No ESTADÃO: "Crise do fim do mundo", por ELIANE CANTANHEDE

Publicado em 02/03/2015 18:52

O 15 de março vem aí, com péssimas condições de tempo e temperatura, o governo fazendo barbeiragens e a oposição instigando as manifestações, mas desautorizando o "Fora, Dilma". E ironizando o "Foi o FHC".

Na economia, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, acerta ao entregar um superávit de R$ 21 bilhões em janeiro, mas erra feio ao criticar e chamar de "brincadeira" as desonerações feitas pela chefe Dilma Rousseff no primeiro mandato. Não se cutuca a onça com vara curta.

E... o aumento de até 150% nos impostos da indústria vem numa hora de pânico do setor produtivo e não é nada promissor para crescimento, inflação e empregos, que já começam a tremelicar.

Na política, as ameaças ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Entraram na casa dele e isso virou justificativa para seu encontro com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, um mês depois, justamente às vésperas do anúncio da lista de políticos do PT e do PMDB na Lava Jato. Pior: em 48 horas, o procurador desiste da denúncia de políticos e segue pelo desvio de abrir inquérito. Leia-se: jogar tudo para as calendas.

Janot pode estar enveredando pelo pior dos caminhos: aquele que estanca um basta na corrupção sistêmica, dá na impunidade dos responsáveis pela maior roubalheira descoberta na República e, atenção, pode respingar na sua própria biografia.

Já o ministro da Justiça se encontra com o advogado da UTC, por acaso, ali na porta ao lado do seu gabinete, diz "Oi!, como está você?" e vira as costas. Também recebe a turma da Odebrecht e registra em ata que vai ver direitinho como foi o pedido de dados na Suíça, o que pode resultar em anulação de provas contra as empreiteiras. Depois se reúne com o procurador à noite, numa semana decisiva, para discutir um arrombamento desses que ocorrem às centenas, ou milhares, por dia.

Enquanto a política econômica dá um cavalo de pau, as versões do governo para sua ação na Lava Jato parecem sem pé nem cabeça e a sociedade se move, as investigações do esquemão na Petrobrás avançam. Só não se sabe para onde.

Já eram esperadas as delações premiadas de dois executivos da Camargo Corrêa, o presidente, Dalton Avancini, e o vice, Eduardo Leite (em choque com a própria companhia), que devem reforçar a tese de cartel contra a de esquema político para eternizar o PT no poder.

É o que o governo quer, mas não o que interessa à Odebrecht, onde habitam os maiores amigos de Lula e Dilma no setor. A empresa é a única que não tem nenhum executivo na cadeia e ficou fora da lista que vai pagar multa de R$ 4,5 bilhões, porque seus meandros de financiamento de campanha são muito mais complexos, não se encaixam nas investigações. Mas, se prevalecer a confissão conjunta de "cartel", ela entra na dança.

É mais um choque de interesses, mas o foco continua sendo no grande personagem das investigações: Ricardo Pessoa, o homem bomba da UTC. Tudo depende agora do fator emocional. Digamos que é uma questão de tempo.

Tem-se, assim, que a economia está como está, os ajustes são amargos num momento já de tanta amargura, o PMDB acaba de ir à TV se descolando do governo, cresce a sensação de que o procurador-geral está nas mãos de Dilma e Cardozo e o desfecho da Lava Jato é incerto, depois de tantas revelações escabrosas.

Pois é... e o 15 de março vem aí. Fernando Henrique Cardoso reuniu seus generais na sexta e o recado é: manifestações, sim; incitar o impeachment, não. Lula também reuniu sua tropa e avisou: se necessário, põe nas ruas a "tropa do Stédile" (ou seja, MST e movimentos sociais).

O que talvez os dos dois lados não estejam entendendo é que, desta vez, não se trata de PT versus PSDB. O momento é grave, a situação é complexa e a dinâmica é a de junho de 2013. As manifestações não são de partidos, de governo ou de oposição. São principalmente contra Dilma, mas contra todos eles.

 

Um tsunami de pessimismo, editorial do ESTADÃO

Com a inflação alta, a perda de renda familiar, a piora do mercado de emprego e o bombardeio de más notícias de todos os lados, nada parece mais natural que o pessimismo crescente de consumidores, comerciantes e industriais. A presidente Dilma Rousseff poderia atribuir esse mau humor à desinformação - argumento já usado para desqualificar a Moody's, agência de classificação de risco, depois do rebaixamento da nota de crédito da Petrobrás.

Não há como levar a sério esse esperneio, assim como é impossível esperar um grande 2015 quando todo o noticiário mostra um cenário de graves dificuldades. De dezembro para janeiro, foram eliminados 235 mil empregos com carteira assinada no setor privado, nas seis maiores áreas metropolitanas, segundo informou na quinta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na comparação com janeiro de 2014, a perda foi de 224 mil vagas formais. Em todo o País, 81.774 vagas formais foram perdidas em janeiro, segundo o cadastro levantado mensalmente pelo Ministério do Trabalho.

O aumento do desemprego nas seis maiores áreas metropolitanas torna sombrio o conjunto dos indicadores econômicos. O levantamento mensal de emprego do IBGE, realizado nessas áreas, normalmente aponta um quadro bem melhor que o descrito na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, conduzida em cerca de 3.500 municípios. Segundo esta pesquisa, o desemprego diminuiu do terceiro para o quarto trimestre, mas ainda ficou em 6,5%, bem acima do nível estimado para os seis principais conjuntos urbanos. No cenário do emprego, nada justifica, neste momento, algum otimismo em relação ao nível de atividade.

De dezembro para janeiro, o desemprego medido nesse levantamento mais limitado passou de 4,3% para 5,3%. A desocupação sempre aumenta nessa época, mas desta vez a variação foi além da tendência sazonal - um claro reflexo do baixo nível da atividade industrial, do fraco desempenho do comércio e do enfraquecimento do setor de serviços. A piora em todas essas atividades vem sendo mostrada seguidamente pelos dados mensais do IBGE.

O pior desempenho continua sendo o da indústria e isso tem afetado sensivelmente o mercado de emprego. Os maiores cortes de vagas nas seis áreas metropolitanas ocorreram no setor industrial. Foram eliminados 216 mil postos entre janeiro de 2014 e janeiro de 2015, com redução de 6% no contingente de ocupados. No comércio, apesar da piora das vendas no segundo semestre, o número de ocupados ainda cresceu 0,3% em 12 meses, com a contratação de 11 mil funcionários. Mas o índice de confiança do empresário comercial caiu 8,8% de janeiro para fevereiro, segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Foi a quarta queda consecutiva e o nível atingido foi 20,3% mais baixo que o de fevereiro do ano passado.

Tanto na sondagem da FGV quanto na realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) as expectativas do consumidor também pioraram. A pesquisa da FGV mostrou um recuo de 4,9% entre janeiro e fevereiro e uma piora de 20,4% em relação ao dado de um ano antes. Segundo o levantamento da CNI, o nível em fevereiro foi 4% inferior ao de janeiro e 8,1% inferior ao de fevereiro de 2013.

No caso do empresário industrial, o índice de confiança recuou 4,2 pontos e atingiu o menor nível da série iniciada em 1999, de acordo com a CNI. Houve piora tanto da avaliação das condições atuais quanto das expectativas em relação aos seis meses seguintes.

O mau humor de consumidores, comerciantes e industriais prejudica tanto a disposição de ir às lojas quanto a de investir e contratar. Esse quadro de pessimismo tornará muito mais difícil o cumprimento de duas das promessas da nova equipe econômica, o ajuste das contas públicas e a retomada do crescimento econômico. Sem negar ou disfarçar os custos do ajuste, a equipe terá de se esforçar para convencer consumidores e empresários a apostar na recuperação do País. A mera negação dos problemas, discurso habitual da presidente, só servirá para atrapalhar.

 

De mãos atadas, por DORA KRAMER

Alvo da vez no meio do intenso tiroteio de denúncias, suspeições, informações e contrainformações decorrentes da Operação Lava Jato, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, reivindica um minuto de atenção para que se reflita sobre duas questões.

Primeira: "Alguém em sã consciência consegue acreditar que eu possa telefonar para o Teori (Zavascki, ministro do Supremo Tribunal Federal) pedindo que ele aceite os habeas corpus dos advogados em favor dos clientes presos?"

Segunda: "Posso, por acaso, ligar para o juiz Sérgio Moro e pedir que ele conduza o processo desta ou daquela maneira, de modo a favorecer a quem quer que seja?"

Ele mesmo responde: "Nem se quisesse poderia fazer nada, pois estaria me arriscando a ser preso". Com isso, o ministro José Eduardo Cardozo quer dizer que há mais conjectura fantasiosa (ou esperançosa) que objetividade na suposição de que o governo possa de fato interferir nos procedimentos de modo a evitar o avanço das investigações ou de alguma forma anular o que foi feito até agora.

Não que isso não possa ocorrer, mas é algo a ser tentado pelos advogados no âmbito judicial. Olhando por esse ângulo, o ministro realmente tem razão. Conforme noticiou o Estado na sexta-feira, emissários das empreiteiras envolvidas têm procurado o ex-presidente Luiz Inácio da Silva em busca de interferência política.

Mais fácil de falar que de fazer. Se quando estava no auge, governo poderoso com apoio político sólido, Lula nada conseguiu para salvar os envolvidos no processo do mensalão - um caso até insignificante se comparado com o atual -, não seria agora que teria espaço para atuações de bastidor para lá de arriscadas.

Pelo seguinte: as investigações sobre a Petrobrás estão sendo feitas também por órgãos internacionais; a Justiça brasileira - inclusive os tribunais superiores, STJ e STF - não dá sinais de condescendência com os acusados e tem apoiado as decisões de Sérgio Moro; há toda uma atmosfera de alerta contra a possibilidade de interferência política; e, mais importante, o governo está fraco. Mal pode com as próprias pernas. O que dirá com as dos outros.

O ministro da Justiça apresenta sua versão sobre o encontro com os advogados Sigmaringa Seixas e Sérgio Renault, negando que teriam conversado sobre a hipótese de uma "operação salva-vidas". Segundo ele, houve apenas uma troca de cumprimentos na antessala do gabinete.

Afirma também que recebeu advogados da Odebrecht para tratar de dois assuntos administrativos da Polícia Federal: reclamação sobre vazamentos ilegais de informações e questionamento da legalidade de provas obtidas pelo Ministério Público na Suíça.

Ainda que, por hipótese, não tenha sido só isso, a confusão gerada por esses encontros serviu de alerta para a impossibilidade prática de se prosseguir por caminhos heterodoxos, fora do campo judicial. A interferência, se mudar alguma coisa, é para pior.

Lula nessa seara já tem problemas demais.

Discurso da rainha. 

Sim, a presidente Dilma Rousseff tem razão: se o esquema de corrupção na Petrobrás tivesse sido investigado antes, as coisas não tinham chegado ao ponto em que chegaram.

Ela referiu-se ao governo Fernando Henrique Cardoso, ao qual seu partido sucedeu, em 2003. Teve, portanto, 11 anos para pedir a abertura de investigações ao Ministério Público, à Polícia Federal e demais órgãos de controle.

O que se viu, no entanto, foi a quadrilha aprofundando e estendendo seus tentáculos debaixo dos narizes dos presidentes petistas e a presidente até meados do ano passado negando peremptoriamente que houvesse qualquer irregularidade na companhia.

 

Em VEJA (por Reinaldo Azevedo):

Dilma: no mato, sem rottweiler amoroso, tadinha! Ou: O PT contra a presidente

Pois é… Centrais sindicais botaram algumas centenas de militantes nas ruas em manifestações contra as Medidas Provisórias 664 e 665, que alteram regras de acesso a benefícios trabalhistas, especialmente o seguro-desemprego. As mudanças, nesse particular, diga-se, são corretas. Quem disse que aqui só se fala mal do governo? Se vez em quando, este rottweiler é amoroso, né?

O busílis é que os aliados de Dilma são contra. Aí o bicho pega. Os cutistas também mandaram seus manifestantes para a rua. As centrais planejam um Dia Nacional de Luta contra o pacote — talvez 23 de março.

Mas não é só. O jornal O Globo ouviu os petistas no Parlamento. Que coisa! Num grupo de 59 deputados e senadores, 40 disseram não concordar com as medidas fiscais adotadas pelo governo. Mas não é só: do grupo, 29 afirmaram que acompanharão a orientação do governo, mas 20 outros afirmaram que não vão aceitar as medidas. Dez deles dizem que só as aprovam com alterações.

A coisa é séria. O partido tem 14 senadores; 12 responderam à seguinte pergunta: “Concorda com o ajuste fiscal da forma como foi enviado?”. Um não quis responder, e 12 disseram “não”.

Vejam o resultado do levantamento.

Por Reinaldo Azevedo

A menos que Dilma esteja pensando em botar os tanques na rua, por que Jaques Wagner está fazendo a coordenação política? Justo ele?

Jaques Wagner, ministro da Defesa, foi escolhido pelo governo para o “senta que o leão é manso”. Considerado — por quem?  — um bom articulador, ele agora se encarrega de chamar atenção para as turbulências que vêm por aí. Sim, vêm mesmo!

A menos que Dilma esteja pensando em botar os tanques na rua — e eu acho que, se convocados, eles fariam ouvidos moucos —, o que Jaques Wagner tem a ver com a crise? O articulador político do governo não é Aloizio Mercadante?

Quer dizer: Wagner tem, sim, a ver com a crise. Ricardo Pessoa, o empresário com o qual o Ministério Público não fez acordo de delação premiada, diz ter contribuído de maneira, digamos, informal para suas duas campanhas, vitoriosas, para o governo da Bahia: 2006 e 2010. Afirma ainda que atuou também em 2014 para eleger o igualmente petista Rui Costa, sucessor de Wagner.

Não só isso. José Sérgio Gabrielli, o presidente da Petrobras no período em que a empresa foi destruída, é da turma de Wagner. Tanto é assim que, quando foi demitido por Dilma, o então governador da Bahia o abrigou com um cargo de relevo: secretário do Planejamento. O objetivo inicial era fazê-lo candidato.

Se Wagner é o bombeiro de que Dilma dispõe, melhor, então, chamar o incendiário.

Os números aloprados da economia: recessão, déficit, juros… Ou: 13 na cabeça!

Qual notícia ruim sobre a economia você prefere, leitor amigo? A expectativa do mercado de que o país terá o pior desempenho econômico em 25 anos? Segundo os agentes de mercado ouvidos pelo Boletim Focus, a retração em 2015, agora, está projetada em 0,58%, pior do que a de 2009, quando houve encolhimento de 0,3% em razão da crise global. É a nona piora consecutiva de expectativas. E continuará a piorar.

Mas você pode escolher uma outra. Que tal o pior desempenho da balança comercial no mês de fevereiro em 21 anos, com déficit de US$ 2,842 bilhões? As exportações somaram US$ 12,092 bilhões, e as importações, US$ 14,934 bilhões. No acumulado de 2015, a conta está no vermelho em US$ 6,016 bilhões. As vendas externas foram de US$ 25,796 bilhões, e os gastos no exterior atingiram US$ 31,812 bilhões.

Notem: não estamos apenas com um quadro de encolhimento da economia. Ele também é marcado pela crescente deterioração das contas externas. E a situação só não foi pior porque a retração econômica contribui para diminuir as importações. Houve queda de 20,3% no item “combustíveis e lubrificantes” e de 8% no de bens de capital — o que é particularmente preocupante porque indica o declínio da indústria.

Nas exportações, houve queda nas commodities, que têm segurado a peteca: 72,2% de grãos, 35,7% de ferro e 19,9% de açúcar refinado. A indústria foi a lástima costumeira.

13 na cabeça!
Ah, bem… Então voltemos às projeções. Agora, os analistas acham que o ano termina com a Selic a 13%, não mais a 12,75%. A projeção para a inflação também cresceu: de 7,33% na semana passada para 7,47%.

Fora isso, vai tudo bem…

Fonte: Estadão + veja

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