O GLOBO: Protesto contra governo Dilma neste domingo será contraponto aos atos desta sexta-feira

Publicado em 13/03/2015 07:33 e atualizado em 14/03/2015 17:40
Para especialistas, clima pacífico nas manifestações pró-Petrobras foi sinal de amadurecimento (em O Globo desta sábado)

 

SÃO PAULO - Nas manifestações desta sexta-feira, os apoiadores do governo carregavam bandeiras que, na prática, eram uma defesa prévia das manifestações contra a gestão Dilma Rousseff previstas para este domingo. Cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO consideram que esse discurso teria sido a forma encontrada por entidades governistas para desqualificar o movimento contra a presidente e, assim, criar uma espécie de polarização entre os que seriam a favor e os que seriam contra a ideia do impeachment.

Segundo Fernando Antonio de Azevedo, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), os simpatizantes do governo reforçaram que as manifestações de amanhã serão uma espécie de terceiro turno das eleições — embora lideranças que estarão amanhã nas ruas tentem evitar falar em impeachment.

— É do jogo político que os governistas tentem desqualificar o movimento de domingo. Mas tudo indica que os manifestantes contra o governo serão basicamente os eleitores de Aécio Neves, reforçados pelos que sofrem com a crise econômica e criticam o aumento da corrupção, como revela o escândalo da Lava-Jato — disse Azevedo.

PARTE DO JOGO DEMOCRÁTICO

Para o cientista, as manifestações a favor e contra o governo aprofundam a divisão do país, já explicitada nas eleições de outubro do ano passado. Azevedo diz que os dois atos mostram esse racha:

— O que está levando as pessoas para as ruas contra o governo é o agravamento da crise econômica, associado ao escândalo da Lava-Jato. Tudo isso está fomentando um caldeirão, que leva para as ruas a polarização vista nas urnas no ano passado. As manifestações fazem parte do jogo democrático. O que será ruim é se essa disputa acabar em radicalização, intolerância e violência. Isso seria nocivo para a democracia — comentou Azevedo.

Para ele, esse quadro de confronto não pode durar muito tempo.

— Tem que haver alguém que coloque água na fervura. O problema é que não temos uma liderança que faça a administração institucional da crise. As manifestações são democráticas, e pedir o impeachment é até legitimo — ponderou Azevedo.

Rubens Figueiredo, do Centro de Pesquisa, Análise e Comunicação, não acredita em clima golpista na manifestação deste domingo. Para ele, golpismo teria que partir das Forças Armadas, do Congresso, o que não é o caso do protesto marcado.

— As manifestações agora mostram que a vida das pessoas piorou, a inflação aumentou e o desemprego cresceu. E, diferentemente de 2013, agora as pessoas querem deixar claro que não concordam com a presidente, que ela não serve.

PROPOSTAS EM VEZ DE TRUCULÊNCIA

O fato de os protestos de ontem terem sido pacíficos foi elogiado por analistas:

— É fundamental que não haja radicalizações. Os atos de ontem foram um sinal do amadurecimento democrático. As manifestações foram compostas por propostas e não por truculência — disse Figueiredo.

Já na opinião do cientista político da FGV Marco Antonio Teixeira, o protesto de amanhã não será um contraponto às manifestações de ontem:

— O que alavancou as manifestações deste domingo foi o discurso da presidente Dilma Rousseff em cadeia nacional no Dia Internacional da Mulher, em que ela pediu paciência às pessoas por causa da crise. Quando Dilma falou, as pessoas já estavam sentindo na pele os efeitos do pacote fiscal.

Claudio Couto, também da FGV, concorda que o que deve levar muita gente às ruas amanhã é o cenário de deterioração do governo, com o agravamento da crise econômica, além de uma grande inabilidade política. Para ele, Dilma tem agido como militante política:

— Ela tem sido muito teimosa, agindo como na época em que era guerrilheira, conversando com um pequeno grupo que a rodeia, sem mostrar disposição ao diálogo com os próprios partidos da base aliada.

Couto acha que a manifestação de amanhã “terá de tudo um pouco”.

— Haverá gente querendo simplesmente protestar contra o governo e a crise econômica, mas também aquelas com ideias golpistas e os que desejam inviabilizar o governo no meio do caminho.

Resta ao governo torcer para que chova muito amanhã

14/03/2015 - 03h00

Ricardo Noblat

O governo estava certo. Do ponto de vista dele, é claro.

Se seu objetivo inicial fosse ajudar a presidente Dilma Rousseff, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o MST, a UNE e outros movimentos sociais não deveriam ter chamado o povo para as ruas, ontem.

Primeiro porque seu apelo certamente não seria atendido – não na dimensão desejada pelos promotores do ato. Como não foi.

Segundo porque a realização do ato daria ensejo à sua comparação com o ato de amanhã, contra Dilma. E, salvo uma surpresa, o ato de amanhã atrairá muito mais gente. 

O ato de ontem foi planejado para mostrar ao governo a insatisfação dos movimentos sociais com o ajuste fiscal do ministro da Fazenda Joaquim Levy – o “infiltrado no governo”, como o acusou João Pedro Stédilli, coordenador nacional do MST.

Dado que o ato contra Dilma ganhou expressão, os promotores do ato de ontem resolveram também defendê-la. Assim como à Petrobras.

Então o ato ficou com vários focos – o que na maioria das vezes significa ficar sem nenhum.

Ir às ruas contra o ajuste fiscal até poderia dar certo. Mas a favor de Dilma, aprovada por menos de 10% dos brasileiros? Nunquinha.

Resta ao governo torcer para que tenhamos amanhã um domingo de chuva. De muita chuva, de preferência. Do contrário..

 

Fracassa o confronto

 

 por MERVAL PEREIRA

 

 

 

A retórica do comandante do Movimento dos Sem Terra (MST) João Pedro Stedile é muito mais eficaz que a ação de seu “exército”, convocado por Lula para ir às ruas contra os críticos do governo Dilma, que chamam de golpistas. Ele mesmo tratou de dar corda a esse viés militarista e conclamou seus liderados a “engraxarem as botas” por que a luta apenas começou.
Um vídeo espalhado pela internet mostra um discurso recente de Stedile na Venezuela, confraternizando com o companheiro Maduro, onde afirma que uma “elite de mierda” na América Latina está tramando contra os governos populares.
Pela demonstração de ontem, a luta começou mal para os movimentos sociais que atenderam ao chamamento de Lula, que declarara esperar muita gente nas ruas ontem. Por qualquer regra que se meça, não é possível dizer que as manifestações foram um sucesso, embora tenham se espalhado por vários Estados. Foram um reflexo do que constatam as pesquisas atuais: uma minoria de 7% apóia o governo Dilma.
Essa capilarização do movimento serviu até para evidenciar a fraqueza da organização, pois em algumas cidades poucas dezenas de manifestantes se dispuseram a sair às ruas num protesto ambíguo, que defendia a presidente Dilma, mas criticava sua política econômica.
Uma está umbilicalmente ligada à outra, e não é possível neste momento apoiar a presidente e ser contra as medidas de equilíbrio fiscal que o ministro da Fazenda Joaquim Levy está apresentando. Quem age assim, como as centrais sindicais, na verdade está sabotando o segundo governo da presidente Dilma, e pouco importa que diga que faz isso por apoiá-la.
O fato é que a própria presidente já admitiu que as medidas para incentivar o consumo perderam o efeito, e que agora é hora de fazer justamente o contrário, isto é, cortar gastos e reequilibrar as contas públicas. Mesmo que seja um equívoco reiterado da presidente, que continua dizendo que as medidas que tomou no primeiro governo estavam corretas para aquela ocasião, e já não servem no momento atual, quando já está provado que foram elas que ocasionaram a situação que vivemos hoje, de qualquer maneira ela reconhece que tem que fazer diferente hoje para recuperar a credibilidade de seu governo.
O fracasso do movimento de ontem ganhará uma dimensão maior caso as manifestações de amanhã, nas diversas versões contrárias ao governo Dilma, sejam maiores. A medida pode ser São Paulo, onde ontem houve a maior manifestação a favor da presidente Dilma e contra o impeachment. Segundo cálculos oficiais da Polícia Militar, cerca de 12mil pessoas participaram da manifestação em seu pico.
O Palácio do Planalto está trabalhando com a expectativa de que a manifestação de amanhã será maior em São Paulo, que se tornou o centro político antipetista, e fraca nos outros Estados. No Rio de Janeiro, por exemplo, ontem a manifestação a favor da Petrobras e contra o golpismo reuniu cerca de 1000 pessoas. Amanhã, em Copacabana, os organizadores da manifestação contra o governo nas redes sociais esperam número maior.
Por isso mesmo o Palácio do Planalto tentou até o último momento cancelar as manifestações das centrais sindicais e dos movimentos sociais atrelados ao governo, pois sabia que as conseqüências seriam ruins.
Se fossem fortes, poderiam estimular as manifestações contrárias ao governo. Fracas, como foram, exibiram a incapacidade de mobilização desses movimentos que já foram vistos como uma ameaça à democracia. Hoje, são apenas movimentos de pelegos transportados em ônibus, com diária e comida. A incapacidade de arregimentação da CUT já fora demonstrada meses atrás quando, com Lula de garoto propaganda, tentaram dar um abraço na sede da Petrobras do Rio e faltaram braços. 
Um fato positivo foi que não houve violência em nenhuma manifestação pelo país, o que indica que a radicalização política está limitada às redes sociais e aos chamados “gritos de guerra”, sem se transformar em conflitos de rua.
Amanhã, nas manifestações contra o governo, saberemos se o mesmo espírito pacífico prevalecerá, ou se os Black blocs arregimentados pelas milícias governistas tentarão repetir a ação de 2013, quando conseguiram dispersar os manifestantes 

Fonte: O Globo

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