Gasolina seguirá cara no Brasil apesar de austeridade nos EUA, prevê hEDGEpoint
Suboferta e recuperação da demanda a volumes pré-Covid, no mundo, devem manter aquecido o mercado de petróleo e derivados em 2022. Ainda que o Banco Central americano (Fed) adote uma postura mais austera no combate à inflação, medidas como a elevação da taxa de juros, prevista para março, não terão o efeito esperado de desvalorização dos combustíveis por causa da menor liquidez. A previsão é do analista Heitor Paiva, da hEDGEpoint Global Markets.
“As commodities energéticas especificamente estão no comando da alta inflacionária global no atual momento. Não é provável que um aumento de juros jogue os preços delas para baixo”, observa o especialista em energia. Paiva explica que os EUA enfrentam o maior nível de inflação desde 1982, o que deve levar o Fed a adotar uma política mais rígida no lado monetário. No entanto, a medida não terá impacto sobre o valor da gasolina, inclusive no Brasil.
“Não é à toa que a gasolina está a mais de 6 reais o litro por quase todo o Brasil”, declara Paiva. “O Brasil é importador de combustíveis dos EUA. Tanto de gasolina, diesel e gás natural. Isto quer dizer que, dado que estas commodities deverão continuar com os preços sustentados por lá, o preço pago pelos importadores brasileiros continuará, portanto, elevado, acrescenta.
Além disso, lembra ele, medidas austeras como a elevação da taxa de juros valorizam o dólar, exportando a inflação americana através do câmbio, o que vem a contribuir para a alta geral de preços nos países emergentes. “Os EUA têm relevância inquestionável no mercado financeiro e suas decisões monetárias impactam a liquidez global. Caso o Fed suba os juros em março, coisa que o mercado espera que o faça, poderemos ver moedas emergentes desvalorizando”, explica.
Ainda segundo Paiva, o mercado de combustíveis é um dos setores responsáveis pela inflação nos EUA. Na visão dos analistas, tornou-se um problema político para o governo de Biden, cujo partido disputará os cargos legislativos nas eleições em novembro deste ano. “Por que os preços da gasolina, diesel, propano e gás natural. estão caros? Os estoques estão baixos e a demanda está resiliente à variante Ômicron”, pontua o especialista.
Dados do setor petrolífero, como os gastos com Capex e a capacidade ociosa da OPEP+, são vistos como muito limitados pela hEDGEpoint, endossando a tendência de sustentação de preços. Posições compradas dos especuladores nas commodities energéticas recentemente vêm caindo em função das políticas anunciadas pelo Fed No entanto, este cenário pode se reverter à medida que várias agências de pesquisa esperam que o consumo global de petróleo se recupere a níveis anteriores à pandemia do novo coronavírus (Covid-19). “2022 tem tudo para ser um ano de suboferta sustentando as cotações do petróleo”, conclui Paiva.