logo após articular a convocação de Gomes. E continuou, apontando para o chefe da Câmara: "Eu prefiro ser acusado por ele do que ser como ele, acusado de achaque, que é o que diz a manchete da Folha de S.Paulo", continuou o ministro da Educação, em alusão às denúncias de envolvimento de Cunha com o esquema do petrolão.
Antes, quando ensaiava um pedido de desculpas, Cid Gomes afirmou que sempre teve respeito pelo Parlamento. Mas cutucou: "Isso não quer dizer que eu concorde com a postura de alguns, de vários, de muitos que mesmo estando no governo, com seus partidos participando no governo, tenham uma postura de oportunismo", disse, acrescentando que os aliados que votam contra o Palácio do Planalto deveriam "largar o osso" e "sair do governo".
Em seguida, seguiu com um discurso que culminou numa reação multipartidária pelo seu pedido de demissão: "Eu não tenho nenhum problema em pedir perdão para aqueles que não agem dessa forma. Desculpem-me, não foi minha intenção agredir ninguém individualmente, muito menos a instituição. O que penso é que nós conquistamos com a democracia a possibilidade de fazer uso livre da manifestação das opiniões. E me perdoe se isso fere alguém, se alguém traz para si essa carapuça ou se enxerga nessa posição."
Reação - A fala de Cid Gomes incendiou o plenário. Em meio à gritaria do plenário, o líder do PMDB e braço-direito de Cunha, Leonardo Picciani (RJ), assumiu o microfone para reclamar da fala de Gomes "Apesar de uma extensa vida política, o ministro esqueceu as regras de convivência democrática, desrespeitou o parlamento brasileiro, e de forma sem consistência, aponta o dedo, faz acusações, mas não diz o crime e não dá os nomes. É muito fácil fazer críticas levianas e não ter consequências", disse o peemedebista. "O ministro perdeu a condição de exercer o cargo. Nós cobraremos do governo que se posicione e diga aos ministros que respeitem o parlamento brasileiro. Não reconheço autoridade em vossa excelência para criticar o Parlamento", continuou Picciani.
A reação ao discurso do ministro foi suprapartidária e gerou novos momentos de constrangimento. O deputado Cabo Sabino (PR-CE) chamou Cid de "empregadinho da mamãe". O líder do PSC, André Moura (SE), lembrou que Cid Gomes, quando era governador do Ceará, usou dinheiro público para alugar um jatinho e ir passear na Europa com a família - inclusive a sogra. O parlamentar também pediu a demissão do ministro e chamou-o de "mal educado", "desqualificado" e disse que Cid não tem decência e "envergonha este país".
Oposicionistas também aproveitaram o episódio para explorar as cisões na coalizão governista. O deputado Nilson Leitão (PSDB-MT) foi um deles: "Ele está mais como um tradutor da presidente Dilma Rousseff. É o sentimento da presidente Dilma Rousseff com a sua base".
O líder do DEM, Mendonça Filho (PE) citou o ataque de Cid Gomes ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e afirmou que, como a oposição foi excluída da conta dos "achacadores", a base governista precisava tomar uma atitude: "Ou o ministro se demite do cargo, ou a presidente demite o ministro, ou os 400 deputados da base do governo assumem que são achacadores. Não há outra opção", afirmou.
Nem todos se incomodaram com o destempero de Cid Gomes. Ele foi aplaudido por seus aliados da Câmara, inclusive por petistas. A deputada Maria do Rosário (PT-RS), que assistia ao discurso em pé, na primeira fila, não se conteve. "Parabéns, ministro!", disse ela, três vezes, após Cid Gomes encerrar sua fala. O ministro da Educação sorriu de volta.
Enquanto Cid Gomes falava, Eduardo Cunha olhava apenas para a frente, sem se voltar para o ministro da Educação. Cunha nem mesmo convocou o ministro para sentar-se à mesa, como é comum nesses casos. Cid Gomes permaneceu em pé, na tribuna, até que o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) pediu que a presidência providenciasse um lugar para que o ministro se sentasse. Cunha consentiu, mas Cid Gomes preferiu descer ao plenário e usar um dos assentos reservados aos deputados.
Deputados acham que Cid será demitido ainda hoje
Já dura quase três horas a comissão geral para Cid Gomes explicar a frase sobre os 300 – ou 400 – achacadores, e não há ninguém no plenário que ache que ele não será demitido ainda hoje por Dilma.
A propósito, boa parte do PT aplaudiu cada declaração de Cid de ataque à turma que fica no governo, mas vota contra.
Por Lauro Jardim
NA FOLHA: PMDB avisa a Dilma que deixará base se Cid Gomes não cair imediatamente
O PMDB fez chegar à presidente Dilma Rousseff que ou o ministro Cid Gomes é demitido ou pede demissão da pasta da Educação ainda na tarde desta quarta-feira (18) ou o partido está fora do governo e da base aliada.
Cid participa neste momento de uma Comissão Geral, no plenário da Câmara, que foi marcada para ouvi-lo sobre declarações em que disse que, na Casa, haveria entre 300 e 400 deputados “achacadores”.
A expectativa do governo e do Legislativo era que ele se desculpasse pelas declarações e tentasse recompor suas relações.
Não só Cid Gomes não fez isso como, dedo em riste em direção ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), vociferou: “Prefiro ser acusado de mal educado a ser acusado de achacador como ele [Cunha], que é o que dizem dele as manchetes dos jornais”.
Antes, o ministro já havia dito que quem é da base aliada do governo tem de votar com o governo. “Ou larguem o osso. Saiam do governo.”
Seu único gesto conciliador foi pedir desculpas “àqueles que não agem dessa maneira”, depois de reafirmar que alguns eram “oportunistas”.
A partir daí, líderes se revezam na tribuna para exigir a demissão de Cid Gomes.
Na chegada, Cid Gomes levou uma claque para apoiá-lo no depoimento, mas Cunha os expulsou das galerias. O depoimento do ministro já havia sido adiado por conta de uma internação médica do titular do MEC.
Enquanto isso, a cúpula do PMDB avisou diretamente a um auxiliar de Dilma que o partido não abre mão de que ele seja demitido ou renuncie ao cargo ao término da sessão. “Ou é isso ou ela perderá o partido. Dessa vez é sério”, diz um interlocutor peemedebista com acesso ao Planalto à coluna.
A avaliação do partido é que o que Cid Gomes fez é a “desmoralização completa da relação institucional” entre os dois Poderes.
Deputados acusaram o ministro de mentir e fizeram uma série de acusações de irregularidades a seu governo no Ceará. “Quem não lhe conhece que lhe compre”, disse o deputado Cabo Sabino (PR-CE).
Outro o acusou de superfaturar um show de Ivete Sangalo para inaugurar um hospital e de viajar com a sogra em jatinho pago pelo governo.
A todas as acusações e críticas, Cid Gomes ouviu calado, com riso irônico nos lábios, em pé na tribuna do lado oposto àquela em que os parlamentares se revezavam.
Assessores próximos a Dilma consideram a queda do ministro a saída mais provável para mais esse capítulo da crise política que traga o mandato da presidente.
Ministro da Educação Cid Gomes discursa na tribuna da Câmara - 18/03/2015(Gustavo Lima/Câmara dos Deputados)
Cunha suspende ato, e depoimento de Duque à CPI deve acontecer na Câmara
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), suspendeu nesta quarta-feira (18) os efeitos do ato da Mesa de 2006 que impedia que presos prestassem depoimento nas dependências da Casa.
Com isso, o ex-diretor da Petrobras Renato Duque deve falar à CPI da estatal nesta quinta-feira (19) na própria Câmara, e não mais na Polícia Federal, como estava previsto.
A transferência do local do depoimento de Duque, indicado pelo PT à diretoria de Engenharia e Serviços da Petrobras, atende a interesses da oposição, que preferia que a oitiva acontecesse na Câmara para ampliar sua repercussão.
Duque foi preso nesta segunda-feira (16) e está na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Ele é acusado pelo Ministério Público Federal de receber propinas de empreiteiras que formaram um cartel para obter contratos da Petrobras.
Também é acusado de repassar parte da propina ao tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Ambos negam as acusações.