Em depoimento, Lula diz que Palocci é frio e calculista (em O GLOBO)
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou o juiz Sergio Moro que o depoimento do ex-ministro Antonio Palocci foi "quase cinematográfico" e que se o ex-ministro não fosse um ser humano, seria "um simulador". No dia 6 de setembro, o ex-ministro Antonio Palocci imputou crimes a Lula e afirmou que o PT recebeu dinheiro de propina para financiar campanhas eleitorais. Palocci disse que a Odebrecht tinha um "pacto de sangue" com o partido.
— Ouvi atentamente o depoimento do Palocci, uma coisa quase que cinematográfica, quase que feita por um roteirista da Globo. 'Você vai dizer tal coisa, os lides são estes'. Prepararam alguns lides para ele dizer, e ele foi dizendo, falando, lendo alguma coisa. Eu conheco o Palocci bem. Se o Palocci se não fosse um ser humano, ele seria um simulador. Ele é tão esperto que é capaz de simular uma mentira mais verdadeira que a verdade. É médico: calculista e frio.
VÍDEOS: Assista aos principais trechos do depoimento de Lula
Moro perguntou a Lula se o depoimento de Palocci não foi verdadeiro.
— Não é verdadeiro. A única coisa que tem de verdade ali é ele dizer que esta fazendo a delação para obter benefícios, ou quem sabe ele queira um pouco do dinheiro que vocês bloquearam dele. Ele encerra o depoimento de forma magistral, que o Ministério Público queria: "o Lula conversou comigo sobre obstrução de Justiça" — afirmou Lula, dizendo que não admite que ninguém diga isso porque ele "tirou o tapete da sala" para que a podridão apareça.
Lula acusou o próprio Palocci de ter feito um "pacto de sangue com delatores, advogados e talvez com o Ministério Pùblico".
— Ele disse exatamente o que o 'power point' queria que ele dissesse — disse o ex-presidente, referindo-se à apresentação elaborada pelo Ministério Público Federal que apontou Lula como chefe da organização criminosa criada para o esquema de corrupção da Petrobras.
"SÓ NÃO QUERO QUE ME ENVOLVA"
Neste momento, Moro tentou interromper Lula, mas o presidente continuou falando.
— Eu sei que hoje é meu dia de falar, não estou aqui com bronca do Palocci — afirmou. — Eu não tenho raiva do Palocci, tenho pena. Ele é um quadro político excepcional do qual o país não tem muitos.
Segundo o ex-presidente, Palocci comentou sobre uma reunião na casa dele para discutir a compra do imóvel para o Instituto Lula com a "maior desfaçatez". Lula disse ainda que se Palocci estiver envolvido, "o problema é dele":
Ao ser perguntado pelo juiz sobre o encontro com Emílio Odebrecht no final de seu mandato, relatado por Antonio Palocci em depoimento à Justiça, Lula admitiu ter ocorrido o episódio, mas acusou o ex-aliado de ter inventado uma história:
- Eu vi atentamente o Palocci contar essa história. E a desfaçatez do companheiro Palocci foi de tal magnitude, que ele inventou uma história de que o Emílio foi lá, foi discutir um fundo que tinha sido criado (para financiar o PT), a manutenção desse fundo, a manutenção da relação dele com a Dilma - reclamou Lula.
O ex-presidente disse que a conversa com Emílio "não durou 10 minutos" e negou ter orientado a Odebrecht a procurar Palocci para tratar de seus interesses, como o ex-ministro petista relatou em depoimento.
- Nunca foi dada autorização ao Palocci ou a quem quer que seja para negociar recurso (em meu nome) com qualquer empresário do país.
"PRESIDENTE DE HONRA NÃO VALE NADA"
Perguntado sobre os emails enviados pelo empresário Marcelo Odebrecht ao assessor de Palocci, Branislav Kontic, Lula afirmou que a única coisa que sabe é que Palocci nunca conversou com ele sobre o terreno, que é tema do processo no qual Lula é investigado.
— O que me deixa pasmo, doutor Moro, é que eu estou sendo acusado do segundo prédio que eu não requeri, que não é meu, que eu não aceitei, como se fosse meu. O MP vai querer encontrar uma rota de fuga, para saber como eles vão sair da encalacrada em que se meteram — respondeu o presidente.
Lula disse ainda que é presidente de honra do Instituto Lula, que tem uma diretoria, e que presidente de honra "não vale nada".
"TENTA JOGAR NAS MINHAS COSTAS"
Lula disse que Palocci era uma figura respeitável e foi o ministro que mais estabeleceu relações de amizade com o empresariado brasileiro:
— Agora tenta jogar nas minhas costas.
Moro perguntou a Lula se ele manteve relacionamento com Palocci mesmo depois de ele ter deixado o governo, em 2003, envolvido em denúncias feitas por um caseiro. O ex-presidente respondeu que sim. Disse ainda que eles mantinham relação de amizade e que conversavam sobre economia, assim como ele conversava também com Henrique Meirelles e Guido Mantega, que sucederam Palocci no ministério da Fazenda.
— O Palocci fez uma opção de virar consultor e mantinha relação com todas as empresas que o senhor pode imaginar.
Moro perguntou se Palocci aconselhava Lula e se foi ele que indicou Palocci para ser ministro da Casa Civil de Dilma Rousseff.
— Não. Se o senhor lê o jornal O Globo... aliás, o senhor se baseia muito no Globo — disse Lula, que citou o jornal para dizer que era contra a ida de Palocci para o governo Dilma.
— O Globo não é o acusador aqui, nem é o julgador — respondeu Moro.
— O senhor cita o jornal O Globo 15 vezes e não cita... acho que cita cinco testemunhas minhas que vieram aqui.
Moro ganhou, Lula perdeu.
É o veredicto de Helio Gurovitz, do G1:
“Há um vitorioso no depoimento prestado ontem pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na ação em que é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro oriundo de contratos entre Petrobras e Odebrecht: o juiz Sérgio Moro.
Se o objetivo de Lula era usar a oportunidade como mais um palanque eleitoral para posar de vítima, desta vez falhou. Moro não saiu do tom, agiu como magistrado, enquanto Lula foi agressivo e se excedeu várias vezes (…).
Lula, ficou claro ontem, está nas cordas. Sua caravana pelas cidades nordestinas tem atraído um público exíguo e, em vez de ser uma apoteose, revelou o grau de rejeição a seu nome, antes ovacionado com unanimidade. Um PT renovado em torno de Haddad representaria uma aposta de risco. Não para 2018, mas talvez 2022. Também parece ser a única saída para um partido em cujas entranhas se instalou uma organização criminosa. Se insistir em Lula, o PT terá escolhido ficar no mesmo lugar que ele: destilando rancor no banco dos réus ou, provavelmente, atrás das grades.” (EM O ANTAGONISTA).
“Lula é dissimulado”... "Só faltou dizer que não conhece o meu cliente", diz defesa de Palocci (na VEJA)
O advogado Adriano Bretas, que defende Antonio Palocci, partiu para o contra-ataque tão logo terminou o depoimento do ex-presidente Lula.
Ao Radar, Bretas disparou: “Enquanto Palocci mantinha o silêncio, Lula dizia que ele era um homem inteligente. Agora que ele começou a falar verdade, diz que é tudo mentira, que eles se encontravam a cada oito meses.
Só falta dizer que não conhecia meu cliente. Pois ele diz que o meu cliente é dissimulado. Dissimulado é ele”.
Durante o interrogatório, Lula fez várias críticas a Palocci, dizendo que ele inventou coisas, que seria “um roteirista da Globo”.
Lula e a desconfiança da PF (O Antagonista)
Lula não conseguiu explicar a existência de uma pasta de e-mails, em sua casa de São Bernardo, com correspondência entre uma empresa de Roberto Teixeira e uma corretora de imóveis –o assunto era o imóvel da rua Doutor Haberbeck Brandão, para o Instituto Lula.
“Eles [os e-mails] estavam cuidadosamente guardados”, disse a procuradora.
“Como é que a senhora sabe que estavam cuidadosamente guardados?”, questionou o petista, novamente irritado.
“Em uma pasta. Houve a descrição no laudo”, insistiu a representante do MP.
Nesse ponto, Lula mudou o foco e passou a atacar a PF.
“Deixe eu lhe falar uma coisa, querida. Eu hoje, passados todos esses meses, tenho muita suspeita do comportamento da Polícia Federal nessas ocupações. Muita.”
Chamada de ‘querida’, procuradora chama a atenção de Lula (VEJA)
Durante o depoimento concedido ao juiz Sergio Moro nesta quarta (13), em Curitiba, o ex-presidente Lula se dirigiu à procuradora com o tratamento “querida” por diversas vezes quando questionado.
Incomodada, ela pediu que o ex-presidente a tratasse da “forma protocolar devida”.
Moro também o censurou. O tratamento carinhoso deu então lugar ao “doutora”.
GEBRAN VOTA PELA EXECUÇÃO DA PENA DE DIRCEU E PEDE 41 ANOS DE CADEIA (Em O Antagonista)
O desembargador João Pedro Gebran Neto, relator da Lava Jato, acatou em seu voto o pedido do MPF para a execução provisória da pena de José Dirceu e ainda aumentou a condenação para 41 anos e 4 meses.
Ele também elevou para 40 anos a de João Vaccari e para 33 anos a de Renato Duque.
O julgamento foi interrompido por uns instantes e os dois desembargadores da turma ainda precisam se manifestar. Se o relatório for aprovado pela maioria, ainda cabem recursos. Só depois de esgotados os recursos, Dirceu poderá voltar para a cadeia.