Na FOLHA: Brasileiros sentirão agora tamanho da ressaca do 1º governo Dilma

Publicado em 19/02/2015 14:39
por Fernando Canzian, articulista da Folha de S. Paulo

O ano começa entre hoje e segunda-feira. A partir de agora os brasileiros sentirão de fato o tamanho da ressaca do primeiro governo Dilma.

Os indicadores que saíram em dezembro (mês de festas e 13º) e janeiro (férias e pré-Carnaval) passaram meio batidos e foram muito ruins. Prenunciam o que vem aí.

Vendas no varejo em 2014: alta de apenas 2,2%. Foi o pior desempenho desde 2003, ano do pesado ajuste promovido por Lula (sob supervisão do FMI) e que levou vários trimestres para recolocar o Brasil nos eixos.

Inflação em janeiro: 1,2%, a maior também desde 2003. O que nos leva novamente ao passado ruim de 12 anos atrás. Dois retratos importantes do atraso que o atual governo nos entregou.

A coluna insiste sempre em um ponto, fundamental para entender a precariedade da economia brasileira: 67% das famílias têm renda mensal menor do que R$ 2.170. Inflação em alta derruba rapidamente o poder aquisitivo, levando o PIB para baixo.

Um terceiro movimento importante pré-Carnaval foi a disparada do dólar. Isso trará um empobrecimento a jato para a população brasileira, via consumo de produtos importados acabados e produzidos pela indústria nacional. Hoje, quase um quarto do que é fabricado aqui leva componentes importados.

No campo social, foi extremamente significativo, no Paraná (também no pré-Carnaval), o recuo do governador Beto Richa (PSDB) ao retirar medidas de corte de gastos que havia encaminhado à Assembléia Legislativa.

Os deputados tiveram de entrar em ônibus blindado (e por um buraco aberto às pressas em uma grade nos fundos) para tentar aprovar as medidas. Diante da fúria dos manifestantes, recuaram.

Assim como Richa no Paraná tentando equilibrar suas contas, o fracasso da gestão Dilma (numa combinação de políticas atrasadas e nacionalistas em um contexto de economia globalizada) agora leva o seu governo a correr com ajustes.

Um grande risco em 2015 segue o Brasil perder o chamado "grau de investimento", uma espécie de chancela de agências financeiras internacionais dadas a "bons pagadores".

Essas agências constituem um dos maiores embustes do capitalismo. Até a grande crise global de 2008/2009 carimbavam papéis que viraram lixo de uma hora para a outra. Mas é assim que o "altar do mercado" funciona. E será bem pior para o Brasil se de fato perder o "grau de investimento".

Dilma conseguirá em nível nacional o que Richa não conseguiu no Paraná?

Dia 15 de março próximo (um domingo) há manifestações previstas em cerca de 50 cidades do país contra a presidente. No Carnaval de Olinda nesta semana, os organizadores desistiram de colocar entre os bonecos gigantes a figura de Dilma.

Temiam que a festa se transformasse em Sábado de Aleluia, com a malhação da presidente pior avaliada no país desde dezembro de 1999 (FHC).

*

Há vários tipos de estelionatos eleitorais. Um dos mais emblemáticos foi o do ex-presidente José Sarney em 1986, quando congelou preços no Plano Cruzado.

Sarney sustentou medidas irrealistas até seu partido, o PMDB, lavar a égua nas eleições de 15 de novembro daquele ano. Em seis dias vieram as medidas impopulares.

Em uma semana, saques e depredações varreram Brasília no chamado "badernaço". Sete meses depois o ônibus do presidente seria apedrejado no Rio. Uma janela foi quebrada a golpes de picareta.

 

Não sobrou pedra sobre pedra...sérgio malbergier

(POR SERGIO MALBERGIER)

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, foi à guerra da comunicação. E como sempre acontecerá quando o PT travar esta guerra que lhe resta, seu discurso será inconsistente, farsesco. Aliás, como o discurso de todos os partidos políticos brasileiros.

O que a ditadura tem a ver com as críticas feitas ao encontro que Cardozo teve com um advogado de uma das construtoras investigadas pela Polícia Federal? Sua entrevista-defesa publicada nesta Folha, como a que "Veja" publicou, é quase uma confissão de que algo errado ele fez, mesmo que não tenha feito.

A maior bordoada veio do implacável Joaquim Barbosa, algoz do PT que, sem a toga de Batman, ficou mais livre, leve e bem humorado na sua nova vida pública: o Twitter.

Barbosa se afinou bem nos 140 caracteres da rede e acumula 180 mil seguidores. Mas seus tuítes alcançam e pesam muito mais. Primeiro veio a porrada: "Nós, brasileiros honestos, temos o direito e o dever de exigir que a Presidente Dilma demita imediatamente o Ministro da Justiça." Depois, a explicação: "Se vc é advogado num processo criminal e entende que a polícia cometeu excessos/deslizes, vc recorre ao juiz. Nunca a políticos!" Depois, o deleite: "Cidadão livre". Livre das amarras do cargo público. Cidadão na plenitude dos seus direitos, pronto para opinar sobre as questões da "Pólis". Dá para sentir como é boa a aposentadoria de juiz supremo.

Barbosa é um vencedor nos embates com o PT e por isso herói de boa parte do país. O efeito prático dos ataques do PT contra ele foi o de aumentar sua resolução. O partido agora tenta fustigar o juiz da Lava Jato, Sérgio Moro, que parece tão implacável quanto Barbosa. Enquanto isso, a presidente diz que é seu governo que promove a caça aos corruptos. Como dizia que os tucanos aumentariam os juros e mexeriam nos benefícios sociais e trabalhistas.

Ontem o próprio Moro se manifestou sobre as conversas furtivas do ministro da Justiça. E, como Barbosa, a quem citou na reprimenda, não aliviou: "Intolerável, porém, que emissários dos dirigentes presos e das empreiteiras pretendam discutir o processo judicial e as decisões judiciais com autoridades políticas. Mais estranho ainda é que participem desses encontros, a fiar-se nas notícias, políticos e advogados sem procuração nos autos das ações penais", escreveu o juiz.

O mensalão foi o primeiro grande desastre do PT. O segundo foi Dilma. O terceiro é o petrolão. Pelé não sai do banco neste momento em que a defesa do time vaza por todos os lados. O silêncio de Lula choca. E o que o PT fala, não cola.

No governo, só Joaquim Levy faz sentido. E ele não é do PT. O PT é contra ele.

O partido começou a perder a fala nas manifestações de 2013, que rasgaram a fantasia do país do nunca antes. Seu discurso atingiu um cinismo intoxicante nas eleições e agora esfarela diante do petrolão, da crise econômica autoinfligida, da presidente "gauche", da derrocada do socialismo do século 21 na vizinhança.

Não sobrou pedra sobre pedra.

Marta tem razão. Ou o PT muda ou não haverá marketing nem Joaquim Levy que dê jeito.

 

"Mídia brasileira não se importa com favelas", diz NYT

Em reportagem publicada nesta quinta-feira (19), o jornal americano "The New York Times" diz que a mídia brasileira não se preocupa com as favelas do país.

O diário traz relatos de violência feitos pelos moradores do Complexo do Alemão, no Rio. Segundo a reportagem, tiroteios policiais no Alemão são comuns e praticamente não são divulgados.

"Quatro ou cinco corpos aparecem, seis corpos, talvez faça a notícia. Um corpo? Nunca. A mídia não se importa com o que acontece aqui. Eles preferem não pensar nisso", diz um dos moradores da comunidade, identificado apenas como Raul.

O morador e outros amigos criaram uma mídia coletiva chamada "Papo Reto", onde relatam os casos de violência ocorridos na favela. Os relatos são, principalmente, da violência cometida por policiais e os toques de recolher impostos pelos traficantes. Munidos de celulares, os integrantes fazem fotos e vídeos e colocam nas redes sociais para divulgar os casos de violência.

"Nenhum repórter de jornal ou televisão punha os pés no Alemã para que pudessem relatar as notícias das favelas", diz a reportagem.

A reportagem questiona se as mídias alternativas não seriam uma opção para trazer justiça para as favelas brasileiras. Os posts divulgados pelo coletivo de comunicação chamaram a atenção de uma cineasta brasileira Priscila Neri, que vive em Nova York. Segundo o 'NYT', ela ajudou o grupo a ingressar em uma organização de direitos humanos que ajuda a formar e apoiar jornalistas amadores pelo mundo. 

Fonte: Folha de S. Paulo

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