Policia chama Lula para depor sobre as denúncias de Valério no Mensalão

Publicado em 14/03/2015 17:42
Depoimento foi na terça-feira

Em depoimento prestado à Polícia Federal, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o responsável no PT por "efetuar pagamentos de valores devidos aos fornecedores de serviços" na campanha eleitoral de 2002, que o elegeu pela primeira vez à Presidência, era o então tesoureiro da campanha, Delúbio Soares, que ele não citou nominalmente, mas afirmou não saber explicar a sistemática dos pagamentos. Trechos do depoimento, prestado em 9 de dezembro passado, foram publicados pela revista "Veja" que começou a circular neste sábado (14).

O ex-presidente foi ouvido no inquérito aberto pela PF para investigar declarações do operador do mensalão, o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, condenado pelo STF que cumpre pena em presídio de Minas Gerais. Ele havia dito em depoimento sigiloso prestado ao Ministério Público Federal em setembro de 2012 que Lula tinha conhecimento do esquema de repasses do mensalão, revelado em 2005. Disse ainda que Lula e o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, em 2004 receberam em audiência no Palácio do Planalto o presidente da Portugal Telecom, Miguel Horta, com quem teriam acertado um empréstimo de US$ 7 milhões ao PT em razão de interesses da companhia telefônica no Brasil. Segundo Valério, parte desse dinheiro, originado de fornecedores da Portugal Telecom em Macau, na China, ajudaria a pagar campanhas eleitorais petistas e deputados da base aliada no Congresso.

Sobre o suposto pagamento da telefônica, Lula respondeu que "não confirma", segundo a revista "Veja". Ao ex-presidente teriam sido feitas 28 perguntas. Na maioria das respostas, Lula repetiu a mesma formulação, de que "enquanto candidato da campanha a presidente da República, não tinha conhecimento da parte financeira da arrecadação de valores para a eleição".

O depoimento de Lula pouco acrescenta à história do mensalão. No auge do escândalo, em 2005, ele já havia se eximido de qualquer responsabilidade sobre o esquema, em entrevista que concedeu em 15 de julho em Paris, na França. Ele disse que estava afastado da direção do partido desde sua eleição e procurou responsabilizar "a direção do PT".

"Eu acho que o PT teve um problema, sabe que é da questão da direção. [...] Depois que nós ganhamos prefeituras, ganhamos governos estaduais, elegemos muitos deputados e eu ganhei a presidência, grande parte desses quadros do PT vieram para o governo. E a direção ficou muito fragilizada, ficou muito enfraquecida. Possivelmente por isso tenhamos cometido erros que outrora não cometeríamos", disse na época.

O então presidente disse ainda que fazia tempo que "deixou de ser presidente do PT". "Depois que eu virei presidente da República, eu não pude mais participar das direções do PT, não pude mais participar da reunião do diretório do PT. O PT tem autonomia em relação ao governo e o governo tem mais autonomia ainda em relação ao PT", disse Lula.

Ouvida pela Folha neste sábado, a assessoria de imprensa do Instituto Lula informou que o ex-presidente "prestou depoimento normalmente à Polícia Federal". A assessoria disse "lamentar vazamentos seletivos de informação" que tramita em segredo de Justiça.

DEDO EM RISTE - Na Polícia Federal, Lula desempenhou o papel em que é craque: pôs as eventuais culpas nos companheiros Delúbio e Vaccari(Ricardo Stuckert/Instituto Lula/VEJA)

 

VEJA obteve a íntegra do depoimento":

Lula foi Lula ao falar à PF e disse não saber de nada em caso de dinheiro clandestino

 

Inquirido sobre “empréstimo” de 7 milhões de dólares ao PT, Lula transferiu a responsabilidade por eventuais irregularidades a Delúbio Soares e João Vaccari. Depoimento prestado em 9 de dezembro de 2014.

 

Na sede da Polícia Federal, em Brasília, tudo foi planejado para oferecer ao visitante o conforto a que ele tem direito como ex-presidente da República e, principalmente, a mais absoluta discrição. Lula pediu, e foi atendido, para depor em um local reservado. Os policiais escolheram uma sala contígua ao gabinete do diretor-geral. Foi assim que, na terça-feira 9 de dezembro de 2014, Lula prestou seu depoimento. O ex-presidente, acompanhado de três advogados, entrou pela garagem do prédio e usou o elevador privativo do diretor para levá-lo ao 9º andar. Com a solenidade, o respeito e a deferência que merece um ex-mandatário da República, depois de várias tentativas em vão, a polícia finalmente conseguiu interrogar Lula sobre uma passagem ainda obscura do mais rumoroso caso de corrupção a estourar durante o seu governo, o mensalão.

Desde que deixou o governo, em 2010, pouca coisa se ouviu do ex-presidente sobre o escândalo. Seu principal ministro, seus amigos mais próximos, a cúpula de seu partido e muitos dos parlamentares que apoiavam seu governo foram condenados à prisão. Embora, em última instância, fosse o principal beneficiado pela compra de apoio parlamentar, o ex-presidente nunca foi acusado de nada. Em 2005, Lula se disse traído quando se revelou que o tesoureiro e amigo Delúbio Soares e José Dirceu, seu braço-direito, haviam montado uma rede clandestina de captação de dinheiro para subornar parlamentares e sustentar as campanhas políticas do PT. Preservado por todos os que sabiam de seu envolvimento direto no mensalão, Lula escapou do processo judicial. Ele passou todo o seu governo negando a existência do esquema. Quando desceu a rampa do Palácio do Planalto, porém, prometeu que contaria "a verdadeira história do mensalão". Diante dos policiais federais em Brasília, Lula voltou à versão que, oficialmente, sustentou.

VEJA teve acesso à integra do depoimento, um documento de valor histórico inestimável em que Lula, pela primeira vez, formaliza o que tem de importante a dizer sobre o caso: absolutamente nada. São quatro valiosas páginas que sintetizam a natureza do ex-presidente diante de uma situação embaraçosa - ele, como sempre, jura que não sabia de nada, que nunca se envolveu com os malfeitos de seu governo e, quando confrontado com os fatos, aponta o dedo para terceiros para salvar a própria pele. Durante pouco mais de uma hora, Lula driblou as 28 perguntas elaboradas previamente e lidas por um delegado convocado especialmente para a ocasião.

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Em VEJA: Com Dilma, economia retrocede dez anos em dois

 

Selic a 12,75%, inflação acima de 7% e dólar a R$ 3,24: governo colhe os frutos de políticas equivocadas que trouxeram uma década de retrocesso

 

 

 

 

 

Em 2015: políticas equivocadas fazem Brasil viver déjà vu macroeconômico(Paulo Whitaker/Reuters)

"O bem que o Estado pode fazer é limitado; o mal, infinito. O que ele nos pode dar é sempre menos do que nos pode tirar". A frase proferida pelo economista e ex-ministro Roberto Campos, morto em 2001, remonta à década de 1970, mas não causaria estranhamento se fosse dita em 2015. O atual desenho macroeconômico do Brasil - com juros a 12,75%, inflação acima de 7% e dólar a 3,24 reais - mostra os efeitos danosos de uma política de governo intervencionista executada pela presidente Dilma Rousseff desde 2011 e que, agora, cobra seu preço. Diante dos ajustes necessários para que o país não sucumba a uma crise mais aguda, as medidas de subsídios, desonerações e estímulos têm sido desarmadas. Os impostos, elevados. E os brasileiros se deparam com problemas que há mais de uma década pareciam vencidos. Terão de pagar um preço alto para financiar o conserto dos fundamentos econômicos que balizavam o Brasil de outros tempos, mas que foram sistematicamente rompidos. Há cerca de dois anos, o país passa por uma deterioração econômica apenas comparável à era Collor - e esse tombo fez com que uma década de avanços virasse pó.

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Na tentativa de manter, a todo custo, o crescimento vigoroso registrado em 2010, quando o Produto Interno Bruto (PIB) do país avançou 7,5%, o governo Dilma empreendeu uma mudança drástica de filosofia. Se o lulismo pregava uma política econômica ainda com viés desenvolvimentista, porém, com algum pragmatismo, a sucessora, no intuito de 'deixar sua marca', resolveu trocar a orquestra e a música. Numa espécie de anexação do Banco Central e do Ministério da Fazenda como secretarias do Palácio do Planalto, a presidente interferiu no câmbio, na taxa de juros e ofereceu subsídios à indústria nacional com o intuito de reduzir a dependência das importações. "Houve um afastamento paulatino dos instrumentos que compõem o tripé de política econômica, o qual garantiu a consolidação da estabilidade da economia conseguida com o Plano Real, além de intervenções na formação de preços em alguns mercados (energia elétrica e combustíveis), com efeitos importantes sobre a economia", afirma Gesner Oliveira, da GO Associados.

Indicadores(VEJA.com/VEJA.com)

A sinalização da presidente frustrou observadores econômicos e os donos do dinheiro. Contudo, como o Brasil ainda era a bola da vez em 2011, a frustração demorou pelo menos dois anos para se transformar num sentimento generalizado. Com isso, a partir de 2013, o país assistiu a uma piora progressiva de seus indicadores econômicos - tanto aqueles que reproduzem a economia real quanto os que capturam expectativas futuras. De lá pra cá, as consequências se tornaram visíveis na indústria, no investimento, no mercado de trabalho, e, em última instância, na renda dos brasileiros, que é corroída pela inflação e juros mais altos. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, está atualmente em 7,70% em 12 meses até fevereiro, o maior nível desde maio de 2005, quando atingiu 8,05%. Já a Selic está em 12,75%, o maior patamar desde janeiro de 2008.

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Um número exemplar do retrocesso é o consumo das famílias brasileiras, mensurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e que responde por 60% do Produto Interno Bruto (PIB). Tal indicador tem sido o catalisador do crescimento há pelo menos dez anos, mas deve começar a ruir em 2015. A previsão da Tendências Consultoria é de um recuo de 0,1% - o primeiro desempenho negativo desde 2003, quando caiu 0,8%.

Do lado produtivo, a indústria também não tem nada a comemorar - e não é de hoje. O setor acumulaqueda de 3,15% em 12 meses até janeiro, o resultado negativo mais intenso desde janeiro de 2010 (- 4,8%). E mesmo o dólar a 3,24 reais não deve resolver os problemas do setor. Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisa e Estudos Econômicos da Fiesp, lembra que "a mesma mão que afaga, estapeia". Traduzindo: a moeda mais cara beneficia quem exporta, mas penaliza quem depende de insumos importados. Empresas que têm dívidas cotadas em moeda americana também podem ser pegas desprevenidas. De qualquer forma, a atual cotação confere algum alívio. "Se não fosse isso, a indústria doméstica não teria chance. De qualquer forma, o ano de 2015 já está desenhado como ruim", diz.

O retrocesso não ocorre apenas do ponto de vista macroeconômico. O economista Alexandre Schwartsman pondera que o que mais preocupa é a piora significativa observada no ambiente de negócios. "Temos um intervencionismo crescente, a paralisação de uma agenda importante que tínhamos avançado. De forma geral, temos um retrocesso claríssimo em diversas dimensões." Ele critica a errática agenda microeconômica adotada desde 2011, que privilegia determinados setores e empresas, e diz que, em relação à macroeconomia, ainda falta uma liderança por parte da presidente. "Dilma terceiriza o que é que mais importante. Colocou Levy na linha de frente e se escondeu atrás dele", diz, referindo-se à condução do ajuste fiscal que foi colocado em prática este ano no intuito de reverter os problemas. Uma das consequências mais preocupantes é o rebaixamento da nota de crédito do Brasil. A situação do país está sendo olhada com lupa por agências de classificação de risco, como Standard & Poor's (S&P) e Fitch.

Gráfico setores(VEJA.com/VEJA.com)

Neste cenário nebuloso, aumentou o "risco-Brasil", indicador que aponta, em linhas gerais, a percepção dos investidores em relação à capacidade do país de honrar suas dívidas. Segundo o Embi+Br, calculado pelo banco JP Morgan, o "risco-Brasil" estava em 338 pontos na última sexta-feira, o maior patamar desde maio de 2009, auge da crise financeira internacional. "Vale lembrar que a tendência é de alta, considerando o agravamento das crises político e econômica, incluindo os escândalos de corrupção envolvendo a Petrobras. Tudo isso deixa o mercado muito mais temeroso", afirma Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria.

Para o economista Otto Nogami, do Insper, a principal diferença entre a conjuntura atual e a dos anos 2000 é o sentimento dos agentes do mercado. Se, naquela década, a sensação era de que as coisas poderiam melhorar, o que se apresenta agora é um cenário de constante deterioração. "No início da década passada, ainda vivíamos um processo de recuperação, após a implementação do Plano Real. Tivemos uma melhoria do ambiente externo, uma busca por equilíbrio macroeconômico interno, que marcaram os dois governos do presidente Lula", lembrou Nogami. A conjuntura atual, no entanto, espelha visão oposta. Em diversos setores, índices de confiança atingem mínimas históricas, de acordo com sondagens elaboradas pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). Na indústria, por exemplo, o Índice de Confiança da Indústria (ICI) atingiu em fevereiro o menor patamar desde abril de 2009.

Há uma tentativa incisiva do governo, capitaneada pelo ministro Levy, de reverter a situação. Não porque a presidente acredite que tenha feito algo errado. Prova disso é que dias atrás, diante de uma crítica feita por Levy a políticas passadas, o governo rebateu como represália, classificando a crítica como "infeliz". As medidas que o ministro briga para implementar atingem em cheio o bolso do trabalhador, em especial aquelas que reduzem benefícios trabalhistas. São duras, mas necessárias. O povo brada reparação, pois se sente enganado pelas promessas de manutenção das políticas feitas durante as eleições. O petrolão acrescenta pólvora à indignação. E a presidente, até o momento, parece fechar os olhos ao problema.

(Com reportagem de Teo Cury)

 

Marta Suplicy chega de surpresa em evento em SP e constrange petistas

 

Prestes a deixar o PT e migrar para o PSB com a expectativa de ser candidata à Prefeitura de São Paulo, a senadora também criticou o governo federal

 

 

 

 

Em processo de separação do PT e aproximação com o PSB, partido que deve lançá-la como candidata à prefeitura em 2016, a senadora Marta Suplicy (PT) apareceu de surpresa neste sábado em um evento com vereadores e moradores de São Miguel Paulista, na zona leste da capital paulista. A presença dela no programa "Câmara no seu bairro" constrangeu os petistas presentes, entre eles Antônio Donato, presidente da Câmara Municipal e ex-secretário das subprefeituras de Marta, e Alexandre Padilha, secretário de Relações Institucionais da Prefeitura de São Paulo.

A senadora, que foi a sensação do evento, aproveitou a ocasião para distribuir críticas ao prefeito Fernando Haddad (PT) e à gestão da presidente Dilma Rousseff (PT), diante de moradores e lideranças locais que disputavam a chance de tirar uma foto ao lado da visitante ilustre. "O tipo de gestão do Haddad aumenta a responsabilidade do vereador. Se o prefeito não sai (para percorrer os bairros), o vereador tem que sair", afirmou.

Coube ao secretário Alexandre Padilha, candidato derrotado do PT ao governo paulista no ano passado, a tarefa de rebatê-la. "Na semana que vem começa o programa 'Prefeitura na Rua''", afirmou.

Marta também reiterou as críticas que vem fazendo de forma sistemática ao governo federal. "Esse governo é muito ineficiente e pouco coordenado", disparou. Quando questionada por moradores se voltaria a disputar uma vaga na Prefeitura, Marta apenas sorriu e assentiu com a cabeça.

Ao ver a senadora chegar ao evento cercada de pessoas, o vereador petista Alfredo Alves Cavalcante, o Alfredinho, desabafou. "Espero que ela fique no PT. Não queremos disputar com ela".

(Agência Estado)

Fonte: Folha de S. Paulo + VEJA

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