Vai faltar milho no Brasil em 2024? Demanda interna pelo cereal vai aumentar no país

Publicado em 24/01/2024 07:00 e atualizado em 24/01/2024 10:47
Notícias Agrícolas ouviu representantes dos setores consumidores de milho e especialistas para entender o quanto será demandado do cereal brasileiro

Na temporada 2022/23 o consumo de milho no Brasil foi de 79,601 milhões de toneladas, o que aliado a uma exportação de 56 milhões e uma importação de 1,5 milhão, rendeu estoque de passagem de 5,940 milhões de toneladas, de acordo com os dados oficiais da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). 

Na primeira reportagem da série especial do Notícias Agrícolas, já vimos que as perspectivas para 23/24 apontam menos produção do cereal no país, porém a demanda interna por milho deverá seguir crescendo. O último levantamento da Conab, divulgado neste mês de janeiro, estima um consumo de 84,367 milhões de toneladas de milho no Brasil ao longo deste ciclo. 

“Em 2023 tivemos um consumo próximo de 81 milhões de toneladas de milho e podemos chegar às 85 milhões em 2024”, diz Stefan Podsclan, Consultor de Grãos e Projetos na Agrifatto. 

Rações e Proteínas Animais 

Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações), o setor consumiu 52 milhões de toneladas de milho em 2023 e deverá demandar 55 milhões em 2024, um aumento de 3 milhões de toneladas que representa aumento de 5,45% na necessidade pelo cereal.  

Apesar da projeção de menos milho no mercado, não é a falta de produto que preocupa o setor, mas sim o reflexo disso nos custos da indústria. “Tem uma queda de 11% na produção até o momento, mas a contabilidade mostra que tem milho suficiente para atender rações, etanol e exportação. A especulação é o que preocupa mais, à medida que o mercado se antecipa a possível falta de milho. Se a especulação prevalecer vai haver reajustes de preços e isso preocupa”, comenta o CEO do Sindirações, Ariovaldo Zani. 

Diretor de Mercados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Luis Rua, estima que o consumo de milho pelos setores de avicultura de corte, avicultura de postura e suinocultura deverá crescer 1 milhão de toneladas com relação ao utilizado em 2023 e chegar em 44 milhões de toneladas em 2024, mas não vê um cenário preocupante até o momento. 

“Preocupação há, porque o milho é um insumo muito importante, mas vejo que 2023 foi um ano atípico, com safra recorde de milho muito acima dos anos anteriores. Em 2024, pelas projeções atuais, ainda deveremos ter a segunda maior safra de milho da história do Brasil”, comenta Rua. 

Caso enfrente desabastecimento, ou aumento grande nos custos, o setor já se prepara para a possibilidade de substituir parte do milho utilizado com outros produtos. “Tradicionalmente o milho pode ser substituído, depende da disponibilidade e do custo. Estamos nos dedicando aos estudos de produção de cereais de inverno, especialmente no Sul, mas em outras localidades também”, diz Zani. 

Etanol de Milho 

O setor de etanol de milho é um demandante que surgiu recentemente e vem ampliando sua demanda ano após ano. Como exemplo desse crescimento constante de demanda, a Coamo Industrial planeja construir uma nova usina de etanol de milho em Campo Mourão no Paraná que terá capacidade para produzir 258 milhões de litros por ano e 180 mil toneladas por ano do coproduto do processamento DDG. A estimativa da cooperativa é que 20% de todo o milho recebido pela empresa seja destinado à produção do biocombustível. 

No ciclo que se encerrara no próximo mês de março, a União Nacional do Etanol de Milho (Unem) estima um consumo de 14 milhões de toneladas do cereal, e projeta um aumento de 2 milhões de toneladas para a próxima temporada, chegando às 16 milhões de toneladas de milho consumidas no país. 

Apesar deste aumento na necessidade de milho, o setor não está preocupado com relação ao abastecimento neste momento. “A gente enxerga a redução de oferta mais em relação ao que foi a última safra, que foi de produção recorde, do que uma queda efetiva. A safra retrasada foi de 113 milhões de toneladas, a passada de 126 milhões e agora devemos voltar ao patamar de 2022. Tem milho para abastecer todas as cadeias demandantes do mercado interno e ainda sobrar excedente exportável’, diz Guilherme Nolasco, Presidente da Unem. 

Exportação 

Com projeção de menos milho produzido e mais milho consumido no mercado interno, de onde vai ser tirada essa diferença? Nos cálculos da Conab, além de um aumento de 600 mil toneladas na importação, saindo de 1,5 milhão de tonelada para 2,1 milhões, as exportações devem ver seus números caindo, das 56 milhões de toneladas de 2023 para algo em torno de 35 milhões. 

“2023 foi muito bom para as exportações, foi um ano de recorde de embarques tanto para soja quanto para milho. As 56 milhões de toneladas de milho superaram o recorde anterior em 11 milhões de toneladas. Agora, na escada das exportações, quem tem anos de subida e anos de descanso, 2024 será o de descanso, devemos ter 15 milhões de toneladas a menos, voltando para o degrau de 2022”, aponta Sergio Mendes, o Diretor Geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec). 

Na visão de Mendes, o mercado interno está disposto a pagar para não diminuir o abastecimento, então é natural que a redução venha das exportações. A liderança acredita que a diminuição dos embarques em 2024 seja próxima à queda na produção, deixando o volume final perto das 40 milhões de toneladas. 

“Ao invés de exportamos 55 milhões de toneladas, vamos exportar entre 35 e 40 milhões de toneladas. É abaixo, mas essa exportação é excedente”, avalia Roberto Carlos Rafael da Germinar Corretora. 

Analista de Inteligência de Mercado da StoneX, João Pedro Lopes, também destaca essa relação entre menos produção e menores exportações. “Considerando uma produção menor também devemos ter embarques menores. Falamos em 45 milhões de toneladas para o ciclo 2023/24, mas isso vai depender da concretização do desenvolvimento dessa próxima safra”. 

O cenário de menos oferta refletindo na diminuição das exportações, mas mantendo a força dos setores de rações e de etanol também faz sentido para o Analista da Céleres Consultoria, Enílson Nogueira.  

“A gente vê uma exportação muito forte, especialmente a China importando muito milho do Brasil, há dois anos não importava nada e hoje é o nosso principal comprador com quase 17 milhões de toneladas em 2023. A exportação vai bem, por mais que possamos ter alguma queda por conta de ter menos milho agora em 2024, mas ainda tem força relevante. No cenário interno mantemos a força do setor de etanol de milho, que é uma cadeia que ainda tem margens que sustentam o aumento de demanda e capacidades produtivas. A cadeia de proteína animal é a principal consumidora e está um pouco mais acanhada em 2024, principalmente se a gente tiver um problema de safra e uma elevação de preços no segundo semestre”, diz Nogueira. 

Estoques de Passagem 

Levando em consideração esses números de oferta e demanda, a Conab aponta que os estoques de passagem, que fecharam 2023 em 5,940 milhões de toneladas, devam subir para 6,276 milhões de toneladas ao final de 2024. 

Já a visão da Abramilho diverge destes números da Conab, com a entidade esperando uma redução dos estoques de passagem ao final do ano. “O estoque de passagem será muito baixo, com certeza o estoque mais baixo dos últimos cinco anos. A gente acredita que o consumo interno vai passar das 80 milhões de toneladas de 2023 para 84 ou 85 milhões”, opina Otávio Canesin, Presidente da Abramilho. 

Ao longo desta semana, você vai conferir uma série de reportagens especiais do Notícias Agrícolas acompanhando as perspectivas para a segunda safra de milho 2024 sob os aspectos da oferta, demanda e preços. Continue ligado para acompanhar a série completa.

Por: Guilherme Dorigatti
Fonte: Notícias Agrícolas

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