Na Veja: Lula e José Dirceu se desentendem por causa do petrolão
Em VEJA desta semana
Lula e José Dirceu se desentendem por causa do petrolão
Os dois líderes históricos do PT não conversaram desde que o escândalo ganhou corpo. "Vocês me abandonaram há tempos", diz Dirceu
DIGITAIS – Dirceu, apontado como padrinho do diretor da Petrobras envolvido no esquema, queria combinar com Lula uma estratégia de defesa (Joel Rodrigues/Frame/VEJA)
Faz tempo que o escândalo de corrupção na Petrobras serve de combustível para o fogo amigo dentro do PT. No ano passado, petistas que comandavam o movimento “Volta, Lula” criticaram a presidente Dilma Rousseff por admitir que aprovara a compra da refinaria de Pasadena com base num relatório falho. Com o gesto de sinceridade, Dilma teria levado a crise para dentro do Palácio do Planalto, segundo seus adversários internos, e demonstrado uma ingenuidade e um amadorismo capazes de pôr em risco a permanência do partido no poder. No afã de tirá-la da corrida eleitoral, aliados de Lula também acusaram a presidente de traição ao responsabilizar a antiga diretoria da Petrobras, nomeada pelo antecessor, pelos desfalques bilionários nos cofres da companhia. Como o “Volta, Lula” não decolava e a sucessão presidencial se anunciava acirrada, os petistas selaram um armistício até a eleição. Mas, com Dilma reeleita, retomaram a disputa fratricida. O motivo é simples: estrelas do PT serão punidas novamente — agora no petrolão. Resta saber quem pagará a conta. Com as prisões do mensalão ainda frescas na memória, ninguém está disposto a ir para o sacrifício.
A tensão decorrente das investigações e do julgamento do esquema de corrupção na Petrobras colocou em trincheiras opostas as duas mais importantes lideranças históricas do PT: Lula e seu ex-ministro José Dirceu. Tão logo os delatores do petrolão disseram que o exdiretor de Serviços da Petrobras Renato Duque recolhia propina para o partido, Dirceu, o padrinho político de Duque, ligou para o Instituto Lula e pediu uma conversa com o ex-presidente. O objetivo era se dizer à disposição para ajudar os companheiros a rebater as acusações e azeitar a estratégia de defesa. Conhecido por deixar soldados feridos pelo caminho, Lula não ligou de volta. Em vez disso, mandou Paulo Okamotto, seu fiel escudeiro, telefonar para Dirceu. Assim foi feito. “Do que você está precisando, Zé?”, questionou Okamotto. Dirceu interpretou a pergunta como uma tentativa do interlocutor de mercadejar o seu silêncio. À mágoa com Lula, que o teria abandonado durante o ano em que passou na cadeia, Dirceu acrescentou pitadas de ira: “Você acha que vou ligar para pedir alguma coisa? Vocês me abandonaram há tempos”, respondeu. E fim de papo.
Diretor do Instituto Lula, Okamotto é frequentemente convocado pelo ex-presidente para cumprir missões espinhosas. Ele atuou, por exemplo, para impedir que as investigações sobre o mensalão chegassem ao chefe. Em depoimento ao Ministério Público Federal (MPF), o empresário Marcos Valério disse ter sido ameaçado de morte por Okamotto. O recado foi claro: ou Valério se mantinha em silêncio ou pagaria caro por enredar Lula na trama. O Supremo Tribunal Federal (STF) condenou Valério, o operador do mensalão, a 37 anos e cinco meses de prisão. Logo depois de as primeiras penas serem anunciadas, Valério declarou ao MPF que Lula se beneficiara pessoalmente do esquema. No mesmo processo, Dirceu foi condenado por corrupção a sete anos e onze meses de prisão. O petista já deixou a cadeia e, por decisão da Justiça, cumpre o resto da pena em regime domiciliar. Ao telefonar a Lula, ele quis deixar claro a necessidade de o governo e o PT organizarem uma sólida estratégia de defesa no petrolão. A preocupação tem razão de ser.
Delatores do petrolão disseram às autoridades que Renato Duque recolhia 3% dos contratos da diretoria de Serviços da Petrobras para o PT. No âmbito de um acordo de delação premiada, Pedro Barusco, que era o adjunto de Duque, disse que o ex-diretor recolheu propina em pelo menos sessenta contratos. Barusco também implicou o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, na coleta de dinheiro roubado dos cofres da Petrobras. Outros delatores, como empreiteiros, afirmaram que a dinheirama surrupiada financiou campanhas petistas. Há provas fartas contra o partido. É certo que haverá punições. E é justamente isso que faz a briga interna arder em fogo alto. Dilma mantém o discurso de que nada tem a ver com a roubalheira. Executivos nomeados por Lula e demitidos por sua sucessora, como o ex-presidente da Petrobras Sergio Gabrielli e o ex-diretor Nestor Cerveró, não aceitam ser responsabilizados. O mesmo vale para Dirceu, que não quer correr o risco de voltar à Papuda.
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O MOMENTO DE PORNOGRAFIA EXPLÍCITA DO CAPITALISMO — OU DO SOCIALISMO — À MODA PETISTA: Dilma quer que bancos públicos socorram empresa privada do setor naval com R$ 10 bilhões. O probleminha é que há alguns réus na Lava-Jato no meio do caminho…
Está em curso um troço realmente do balacobaco, que a Folha traz em sua manchete de hoje. Eu poderia dizer que é a cara do PT. E é. Mas também é a cara das piores práticas da ditadura militar. E o PT, como é sabido, mimetiza muitos procedimentos daquele período. O emblema talvez seja Delfim Netto, guru econômico da linha dura fardada e de Lula. Mas vamos ao ponto, que sintetizo em tópicos.
1: O governo petista decidiu estimular a indústria naval brasileira. Que bom! A companheirada é assim mesmo: executa uma política econômica que liquida os setores competitivos para estimular aqueles em que o país não conseguirá ser eficiente.
2: Sob os auspícios de Lula e Dilma, criou-se a Sete, empresa para construir e alugar 28 sondas de perfuração, um projeto orçado em US$ 25 bilhões. São sócios do empreendimento a Petrobras, o Bradesco, o BTG Pactual, o Santander e os fundos de pensão das estatais.
3: Se a Petrobras recorresse a empresas estrangeiras para esse serviço, corrupção à parte, o país sairia ganhando porque gastaria menos. Mas sabem como é: é preciso lustrar o nacionalismo brucutu.
4: A Sete está em apuros, informa a Folha. A dívida, em setembro, era de R$ 800 milhões, e a empresa parou de pagar os estaleiros.
5: Aí Dilma teve uma ideia. É, isso é sempre um perigo. Não é fácil, leitores, sustentar esse nacionalismo chulé. Custa caro. A presidente chamou os presidentes do BNDES e do Banco do Brasil — Luciano Coutinho e Aldemir Bendine, respectivamente — para viabilizar um empréstimo de, atenção, R$ 10 bilhões à Sete.
6: Informa a Folha: “A reunião de Dilma com Coutinho e Bendine ocorreu no fim da tarde de quarta (14), no Planalto, para analisar principalmente como ‘resolver pendências’ referentes a empréstimo de US$ 3,5 bilhões (cerca de R$ 9,2 bilhões) para contratação de oito sondas.” Vale dizer: sem uma solução, não há sonda.
7: Mas não só: a presidente quer que o BB lidere um consórcio de bancos para emprestar outros R$ 800 milhões à empresa para resolver seus problemas imediatos de caixa.
8: Viram como essa política de desenvolvimento da indústria naval é boa para os brasileiros que são escolhidos para… desenvolver a indústria naval? Esse é o capitalismo à moda da casa: socialização do prejuízo.
9: Ocorre que há algumas dificuldades:
a: o primeiro diretor de operações da Sete foi Pedro Barusco, aquele ex-gerente de serviços da Petrobras, que fez acordo de delação premiada e aceitou devolver a fantástica soma de US$ 97 milhões;
b: a maioria dos estaleiros contratados pela Sete pertence a empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato;
c: tanto o BNDES como o Banco do Brasil querem que a Petrobras e os estaleiros enviem uma carta afirmando que não houve atos ilícitos nos processos de licitação. Considerando as personagens envolvidas…
10: Vejam, então, que coisa fabulosa: o governo decide incentivar a indústria naval, e a empresa criada, tendo a Petrobras como sócia, vai quebrar se não receber a injeção de alguns bilhões de bancos públicos, a juros módicos.
11: A operação de socorro tem esbarrado em algumas dificuldades porque parte das personagens envolvidas na história está sendo investigada pela Polícia Federal.
Assim se fazem as coisas na República petista: incentiva-se a indústria naval nativa batendo a carteira dos brasileiros, e os escolhidos para a empreitada têm a garantia, claro!, de que não vão quebrar. A única atrapalhação é haver nesse meio alguns réus do maior escândalo de que se teve notícia no país até agora.
Não obstante, Joaquim Levy está de olho naqueles que, tudo indica, são os verdadeiros inimigos do Brasil: os trabalhadores que hoje são pessoas jurídicas. O ministro quer a carteira deles.
É o capitalismo à moda petista — ou socialismo, tanto faz — na sua fase de pornografia explícita.
A estratégia para derrotar o PT
O PSDB tinha tudo para vencer as eleições presidenciais em 2014 e entregou os pontos de bandeja para o PT, basicamente por erros na estratégia da campanha de Aécio Neves. Eis a tese que Maurício Coelho e Cristiano Penido defendem no pequeno livro A estratégia para derrotar o PT, que está disponível para download gratuito e já foi baixado por mais de 30 mil pessoas.
Recomendo. São apenas 100 páginas que resumem de forma sucinta os principais erros e acertos na campanha do tucano, sustentando como principal argumento a ideia de que Dilma deveria ser atacada, acima de tudo, pela ineficiência na gestão, não pela corrupção ou pelo PT como um todo. Os autores adotam visão pragmática, sem entrar no critério de valor. Estão analisando o que surtiria maior efeito do ponto de vista de votos, apenas isso.
O cerne do argumento é que o antipetismo é forte, mas a intensidade não é suficiente para a vitória: é preciso ter quantidade de votos. E não se conquista os indecisos com base no discurso vago de ética, e sim com mensagens simples que confirmem a sensação no eleitor de insegurança com o presente e despertem o desejo por mudança.
Ao combater o PT como um todo, Aécio acabou entrando no jogo do marketing petista, que tentou diluir os quatro anos ruins de Dilma nos 12 anos de PT no poder, com melhores resultados na era Lula. Os autores escrevem:
Não é a intensidade do sentimento que vence uma eleição, é a quantidade de votos! Ou seja, o sentimento de desaprovação ao governo Dilma era maior em percentual de eleitores e menor em intensidade, enquanto o sentimento contra o PT era menor em percentual e maior em intensidade. Todavia, quem possuía sentimento contra o PT, votaria em Aécio Neves nas duas possibilidades de discursos. Desse modo, só por um caminho ele tinha algo a ganhar.
Aécio, pela ótica dos analistas do livro, acabou reforçando a mensagem antipetista, mas não foi capaz, com isso, de converter indecisos, aqueles que não ligam tanto para o aspecto ético, talvez por considerarem (de forma equivocada) que todos são iguais. Esses deveriam ter sido conquistados pela mensagem simples de que Dilma fracassou como gestora, e que o tucano tinha experiência nessa área.
Como alguém que fica indignado com o embuste que foi o governo Lula, entendo como deve ser difícil entubar o mito de que, em sua gestão, houve “distribuição de renda”. Lula apenas surfou uma onda positiva de fora, plantando as sementes dos problemas atuais, amplificados pela incompetência, arrogância e ideologia intervencionista de Dilma. Mas do ponto de vista pragmático o alerta parece fazer sentido.
Afinal, esse é um mito que já “pegou”, e que não compensava atacar na campanha. Não era a pauta em jogo. As manifestações de junho de 2013 mostraram claramente: o povo estava cobrando melhores serviços públicos. Era a hora de atacar esse ponto, bater nessa tecla, desconstruir a imagem de Dilma como gestora eficiente, outro mito petista. Esse deveria ter sido o foco principal de Aécio, lembrando do enorme custo de oportunidade ao desviar recursos escassos para outros temas. Dizem os autores:
A oposição precisa fazer o “Discurso dos Períodos”, que basicamente consiste em dizer: o Brasil teve, com o Itamar, sua estabilidade política; teve, com o Fernando Henrique, sua estabilidade econômica; teve, com o Lula, a distribuição de renda; e Dilma deveria ter sido a presidente da boa gestão, a presidente que conseguisse fazer os serviços públicos funcionarem e as obras saírem do papel.
[...]
Ou seja, não podemos confundir aquilo que nós, já “convertidos”, queremos ouvir para nosso desabafo, com aquilo que efetivamente atrai o voto dos indecisos, fundamentais em uma eleição apertada como essa. “É de extrema importância manter uma oposição que denuncie principalmente atrasos em obras, problemas estruturais, má gestão; revelando como isso está impactando na vida das pessoas”, resumem os autores.
Teremos mais quatro anos de incompetência, arrogância e ideologia intervencionista pela frente, caso Dilma não sofra um impeachment. Por mais tentador que seja para todos nós insistirmos na questão ética, essa não deveria ser a principal bandeira para derrotar o PT, segundo os analistas. O que está em jogo é a qualidade dos serviços públicos, e deve ficar bem claro para o eleitor médio que Dilma é um retumbante fracasso nessa área. Eis a principal mensagem dos autores.
Rodrigo Constantino
Não só não me arrependo das críticas ao papa como as reitero. Não entendi as críticas. Queriam o quê?
Apanhei pra caramba por causa das coisas que escrevi e disse sobre o papa Francisco. Não entendi a razão da indignação. Vejam na home o vídeo que gravei ontem. Afirmei ali que o Vaticano certamente viria a público para tentar consertar a burrada. E, como se pode constatar, foi exatamente o que aconteceu. Horas depois de a fala infeliz do papa ganhar o mundo, a Santa Sé teve de explicar o que o papa tentou dizer.
Caras e caros, sou católico, sim. Não tenho simpatia especial por esse papa — o “cardeal” Azevedo jamais teria votado nele —, mas isso nada tem a ver com a minha crítica. As palavras fazem sentido, e o papa acabou, na prática, vamos dizer, compreendendo os atos terroristas. Eu poderia até perdoar a ambiguidade em alguém com menos importância do que Francisco. Nele, nem pensar.
De resto, não está em debate se existe ou não a liberdade de ofender quem e o que quer que seja. Esse não é o debate. Até porque desconheço regime democrático que faça da ofensa um instrumento aceitável. É claro que não é. O busílis é saber se aquela reação é aceitável. Sim, eu sei, o papa afirmou que não se pode matar ninguém, mas deu um exemplo infeliz e ambíguo. Ora, ele não é um mero cronista de fatos do cotidiano. Aquele é o Trono de Pedro.
Não me arrependo do que disse e escrevi. Ao contrário: reitero as críticas que fiz, inclusive a outras ambiguidades do Sumo Pontífice. Francisco que pense antes de fazer declarações. Não fica bem o Vaticano ser obrigado a traduzir o que quis dizer a cada entrevista que concede.
Por Reinaldo Azevedo
Escolha de Sofia
Com o tarifaço da energia elétrica – projeta-se um reajuste de 30% no ano sem considerar a inflação – vai crescer a pressão para a redução do preço da gasolina.
Hoje, a gasolina está 60% mais cara nas refinarias da Petrobras em comparação ao mercado internacional.
Até porque o peso da gasolina no IPCA é de 3,4% e o da energia elétrica é de 2,9%.
Ou seja, do ponto de vista do controle da inflação uma queda no preço da gasolina compensaria o aumento da energia elétrica.
Neste caso, os perdedores seriam a Petrobras e o etanol.
Joaquim Levy, nesta hipótese, se preocuparia mais com a Petrobras ou com a inflação?
Por Lauro Jardim
Sempre cabe mais um
Há duas semanas, policiais federais entraram na cela onde a turma de empreiteiros está presa em Curitiba. Queriam verificar se cabiam mais pessoas ali.
Por Lauro Jardim