Na FOLHA: Deflação mundial pode adiar alta de juros nos EUA e diminuir selic no Brasil

Publicado em 17/01/2015 09:38
na Folha de S. Paulo

Deflação cria incerteza sobre juros nos EUA

Índice de preços recua pelo 2º mês seguido e pode adiar ação do BC americano de elevar taxa, praticamente zerada há 6 anos

Expectativa de que o aperto monetário leve mais tempo para ser adotado ajuda a impulsionar mercados

 

A queda nos preços do petróleo levou a economia norte-americana a registrar deflação nos últimos meses de 2014 e aumentou as incertezas sobre quando o Fed (BC dos EUA) vai subir os juros, praticamente zerados há mais de seis anos.

O aperto dos juros pelo Fed é acompanhado com atenção por investidores. A tendência é que, com o aumento, parte do dinheiro que hoje está nos mercados emergentes (inclusive o Brasil) rume para os EUA, em busca do rendimento e da maior segurança da economia americana.

A expectativa de que o Fed tenha de adiar a alta da taxa --prevista para este semestre-- ajudou a impulsionar os mercados em todo o mundo. Nos EUA, a Bolsa de Nova York subiu 1,1% no índice Dow Jones e 1,34% no S&P 500.

Os preços nos EUA recuaram 0,4% em dezembro, a maior em seis anos, em consequência da redução de 4,7% nos preços de energia. Em novembro, a queda foi de 0,3%.

Na comparação com o mesmo período de 2013, o índice subiu apenas 0,8%, a menor elevação desde outubro de 2009. A meta do Fed é de uma inflação próxima a 2%.

A queda do petróleo também foi responsável pela primeira deflação nos países da zona do euro em mais de cinco anos (-0,2% em dezembro, ante o mesmo período um ano antes), elevando as preocupações sobre a recuperação da economia na região.

A deflação é um fantasma que incomoda a Europa há alguns meses, e os dados divulgados nesta sexta-feira (16) mostram que o problema, antes isolado em poucos países, agora está disseminado pela maior parte do bloco.

A longo prazo, a deflação é sintoma de fraqueza da economia, pois revela que os consumidores não estão dispostos a gastar e que as empresas precisam cortar gastos, gerando um ciclo negativo.

Por isso, para romper esse ciclo, espera-se que o BCE (Banco Central Europeu) siga na semana que vem o exemplo do Fed de 2012 e inicie um problema de "relaxamento monetário", comprando títulos dos países como forma de estimular a economia, que teve crescimento de 0,2% no terceiro trimestre.

Nos EUA, com uma economia crescendo forte nos últimos meses (o PIB teve avanço de 5% no terceiro trimestre, o mais expressivo em 11 anos) e com o desemprego se aproximando dos 5% --patamar considerado de pleno emprego--, o Fed já cortou esses estímulos e agora vive a expectativa da alta dos juros.

Na ata da sua reunião de dezembro, o Fed diz que pode subir os juros mesmo com a inflação baixa desde que seus integrantes tenham "confiança razoável de que o índice vai voltar aos 2% com o passar do tempo".

Para o economista Jay Feldman, do banco Credit Suisse, "o comportamento do núcleo da inflação nos próximos meses será essencial para o momento em que o Fed elevará os juros".

O núcleo da inflação não leva em consideração os preços de alimentos e energia, que são considerados mais voláteis. O índice no mês passado ficou em 1,6% na comparação com o mesmo período de 2013.

 

Onda deflacionária global derruba juros e sustenta a Bolsa no Brasil

Investidores falam em redução da Selic em 2016; Bovespa sobe 2,06% e dólar cai a R$ 2,62. Banco Central Europeu deve anunciar novo programa de compra de títulos; China injetará US$ 8 bi na economia

Uma onda deflacionária nos EUA e na Europa, resultante da queda nos preços de combustíveis e de produtos importados, derrubou nesta sexta (16) as taxas de juros e impulsionou a recuperação da Bolsa no Brasil.

Diante de preços controlados e da fraqueza da economia global, a expectativa agora é que o Federal Reserve (BC dos EUA) talvez não precise elevar os juros americanos em 2015. Dessa forma, o Fed deixaria de ser oposição aos bancos centrais que fomentam estímulos para a economia. Suíça, Índia, Egito e Peru já reduziram suas taxas locais de juros.

Na Europa, a previsão é que o BC divulgue na próxima quinta um novo programa de compra de títulos para injetar dinheiro na economia. A China vai ceder 50 bilhões de yuans (aproximadamente US$ 8,1 bilhões) para os bancos refinanciarem produtores rurais e pequenas empresas endividadas.

No Brasil, os investidores começam a ver o Banco Central retomando em 2016 a redução nos juros (Selic), após completado neste ano o ciclo de alta das taxas para segurar a inflação. Isso fica evidente no contrato de juros para janeiro de 2017 (reflete a ação do BC em 2016), cujas taxas caíram de 12,37% para 12,27% nesta sexta. Os juros de janeiro de 2017 já são inferiores aos projetados em janeiro de 2016 (reflete as decisões do BC deste ano), que desceram de 12,62% para 12,56%.

"Os juros estão caindo em todo o mundo e não poderia ser diferente no Brasil. A credibilidade da nova equipe econômica também ajuda", afirmou Mauro Mattes, da corretora Concórdia.

"A deflação alivia a pressão por aumento de juros nos EUA. Talvez não precise ocorrer tão cedo", disse Newton Rosa, economista da SulAmerica Investimentos.

DÓLAR E BOLSA

O Ibovespa, principal índice da Bolsa de São Paulo, subiu 2,06%, aos 49.016 pontos.

O dólar à vista, referência no mercado financeiro, caiu 0,52% nesta sexta no país, encerrando a R$ 2,621. Na semana, houve baixa de 0,72%. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, recuou 0,79% no dia e 0,61% na semana, para R$ 2,622.

As ações preferenciais (sem voto) da mineradora Vale subiram 3,67%. A China é o principal destino das exportações da companhia brasileira. Também subiram as ações das siderúrgicas Gerdau (5,16%), CSN (6,39%) e Usiminas (3,67%).

Os papéis da Petrobras foram beneficiados pelo avanço de 4% no petróleo (o Brent fechou a US$ 50,17). O papel preferencial da estatal subiu 1,07%, e o ordinário (com voto), 0,22%. O mercado aguarda pelo balanço não auditado da companhia, que deve sair no final deste mês.

"O resultado pode conter baixas contábeis referentes a uma estimativa de perdas com preços pagos por ativos acima do valor justo. O mercado tem estimado essas perdas na casa dos R$ 20 bilhões, valor equivalente a 5,5% do patrimônio líquido de junho de 2014", disse a equipe de análise da Planner Corretora, em relatório.

O setor bancário, segmento com maior peso dentro do Ibovespa, também fechou no azul, ajudando a sustentar a Bolsa. Os papéis preferenciais do Itaú Unibanco ganharam 1,54%, enquanto os do Bradesco mostraram valorização de 0,97%.

 

Instituições têm perdas pesadas com franco suíço

FOLHA DE SÃO PAULO

Corretores de câmbio de Londres e Nova York tiveram perdas pesadas na quinta (15) com a alta de até 39% do franco suíço, após o banco central do país desistir de controlar o teto de variação da moeda local em relação ao euro.

A corretora britânica Alpari, que atendia pequenos investidores, quebrou.

Nos EUA, os clientes da FXCM perderam US$ 225 milhões. A corretora só não quebrou porque foi arrematada pelo banco Jefferies por US$ 300 milhões.

O Citigroup e o Deutsche Bank têm perdas estimadas em US$ 150 milhões cada um, enquanto o britânico Barclays teria perdido US$ 50 milhões. Fundos de hedge também teriam perdas relevantes com o franco suíço.

Fonte: Folha de S. Paulo

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