Petrobras mantém negociação com russa Acron apesar de guerra, dizem fontes
Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - As negociações da Petrobras com a russa Acron para a venda da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados 3 não sofreram alterações ou cancelamentos, apesar da invasão da Rússia à Ucrânia, disseram à Reuters duas fontes brasileiras próximas da transação.
"As negociações seguem, continuam (apesar da guerra), e em cima da minuta assinada entre as duas partes", disse uma das fontes em condição de sigilo.
Uma minuta de contrato entre Petrobras e Acron foi assinada antes da guerra.
Após o ataque à Ucrânia, sanções e medidas financeiras restritivas começaram a ser impostas à Rússia, lançando incertezas para negócios russos no exterior.
Outras empresas e corporações multinacionais, incluindo as grandes petroleiras Exxon Mobil e BP, cortaram relações com a Rússia, abandonando bilhões de dólares em ativos e condenando o ataque russo à Ucrânia.
Mas, segundo uma das fontes, as sanções, pelo menos por ora, não impactaram as conversações.
"Para a Petrobras, nada mudou. Agora, se vai ter embargo, se vai afetar a negociação entre os dois países, a gente não sabe. Para Petrobras. está tudo normal", avaliou uma das pessoas.
Procurada, a Petrobras disse que não houve nenhuma atualização em relação ao que foi divulgado quando a empresa anunciou a assinatura da minuta.
A unidade de fertilizantes na cidade de Três Lagoas (MS) ainda precisa ter as obras concluídas. Quando os trabalhos foram interrompidos, há cerca de oito anos, aproximadamente 80% do empreendimento estava de pé, após gastos de 3 bilhões de reais.
Antes do conflito, o presidente Jair Bolsonaro esteve na Rússia e, numa reunião com o presidente russo Vladimir Putin, tratou de temas envolvendo fertilizantes.
O Brasil importa 85% dos fertilizantes que consome, e normalmente tem a Rússia como o fornecedor número 1.
"Para Petrobras não parou nada, não houve sinalização de algo diferente. Estão sendo dados os passos adiante... a guerra para Petrobras não afetou em nada a negociação", complementou uma das pessoas.
A unidade parada tem um custo mensal de mais de 1 milhão de reais à Petrobras, segundo uma fonte.
As duas fontes reforçaram que existe um processo de venda em curso que ainda precisa passar por todos os ritos de governança da estatal, num prazo ainda não definido.
"O prazo para fechar o negócio é o prazo para rodar na governança da empresa, ou seja, passar pela diretoria e depois seguir para conselho (de administração)", destacou uma das pessoas.
O anúncio das negociações foi feito no mês passado, primeiramente pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina, em visita ao Mato Grosso do Sul, local da unidade de nitrogenados.
OPOSIÇÃO POLÍTICA
Os russos buscam incentivos governamentais, como isenções de tributos, para adquirir a planta e fazer futuros investimentos, afirmaram as pessoas.
"A informação que nós temos é que ao comprar o ativo eles (os russos) não concluiriam a fábrica (de imediato). Fariam ali um entreposto para distribuir produtos para Brasil e América do Sul", disse uma das fontes.
Apenas em um segundo momento concluiriam as obras para iniciar a produção local.
Nesta sexta-feira, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) repudiou, em encontro com a diretoria da Petrobras, a possibilidade de a unidade se tornar uma "misturadora" de fertilizantes, e não uma produtora.
"Não aceitamos uma misturadora lá, que vai manter a nossa dependência de importação e não vai baratear o preço dos alimentos na mesa do povo brasileiro", disse ela em nota.
Simone era prefeita do município quando cedeu um terreno de cerca de 50 hectares para a construção da fábrica da Petrobras.
A construção da fábrica de fertilizantes foi iniciada em 2011 por um consórcio de empresas e, no final de 2014, a Petrobras suspendeu o contrato.
Em 2017, já no governo de Michel Temer, a estatal pôs a planta à venda, com a intenção de sair definitivamente do setor de fertilizantes.
A empresa chegou a negociar com a própria Acron no passado, mas encerrou as tratativas sem acordo no final de 2019.
Procurada nesta sexta-feira, a Acron não respondeu pedidos de comentários.
(Com reportagem adicional de Ricardo Brito e Marta Nogueira)