Na FOLHA: "A vaca vai pro brejo?", por MARTA SUPLICY

Publicado em 06/03/2015 16:51
Marta Suplicy, senadora do PT, volta a escrever na Folha de S. Paulo, como articulista semanal. Na edição de hoje publicou o texto abaixo...

É um privilégio neste momento crítico da política brasileira voltar a este espaço que ocupei em 2011 e 2012. Já colaborei na Folha, em cadernos e anos diversos, exercendo atividade diferente da que tenho hoje. Tenho consciência da importância que foi chegar a milhares de pessoas quebrando tabus, defendendo os direitos do povo, das mulheres e minorias, avançando em temas de difícil aceitação.

Senadora, e com uma visão muito crítica da situação política brasileira, sinto-me no dever de exercer neste espaço a audácia e transparência que caracterizaram minha vida.

Em política existem duas coisas que levam a vaca para o atoleiro: a negação da realidade e trabalhar com a estratégia errada.

O governo recém-empossado conseguiu unir as duas condições. A primeira, a negação das responsabilidades quando a realidade se evidencia. A segunda, consequência da mentira, desemboca na estratégia equivocada. Estas condições traduzem o que está acontecendo com o governo e o PT.

O começo foi bem antes da campanha eleitoral deslanchar. Percebiam-se os desacertos da política econômica. Lula bradava por correções. Do Palácio, ouvidos moucos. Era visto como um movimento de fortalecimento para a candidatura do ex-presidente já em 2014. E Lula se afasta. Ou é afastado. A história um dia explicará as razões. O ex-presidente só retorna quando a eleição passa a correr risco.

Afunda-se o país e a reeleição navega num mar de inverdades, propaganda enganosa cobrindo uma realidade econômica tenebrosa, desconhecida pela maioria da população.

Posse. Espera-se uma transparência que, enquanto constrangedora e vergonhosa, poderia pavimentar o caminho da necessária credibilidade.

Ao contrário, em vez de um discurso de autocrítica, a nação é brindada com mais um discurso de campanha. Parece brincadeira. Mas não é. E tem início a estratégia que corrobora a tese de que quando se pensa errado não importa o esforço, porque o resultado dá com os "burros n'água".

Os brasileiros passam a ter conhecimento dos desmandos na condução da Petrobras. O noticiário televisivo é seguido pelo povo como uma novela, sem ser possível a digestão de tanta roubalheira. Sistêmica! Por anos. A estratégia de culpar FHC (não tenho ideia se começou no seu governo) não faz sentido, pois o tamanho do rombo atual faz com que tudo pareça manobra diversionista. Recupera-se o discurso de que as elites se organizam propagando mentiras porque querem privatizar a Petrobras. Valha-me! O povo, e aí refiro-me a todas as classes sociais, está ficando muito irritado com o desrespeito à sua inteligência. Daqui a pouco o lamentável episódio ocorrido com Guido Mantega poderá se alastrar. Que triste.

 

ARTIGO DE REINALDO AZEVEDO, na FOLHA DE HOJE:

Viva Dilma! Abaixo Janot!

Na segunda parte deste artigo, darei vivas a Dilma Rousseff, demonstrando como ela está salvando o que resta do Brasil. Podem esperar. Nas linhas abaixo, vou malhar Rodrigo Janot.

Há exatamente um mês, no dia 6 de fevereiro, abri esta coluna assim: "Uma espécie de jacobinismo sem utopia (...) estava tomando conta do noticiário sobre a Operação Lava Jato. (...) A distorção era fruto da hegemonia cultural das esquerdas no geral e do petismo em particular (...)". E o texto concluía: "Não se trata de saber se empreiteiros corrompem porque o PT se deixa corromper ou se o PT se deixa corromper porque empreiteiros corrompem. É besteira indagar quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha. A resposta não está entre a ontologia e a zoologia. A questão que importa é saber quem mandava no galinheiro".

Já estava claro para mim que se desenharia, como se desenhou, a farsa da "investigação rigorosa, doa a quem doer", que terminaria por preservar... os donos do galinheiro. Lula nem sequer foi ouvido pelos "Heróis de Curitiba". Heróis? O único que reconheço é o Superpateta, amigo do Mickey.

Rodrigo Janot não vê motivos para investigar nem Dilma Rousseff nem Aécio Neves, como se ambos exercessem, prestem atenção!, o mesmo "não papel" nessa história. A questão é de tal sorte absurda que nem errada consegue ser. Não existem denunciados no elenco escalado por Janot, só alvos de inquérito. Os políticos no geral, e os petistas em particular, seriam apenas atores coadjuvantes desse filme ruim, que disputa o Oscar de "Melhor Roteiro Adaptado". A farsa original foi escrita no mensalão.

"Por que lembrar o que você escreveu?" Porque a Folha não obriga a que se faça "recall" de análise com defeito. É preciso matar a cobra e mostrar a cobra. O pau, qualquer um mostra. Vamos à segunda parte?

O país entrou em transe; a economia só não está parada porque encolhe; mesmo as iniciativas corretas –como a de tentar acordos de leniência– se perdem na bisonhice política de um Luís Inácio Adams. Uma linha de articuladores que reúne Aloizio Mercadante, Pepe Vargas, Miguel Rossetto e Jaques Wagner entrou numa competição desleal com o Íbis Sport Clube, agora apenas o segundo pior time do mundo.

Sim, a Petrobras foi à breca, o país está na lona, Joaquim Levy espicha seu olhar fiscalista até para as bolsas das velhinhas... Mas tanto desastre, vejam que bacana!, sepultou a reforma política do PT, que tinha ares de golpe branco na democracia; permitiu o avanço do que chamam por aí, de modo burro, de "PEC da Bengala", o que deve preservar o STF de tentações momesco-bolivarianas; enterrou os delírios dos companheiros de "controle social da mídia"; transformou, desta feita, o estelionato eleitoral em "carnadura concreta" (by João Cabral).

Atenção! Em 2003, Lula jogou no lixo o programa com o qual se elegeu, e isso foi bom. Estelionatário, sim, mas, a seu modo, virtuoso. Desta feita, Dilma sepultou as promessas da campanha –porque não tinha saída–, e a vida das pessoas piorou.

Saúdo, assim, a incompetência do governo. E não porque eu seja adepto do quanto pior, melhor! Mas porque a crise trouxe de volta a política. Janot, com as suas alegorias de mão, lustra o Brasil da impunidade. Dilma, com a sua ruindade, preserva o país, eis a ironia, da sanha petista, como veremos no próximo dia 15, nas ruas. Engraçado, né?

 

bernardo mello franco

Operação Salva Mandato

BRASÍLIA - Depois da Lava Jato, vem aí a Operação Salva Mandato. É o que se discute no Congresso diante da divulgação diária de novos nomes de parlamentares na lista de investigados no petrolão.

Integrantes da bancada governista estão sendo orientados a repetir que a abertura de inquéritos no Supremo Tribunal Federal não será motivo suficiente para justificar a instauração de processos de cassação.

O discurso tem um objetivo claro: bloquear o andamento das primeiras representações que devem chegar em breve aos Conselhos de Ética da Câmara e do Senado.

Por ora, PT e PMDB vão sustentar que os processos de cassação só poderão começar quando os inquéritos se transformarem em denúncias ou ações penais. Isso pode levar meses, devido à quantidade de casos nas mãos do ministro Teori Zavascki.

Se a tática governista for cumprida à risca, as primeiras representações por quebra de decoro serão arquivadas de imediato, sem que os parlamentares analisem as provas contra os colegas citados na operação.

A abertura de inquéritos não é sinônimo de culpa, mas o Ministério Público Federal já reuniu indícios suficientes de que diversos políticos quebraram o decoro ao negociar com a quadrilha que roubava a Petrobras.

Em dezembro, os mesmos partidos que articulam a pizza adotaram outro critério ao cassar o deputado André Vargas, eleito pelo PT do Paraná. Ele perdeu o mandato três meses antes da divulgação da lista de Janot.

*

O ministro Luis Felipe Salomão, relator da Lava Jato no STJ (Superior Tribunal de Justiça), é o favorito do PMDB para a vaga deixada por Joaquim Barbosa no Supremo.

Ao assumir sua cadeira atual, ele agradeceu o apoio de dois líderes do partido no Rio: Sérgio Cabral e Eduardo Cunha, ambos citados na operação. Agora deverá conduzir inquérito contra o governador Luiz Fernando Pezão, também do PMDB.

(por Bernardo Mello Franco)

 

mônica bergamo

Crise pode obrigar Dilma a buscar um pacto político, incluindo nele o PSDB

A rápida deterioração do quadro político e o agravamento da crise econômica podem obrigar Dilma Rousseff a buscar um pacto político no país, esforçando-se para incluir nele o PSDB. A ideia já é discutida entre dirigentes e ex-ministros do PT.

EMPURRÃO
O empurrão viria de setores empresariais e financeiros com pânico da recessão (só o setor de máquinas e equipamentos prevê demitir 30 mil neste ano). E também de lideranças políticas atingidas pelo aprofundamento da crise. Nesta semana, milhares de professores em greve saíram às ruas no Paraná para protestar contra o governador tucano Beto Richa, por exemplo.

EMPURRÃO 2
A possibilidade de rodízio de água em SP também coloca o governo do tucano Geraldo Alckmin em alerta, pelo potencial de turbulência social que a medida pode gerar.

EMPURRÃO 3
Além de governadores do PSDB, também José Serra (PSDB-SP) e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso são vistos como possíveis interlocutores de um diálogo emergencial para que o caldo não entorne de uma vez.

ÁGUA FRIA
A exclusão do senador Aécio Neves (PSDB-MG) da lista de envolvidos no escândalo da Operação Lava Jato frustrou boa parte do governo e do PT. O procurador-geral, Rodrigo Janot, que fechou o documento, não guardou segredo quanto ao fato de o tucano estar citado em delações premiadas. Isso foi entendido como um sinal de que ele não pouparia o tucano.

ÁGUA FRIA 2
Janot já está sendo comparado ao ministro Luiz Fux, do STF (Supremo Tribunal Federal). O magistrado foi indicado à corte graças à expectativa de que inocentaria os réus do mensalão. E fez justamente o contrário.

SUOR
O presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, já disse a interlocutores que pretende tirar Wilson Santarosa da gerência de comunicação institucional da estatal. Há anos ele comanda a cobiçada área de patrocínios da empresa.

(por Monica Bergamo)

 

vinicius torres freire

O ajuste fiscal vai às ruas

barraco na praça dos Três Poderes e o listão dos parlamentares dominam as conversas daquilo que um dia se chamou de "formadores de opinião" (formam a opinião uns dos outros). Devem afetar também o povo que assiste a tudo isso bestificado ou enojado, mas que em geral tem mais o que fazer ou acompanha essas turumbambas a uma distância desesperançada ou cínica.

Parece que pelo menos no momento se esquece que a vida fora do universo paralelo de Brasília anda bem prejudicada e piorando, o que, por fim, vai realimentar um dos motivos fundamentais da crise, o desprestígio popular da presidente Dilma Rousseff. Muito se trata das macroeconomias e políticas politiqueiras do ajuste fiscal, mas pouco se tem lembrado que a conta cai no lombo de pessoas reais. Somado aos efeitos da inflação, de outro ano de queda da renda nacional, de juros mais altos e menos empregos, o ajuste fiscal deve ter mais efeitos políticos do que o listão do Janot.

Uns três decretos de aumentos recentes de receitas podem tirar de empresas e consumidores o equivalente ao gasto de um ano e três meses de Bolsa Família. Ou a 75% de toda a massa de salários paga em um mês nas seis maiores regiões metropolitanas do país. Como esses talhos de renda têm efeitos secundários (são "multiplicados"), o estrago é muito maior.

Por exemplo, considere-se a Cide, o imposto dos combustíveis. A gasolina 22 centavos mais cara não causa uma revolução, embora o aumento do diesel tenha contribuído para agitar caminhoneiros. Combustível mais caro causa uma irritação difusa, menor, embora perceptível em redes sociais. Mas, no "agregado", tudo somado, contribui para um talho anual de mais de R$ 17 bilhões no bolso de quem consome esses combustíveis (o governo federal deve arrecadar uns R$ 12,2 bilhões com a volta desse imposto, pois transfere parte dessa receita para Estados e municípios).

Uma paulada mais visível será a das contas de luz, embora a gente ainda nem saiba o tamanho final dos reajustes. Sabe-se que o governo pretende cancelar todos os subsídios que bancava com mais dívida, no final das contas. Ou seja, o governo vai deixar de gastar repassando ao consumidor a conta dos dinheiros que passava às empresas de energia.

No ano passado, foram quase R$ 12 bilhões. Neste ano, na estimativa do projeto de Orçamento, o gasto iria a R$ 9 bilhões (a conta total desse fundo de despesas do setor elétrico, CDE, é de R$ 22 bilhões para este ano). Há gente no governo a dizer que a paulada, no final das contas, deve chegar a pelo menos R$ 10 bilhões.

aumento do IOF, do imposto sobre operações financeiras, parece quase invisível diante da conta de juros aberrante de qualquer financiamento no Brasil. No entanto, no fim das contas tira mais de R$ 7 bilhões do "setor privado".

Cide, IOF e conta extra de luz, somados, dão, portanto, uns R$ 34 bilhões. Uma conta que vai recair sobre uma população que estará na média mais empobrecida (o PIB per capita vai cair outra vez), ainda que um ou outro grupo de trabalhadores ainda empregados possa ter algum aumento real de salário.

Mas a conta não vai parar por aí. Nem a dos impostos, nem a do custo político.

(por Vinicius Torres Freire)

Fonte: Folha de S. Paulo

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